Trump pode unir contra si voto feminino branco e negro, diz historiadora:ıq bet
Além disso, a divisão histórica no comportamento eleitoral entre americanas brancas e negras pode ser substituído por uma união feminina contra Trump.
Jones acabaıq betpublicar o livro Vanguard — How Black Women Broke Barriers, Won the Vote and Insisted on Equality for All (Em tradução livre: Vanguarda — Como as mulheres negras quebraram barreiras, conquistaram o voto e insistiram na igualdade para todos), que retrata a luta histórica das mulheres negras por poder político nos Estados Unidos.
Em entrevista à BBC News Brasil, Jones afirma que poderemos observar um alinhamento do voto feminino contra Donald Trump (o voto das mulheres é historicamente dividido).
"As mulheres negras se organizam e votamıq betbloco. As mulheres brancas estão divididas entre partidos e ideologias. Não há dúvidaıq betque as mulheres negras e brancas enxergam políticaıq betmaneira diferente, usam o votoıq betjeitos diferentes", explica.
Entretanto, uma pesquisaıq betopinião pública recente realizada pelo jornal Washington Post/ABC News mostra que o candidato democrata Joe Biden lidera entre as mulheres por 23 pontos percentuais.
Essa vantagemıq betBiden se mantém nos recortes raciais feitos por outras pesquisas.
Em Michigan, um dos Estados com grande quantidadeıq beteleitores indecisos, 52% das mulheres brancasıq betclasse média preferem o democrata a Trump, segundo o levantamento da NBC News/Marista.
De acordo o Pew Research Center, a vantagemıq betBiden sobre Trump éıq bet85 pontos percentuais entre as mulheres negras.
Diante dos resultados das pesquisas, o presidente tem feito fortes apelos às mulheresıq betseus eventosıq betcampanha para tentar reverter esse cenário.
Jones passou as duas últimas décadas estudando a influência da população negra na história da democracia americana.
Seu primeiro livro, Birthright Citizens (Cidadãos por direitoıq betnascença,ıq bettradução livre), foi lançado há dois anos e recebeu diversos prêmios pelo retrato minucioso das batalhas legais travadas por ex-escravizados para teremıq betcidadania reconhecida no século 19.
A historiadora começouıq betcarreiraıq bet1987, quando se formouıq betDireito na CUNY School of Law. Depois, obteve o doutoradoıq betHistória pela Universidadeıq betColumbia.
Morouıq betNova York, onde nasceu (passou a infância no Harlem), até 2017. Naquele ano, mudou-se para Baltimore,ıq betMaryland, para lecionar história na Johns Hopkins.
Jones tem familiares espalhados por diversos cantos do mundo, inclusive no Brasil.
A ideia para o novo livro surgiu quando ela começou a coletar histórias sobre as mulheres negrasıq betsua própria família.
Pelo que descobriu,ıq bethistória começaıq bet1808, quando Nancy Belle Greves, a primeira mulher que identificou emıq betárvore genealógica, nasceu escravizada.
Jones ficou curiosa sobre como as descentesıq betNancy se sentiramıq bet1920, quando as mulheres ganharam direito ao voto no país. Elas poderiam votar? Se pudessem, o que fariam com os seus votos?
A história da famíliaıq betJones ecoa as dezenasıq betoutras contadas por ela no livro. Juntas, essas narrativas revelam que as mulheres negras foram excluídas da briga pelo direito ao voto que se arrastou entre os séculos 19 e 20 nos Estados Unidos.
Em outras palavras, a lei do sufrágio femininoıq bet1920 (que completou cem anosıq betagosto deste ano) deu direitos políticos apenas a uma parte das mulheres: as brancas.
Alémıq betajudar a entender o comportamento eleitoral das mulheres na eleição presidencial deste ano, o trabalho da historiadora também é relevante diante dos protestos recentes contra a violência policial contra negros no país.
O mesmo racismo que marginalizou o movimento feminino negro na décadaıq bet1920 ainda assola a sociedade americana.
Não por acaso, mulheres negras estão entre os principais organizadores do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam,ıq bettradução livre).
A partir das narrativasıq betseu livro, Jones extrai lições do ativismo das mulheres negras que podem ajudar o país a superar os sinais recentesıq betretrocesso democrático, como as ameaçasıq betTrumpıq betnão aceitar o resultado das eleições.
A marginalização histórica das mulheres negras
A história da aprovação da lei que deu direito ao voto às mulheres (chamadaıq betemenda constitucional 19) é marcada por racismo, e não só das mulheres brancas.
Para aprová-la, o movimento feminino branco se alinhou com parlamentares racistas do Sul do país.
"A percepção eraıq betque você não podia trazer mulheres brancas para um movimentoıq betque mulheres negras são membros importantes. Isso era visto como desqualificador. Isso não significa que as mulheres negras desparecem completamente, mas elas ficam do outro lado da porta", diz Jones.
Em seu livro, o capítulo dedicado à emenda constitucional 19 é chamado apenasıq bet"emenda".
"Foi um esforço para diminuir o tipoıq bettom celebratório do qual a emenda constitucional 19 desfruta na história do movimento sufragista feminino. Quis marcar essa emenda como um marco, mas sem dar mais importância a ela do que ela merece", conta.
A historiadora considera uma possível união entre os movimentos femininos da época como uma "oportunidade perdida".
Para ela, a exclusão das mulheres negras não foi problematizada porque havia interesse do movimento sufragistaıq betaprovar a emenda 19 imediatamente.
