O que une crises na Bolívia e no Chile, modelos da esquerda e da direita na América Latina:nacional bet com

No caso chileno, apesar das manifestações populares terem tido como pontonacional bet comignição o anúncionacional bet comum aumento do preço das passagensnacional bet commetrô, foi a baixa redenacional bet comproteção social pública, que tem levado aposentados à miséria, que forneceu o combustível ao levante social.

Mas existem elementos comuns não apenas na situaçãonacional bet comChile e Bolívia, mas no cenário da América Latina, que tem contribuído para a ida dos cidadãos às ruas.

São aspectos que ajudam a explicar também os gigantes protestos contra o presidente do Equador, Lenín Moreno, que o levaram a transferir a capital do paísnacional bet comQuito para Guayaquil há cercanacional bet comum mês, o fechamento do Congresso peruano pelo presidente Martín Vizcarra há um mês e meio e o mau resultado eleitoral para os governos incumbentes tanto na Argentina,nacional bet comque o centro direitista Maurício Macri será substituído pelo peronista Alberto Fernández, e Uruguai, onde o segundo turno aponta para a derrota do candidato da frentenacional bet comesquerda do presidente Tabaré Vasquez.

Depois da explosão das commodities, a pobreza mostra a cara

Em diferentes graus, os anos 2000 foram marcados por um crescimento acelerado dos países do continente. Basicamente produtoresnacional bet comcommodities, como produtos agropecuários, minério, gás e petróleo, os latinos se beneficiaram do crescimentonacional bet commercados consumidores como a China e a Índia.

De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a pobreza no continente caiunacional bet com27% para 12% entre 2000 e 2014. No mesmo período, houve uma reduçãonacional bet com11% na desigualdade entre ricos e pobres.

"Nesse período, a maior parte da América do Sul experimentou um crescimento sustentável, com redução não só da pobreza mas,nacional bet comalguns lugares, da desigualdade também. O Banco Mundial estima que 100 milhõesnacional bet compessoas entraram na classe média", afirma Michael Shifter, presidente do think tank Inter-American Dialogue, baseadonacional bet comWashington.

Nos últimos seis anos, no entanto, o cenário mudou. A economia reduziu o ritmo para um crescimento próximonacional bet com1% entre 2014 e 2015. Em 2016, o PIB da região chegou a experimentar uma retraçãonacional bet com0,6%. Em 2017 e 2018 houve discreto crescimento,nacional bet com1,2% e 1%, respectivamente. E a projeção para 2019 énacional bet comestagnação,nacional bet com0,2%, enquanto a média globalnacional bet comcrescimento supera os 3%.

A Bolívia, curiosamente, é a grande exceção a essa regra. Nesta última década, o país vem crescendonacional bet commédia a 5% ao ano, e a economia boliviana deve registrar neste ano o maior crescimento da América do Sul. A última projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgadanacional bet comoutubro, sinaliza um avançonacional bet com4% do Produto Interno Bruto (PIB).

O ciclo, que já foi chamadonacional bet com"milagre econômico boliviano", começounacional bet com2006, quando Evo Morales chegou ao poder.

Desemprego crescente e descontentamento

Entretanto, no restante do continente, o descontentamento com a diminuição do ritmonacional bet comcrescimento que deixou um rastronacional bet comdesemprego crescente é visto por analistas como impulsionador dos movimentos que clamam por mudança.

"Esses 100 milhões da nova classe média descobriram que,nacional bet comum contextonacional bet comdesaceleração da economia, o caminho da ascensão social estava bloqueado para eles. Não é surpreendente que a frustração e a raiva tenham se espalhado pela região", diz Shifter.

O acesso ao crédito foi cortado, e o consumo das famíliasnacional bet comclasse média teve que ser reduzido, já que entre elas se espalhou o endividamento. A desigualdade entre o topo e a base da pirâmide econômica passou a chamar mais a atençãonacional bet compaíses muito desiguais como o Brasil, que experimentou protestosnacional bet comruanacional bet com2013, e o Chile, sacudido por manifestações recentemente. Nos dois casos, o estopim do mal-estar generalizado foram aumentos nas passagens do transporte público.

