Eleições na Bolívia: quem é Carlos Mesa, ex-presidente que deve enfrentar Evo Morales no 2º turno:método betano

Alvo tantométodo betanomanifestantes quantométodo betanopartidos políticos, Mesa acabou por renunciar ao cargo. Agora, 14 anos depois, se aproximamétodo betanouma segunda chance graças ao resultado da eleição presidencial deste domingo (20).

Com quase 90% dos votos contabilizados, ele deve enfrentar o presidente Evo Morales, que está no poder há quase 14 anos e busca o quarto mandato consecutivo, no segundo turnométodo betano15método betanodezembro.

Morales aparece com 45,28% dos votos, contra 38,6%método betanoMesa. Na Bolívia, para ser eleito presidente são necessários 40% dos votos e uma diferençamétodo betano10% para o segundo colocado, ou maismétodo betano50% da votação.

Um segundo turno seria o primeirométodo betano37 anos, e um duro revés para Evo Morales, que só conseguiu o direitométodo betanodisputar um quarto mandato — apesarmétodo betanoum plebiscitométodo betano2016 ter decidido contramétodo betanoreeleição — após uma decisão da instância máximamétodo betanoJustiça do país, o Tribunal Constitucional.

Mesa chegou a esse ponto sob denúncias e críticas não apenas do partido no poder, mas também dos setores mais radicais da oposição boliviana, que o acusammétodo betanolavagemmétodo betanodinheiro e corrupção.

Antes da política

Carlos Mesa, hoje com 66 anos, estudoumétodo betanoum colégio tradicional jesuítamétodo betanoLa Paz, onde desde o primeiro ano tornou-se amigométodo betanoRoberto Melogno.

Desde então, eles não se afastaram e hoje o segundo é um dos conselheiros da campanha presidencialmétodo betanoseu amigo.

Melogno,método betanoentrevista à BBC News Mundo (serviçométodo betanoespanhol da BBC), lembrou que Mesa sempre demonstrou interesse por diferentes temas, como história, política, cinema e futebol, "mas não para jogar, porque ele não era muito habilidoso".

Seu interesse passava pelos esquemas táticos e por décadasmétodo betanoestatísticasmétodo betanodiferentes times bolivianos, sabendo tudométodo betanocor, segundo seu amigo.

Melogno também destaca a influência dos paismétodo betanoMesa sobre o hoje candidato, que eram ensaístas renomados envolvidos com pesquisas históricasmétodo betanodiferentes fases do país.

"As últimas edições do livro História da Bolívia (publicado pela primeira vez há 22 anos) já trazem a assinatura dos três, Teresa Gisbert, Josémétodo betanoMesa e Carlosmétodo betanoMesa."

Figura pública

Mesa terminou o ensino médio no início dos anos 1970 e se graduoumétodo betanoliteratura na universidade. Em paralelo, passou a ganhar espaço na mídia.

Entre 1980 e 90, se tornou uma figura pública e até fundou um canalmétodo betanotelevisão privado com uma equipemétodo betanojornalistas.

A linha editorial passou a ser alvométodo betanocríticas,método betanorazão do alinhamento com as medidas "neoliberais" da época, como a privatização das empresas bolivianas.

Na opiniãométodo betanoSebastián Michel, atual embaixador bolivianométodo betanoCaracas (Venezuela), Mesa se encantou com o discurso reformista e modernizador da época, o que o levou a ingressar no projeto político do bem-sucedido empresáriométodo betanomineração e chefe do partido mais poderoso da Bolívia na época, Gonzalo Sánchezmétodo betanoLozada.

"Ele se apaixonou por esse governo entre 1993 e 1997 com medidasmétodo betanoajuste estrutural e estabilização econômica com alto custo social", disse o diplomata à BBC News Mundo.

Michel acrescenta que o atual candidato da oposição acreditava nas políticas implementadas nos anos 1990, mas estas derivaram na crise social e econômica do início do século na Bolívia.

Por outro lado, esta é a fase mais prolíficamétodo betanoMesa como historiador e jornalista, momentométodo betanoque fortalecemétodo betanoequipe, obtém uma licença para ter um canalmétodo betanoTV e começa a ganhar prêmios nacionais e internacionais pormétodo betanoprodução jornalística.

Em 2002, já como um dos rostos mais famosos na mídia boliviana, aceitou o convite para ser o vice-presidentemétodo betanoGonzalo Sánchezmétodo betanoLozada.

O candidato (parte 1)

No início do século, o descréditométodo betanotorno dos partidos políticos na Bolívia era bastante elevado, com seguidas manifestações e bloqueios nas ruas, tendo Evo Morales como ummétodo betanoseus principais protagonistas.

O país enfrentava uma forte recessão econômica que atingia a maioria da população. De outro lado, vinham à tona diversos escândalosmétodo betanocorrupção envolvendo autoridades do país.

