Vacinas contra covid-19 só chegarão para todo mundo no fimdono da arbety2023 no ritmo atual, calcula editor-chefe da Lancet:dono da arbety

Ilustração do globo terrestre cercadodono da arbetyvacinas

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Especialista acredita que países mais ricos devem pensardono da arbetydoar doses excedentesdono da arbetyvacinas contra a covid-19 para os locais que não têm condiçõesdono da arbetycomprar vacinas por conta própria

Em 2001, ele foi um dos fundadores e logo tornou-se editor-chefe da The Lancet Infectious Diseases, uma revista voltada 100% para as doenças infecciosas.

No finaldono da arbetyabril e no começodono da arbetymaio, o cientista foi convidado para uma sériedono da arbetywebinários no Brasil promovidos pela Elsevier, empresadono da arbetyinformação analítica responsável por diversas publicações científicas, incluindo a própria The Lancet.

Numa entrevista à BBC News Brasil feita por e-mail, McConnell avaliou o atual ritmodono da arbetyvacinação no mundo e destacou que o fim da pandemia está necessariamente vinculado às ações globais.

"Acredito que nós conseguiremos sair juntos dessa pandemia, desde que não percamos o foco. Só assim faremos que a luz no fim do túnel não seja destinada apenas para ricos e afortunados, mas para todos", disse.

Sobre a situação particular do Brasil, o microbiologista entende que nosso país precisa aliar duas estratégias: acelerar a imunização e promover as medidas preventivas.

"As duas ações precisam andardono da arbetymãos dadas. Depender inteiramente da vacina significa que o progresso será lento. Precisamos proteger as pessoas por meiodono da arbetyintervenções não farmacológicas, dando-as a oportunidadedono da arbetyserem vacinadas no futuro", analisou.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

dono da arbety BBC News Brasil - Num feito inédito, a humanidade conseguiu desenvolver, testar e aprovar várias vacinas contra uma mesma doençadono da arbetypouco menosdono da arbetyum ano. Como o senhor avalia esse progresso?

dono da arbety John McConnell - Acho que é o culminardono da arbetymuitos anosdono da arbetytrabalho no desenvolvimento das tecnologias, o que nos permitiu gerar vários tipos diferentesdono da arbetyvacinas, que agora estão sendo aplicadasdono da arbetybilhõesdono da arbetypessoas.

Uma dessas tecnologias, que usa vírus inativados, já existe há um século ou mais. A tecnologia que utiliza as chamadas subunidades proteicas é aplicada às vacinas contra a hepatite B, por exemplo, há muitos anos.

E mesmo as vacinasdono da arbetyvetores virais, como asdono da arbetyJohnson & Johnson e AstraZeneca/Oxford, se valemdono da arbetyuma tecnologia que vem sendo usadadono da arbetyensaios clínicos há cercadono da arbety20 anos, principalmentedono da arbetytrês imunizantes licenciados contra o ebola.

E, embora se acredite amplamente que as vacinasdono da arbetymRNA, como asdono da arbetyPfizer/BioNTech e Moderna, são novas e essa é a primeira vezdono da arbetyque se utiliza tal tecnologia, a verdade é que o trabalhodono da arbetydesenvolvimentodono da arbetyprodutos semelhantes estádono da arbetyandamento por quase 30 anos.

Antes da covid-19, havia vacinasdono da arbetytestes clínicos usando a tecnologiadono da arbetymRNA contra doenças como aids, zika e raiva, por exemplo.

Portanto, embora as vacinasdono da arbetyPfizer/BioNTech e Moderna sejam as primeiras a usar essa tecnologiadono da arbetyuma escala muito grandedono da arbetyseres humanos, elas se baseiamdono da arbetyum conhecimento existente e bem testado.

Então,dono da arbetycerta forma, tivemos sorte que a pandemia surgiudono da arbetyum momentodono da arbetyque temos algumas formas muito bem estabelecidasdono da arbetyproduzir vacinas, bem como um conjuntodono da arbetynovas tecnologias, para as quais havia um poucodono da arbetyexperiência clínica.