Apesar do ciclonacional bet comprosperidade, a Bolívia também terá que tomarnacional bet combreve medidasnacional bet comausteridade tendonacional bet comvista a queda do ritmonacional bet comcrescimento aliada à elevação do défict nas contas públicas.

O Equador tentou cortar subsídiosnacional bet comcombustíveisnacional bet comgrupos indígenas e enfrentou protestos tão grandes que voltou atrás e ainda assinou lei para redirecionar recursos públicos às populações mais pobres do país.

Já a Argentina terá que descobrir como pagar o maior empréstimo já concedido na história do FMI sem empobrecernacional bet compopulação.

"A América Latina é um dos lugares mais desiguais do mundo, isso não é novidade. Só que quando o crescimento desacelera, você tem menos redistribuiçãonacional bet comriquezas, e as necessidadesnacional bet comajustes fiscais costumam recair sobre quem já tem menos", afirma a cientista política Maria Victoria Murillo, da Columbia University,nacional bet comNova York.

"A era das commodities trouxe a esperançanacional bet comque a desigualdade diminuiria, e vemos que continuamos a ter um continente profundamente desigual economicamente, socialmente e simbolicamente."

Polarização política e redes sociais

Em parte como efeito da desigualdade, a região vive uma intensa polarizaçãonacional bet composicionamentos políticos. Há divisões regionais, como no caso da histórica desavença entre as regiões bolivianasnacional bet comLa Paz,nacional bet comgrande população indígena, enacional bet comSanta Cruznacional bet comLa Sierra, grande polo empresarial, com população predominantementenacional bet comdescedentesnacional bet comcolonizadores europeus.

Mas há ainda novos movimentos sociais. Um deles tem sido a redução na forçanacional bet comsindicatos ou associaçõesnacional bet comtrabalhadores pela região. No lugar deles, igrejas evangélicas têm ganhado preponderância.

"As igrejas evangélicas são um fenômeno na América Latina porque muitas vezes são a única instituição presente nas áreas mais pobres e carentes. São elas que trazem uma redenacional bet comsustentação e sociabilidade para essas pessoas. E são também instrumentonacional bet commobilização social", afirma Murillo.

Na Bolívia, horas antes da renúncianacional bet comEvo, seu opositor na direita, Luis Fernando Camacho afirmou que "a Bíblia vai voltar ao Palácio do Governo".

"A participação políticanacional bet comevangélicos têm crescido no continente latino-americano como um todo. Como costumam ser conservadoresnacional bet comquestõesnacional bet comcostumes, gênero e sexualidade, esses grupos tendem a dar suporte a políticosnacional bet comdireita e extrema direita e muitos vezes os ajudam a mobilizar eleitores", afirma a cientista política da Universidade do Estadonacional bet comIowa Amy Erica Smith, autora do recém-lançado Religion and Brazilian Democracy - Mobilizing the people of God, ainda sem tradução no Brasil.

"A questão é que, como defendem preceitos religiosos, quenacional bet comtese são pregados por Deus, e que são mandamentos muito preto no branco, eles acabam demonizando adversários políticos, têm pouca propensão ao debate, pouca flexibilidade, o que contribui para a polarização", afirma Smith.

Redes sociais

Smith nota ainda a importância que as mídias sociais tomaram na atividade política na região. Via Twitter, o presidente do Chile se desculpou "com humildade" depoisnacional bet comdar uma resposta enérgica - e mal-sucedida - contra as manifestaçõesnacional bet comrua que enfrentava.

Evo denunciou na mesma rede social uma tentativanacional bet comprendê-lo logo após a renúncia. Dias antes, via Facebook e Twitter circulavam imagensnacional bet comuma prefeita aliada ao ex-presidente sendo torturada por opositores na rua.

No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro fez seu primeiro pronunciamento à nação, após a eleição, por meionacional bet comuma transmissão ao vivo na internet - tradicionalmente o discurso era televisionadonacional bet comcadeia nacional. Ele costuma fazer política online,nacional bet comcontato direto com o eleitor, e estimulou seus principais ministros a fazerem o mesmo.

