A história da jornalista branca que viveu um ano como uma mulher negra nos anos 1960:casas de aposta que dão 5 reais 2024

Assim como Griffin, o método escolhido foi a medicação para vitiligo, uma doença que causa despigmentação da pele pela falta ou diminuiçãocasas de aposta que dão 5 reais 2024melaninacasas de aposta que dão 5 reais 2024determinadas áreas. A ideia era tomar as pílulas para "potencializar" a exposição ao sol, adquirindo um tomcasas de aposta que dão 5 reais 2024pele mais escuro, o que finalmente alcançou após uma viagem para Porto Rico. "Para ter certeza, coloquei o meu braço junto ao dele [de umcasas de aposta que dão 5 reais 2024seus médicos]. Ele é negro, mas eu estava mais escura", descreveu no livro.

Naquele outono, embarcou para o Harlem, bairro da cidadecasas de aposta que dão 5 reais 2024Nova York com uma grande comunidade afro-americana. Com um vestidocasas de aposta que dão 5 reais 2024algodão simples e sapatilhas, um lenço sujo amarrado no cabelo, lentescasas de aposta que dão 5 reais 2024contato pretas e US$ 20 no bolso, entrou no ônibus rumo acasas de aposta que dão 5 reais 2024nova vida, porque "parecia bobo voar para um gueto", escreveu.

Seus medos eram muitos: que descobrissem que era branca e a castigassem por isso, que os homens negros a estuprassem ou roubassem (como acreditava a população branca), e que encontrasse algo parecido com o infernocasas de aposta que dão 5 reais 2024Dante. "Abandone toda esperança aquele que por aqui entrar", pensava enquanto o ônibus se aproximava do bairro.

Transformações como nicho

Mas nada disso aconteceu. Na verdade, o Harlem era tão diferente do que ela havia esperado, que alguns meses depois ela decidiu ir para o Mississippi, no sul do país, trabalhar como empregada doméstica na casacasas de aposta que dão 5 reais 2024uma família branca.

"Sempre que encontrava alguém que não se enquadravacasas de aposta que dão 5 reais 2024um padrão que ela tinhacasas de aposta que dão 5 reais 2024mente, ela os descartava", explica a professoracasas de aposta que dão 5 reais 2024estudos afro-americanos Alisha Gaines, da Universidade do Estado da Flórida, autora do livro Black for a Day: Fantasies of Race and Empathy (Preto por um Dia: Fantasiascasas de aposta que dão 5 reais 2024Raça e Empatia,casas de aposta que dão 5 reais 2024tradução livre, publicadocasas de aposta que dão 5 reais 20242017). "Ela aplicava estereótipos e enxergava a negritude somente como sofrimento, dor e vulnerabilidade."

Foi na casa da família branca, porém, que ela chegou pertocasas de aposta que dão 5 reais 2024ter uma das experiências que tanto a atemorizavam. Um dia, o homem (branco) da família tentou estuprá-la, e ela conseguiu se livrar quebrando um retrato da família na cabeça dele. Halsell interrompeu a experiência ali, faltando alguns meses para completar o ano a que se havia proposto. E concluiu, no livro, que "o problema é maior que branco ou preto. É a desumanidade do homem com o homem (e mulher) sempre e por toda a parte".

Onde começa e termina o romantismocasas de aposta que dão 5 reais 2024seus relatos, é difícil saber. Halsell, que morreu aos 77 anoscasas de aposta que dão 5 reais 2024mielomacasas de aposta que dão 5 reais 2024setembrocasas de aposta que dão 5 reais 20242000, encontrou nas transformações raciais um "nicho"casas de aposta que dão 5 reais 2024carreira. Depoiscasas de aposta que dão 5 reais 2024viver como mulher negra, passou uma temporada entre os índios Navajo, conviveu com imigrantes mexicanos ilegais e viveu com famílias israelitas, palestinas e judaicascasas de aposta que dão 5 reais 2024Jerusalém.

"Soul Sister écasas de aposta que dão 5 reais 2024muitas formas um livro irritante, mas também muito poderoso dependendo da parte que você lê, e ela cita [o romancista negro James] Baldwin", disse o historiador Robin Kelley, professor da Universidade da Califórniacasas de aposta que dão 5 reais 2024Los Angeles,casas de aposta que dão 5 reais 2024uma apresentação na Universidadecasas de aposta que dão 5 reais 2024Illinoiscasas de aposta que dão 5 reais 2024Chicago.