O microbiologista John McConnell

Crédito, Divulgação/The Lancet

Legenda da foto, O microbiologista John McConnell recebe,dono da arbetyprimeira mão, os artigos científicos mais importantes sobre a covid-19 e as vacinas

dono da arbety BBC News Brasil - Como o senhor mesmo mencionou, temos diversas plataformas tecnológicas bem-sucedidas neste momento. Qual a importância dessa variedade nos tiposdono da arbetyimunizantes?

dono da arbety McConnell - Nunca foi garantido que uma determinada tecnologia funcionaria, então acho que era muito importante ter uma gamadono da arbetytentativas diferentes, mesmo que, quando aplicadas na vida real, elas sejam comparáveis ​​em relação à eficácia.

É importante ter vacinas que possam ser distribuídasdono da arbetydiferentes maneiras. Por exemplo, as vacinasdono da arbetyPfizer/BioNtech e Moderna precisamdono da arbetyuma cadeiadono da arbetyfrio para distribuição que requer congelamento, enquanto as vacinasdono da arbetyAstraZeneca/Oxford e Johnson & Johnson requerem apenas geladeiras regulares. Já a vacina da Bharat Biotech pode ser mantidadono da arbetytemperatura ambiente.

Precisamosdono da arbetyuma gamadono da arbetytecnologias que podem ser levadas para diferentes contextos ao redor do mundo.

Também é importante ter vacinas que possam ser modificadas conforme surgem novas variantes do coronavírus. Algumas das tecnologias são mais facilmente adaptáveis do que as outras.

Devo acrescentar também que, ao usar diferentes formasdono da arbetyproduçãodono da arbetyvacinas, estamos aproveitando ao máximo as instalaçõesdono da arbetyfabricação disponíveisdono da arbetytodo o mundo. Se dependêssemos apenas da tecnologiadono da arbetymRNA, não haveria nenhuma maneiradono da arbetyproduzir doses suficientes para 2022 ou 2023, mesmo nos paísesdono da arbetyalta renda.

Se você espalhar as vacinas por diferentes tecnologias, poderá usar a gamadono da arbetyinstalações disponíveisdono da arbetytodo o mundo.

dono da arbety BBC News Brasil - E como foi acompanhar tantas novidades e saber,dono da arbetyprimeira mão, os resultadosdono da arbetysegurança e eficácia das vacinas, que o mundo inteiro aguardava com tanto interesse?

dono da arbety McConnell - É uma grande honra ser o canal através do qual flui essas pesquisas incrivelmente importantes durante a maior emergênciadono da arbetysaúde pública do mundo nos últimos 100 anos.

É um verdadeiro privilégio ver esse material e organizardono da arbetyrevisão antes da publicação. Sinto-me realmentedono da arbetyuma posição honrada e espero que o que estamos fazendo enquanto editores tenha algum impactodono da arbetycontrolar a pandemia o mais rápido possível.

dono da arbety BBC News Brasil - Em alguns países, como Israel, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido, a campanhadono da arbetyimunização contra a covid-19 está bem adiantada. O que essa experiênciadono da arbetyvida real nos revela sobre a efetividade das vacinas disponíveis?

dono da arbety McConnell - As vacinas parecem ser ainda mais efetivas quando aplicadas a grandes populações do que nos ensaios clínicos. Os dados provenientesdono da arbetyIsrael e do Reino Unido mostram cercadono da arbety90%dono da arbetyeficácia na prevençãodono da arbetytodas as formasdono da arbetycovid-19 para a vacinadono da arbetyPfizer/BioNTech e algodono da arbetytornodono da arbety88% para a vacinadono da arbetyAstraZeneca/Oxford.

É bastante encorajador que as vacinas que estão sendo usadasdono da arbetytodo o mundo pareçam ser amplamente eficazes contra as variantes do vírus, particularmentedono da arbetytermosdono da arbetyprevençãodono da arbetydoenças graves e morte, embora não necessariamente previnam a infecçãodono da arbetysi.

