O conflito histórico com a Irlanda que ameaça acordo do Brexit:bwin handicap

Estrada na passagem entre as Irlandas

Crédito, AFP

Legenda da foto, Atualmente não há uma fronteira rígida, com controlebwin handicapmercadorias e passaportes, na fronteira entre Irlanda do Norte e República da Irlanda

bwin handicap Um dos principais pontos das negociações do Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, é a fronteira que separa a Irlanda do Norte e a Irlanda.

A Irlanda do Norte é um território britânico e forma — junto com Inglaterra, Paísbwin handicapGales e Escócia — o Reino Unido. Já a República da Irlanda é um país independente.

A questão da fronteira entre os países voltou a ficarbwin handicapevidência nesta quinta-feira (17/10), quando o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, anunciaram ter chegado a um acordo sobre o Brexit. O texto precisa ser votado no Parlamento britânico.

O partido norte-irlandês DUP — que tem sido um dos principais entraves para a aprovação do Brexit —, porém, divulgou comunicado manifestando oposição ao acordo, sob a alegação, entre outros pontos,bwin handicapque os acertos alfandegários propostos por Johnson prejudicariam comercialmente o país.

Atualmente, essa fronteira, que se estende por cercabwin handicap500 km (um pouco mais do que a distância entre Riobwin handicapJaneiro e São Paulo), é uma "fronteira aberta", ou seja, bens, serviços, capitais e pessoas podem circular quase que livrementebwin handicapum lado para o outro.

Isso porque Reino Unido e Irlanda fazem parte do mesmo mercado único e da mesma união aduaneira, mecanismos implementados pelos países-membros da União Europeia para facilitar o comércio.

Mas depois do Brexit, tudo pode mudar — Irlanda do Norte e Irlanda poderiam ficar sob regimes alfandegários e regulatórios diferentes.

Em termos práticos, caminhões vindos da Irlanda do Norte rumo à União Europeia, por exemplo, teriambwin handicapparar na fronteira para checagembwin handicapdocumentos e inspeçãobwin handicapprodutos.

Depoisbwin handicapincidentes como o surtobwin handicapfebre aftosa e o escândalo da vaca louca, autoridades europeias passaram a ficar mais rigorosas com essas exigências.

A fronteira passaria a ser controlada e protegida por agentesbwin handicapimigração, polícia ou militares. Poderia haver câmeras ou barreiras. Indivíduos teriambwin handicapmostrar seus passaportes e veículos seriam inspecionados.

A preocupação dos norte-irlandeses e do DUP é que as viagens, hoje rápidas e fáceis, se tornariam mais longas e trabalhosas.

Assim, a fronteira irlandesa, a única terrestre entre Reino Unido e União Europeia, se tornaria uma "hard border", ou uma "fronteira dura".

Mas o problema está longebwin handicapenvolver apenas questões logísticas. Por quê?

Paz sob risco

A fronteira entre as Irlandas é um assuntobwin handicapextrema sensibilidade política, diplomática ebwin handicapsegurança.

A maior preocupação é que a reinstauraçãobwin handicapuma "fronteira dura" poderia colocarbwin handicaprisco o Acordobwin handicapBelfast (também conhecido como Acordo da Sexta-Feira Santa)bwin handicap1999, que ajudou a pôr fim ao períodobwin handicapviolência na Irlanda do Norte conhecido como The Troubles.

Por causa disso, negociadores do Reino Unido e da União Europeia costuraram uma solução, conhecida como "backstop irlandês", que visava a garantir que a fronteira fosse mantida abertabwin handicapqualquer cenáriobwin handicapBrexit.

Por esse arranjo, Reino Unido e União Europeia manteriam uma relação muito próxima por um prazo indeterminado até que ambas as partes chegassem a um acordo sobre a fronteira. Já a Irlanda do Norte permaneceria ainda mais intimamente ligada às regras do mercado único europeu.

Isso evitaria, portanto, a necessidadebwin handicapinspeções na fronteira.

No entanto, esse arranjo proposto pela ex-primeira-ministra britânica Theresa May desagradou parlamentares conservadores. Eles temem que o Reino Unido fique preso ao bloco europeu por prazo indefinido, ou seja, sem a possibilidadebwin handicapcosturar acordos comerciais com outros países.

Essa oposição acabou levando a ex-premiê a renunciar ao cargo,bwin handicapmaio deste ano.

Nesta quinta-feira, o "backstop irlandês" voltou ao centro das discussões, quando Boris Johnson e o presidente da Comissão Europeia anunciaram o seu acordo. A principal propostabwin handicapJohnson para concretizar a saída se baseavabwin handicapabolir o mecanismo relativo à fronteira irlandesa.