Kelley está trabalhandocasas de aposta que dão 5 reais 2024um livro sobre a jornalista que deve ser lançado neste ano. "Baldwin nos ensinou que não precisamos ser como os outros para construir solidariedade. E ela fala algo parecido com isso, sobre encontrar o que haviacasas de aposta que dão 5 reais 2024diferente e entender como as pessoas sofrem, saircasas de aposta que dão 5 reais 2024dentrocasas de aposta que dão 5 reais 2024nós mesmos. É por isso que ela fez o experimento, não porque queria ser uma mulher negra."

Solidariedade versus empatia

Embora se abstenhacasas de aposta que dão 5 reais 2024emitir opinião sobre seu objetocasas de aposta que dão 5 reais 2024pesquisa — "eu não preciso gostar do meu sujeito", explicou na apresentação —, Kelley reconhece que os experimentoscasas de aposta que dão 5 reais 2024Halsell são delicados. E um dos problemas é a linha tênue entre falar sobre solidariedade e empatia: a primeira leva a uma ação concreta, enquanto a segunda tende a ser considerada o suficiente.

"A minha definição favoritacasas de aposta que dão 5 reais 2024empatia vemcasas de aposta que dão 5 reais 2024Leslie Jamison, que diz que a empatia está sempre empoleirada entre presente e invasão. O gestocasas de aposta que dão 5 reais 2024empatiacasas de aposta que dão 5 reais 2024querer entender o outro é bom, mas quando esse entendimento se torna invasão, ou o peso dele é colocado nas pessoascasas de aposta que dão 5 reais 2024cor, isso não é empatia", diz Gaines.

"Outro problema é quando ela é considerada o suficiente, aquela coisa do 'oh, eu sinto tanto, sinto profundamente, estou chorando, mas enfim…' Se não te propulsiona para solidariedade, construçãocasas de aposta que dão 5 reais 2024coalizão e ação, qual o sentido?"

Para muita gente, gestos como ocasas de aposta que dão 5 reais 2024Halsell e Griffin são considerados o ápice da empatia pelo outro — nada poderia demonstrar maior vontadecasas de aposta que dão 5 reais 2024compreender outra pessoa do que literalmente se colocar no lugar dele. Em seu obituário no New York Times, por exemplo, Halsell é descrita como "a jornalista que buscou a verdade no disfarce". O livrocasas de aposta que dão 5 reais 2024Griffin é, até hoje, incluído na listacasas de aposta que dão 5 reais 2024leitura nas escolas estadunidenses.

Além deles, há outros casoscasas de aposta que dão 5 reais 2024pessoas brancas que se fingiram negras. O mais recente e amplamente divulgado na mídia é ocasas de aposta que dão 5 reais 2024Rachel Dolezal, quecasas de aposta que dão 5 reais 20242015 acendeu um debate ao mentir sobrecasas de aposta que dão 5 reais 2024verdadeira raça. Ela, uma mulher brancacasas de aposta que dão 5 reais 2024Montana, declarou-se negra e chegou a ser presidente da Associação Nacional para o Progressocasas de aposta que dão 5 reais 2024Pessoascasas de aposta que dão 5 reais 2024Cor (NAACP)casas de aposta que dão 5 reais 2024Spokane, no estadocasas de aposta que dão 5 reais 2024Washington, até tercasas de aposta que dão 5 reais 2024verdadeira identidade revelada e se declarar "transracial": embora tenha nascido e sido criada como branca, ela dissecasas de aposta que dão 5 reais 2024diversas entrevista, sentia-se e se identificava como uma mulher negra. A controvérsia virou o documentário "The Rachel Divide", lançadocasas de aposta que dão 5 reais 20242018 pela Netflix.

"A luta antirracista não é ter empatia pelo outro, e sim lutar por uma sociedade melhor. Quando um branco faz algo pelo negro, ele precisa se colocar como dever cívico, e nãocasas de aposta que dão 5 reais 2024superioridade moral", explica a professora Lia Vainer Schucman, da Universidade Federalcasas de aposta que dão 5 reais 2024Santa Catarina (UFSC), especialistacasas de aposta que dão 5 reais 2024racismo, branquitude e relações raciais. "E a tentativacasas de aposta que dão 5 reais 2024se parecer negro é a pior coisa que alguém pode fazer na luta antirracista, porque mesmo que viva por um dia como negro, ele pode tirar aquela roupa, e ser negro é o acúmulocasas de aposta que dão 5 reais 2024dias, é uma continuidade histórica."