Pouco depoisnacional bet comvencer as eleições na Argentina, Alberto Fernández fez uma transmissão via Facebook para defender a libertação do ex-presidente Lula, o que Bolsonaro classificou como uma "agressão" à democracia brasileira.

"As redes sociais ganharam uma importância tamanha na política latino-americana que não é exagero dizer que possivelmente Bolsonaro não teria sido eleito sem elas. Viraram um meio pelo qual a política se organiza e acontece", afirma Smith.

"Há um lado negativo nisso, já que elas ajudam a disseminar muito rapidamente o medo, a raiva e as informações equivocadas", completa a especialista.

Democracias pobres, instituições combalidas

Há ainda uma ondanacional bet comdescrédito generalizado no continentenacional bet comrelação à política e às instituições democráticas. A Operação Lava Jato levou à investigação e à prisãonacional bet compolíticos graduados ou empresários não só no Brasil, masnacional bet comArgentina, Panamá, Peru, Venezuela e Equador. Apenas no Peru, quatro ex-presidentes estão implicados com atosnacional bet comcorrupção no âmbito da operação.

"Isso explica porque o presidente peruano fechou o Congresso e 85% da população apoiou a medida. A democracia se tornou menos popular na região, aumentou a tolerância com autoritarismos", afirma Murillo.

Mesmo o Chile, habitualmente considerado menos corrupto que seus vizinhos latinos, se viu às voltas com suspeitasnacional bet comcorrupção envolvendo o filhonacional bet comsua agora ex-presidente Michelle Bachelet, Sebastián, investigado por fraude, tráficonacional bet cominfluência e informação privilegiada por negócios que fez com entes públicos enquanto a mãe comandava o país.

"A maior parte dos partidos está amplamente desacreditada e já não canaliza mais as demandasnacional bet comseus cidadãos", diz Schifter.

Instituições desacreditadas

O descrédito também atinge as instituições. Na Bolívia, a OEA concluiu que a cúpula do Tribunal Superior Eleitoral fraudou as eleiçõesnacional bet comfavornacional bet comEvo Morales. No Brasil, mensagens hackeadas atribuídas aos procuradores da Lava Jato e ao então juiz federal Sergio Moro, hoje ministro da Justiça, levantaram suspeitasnacional bet comparcialidade na opinião pública.

"As pessoas se tornaram céticas e até cínicasnacional bet comrelação às instituições. A percepçãonacional bet comque investigações, juízes, órgãos agem politicamente orientados trouxe um dano real à democracia na região", diz Smith.

Schifter aponta para um outro problema do descrédito institucional: "diante do vácuonacional bet comliderança, os militares podem se apresentar e querer retomar protagonismo político, o que é totalmente inapropriadonacional bet comuma sociedade democrática".

Na Bolívia, as Forças Armadas admitem ter "sugerido" a renúncianacional bet comEvo.

No Chile, Piñera enfrenta investigações por violações aos direitos humanos após convocar o Exército para reprimir manifestaçõesnacional bet comrua.

No Peru, militares chegaram a cercar o Congresso para impedir que os deputados entrassem na sede do Legislativo e desafiassem a ordemnacional bet comfechamento dada pelo presidente.

No Equador, Lenín Moreno determinou que o Exército fizesse valer um toquenacional bet comrecolher contra os manifestantes.

No Brasil, quadros militares fazem parte da administraçãonacional bet comBolsonaro, ele mesmo egresso das Forças Armadas. Há uma semana, o general da reserva Eduardo Villas Boas, ex-comandante do Exército sugeriu que "uma convulsão social" poderia atingir o país a depender da decisão do Supremo Tribunal Federalnacional bet comrever a prisão após condenaçãonacional bet comsegunda instância.

A medida acabou por beneficiar o ex-presidente Lula, que deixou a carceragem da Polícia Federalnacional bet comCuritiba. "É um jogo perigoso para países que já experimentaram ditaduras militares", diz Schifter.

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