O que significa Trump declarar emergência nacional por avanço do coronavírus nos EUA:

Crédito, SAUL LOEB/AFP

Legenda da foto, Com quase dois mil casos confirmados, mesmo dianteuma falta generalizadatestes, EUA poderão ter até drive-thruexames

Até o começo dessa semana, Trump fazia o oposto disso. "Fiquem calmos, isso vai desaparecer", disse recentemente, depoisacusar reiteradamente seus rivais democratasexagerar a importância da epidemia erepetir que os casoscoronavírus estavam reduzindo no país, enquanto, na verdade, eles estavam aumentando.

"A decretação do estadoemergência é uma rara admissãoerro por Trump. É também uma medida mais correta pra lidar com a situação do que o banimentoviagenseuropeus aos EUA, que tende a ser inócuo", afirma Carlos Gustavo Poggio, professor especialistapolítica americana da FAAP.

Crédito, PETER FOLEY/EPA

Legenda da foto, Aeroporto vazioNova York: pandemia tem tido impacto sobre comércio e serviços no país

Trump não fará exame por ter estado com Bolsonaro

Em uma coletivaimprensa nesta sexta, Trump afirmou que não fará exames depois que os resultados do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, retornaram negativos para a doença, nesta manhã. Trump e Bolsonaro jantaram juntos no sábado, dia 7.

"Eu não tenho nenhum sintoma até agora. Não queremos pessoas sem sintomas fazendo exames", disse.

O prefeitoMiami, Francis Suarez, que também se encontrou com Bolsonaro, foi diagnosticado nesta sexta com o vírus. Já o senador republicano Rick Scott optou por decretarautoquarentena após encontro com o brasileiro.

Questionado sobre se cogitaria adotar medida semelhante após se aproximar do secretáriocomunicaçãoBolsonaro, Fabio Wajngarten — que teve diagnóstico positivo para o vírus —, Trump minimizou os riscos.

"Havia alguém (no jantar) que eles dizem (que está contaminado), não tenho ideiaquem ele é. Mas eu tiro fotos e isso dura literalmente segundos. Não conheço os senhoresquem estamos falando. Eu não tenho ideiaquem ele é. Eu não vi a foto, eles dizem que há uma fotoalguém, mas às vezes eu tiro centenasfotos por dia, e naquela noite eu estava tirando centenasfotos, então não sei. Agora eu sentei com o presidente por provavelmente duas horas, mas ele deu negativo, então isso é bom", afirmou

Crédito, JUSTIN LANE/EPA

Legenda da foto, Temoresrelação ao impacto do coronavírus na economia derrubou bolsas americanas nesta semana

1,4 milhãotestes a mais na próxima semana

Com casos46 dos 50 estados americanos, especialistas têm alertado que faz pouco sentido supor que a essa altura o "inimigo" seja externo, como afirmou Trumpum pronunciamento na Casa Branca há dois dias, ao falar"vírus estrangeiro" e interromper o fluxo entre seu país e a União Europeia.

O desafio principal para o republicano é coordenar com os Estados afetados uma resposta que acelere, por exemplo, a velocidade da testagem para novos casos — hoje, a resposta para um examecoronavírus leva cercasete dias, enquanto no Brasil o prazo édois dias.

Ao declarar estadoemergência, Trump anunciou que chegarão aos hospitais 1,4 milhãonovos kitstestagem no começo da semana que vem. Até o fim do mês, 5 milhões estarão disponíveis no serviçosaúde.

"Mais do que isso não será necessário", assegurou o presidente, que também garantiu facilitaçãoaprovação burocrática dos testeslaboratórios privados, um gargalo que impediu que os exames estivessem disponíveis ao redor do país durante as primeiras semanas da crise.

O presidente americano também liberou médicos, cuja licença restringe ao exercícioapenas alguns Estados, para atuar nacionalmente, onde for necessário.

Crédito, Ben Birchall/PA

Legenda da foto, EUA enfrenta falta degeneralizatestes para detectar a doença

De acordo com Trump, os novos testes e adaptações nos hospitais permitirão inclusive uma espécie"drive-thru"exames: pacientes poderão ser testados sem sequer descer do carro,estacionamentos, por exemplo, para evitar riscocontaminaçãoambientes hospitalares. "Os hospitais podem fazer o que tiverem que fazer", disse.

A medida do "drive-thru" foi adotada, por exemplo, na Coreia do Sul.

"Não queremos todo mundo correndo para fazer testes. É só se tiver um conjuntosintomas e condições. É totalmente desnecessário", disse Trump, tentando tranquilizar a população.

Sem licença médica remunerada

Conhecida como Stafford Act, a leiemergência americana tomou a forma atual na década1980, durante a gestão Ronald Reagan.

A decretaçãoestadoemergência não é tão rara: desdecriação ele foi adotadoalgum momento por todos os governos. No entanto, a medida costuma ter efeitos meramente locais: o instrumento foi usado nos anos 1990, na gestão Bill Clinton, para responder ao surto causado pelo vírus do Nilo OcidentalNova York e Nova Jersey, e por George W. Bush, quando o furacão Katrina devastou a cidadeNova Orleans.

A única vezque foi adotada nacionalmente foi durante a crise da gripe suína, no governo Barack Obama.

A medida amplia os poderes do presidente para tomar decisões rápidasdiferentes níveis. No mais abrangente deles, Trump poderia aumentar os gastos públicos com seguro desemprego, subsídios a trabalhadores (como licenças médicas remuneradas) ou mesmo distribuiçãovouchers para alimentação e realocaçãopessoas.

Nada nesse sentido, no entanto, foi anunciado ainda. Um pacotemedidas estádiscussão no Congresso, entre republicanos e democratas, para garantir licença remunerada e a gratuidade dos testescoronavírus no país.

De acordo com o EscritórioEstatísticas Laborais americano, um quarto dos trabalhadores do país não têm direito a se ausentar do trabalho por motivos médicos sem que seu salário seja descontado.

"O darwinismo social do ambienteemprego americano deixa milhõestrabalhadores incapazes ou dispostos a ficarcasa longe do trabalho, mesmo quando estão doentes. Isso prejudica os pedidos'distanciamento social' e promove a disseminação do novo coronavírus que causa a doença COVID-19", escreveu Michael Hiltzik, especialistanegócios do jornal Los Angeles Times, denunciando um dos pontos mais falhos na estratégia americanacombate à epidemia.

Atualmente, o CentroControle e PrevençãoDoenças (CDC), órgão americano responsável pela saúde pública, recomenda que qualquer pessoa que tenha tido contato com alguém que testou positivo para o vírus entre automaticamentequarentenacasa.

Sem garantiasque receberão seus salários e não poderão ser demitidos por uma ausênciaao menos duas semanas no postotrabalho, os trabalhadores americanos preferem correr o riscose contaminar e disseminar a doença.

Em termos econômicos, Trump afirmou que cortaria juros sobre empréstimos estudantis e queadministração pretende comprar a maior quantidade possívelpetróleo para aproveitar que o preço do barril caiu30%seu valor.

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