Lugarcasas de aposta que dão 5 reais 2024escuta

Na visão das especialistas, a empatia pode acabar reforçando os privilégios da população branca. "Por exemplo, o que está acontecendo agora, com George Floyd. Tenho visto muitas pessoas brancas dizendo 'imagine se ele fosse branco'", diz Gaines. "O fatocasas de aposta que dão 5 reais 2024que pessoas brancas têm que fazer esse exercício imaginativo para entender que não está certo ajoelhar no pescoçocasas de aposta que dão 5 reais 2024alguém por 8 minutos, isso é privilégiocasas de aposta que dão 5 reais 2024seu auge."

No fim, o que deveria ser uma demonstraçãocasas de aposta que dão 5 reais 2024empatia ou um atocasas de aposta que dão 5 reais 2024solidariedade, coloca o branco no centro da questão. "Algumas pessoas brancas não conseguem olhar para uma pessoa negra e enxergar uma pessoa, elas têm que torná-la seus próprios filhos brancos e reimaginar todo o cenário para sentir raiva", conclui a professora.

E é esse o maior problemacasas de aposta que dão 5 reais 2024experiências como acasas de aposta que dão 5 reais 2024Halsell, Griffin ou casos como ocasas de aposta que dão 5 reais 2024Dolezal:casas de aposta que dão 5 reais 2024vezcasas de aposta que dão 5 reais 2024ouvir o que pessoas negras ou outras minorias têm a dizer, eles acreditam que precisam falar por elas. "Assim como tem o lugarcasas de aposta que dão 5 reais 2024fala, tem o lugarcasas de aposta que dão 5 reais 2024escuta. As pessoas brancas escutam melhor outras pessoas brancas, porque na própria ideiacasas de aposta que dão 5 reais 2024branquitude, há a ideiacasas de aposta que dão 5 reais 2024que o branco é neutro ecasas de aposta que dão 5 reais 2024que o negro fala com viés, o que é um engano, porque não existe um lugar sem viés", diz a pesquisadora brasileira. "Mas a branquitude pauta a ideiacasas de aposta que dão 5 reais 2024uma pseudo neutralidade para o branco, então se ele fala, ele está sendo acadêmico, se o negro fala, ele está sendo militante, vitimista. Então é um lugarcasas de aposta que dão 5 reais 2024que brancos escutam melhor os brancos, e que faz parte da própria lógica racista."

"A Grace não amplificou as vozescasas de aposta que dão 5 reais 2024pessoas negras, ela se enfiou no meio e falou por eles. Ela dizia 'estou falando por minhas irmãs mais escuras', como se essas irmãs não tivessem voz", diz Gaines. "As pessoas não são mudas, elas só precisamcasas de aposta que dão 5 reais 2024amplificação. Chamo Gracecasas de aposta que dão 5 reais 2024uma aliada que falhou, porque ela estava no centrocasas de aposta que dão 5 reais 2024tudo, o tempo todo."

As obras assinadas por autores negros no período evidenciam isso. No mesmo anocasas de aposta que dão 5 reais 2024que Halsell publicou Soul Sister, Maya Angelou lançou o primeiro volumecasas de aposta que dão 5 reais 2024sua autobiografia, Eu sei por que o pássaro canta na gaiola, editado pela primeira vez no Brasilcasas de aposta que dão 5 reais 20242009. Em 1970, Toni Morrison publicou o aclamado O Olho Mais Azul — quatro livros depois,casas de aposta que dão 5 reais 20241993, foi reconhecida com um Nobelcasas de aposta que dão 5 reais 2024Literatura.

O próprio James Baldwin, que teria inspirado Halsell, publicoucasas de aposta que dão 5 reais 2024mais importante coletâneacasas de aposta que dão 5 reais 2024ensaios sobre racismo entre 1955 e 1963. Isso sem falar nos que vieram antes, entre eles Ralph Ellison, que lançou O Homem Invisívelcasas de aposta que dão 5 reais 20241952, e Langston Hughes, mortocasas de aposta que dão 5 reais 20241967, que deixou uma prolífica bibliografiacasas de aposta que dão 5 reais 2024poesias, romances, contos, teatro e dramaturgia. Não faltavam autores negros para falarem do próprio sofrimento e experiências. Faltavam pessoas brancas dispostas a ouvi-los.

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