Olimpíada Tóquio 2021: como Brasil ajudou Japão a planejar recorderoleta europeiamedalhas nos Jogos:roleta europeia

pessoas lutando judô

Crédito, The Kodokan Institute

Legenda da foto, Práticaroleta europeiajudô nos primórdios do esporte, no Japão

Carlos ensinou as técnicas a seu irmão Hélio e, juntos, eles as reinventaram, dando ênfase à luta travada no chão, com os oponentes deitados.

Eles se mudaram para o Rio e passaram a se referir à modalidade como jiu-jitsu, nome queroleta europeiajaponês significa "arte suave" e era usado no Japão para designar uma sérieroleta europeiapráticas que caíramroleta europeiadesuso após o surgimento do judô — ele próprio criado por Jigoro Kano a partir dessas técnicas.

Hélio Gracie

Crédito, Arquivo Nacional

Legenda da foto, Hélio Gracie, um dos fundadores do jiu-jitsu brasileiro,roleta europeia1952

O jiu-jitsu brasileiro, porém, era diferente das versões japonesas pelaroleta europeiafluência e dinâmica, diz à BBC News Brasil Marco Antônio Barbosa, ex-atleta profissionalroleta europeiajudô e hoje um dos principais professoresroleta europeiajiu-jitsu brasileiro no mundo.

Mestre Barbosa, como é conhecido, diz que o jiu-jitsu brasileiro enfocava técnicasroleta europeiadefesa pessoal e tinha regras bem abertas. "Isso favoreceu o que o brasileiro temroleta europeiabom, que é a mobilidade e a agilidade", ele diz.

Já o judô, queroleta europeia1964 se tornou um esporte olímpico, foi ficando "mais engessado", segundo Barbosa. Hoje, enquanto lutadoresroleta europeiajiu-jitsu passam a maior parteroleta europeiauma luta alternando posições no chão, os judocas priorizam a trocaroleta europeiagolpesroleta europeiapé.

Homens lutam jiu-jitsu

Crédito, Acervo pessoal

Legenda da foto, Marco Antônio Barbosa disputa competiçãoroleta europeiajiu-jitsu

Porém, apesar das regras diferentes, o judô também confere pontos a certos golpes aplicados no solo, como imobilizações e chavesroleta europeiabraço ou pescoço — daí a vantagemroleta europeiaquem também sabe lutar deitado, a essência do jiu-jitsu.

Barbosa,roleta europeia53 anos, conhece bem o Japão: ele treinou judô por dois anosroleta europeiauma universidade japonesa e, após migrar para o jiu-jitsu, viajou para o país maisroleta europeiadez vezes para lecionarroleta europeiamodalidade atual. Mas seu primeiro contato com japoneses ocorreu antes, na adolescência, quando ele se mudou para Bastos, cidade no interiorroleta europeiaSão Paulo com forte presença nipônica.

Ali, Barbosa frequentou uma das principais escolasroleta europeiajudô do Brasil, fundadaroleta europeia1951 por imigrantes japoneses e que formou um dos principais judocas da história do Brasil, Tiago Camilo (prataroleta europeiaSydney 2000 e bronzeroleta europeiaPequim 2008).

Barbosa chegou à faixa-preta, a mais alta na modalidade, e foi convidado a passar dois anos treinando no Japão. "Fui para o Japão esperando uma coisa, porque já viviaroleta europeiauma comunidade japonesa, mas encontrei outra", ele conta.

Barbosa diz que imaginava encontrar no Japão uma culturaroleta europeiaextrema disciplina e austeridade, mas se surpreendeu. "O pessoalroleta europeiaBastos era muito mais 'japonês' que osroleta europeialá", afirma. Ele acredita que a diferença se devia à vivência dos imigrantes japonesesroleta europeiaBastos, muitos deles nascidos logo antes ou depois da derrota do Japão na Segunda Guerra (1939-1945).