É nesse contexto que Mesa, que até então não havia se aproximado da política partidária, passa a ser colegamétodo betanochapamétodo betanoSánchezmétodo betanoLozada numa campanha voltada à "luta contra a corrupção".

A chapa Lozada-Mesa venceu a eleição, mas o plantadormétodo betanococa Evo Morales se colocou como um líder nacional.

Sem maioria no Congresso e com o paísmétodo betanomeio a uma crise econômica e social, o novo governo assumiumétodo betano6método betanoagostométodo betano2002, mas não durou 15 meses.

'Outubro Negro'

As manifestações e os bloqueios nas ruas e estradas aumentaram à medida que crescia a rejeição a um projeto do governo para exportar reservasmétodo betanogás para os Estados Unidos, considerado desvantajoso para o país.

A repressão violenta, que deixou mortos camponeses e indígenas, resultoumétodo betanoum cerco que passou a causar escassezmétodo betanocomida e combustível na capital La Paz.

Um dia após o chamado "comboio da morte", operação policial e militar que acaboumétodo betanomortos e feridos, Mesa rompeu com o presidente Sánchezmétodo betanoLozada, mas anunciou que permaneceria no cargométodo betanovice-presidente.

O rompimento foi considerado uma traição pelo governo à época.

Poucos dias depois, na sexta-feira, 17método betanooutubrométodo betano2003, a entradamétodo betanomineiros portando bastõesmétodo betanodinamite no coraçãométodo betanoLa Paz foi o golpe final no governo Sanchez Lozada e precipitou a chegada do historiador e jornalista à Presidência do país.

O período é lembrado na Bolívia como "Outubro Negro" ou "A guerra do gás".

Mesa como presidente

Carlos Mesa falamétodo betanoseu tempo à frente do país como uma "Presidência sitiada", expressão que dá título às memórias que publicou sobremétodo betanoexperiência como presidente.

Emmétodo betanodescrição do período na obra, ele falamétodo betano"momentosmétodo betanoque os eventos aconteceram vertiginosamente".

Ele presidiu o país entre outubrométodo betano2003 e maiométodo betano2005 sob fogo permanentemétodo betanoprotestos, e com Evo Morales como um feroz adversário.

Mesa também não conseguiu apoio significativo no Congresso, dividido entre os partidos que foram parte da coalizãométodo betanoSanchezmétodo betanoLozada e o grupo liderado por Evo.

Em seu breve mandato, Mesa organizou um referendo para definir políticas nacionaismétodo betanohidrocarbonetos, mas a medida estava longemétodo betanoatender à principal demanda na Bolívia naquela época: a nacionalização das reservasmétodo betanogás.

Tampouco conseguiu pacificar o país ao anunciar a convocaçãométodo betanouma Assembleia Constituinte.

A controvérsia sobre os camposmétodo betanogás permaneceu até o último diamétodo betanoseu mandato, quando o Congresso aprovoumétodo betanosaídamétodo betanouma sessãométodo betanoemergência foramétodo betanoLa Paz, realizada sob o cercométodo betanoorganizações sindicais.

Ao longométodo betanoanos, aliados do governométodo betanoMorales não pouparam críticas ao mandatométodo betanoCarlos Mesa, que se qualifica como o último presidente "neoliberal" da história da Bolívia.

Mesa é frequentemente responsabilizado pelas dificuldades econômicas que o país enfrentou quando ele era presidente.

"Se algo marcou o governométodo betanoCarlos Mesa foram suas hesitações e contradições", afirmou o hoje ministro da Comunicação, Manuel Canelas.

Para o embaixador Sebastián Michel, essas indecisões levaram Mesa a desperdiçar a oportunidade histórica que teve quando se tornou presidente.

"Essa é uma das grandes frustrações políticas que ele sofre", conclui o diplomata.

O candidato (parte 2)

Em agostométodo betano2018,método betanouma reunião com seu grupométodo betanoamigos mais próximos e conselheiros políticos, Mesa falou da possibilidade realmétodo betanovoltar à política.

Era a primeira vezmétodo betanoque as pesquisas o colocavam como candidato com mais oportunidadesmétodo betanoderrotar Evo na disputa pela Presidência.

A oposição boliviana busca alternativas para derrotar Morales há 14 anos, mas uma candidatura única nunca foi acertadamétodo betanotodo esse tempo.

Mesa, no início da disputa, se afastoumétodo betanolíderesmétodo betanodiferentes regiões, especialmente osmétodo betanoSanta Cruz (leste), o Departamento (Estado) mais populoso da Bolívia. O candidato defende a diversificação da economia, para reduzir a dependência do gás, e a recuperação das instituições, que segundo ele foram cooptadas por Evo.

Na fase final das eleições presidenciais, o principal adversáriométodo betanoEvo Morales concentrava seus esforçosmétodo betanopedir o "voto útil" aos bolivianos e, assim, unificar os detratoresmétodo betanoMorales ao seu redor.

O terceiro candidato mais forte da disputa era Oscar Ortiz, político e empresário da região, que concentrou grande partemétodo betanosua campanhamétodo betanoataques a Mesa.