Se você olhar os gráficos, pode ver o quanto a taxadono da arbetynovas infecções diminui nas populações que foram vacinadas,dono da arbetycomparação com aquelas que não receberam as doses ainda.

O Chile é um bom exemplodono da arbetycomo as vacinas estão realmente funcionando. Lá está claro que os casos se estabilizaram ou estão diminuindo nos indivíduos que foram vacinados, enquanto continuam a aumentar naqueles que não foram imunizados.

O motivo do aumentodono da arbetycasos, portanto, não é o fatodono da arbetya vacina eventualmente não estar funcionando, mas porque ela ainda não foi administradadono da arbetyum número suficientedono da arbetypessoas.

dono da arbety BBC News Brasil - Se, por um lado, a campanha deslanchadono da arbetyalguns lugares, outros países estão lidando com a escassez ou a falta absolutadono da arbetyvacinas. Como o senhor avalia essa desigualdade global?

dono da arbety McConnell - Existe um mecanismo global chamado Covax, que foi projetado para comprar vacinas e distribuí-las a países que não têm condiçõesdono da arbetyfinanciar seus próprios programasdono da arbetyvacinação.

No atual momento, esse programa foi elaborado para ajudar a vacinar apenas 20% das pessoas nessas naçõesdono da arbetybaixa e média renda.

Na atual progressão, levará até o finaldono da arbety2023 para que as vacinas estejam disponíveis para todas as pessoas do mundo.

É imperativo que outros países, quando tiverem vacinado totalmente as suas populações, disponibilizem as doses restantes aos governos que não têm condiçõesdono da arbetypagá-las.

Alguns desses países mais ricos chegaram a contratar uma quantidadedono da arbetyvacinas suficientes para cobrir três ou quatro vezes adono da arbetypopulação total.

Homem é vacinado na Etiópia

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Por ora, apenas 2% da população do continente africano recebeu a vacina contra a covid-19, calcula McConnell

dono da arbety BBC News Brasil - O senhor acredita que é possível resolver esse problema da desigualdade global?

dono da arbety McConnell - É muito importante que os governos levemdono da arbetyconsideração o interesse global para minimizar a quantidadedono da arbetyvírusdono da arbetycirculaçãodono da arbetytodo o mundo.

Quando os programasdono da arbetyvacinação nesses locais estiverem concluídos, e com o planejamento para os reforços necessários num futuro próximo, os países com estoques remanescentes precisarão considerar seriamente a doaçãodono da arbetydoses excedentes.

Enquanto o vírus permanecerdono da arbetycirculação, sempre existe a chancedono da arbetyocorrer uma mutação para a qual alguns imunizantes atuais podem não ser eficazes.

Deixo aqui uma sugestão, sobre a qual não tenho opinião formada ou dados suficientes. Mas será que deveríamos priorizar a vacinaçãodono da arbetycrianças, que não são particularmente suscetíveis a essa doença e é extremamente improvável que tenham sintomas graves ou morram? Ou deveríamos priorizar os idosos e pessoas vulneráveis ​​dos paísesdono da arbetybaixa e média renda?

Para encurtar esse prazodono da arbety2023, quando o mundo inteiro estará vacinado segundo as projeções atuais, precisamos nos fazer perguntas sobre nossas prioridades, e não apenas olhar para a realidade internadono da arbetynossos próprios países.

dono da arbety BBC News Brasil - Como o senhor vê a situação do Brasil? Nós temos um Programa Nacionaldono da arbetyImunizações reconhecido internacionalmente, mas a campanha contra a covid-19 avança lentamente…

dono da arbety McConnell - As vacinas parecem ser eficazes contra a variante P.1 e proteger até mesmo contra as formas mais graves da doença. Parece que o númerodono da arbetycasos está começando a diminuir no Brasil.

Agora, o único caminho a seguir no Brasil é combinar uma distribuição ampla e rápida da vacina com a continuação das medidasdono da arbetydistanciamento físico. Isso tem se mostrado eficaz tantodono da arbetyIsrael quanto no Reino Unido.