Pessoas com trajes japoneses tradicionais

Crédito, The Kodokan Institute

Legenda da foto, À direita, Jigoro Kano, o fundador do judô

Os japonesesroleta europeiaBastos cresceramroleta europeiatempos duros e foram moldados por essa dureza, diz Barbosa. Já o Japão que recebeu o então judoca era outro — totalmente reconstruído, rico, tecnológico. "Quando cheguei no Japão, vi os caras mais soltos", conta.

Barbosa voltou ao Brasil e foi convocado para a seleção brasileiraroleta europeiajudô. Disputou os Jogos Panamericanosroleta europeiaHavana e o Campeonato Mundialroleta europeiaBarcelona, ambosroleta europeia1991. Quatro anos depois, passou a praticar jiu-jitsu e logo se destacou por seu preparo físico. "Na época, os praticantesroleta europeia'jiu' eram brigadores, ainda não eram atletas", afirma.

Em 1999, a carreiraroleta europeiaBarbosa foi catapultada após ele vencer Royler Gracie, um dos seis filhos do cofundador do jiu-jitsu Hélio Gracie. Como os irmãos, Royler seguiu a carreira do pai e foi batizado com um nome iniciado pela letra "r" (os demais se chamam Rickson, Rolls, Relson, Rolker, Royce e Rorion).

Outra luta opôs Barbosa a Yuki Nakai, um dos principais responsáveis não só pelo retorno do jiu-jitsu ao Japão como pela absorçãoroleta europeiasuas técnicas por judocas japoneses que disputarão os Jogosroleta europeiaTóquio. Com só 1,68 m e 70 kg, o então judoca Nakai ganhara fama no mundo das lutas ao disputarroleta europeia1995 um torneioroleta europeiavale-tudo no Japão aberto a competidoresroleta europeiatodos os pesos.

Pessoas treinando judô e jiu-jitsu

Crédito, Acervo pessoal

Legenda da foto, Yuki Nakai ensina técnicasroleta europeiajiu-jitsu brasileiro a atletas da seleção japonesa femininaroleta europeiajudô

No primeiro combate, Nakai enfrentou o carateca holandês Gerard Gordeau, que enfiou o dedoroleta europeiaum olho do japonês e o fez perder essa visão. Mesmo gravemente ferido, Nakai ganhou a luta com uma chaveroleta europeiacalcanhar e, no embate seguinte, derrotou um americano Craig Pittman, 45 kg mais pesado e especialistaroleta europeialuta greco-romana. Nakai só perderia a última luta da competição, disputada contra outro filhoroleta europeiaHélio Gracie, Rickson.

Em um vídeo no canal PVT (Portal do Vale Tudo) no YouTube, o jornalista Marcelo Alonso conta que o sucesso da família Gracie nos ringuesroleta europeiavale-tudo fez com que Nakai se interessasse pelo jiu-jitsu brasileiro. Alonso entrevistou o lutador durante uma visita o Japãoroleta europeia1996, quando Nakai lhe contou que pretendia trazer o jiu-jitsuroleta europeiavolta ao país.

No ano seguinte, o japonês viajou ao Rioroleta europeiaJaneiro e passou semanas treinando nas principais academiasroleta europeiajiu-jitsu da cidade, alémroleta europeiadisputar o segundo Campeonato Mundial da modalidade. "Num momentoroleta europeiaque as rivalidades eram enormes e lutadoresroleta europeiaoutras academias não eram bem-vindos para intercâmbios técnicos, Nakai foi recebido com muito respeito", diz Alonso no vídeo. "Mestres das principais academias pareciam entender que ele representava a continuaçãoroleta europeiaum ciclo."

Foiroleta europeiaumaroleta europeiasuas andanças pelo Brasil que Nakai enfrentou Mestre Barbosa. "Foi uma luta difícil", lembra o brasileiro, que saiu vitorioso. Os dois ficaram amigos, e Nakai o convidou a visitá-lo emroleta europeiaacademia no Japão.