Primeiro-ministro Boris Johnson

Crédito, PA Media

Legenda da foto, Primeiro-ministro Boris Johnson disse ter chegado a um 'ótimo novo acordo' sobre o Brexit

Ao remover esse expediente, Johnson esperava obter apoiobwin handicapseu próprio partido e do DUP — que pode ser fundamental para aprovar o acordo no Parlamento.

Horas depois do anúncio, porém, o DUP anunciou não apoiar o acordo, afirmando que as mudanças não seriam "benéficas ao bem estar econômico da Irlanda do Norte" e dizendo que "vão fragilizar a integridade da União".

O DUP afirmou que, pelo acordo anunciado,bwin handicapprincipal rota comercial seguirá sujeita às regras alfandegárias da União Europeia, embora a Irlanda do Norte vá continuar sendo parte do território alfandegário do Reino Unido — um acerto do qual discorda.

"Todas as mercadorias seriam sujeitas a um regimebwin handicapchecagem alfandegária independentementebwin handicapseu destino final", diz o comunicado. Um comitê formado pela UE e pelo Reino Unido daria aos europeus o poderbwin handicapdecidir quais mercadorias ficariam isentasbwin handicaptarifas.

"Isso não é aceitável nas fronteiras internas do Reino Unido", diz o DUP.

O problema da fronteira, porém, está longebwin handicapenvolver apenas questões logísticas, e existe o temorbwin handicapque mudanças na fronteira possam ameaçar a paz na região. Por quê?

Para entender isso, é preciso voltar no tempo.

Manifestante vestidobwin handicapsoldado, na fronteira da Irlanda

Crédito, AFP

Legenda da foto, Grupos contrários ao Brexit fizeram manifestações na fronteira da Irlanda com placas e fantasias militares

Temorbwin handicapconfrontos

Há 21 anos, a Irlanda do Norte viveu um dos momentos mais importantesbwin handicapsua história.

Em 10bwin handicapabrilbwin handicap1998, foi assinado o chamado Acordo da Sexta-feira Santa (ou Acordobwin handicapBelfast). Esse acordo, que entroubwin handicapvigorbwin handicap2bwin handicapdezembrobwin handicap1999, ajudou a pôr fim a um períodobwin handicapconflito na região conhecido como The Troubles.

Os Troubles foram um períodobwin handicapextrema violência entre dois grupos — republicanos/nacionalistas irlandeses, majoritariamente católicos, e unionistas/legalistas, majoritariamente protestantes.

A discordância se centrava no status constitucional da Irlanda do Norte. Enquanto o primeiro grupo era a favor da união das duas irlandas, o segundo queria que o território continuasse britânico.

O conflito tinha um fundo muito mais nacionalista e político, alimentado por eventos históricos, ainda que com dimensões étnicas e sectárias. Embora a religião fosse um divisorbwin handicapáguas, não se tratoubwin handicapuma disputa puramente religiosa.

Maisbwin handicap3,5 mil pessoas morreram, dos quais 52% civis, e outras 50 mil ficaram feridas.

Mas como surgiu esse conflito?

O conflito na Irlanda do Norte databwin handicapquando o território foi separado do restante da Irlanda no início dos anos 20.

Os britânicos controlaram a ilha da Irlanda por centenasbwin handicapanos. Em 1919, teve início a Guerrabwin handicapIndependência da Irlanda (ou Guerra Anglo-Irlandesa). Quando esse conflito sangrento acabou, dois anos depois, a Irlanda acabou divididabwin handicapduas: a Irlanda, mais ao sul, que meses depois ganharia oficialmentebwin handicapindependência, e a Irlanda do Norte, que permaneceu parte do Reino Unido.

Só que a população da Irlanda do Norte também se dividiu.

Os unionistas queriam que a Irlanda do Norte permanecesse como parte do Reino Unido — alguns dos quais eram chamados legalistas (por serem leais à Coroa britânica).

Já os nacionalistas queriam que a Irlanda do Norte fosse independente do Reino Unido e se unisse à República da Irlanda — alguns dos quais eram chamadosbwin handicaprepublicanos (porque queriam que a Irlanda do Norte se unisse à República da Irlanda).

Os unionistas eram majoritariamente protestantes e os nacionalistas, majoritariamente católicos.

Quando a Irlanda do Norte se separou, seu governo era principalmente unionista. Havia menos católicos do que protestantes na Irlanda do Norte.

Os católicos, com menor poder aquisitivo, tinham dificuldade para conseguir casas e empregos, e protestaram contra isso. A comunidade protestante também reagiu com manifestações.

