'Ainda há argentinos que acham que são europeus', diz sociólogo:jogo detetive online

E acrescentou que isso não o faz ignorar que antes da colonização (espanhola) existiam diferentes povos originários e que hoje a Argentina é resultado desta história ejogo detetive online"muitos outros povos", incluindo as imigrações dos países da América Latina.

Mas com a frase sobre os "barcos", Fernández acabou sendo fortemente criticado também por seus opositores, que viram nele um "ato racista" e um "desconhecimento" sobre a história.

O fato é quejogo detetive onlinefala sobre a ascendência europeia, e que costuma ser repetida por setores da sociedade argentina e está registrada atéjogo detetive onlinecanções populares, colocou o focojogo detetive onlineum capítulo importante da história do país, mas deixandojogo detetive onlinelado outros cruciais como os povos originários, os negros e outros imigrantes, além dos europeus.

Nos últimos anos, a população afrodescendente, assim como os povos originários, têm buscado reafirmarjogo detetive onlineforma ativajogo detetive onlineidentidade no país. Entre eles, a cartajogo detetive onlineFernández ao INADI foi vista como "limitada", "sem reconhecer as demandasjogo detetive onlinereconhecimentojogo detetive onlinegenocídio dos povos indígenas" e "não esclareceu e redimiu o racismo embutido na sociedade argentina", como disse umjogo detetive onlineseus integrantes à BBC News Brasil. A problemática levou aliadosjogo detetive onlineFernández a disserem que não participariam da "discussão alimentada pela direita".

Estudioso das questões migratórias e raciais da Argentina, o sociólogo e professor emérito da Universidadejogo detetive onlineBuenos Aires (UBA) Mario Margulis disse que ainda há argentinos que entendem que estão muito mais próximos da Europa do que da identidade latino-americana — e que a história e até a atual geografia da cidadejogo detetive onlineBuenos Aires explicam esse quadro.

Margulis lembrou que, na presidênciajogo detetive onlineDomingo Faustino Sarmiento,jogo detetive online1868 a 1874, a Argentina era um país praticamente despovoado com cercajogo detetive onlineum milhão e meiojogo detetive onlinehabitantes quando começaram a chegar, até 1930, aproximadamente seis milhõesjogo detetive onlineimigrantes ao país, principalmente italianos e espanhóis. Mas também, apesarjogo detetive onlineem muito menor quantidade, árabes e judeus.

Foi aquela forte imigração, disse, especialmente no século 19, marcado por discursos "racistas"jogo detetive onlinevárias partes do mundo, onde a pele branca e europeia era valorizada e prestigiada, que acabou povoando as mentesjogo detetive onlinesetores da sociedade argentina. Os imigrantes, fugindojogo detetive onlineguerras e perseguiçõesjogo detetive onlinesuas terrasjogo detetive onlineorigens, desembarcaram na região central da Argentina — Buenos Aires, Córdoba, Santa Fe, Mendoza e Entre Ríos.

Os europeus, disse o estudioso, eram vistos como "uma classe superior" e "as outras coresjogo detetive onlinepele, que não eram brancas, e até a forma dos corpos eram vistas como inferiores". Para ele, "os preconceitos" continuam existindojogo detetive onlinevárias formas, mantendo os vestígios do século dezenove, o século do colonialismo e do pensamento racista.

"Em toda a América Latina houve, e ainda há, uma formajogo detetive onlineracismo, que vem desde o chamado descobrimento da América. O preconceito vem das entranhas da América Latina desde a chegadajogo detetive onlineColombo", disse Margulis.

Recordando passagensjogo detetive onlineumjogo detetive onlineseus livros, Margulis lembrou na entrevista à BBC News Brasil que "indígenas e mestiços, assim como os escravizados negros, foram a mãojogo detetive onlineobra barata ou forçada no período colonial".

"Desde a chegada dos espanhóis e durante toda a época colonial, o racismo foi a base social. As estruturas forjadas nessa época continuam presentes, estimuladas pelo racismo explícito dos pensadores do século dezenove."

Ele ratificou o que dissejogo detetive onlineuma das suas obras, dizendo que o assunto continua "invisível", inclusive entre pensadoresjogo detetive onlineesquerda.

"Em linhas gerais, a cor da pele coincide com a pobreza", disse.

Ele ilustrou suas observações sobre as "várias manifestaçõesjogo detetive onlinepreconceitos" com o que ocorre hoje na capital argentina.

"Há uma população nas estaçõesjogo detetive onlinetrem Constitución e Once, que leva aos subúrbios, que não é a mesma que mora no bairro (rico) da Recoleta", disse Margulis. Para ele, este retrato ainda é resultado da construção do país. Quando perguntado se não há integração após tantos anos após a chegada dos imigrantes europeus, ele respondeu: "integração desigual".

Para ele, os corpos descendentes da mestiçagem e da pobreza também são diferentes do corpo propagado da beleza ideal, o que também contribui para o preconceito.

"A mulher gorda que teve oito filhos e tem o estereótipo da mestiçagem não tem a mesma atenção que aquela que responde aos estereótipos da beleza (a imaginária beleza europeia) propagada pelos meiosjogo detetive onlinecomunicação", disse.

"A segregação existe e ela é visível. E apesar da integração, que é desigual, o preconceito e a discriminação continuam existindo", disse. Margulis citou frases dos líderes da época, incluindo Sarmiento, e escritores como Jorge Luis Borges, alémjogo detetive onlinebritânicos, para recordar as formasjogo detetive onlineracismo e valorização da pele branca.

Margulis entende que foi na décadajogo detetive online1940, com a chegada do ex-presidente Juan Domingo Perón (1895-1974) ao poder, que os argentinos "euronativos" explicitaramjogo detetive onlinemaior rejeição aos mestiços, que chegaram do interior do paísjogo detetive onlineBuenos Aires. Ali nasceu, então, recordou, a expressão "cabecitas negras" (pele morena e cabelo escuro) por parte dos que rejeitaram as outras culturas da identidade nacional.

Para ele, o racismo está explícito também no vocabulário argentino, como "villeros" (em referência aos que moram nas favelas) e nas alusões a imigrantes como os paraguaios e bolivianos, por exemplo. No entanto, najogo detetive onlinevisão, no casojogo detetive onlineFernández, ele não cometeu um ato racista, mas "um lamentável descuido".

Na entrevista, Margulis,jogo detetive online88 anos, disse que há muito tempo não viaja ao Brasil, mas que pelo que acompanha das notícias do país o racismo ali também continuajogo detetive onlinevigor. E a situação não seria muito diferente, disse, nos Estados Unidos, onde negros foram alvos recentementejogo detetive online"linchamentos".

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