Nakai acabaria fundando a Federação Japonesaroleta europeiaJiu-Jitsu Brasileiro, organização que ele preside até hoje e à qual são filiados maisroleta europeia30 mil lutadores. O jiu-jitsu brasileiro ainda é pequeno no Japão se comparado ao judô, que atinge milhões por ser ensinado nas escolas. Mas a modalidade brasileira tem crescido —roleta europeiaparte por causa da popularidade das competiçõesroleta europeiaMMA (artes marciais mistas).

Além disso, diz Barbosa, muitos japoneses que competem no judô universitário hoje praticam jiu-jitsu para aprimorar suas técnicasroleta europeiasolo. E muitos mestres brasileirosroleta europeiajiu-jitsu migraram para o Japão para lecionar lá — alguns deles filhos e netosroleta europeiajaponeses.

Fiascoroleta europeiaLondres

Foi um acontecimento considerado humilhante pelos japoneses, porém, que projetou ainda mais o jiu-jitsu brasileiro no país.

Potência máxima do judô, o Japão voltou das Olimpíadasroleta europeiaLondresroleta europeia2012 com uma única medalharoleta europeiaouro. "Foi uma catástrofe", lembra o judoca brasileiro Eduardo Kitadai, árbitro da Federação Internacionalroleta europeiaJudô e professor da modalidaderoleta europeiaSão Paulo.

Kitadai (pai do judoca Felipe Kitadai, que ganhou a medalharoleta europeiabronze justamenteroleta europeiaLondres) conta que naqueles anos os atletas europeus vinham deixando os japoneses para trás com um judôroleta europeiamuita força e preparo físico.

Mulheres lutando judô

Crédito, Federação Internacionalroleta europeiaJudô

Legenda da foto, Judoca japonesa Momo Tamaoki imobiliza a brasileira Jéssica Pereira no solo

Ao perceber que tinham perdido o domínio, diz ele, os judocas japoneses se voltaram a outras artes marciais para enriquecer suas técnicas — caso do sumô mongol, do kurash centro-asiático e do jiu-jitsu brasileiro. E nisso Yuki Nakai, naquela altura já o principal nome do jiu-jitsu no país, passou a ser convidado a dar aulas a judocas da seleção feminina japonesa.

O Japão voltou a dominar as competições internacionaisroleta europeiajudô, e as atletas japonesas se tornaram conhecidas pela destreza na lutaroleta europeiasolo. Nos Jogos do Rio,roleta europeia2016, a seleção do país ganhou 12 medalhas — sete a mais que a França, segunda colocada.

Em 2020, Nakai disseroleta europeiauma entrevista no YouTube que, quando começou a treinar as judocas japonesas, "elas temiam algumas técnicas específicas usadas por atletasroleta europeiaoutros países". Hoje, porém, diz que as atletas souberam incorporar técnicasroleta europeiajiu-jitsu eroleta europeiaMMA, o que as deixou mais confiantes.

Nakai disse esperar que, nos Jogosroleta europeiaTóquio, as judocas consigam "alcançar o topo do pódio se possível, mantendo seu estilo agressivo e sem perder a cabeça". O bom desempenho nos tatames é considerado crucial para que o Japão bata seu recorderoleta europeiamedalhasroleta europeiaJogos Olímpicos.

Já a equiperoleta europeiajudô que o Brasil enviou a Tóquio tentará correr por fora: mais da metade dos judocas brasileiros disputarão uma Olimpíada pela primeira vez. Único ouro do judô brasileiro nos Jogos do Rio, Rafaela Silva foi punida por doping e está fora da disputa.

O Brasil segue contando com a ajuda do Japão para vencer na modalidade: a equipe masculina do judô nacional terá como técnica uma judoca japonesa, Yuko Fujii. Agora, porém, o caminho que une as duas nações no esporte éroleta europeiamão dupla.

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