As duas ações precisam andardono da arbetymãos dadas. Depender inteiramente da vacina significa que o progresso será lento. Precisamos proteger as pessoas por meiodono da arbetyintervenções não farmacológicas, dando-as a oportunidadedono da arbetyserem vacinadas no futuro.

dono da arbety BBC News Brasil - Mesmo com as primeiras vacinas contra a covid-19 aprovadas, nós temos uma sériedono da arbetyoutras candidatas que continuamdono da arbetyestudo. Por que é importante ter mais opçõesdono da arbetyimunizantes contra a covid-19?

dono da arbety McConnell - Pois bem, as vacinas que ainda estãodono da arbetydesenvolvimento terão a oportunidadedono da arbetymodificar suas formulações, para que sejam direcionadas contra as novas variedades do coronavírus.

O maior problema é que simplesmente não há vacina suficiente para todos. Atualmente, existem muitas fábricas no mundo que produzem os imunizantes. Se os diferentes países possuem suas próprias instalaçõesdono da arbetyproduçãodono da arbetyvacinas e podem atender às suas demandas, isso é extremamente importante para controlar a pandemia o mais rápido possível.

Além disso, há também uma questãodono da arbetypreço. Alguns fabricantes, devido ao tipodono da arbetytecnologia que estão usando, produziram vacinas muito mais baratas edono da arbetydistribuição muito mais fácil do que aquelas que foram desenvolvidas pela Pfizer/BioNTech, por exemplo.

Não consigo imaginar como todas as pessoas no mundo serão vacinadas se contarmos apenas com a vacina da Pfizer/BioNTech.

Assim como temos um arsenal muito amplodono da arbetyantibióticos, por exemplo, acredito que precisamosdono da arbetyum arsenal variadodono da arbetyvacinas.

Fila para vacinação contra a covid-19dono da arbetySão Paulo

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Para sair da pandemia, Brasil precisa acelerar vacinação e reforçar medidas não-farmacológicas, indica McConnell

dono da arbety BBC News Brasil - Como a vacinação ajudará a tirar o mundo desta pandemia? O senhor já vê alguma luz no fim do túnel?

dono da arbety McConnell - Sim, certamente há uma luz no fim do túnel. Para os países que implementaram seu programadono da arbetyvacinação rapidamente, essa luz está muito forte.

Israel já reabriu completamente e o Reino Unido está a caminho disso. A França teve que introduzir um novo bloqueio, mas a combinação da vacinação com as medidasdono da arbetyrestrição está levando esse país a uma posiçãodono da arbetyque poderá começar a aliviar as políticasdono da arbetybreve.

Até mesmo os Estados Unidos estão virando esse jogo, embora não seja a mesma realidade para todos os Estados. No entanto, os locais onde há uma ampla aceitação da vacina e onde as medidasdono da arbetydistanciamento físico têm sido mais rigorosas estão definitivamente evoluindo bem.

Alguns dados publicados pela autoridadedono da arbetysaúde pública na Inglaterra (Public Health England), indicam que quase 70%dono da arbetytodos os doadoresdono da arbetysangue têm anticorpos contra o coronavírus.

Esses 70% são o número estabelecido como a soroprevalência necessária para que exista uma imunidade coletiva. Ainda não podemos traçar uma linha rígida sobre isso, mas acredita-se que essa seja uma taxa importante.

Também sabemos que menosdono da arbety20% dessa soroprevalência é causada pela infecção natural. Então, a maior parte disso veio da vacinação.

Ainda precisamosdono da arbetyorganização e disponibilidadedono da arbetyuma variedadedono da arbetyvacinas, mas há uma esperança real.

Essa luz ainda está escura para países do Sul da Ásia, como Paquistão, Bangladesh e Nepal, que não têm condiçõesdono da arbetypagar pelas vacinas. Nessa mesma linha, menosdono da arbety2%dono da arbetytoda a população do continente africano já recebeu suas doses. Portanto, algumas partes do mundo estão muito atrasadas.

Acredito que nós conseguiremos sair juntos dessa pandemia, desde que não percamos o foco. Só assim faremos que a luz no fim do túnel não seja destinada apenas para ricos e afortunados, mas para todos.

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