Desde que se tornou candidato, Mesa foi questionado sobre acusaçõesmétodo betanorecebimentométodo betanorecursos ilegais quando era candidato à vice-presidênciamétodo betanoSánchezmétodo betanoLozada.

Ortiz, como outros oposicionistas e o próprio governo, critica a recusa do candidatométodo betanoresponder a esses questionamentos. Para Mesa, isso é "guerra suja".

Ex-integrantes da coalizãométodo betanoSánchezmétodo betanoLozada que não perdoam a "traição"método betanoMesa contra o então presidente afirmaram neste ano que o político recebeu dinheiro ilegalmétodo betanotrocamétodo betanoser candidato a vice-presidente há 16 anos.

O partidométodo betanoEvo Morales pegou carona e ampliou os ataques da direita mais conservadora da Bolívia para desacreditar Mesa.

Para alguns, o candidato se saiu bemmétodo betanonão responder às acusações. Outros argumentam que seu silêncio emétodo betanohesitação sobre as denúncias foram o ponto fracométodo betanosua campanha.

Parte do eleitorado se ressente até hoje com a renúnciamétodo betanoMesa à Presidência enquanto o país enfrentava uma grave crise social e econômica.

'Evismo moderado'

Uma fatia dos críticos aponta que o projeto dele é uma espéciemétodo betano"evismo moderado". Morales assumiu o podermétodo betanojaneirométodo betano2006 e é o presidente boliviano que está no cargo há mais tempo na história do país.

Na última década, o país vem crescendométodo betanomédia a 5% ao ano. O ciclo, que já foi chamadométodo betano"milagre econômico boliviano", começoumétodo betano2006, quando Evo Morales chegou ao poder.

Uma das primeiras e principais medidas do presidente, que tenta se reeleger para um quarto mandato, foi a nacionalização do petróleo e do gás natural. Parte das empresas privadas foi transferida para as mãos do Estado.

Apesarmétodo betanocomeçar com uma políticamétodo betanonacionalizações, tipicamente identificada com governosmétodo betanoesquerda mais radicais, o modelométodo betanocrescimento boliviano não excluiu as empresas privadas. Pelo contrário.

Além das multinacionaismétodo betanoóleo e gás, o país também teve um aumento da presençamétodo betanomarcas internacionaismétodo betanosetores que vãométodo betanoalimentação a moda e entretenimento, interessadas no incrementométodo betanorenda no mercado doméstico, resultado,método betanoboa parte, das políticasmétodo betanotransferênciamétodo betanorenda.

O modelo foi batizadométodo betano"economia plural", com a participação tantométodo betanosetores tradicionais quantométodo betanopequenas e médias empresas e grupos indígenas.

É uma espéciemétodo betanomodelo misto, com forte presença do Estadométodo betanoum lado, tanto no controle dos recursos naturais quanto nas políticasmétodo betanotransferênciamétodo betanorenda para os mais pobres, e um ambiente bem mais amistoso do que se poderia imaginar à atuaçãométodo betanograndes empresas, muitas multinacionais.

Em 13 anosmétodo betanogoverno, Morales conseguiu manter o nívelmétodo betanocrescimento da Bolívia e controlar a inflação, que vem desacelerando e ficou pertométodo betano2%método betano2018.

Mas o desempenhométodo betanoalguns indicadores acenderam sinalmétodo betanoalerta. Um deles são as contas públicas, que estão no vermelho desde 2014 e vêm se deteriorando. Em 2018, o deficit chegou a 8,3% do PIB — para efeitométodo betanocomparação, no Brasil, o deficit foimétodo betano1,7% do PIB no mesmo período. Há também a expansão do endividamento público sob seu governo, que passoumétodo betano36,8% do PIBmétodo betano2008 para 53,8%método betano2018.

Morales é alvométodo betanocríticasmétodo betanodiversos setores, a exemplométodo betanoambientalistas e indígenas, que criticam uma medida federal que ampliou a área permitida para queimadas controladas. Para esses grupos, o presidente boliviano aprova leis para anistiar desmatadores, promove a expansão da fronteira agrícola e demorou a agir contra incêndios na região amazônica.

Além da forte resistência popular à ofensivamétodo betanoconcorrer a um quarto mandato, o presidente é contestado também por ataques à imprensa, pela faltamétodo betanotransparênciamétodo betanocontratos públicos (há acusaçõesmétodo betanofavorecimentométodo betanoaliados do governo) e pelo aumento da violência doméstica contra mulheres no país.

Para Mesa, é "preciso terminar com a concentraçãométodo betanopoder e com a teoriamétodo betanoque a Bolívia não pode viver sem Evo". Emmétodo betanoavaliação, Morales "já fez o que tinhamétodo betanoser feito", como valorizar o conceitométodo betanoser indígena no país, ter administrado "razoavelmente" a economia e "não ter repetido o erro econômico da Venezuela".

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