"Qual foi o preço pago por uma emancipação que abandonou tantas mulheres? Esse abandono retardou o direito ao voto feminino? São questões para as quais não há resposta, mas que devem ser contempladas, principalmente quando as pessoas passam pano para o racismoıq bettorno da emendaıq betnome da 'urgência'ıq betaprová-la", acrescenta.
Lembrando que as mulheres ganharam o direito ao voto no Brasil doze anos depois (em 1932), ela diz: "Não acho que as mulheres brasileiras têm menos poder político do que as americanas porque obtiveram direito ao voto mais tarde. A ideiaıq betque as mulheres americanas tinham que votarıq bet1920, que existia valor nessa urgência, faz parte do compromisso que levou à aprovação da emenda constitucional 19".
Como resultado, o voto feminino negro só foi reconhecido e garantido por leiıq bet1965, quando o presidente Lyndon Johnson sancionou a leiıq betdireito ao voto.
Ao mesmo tempo que eram marginalizadas pelo movimento feminino branco, as mulheres negras também padeciam com o sexismo dos homens negros.
Por exemplo, no século 19 havia pouca clareza nos movimentos abolicionistas sobre como a escravidão afetava a população feminina. Para as mulheres, a abolição da escravatura traria também o fim da ameaçaıq betestupro por seus donos.
O termo Jim Crow se refere ao conjuntoıq betleis que discriminavam e segregavam a população negra no Sul dos Estados Unidos até a décadaıq bet1960.
As experiências das mulheres negras eram tão distintas até aquele momento que outro termo, "Jane Crow", foi criado tratar da discriminação específica contra essa população.
"É uma linhaıq betpensamento que hoje podemos chamarıq betinterseccionalidade, ou seja, o entendimento da política e do poder atravésıq betuma lente que levaıq betconta o racismo e o sexismo", explica Jones.
"As mulheres negras lidam com desafios distintos,ıq betparticular a violência sexual. O termo chama atenção para a feminilidade negra, que não é levadaıq betconsideraçãoıq betanálises que postulam todos os negros como homens ou todas as mulheres como brancas."
Participação no atual sistema político
Jones enxerga avanços e retrocessos na incorporação das mulheres negras ao longo dos anos.
Por um lado, ela lembra que, neste ano, o país registrou um recorde no númeroıq betcandidatas negras concorrendo às eleições legislativas: um totalıq bet117 mulheres filiadas aos partidos Democrata e Republicano.
Soma-se a esse número a candidatura da senadora democrata Kamala Harris à vice-presidência.
"Essa é uma históriaıq betcomo as mulheres negras estão presentes no sistema político americano. Mas há outra: mulheres negras são as mais pobres, as mais doentes etc. Ganhar espaço no sistema político não necessariamente se traduzıq betganhosıq betpolíticas públicas", explica.
Ela acrescenta: "Como no Brasil, que também é um país grande e diverso, é difícil fazer um balanço mais geral do grauıq betrepresentatividade das mulheres negras. Se você é Stacey Abrams [ex-parlamentar estadual que foi candidata ao governo do Estado da Georgia] e vive na Georgia, pode ter uma eleição roubadaıq betvocê. Mas você também pode ser Letitia James [procuradora geral no Estadoıq betNova York que investiga acusações contra a família Trump] e ouvir o depoimentoıq betEric Trump. Ambas as coisas são verdadeiras nesse momento político."
A crise da democracia americana
Diante das notíciasıq betsupressão ao direito ao voto e as ameaças do presidente Trumpıq betnão aceitar o resultado das eleições, Jones vê a democracia do país como um processoıq betvigilância constante que permeia diversas gerações.
Ela lembra que, no século 19, mulheres negras perderam o direitoıq betvotar que haviam obtidoıq betEstados como Nova York e Pensilvânia.
"Talvez a marca peculiar da nossa democracia seja uma espécieıq betinstabilidade. Democracia é um processo, exige manutenção e participação. Se nós sobrevivermos a esse período que estamos vivendo agora, teremos adquirido um grande aprendizado", opina.
Nesse sentido, a historiadora vê o movimento feminista negro com um papel educador.
Em um momentoıq betque diversos países enfrentam uma criseıq betliderança política, Jones encontra lições nas histórias das mulheresıq betVanguard que podem ser compartilhadas e replicadas.
"Sigam as mulheres negras, estudem suas histórias, acreditem nelas. Elas sabiam quem Donald Trump era há quatro anos e votaram sabendo disso, como nenhum outro grupo no país fez", diz.
Ela sugere que prestemos atençãoıq betcomo o movimento feminino negro faz política "no chão".
"Elas entendem esse tipoıq betpolítica, que envolve organização na base. Outro dia me perguntaram como poderíamos ajudar as mulheres negras a votar. Elas não precisamıq betajuda. Precisamos é prestar atenção no que elas fazem e adotar as estratégias que elas usam", acrescenta.
Jones também ressalta a capacidade dessas mulheresıq betdar qualidade ao debate público. Em outras palavras, elas sabem falar sobre ideais e aspirações, o que a historiadora considera essencial para o exercício da política.
"Isso para mim é liderança: saber trabalhar no chão e saber elevar o debate. Não adianta falar sobre ideais no Twitter. Temos que levá-los ao chão. Passei a admirar a capacidade dessas mulheresıq betfazer isso: trabalhar constantemente nos dois níveis", conclui.
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