Alexei Navalny, opositorPutin, relata ‘tormento’quase morrer por envenenamento:
"Não dói nada, não é como um ataquepânico ou algum tipotranstorno. No começo você sabe que algo está errado, e então seu único pensamento é: 'É isso, vou morrer.' "
Navalny desmaiouum vooTomsk, na Sibéria, para Moscou,20agosto, e só sobreviveu porque o avião fez um pousoemergênciaOmsk, onde foi levado às pressas para a UTI.
Mais tarde, após negociaçõesalto nível com as autoridades russas, ele foi transportadoavião para Berlim e tratado lá enquanto era mantidocoma induzido.
Novichok confirmado
A Organização para a ProibiçãoArmas Químicas (OPCW, na siglainglês) confirmou que Navalny,44 anos, foi envenenado com um agente nervoso do tipo Novichok.
Em um comunicado, apontou para as semelhanças entre traços encontradossuas amostrasurina e sangue e armas químicas na listasubstâncias banidas.
A Alemanha diz que laboratórios franceses e suecos também concordam com seus cientistas e que Navalny foi "sem dúvida" envenenado com um agente nervoso.
Os agentes Novichok, desenvolvidos por cientistas soviéticos durante a Guerra Fria, são extremamente tóxicos. Uma pequena quantidade pode matar.
Na semana passada, emprimeira entrevistavídeo desde que deixou o hospital no finalsetembro, Navalny disse acreditar que as autoridades russas o envenenaram para remover a ameaça que ele representava para o domínio deles nas eleições parlamentares do próximo ano.
O governo russo negou qualquer envolvimentoseu envenenamento. Médicos russos que trataramNavalny disseram não ter encontrado nenhum veneno.
"Afirmo que (o presidente Vladimir) Putin está por trás desse ato, não vejo nenhuma outra explicação", disse ele à revista alemã Der Spiegel.
Ele passou mal depoisfazer campanha na Sibéria para eleger outros militantes anticorrupção para os conselhos locais.
Ele é um dos críticos do presidente Putin mais conhecidos da Rússia, com milhõesseguidores nas redes sociais, onde expõe a corrupção oficial e denuncia o partido pró-Putin Rússia Unida como "ladrões".
Navalny se recusa a aceitar uma vidaexílio e disse à BBC: "Há muito tempo que se esforçam para me forçar a sair do país".
"Não sei como os acontecimentos vão evoluir, não vou correr riscos. Tenho a minha causa, tenho o meu país."
O opositorPutin disse que não faz sentido pensareventos que ele não tem poder para controlar.
Alucinações
Navalny disse à BBC que no avião, quando o veneno fez efeito, ele se sentiu incapazse concentrarqualquer coisa, embora as pessoas e objetos ao seu redor não parecessem balançar ou ficarem turvos da maneira como ocorre quando o álcool afeta o cérebro.
Bem depois disso, já no hospital, ele diz que "houve várias fasesdespertar, e esse foi o período mais infernal".
"Por muito tempo tive alucinações", disse Navalny. Ele acreditava queesposa Yulia, os médicos e seu colega ativista Leonid Volkov estavam dizendo que ele havia sofrido um acidente e tinha perdido as pernas. "O cirurgião ia me dar novas pernas e uma nova coluna", lembra.
Ele estava convencidoque isso era "totalmente real" e conta que era "atormentado por alucinações à noite".
"Meu principal problema é dormir. Perdi o hábitodormir e acho difícil sem soníferos. Nunca tinha tido esse problema. Também tenho tremores nas mãos, são imprevisíveis."
Navalny disse que estava fazendo exames médicos frequentes, incluindo testes cognitivos, e que, fisicamente, está se recuperando muito rapidamente.
"Às vezes me sinto meio desorientado, faço caminhadas duas vezes ao dia e consigo caminhar por um bom tempo. Para mim, o mais difícil é entrar e sair do carro."
Navalny expressou alívio por não sentir dor, mas frustração porque até uma coisa simples como jogar uma bolinha "parece um arremessopeso" no atletismo.
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