Durante a décadabwin handicap1960, a tensão entre os dois lados se tornou violenta, resultando nos Troubles.

Entre as décadasbwin handicap1970 e 1990, houve vários embates entre grupos armadosbwin handicapambos os lados e muitas pessoas morrerambwin handicapdecorrência do confronto.

Tropas britânicas foram enviadas para a região, mas entrarambwin handicapconfronto com grupos armados republicanos. O principal deles foi o Exército Republicano Irlandês (IRA).

O IRA foi responsável por realizar uma sériebwin handicapataques à bomba na Grã-Bretanha e na Irlanda do Norte.

Grupos paramilitares unionistas, como a Associaçãobwin handicapDefesa do Ulster (UDA) e a Força Voluntária do Ulster (UVF) também recorreram à violência armada, ainda quebwin handicapmenor número.

O IRA,bwin handicapparticular, atacava a polícia e os militares britânicos que patrulhavam as ruas. A situação piorou muitobwin handicap1972, quando 14 pessoas foram mortas por tropas britânicas durante uma marcha pacífica pelos direitos civis liderada por católicos e republicanosbwin handicapLondonderry.

Esse dia ficou conhecido como Domingo Sangrento (Bloody Sunday), imortalizado na cançãobwin handicapmesmo nome da banda irlandesa U2.

Em 1984, o IRA detonou uma bombabwin handicapum hotelbwin handicapBrighton, no sul da Inglaterra, para tentar assassinar a então primeira-ministra do Reino Unido, Margaret Thatcher.

Em Belfast, a capital da Irlanda do Norte, vários muros foram construídos para dividir as comunidades católicas e protestantes.

Durante os anos que se seguiram, muitos duvidaram que seria possível trazer a paz à Irlanda do Norte.

Acordo e paz

Nos anos 90, após duas décadasbwin handicapconflito armado, o IRA anunciou que interromperia os ataques.

Isso deu aos unionistas e aos nacionalistas a oportunidadebwin handicaptentar resolver seus problemas.

Não foi um processo fácil, e outros países se envolveram para ajudar os dois lados a chegarem a um acordo.

Em 1998 — após quase dois anosbwin handicapnegociações e 30 anosbwin handicapconflito — o Acordo da Sexta-feira Santa foi assinado entre o então primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e o primeiro-ministro irlandês, Bertie Ahern. Como resultado, um novo governo foi formado com o poder compartilhado entre unionistas e nacionalistas.

O objetivo do acordo era conseguir que os dois lados trabalhassem juntosbwin handicapum grupo chamado Assembleia da Irlanda do Norte. A Assembleia passaria a poder tomar decisões que anteriormente competiam apenas ao Parlamento britânicobwin handicapLondres.

Às 17h30bwin handicapsexta-feira, 10bwin handicapabrilbwin handicap1998, George Mitchell — político americano que mediou as negociações — declarou: "Tenho o prazerbwin handicapanunciar que os dois governos e os partidos políticos na Irlanda do Norte chegaram a um acordo".

O que aconteceu depois disso?

Uma cópia do acordo foi enviada por correio a todas as casas da Irlanda do Norte e da República da Irlanda para as pessoas lerem, antes da realizaçãobwin handicapum plebiscito.

Em maiobwin handicap1998, os eleitores da Irlanda do Norte e da República da Irlanda votaram a favor do Acordo da Sexta-feira Santa, tornando-o oficial — e Assembleia da Irlanda do Norte foi instaladabwin handicapdezembro daquele ano.

Mas isso não acabou completamente com os problemas da Irlanda do Norte.

Houve acusaçõesbwin handicapespionagem e alguns dos partidos políticos disseram que não podiam trabalhar uns com os outros. Algumas pessoas contrárias ao processobwin handicappaz também continuaram a usar violência armada.

Em 2002, a Assembleia da Irlanda do Norte foi suspensa e suas atribuições foram devolvidas ao Parlamento britânico.

Cinco anos depois, a Assembleia recebeubwin handicapvolta o poder e,bwin handicap2007, o Exército britânico encerrou oficialmente suas operações na Irlanda do Norte.

No entanto,bwin handicapjaneirobwin handicap2017, o acordo entre os principais partidos da Irlanda do Norte desmoronou — e ainda não foi restaurado.

Os partidos políticos da região ainda discordam entre si e se encontram atualmentebwin handicapum impasse. Muitas pessoas esperam que um acordo pacíficobwin handicapcompartilhamentobwin handicappoder possa ser alcançado novamentebwin handicapbreve.

Embora os políticos continuem discordando, não houve retorno à violência, outrora presente na Irlanda do Norte.

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