Bolsonaro perdeu 'oportunidadebetano leonouro' na ONU com discurso 'belicoso' para agradar base, dizem analistas:betano leon
"Acho que esse discurso não constrói pontes nem atende às preocupações levantadas por países e ativistas, como Greta Thunberg, na ONU. Talvez tenhamos mais conflitos sobre essas questões", diz Pereira. "Houve uma repetiçãobetano leonfalas já pronunciadas pelo presidente Bolsonaro no Brasil, sem nenhuma abertura para um diálogo construtivo."
Sobre as possíveis reações à manifestaçãobetano leonBolsonaro na ONU, Pereira lembra que o desmatamento na Amazônia já tem sido usado por países europeus para tentar bloquear nos parlamentos locais o acordo comercial firmadobetano leonjunho entre Mercosul e União Europeia.
E, na visão do professor, esse tipobetano leonretaliação tende a continuar diante do discurso do presidente brasileiro.
"Ele não acalmou os ânimos e sabemos que França e Irlanda já disseram que vão votar contra a ratificação do tratado entre Mercosul e União Europeia", afirma.
"Claro que não há apenas a questão ambiental. Esses países têm produtores que enxergam os agricultores brasileiros como competidores. Mas a minha interpretação sobre a falabetano leonBolsonaro é abetano leonque ela não fecha essas portas [para as críticas]. É possível que tenhamos mais desse tipobetano leonretaliação."
'Oportunidade perdida'
Rubens Ricupero, diplomatabetano leoncarreira, ex-embaixador do Brasilbetano leonWashington e ex-ministro do governo FHC, concorda que a falabetano leonBolsonaro na ONU reforça a corrente que acredita que "acordos como o (do Mercosul) com a União Europeia podem, na prática, estar mortos, porque nenhum governo europeu vai ter coragembetano leonsubmeter a ratificação do acordo a seu Parlamentobetano leonum futuro previsível".
Ricupero lembra que, na semana passada, 230 fundos estrangeiros que administram US$ 16 trilhões fizeram um comunicado conjunto pedindo ao Brasil medidas concretasbetano leoncombate a queimadas e ao desmatamento amazônico.
"Depois desse tipobetano leonadvertência, se esperaria uma atitude mais conciliadorabetano leonBolsonaro, mas pelo contrário, foi um discurso agressivo. (...) Na diplomacia, contam o tom, a maneirabetano leonfalar, até mais do que o conteúdo. E o discurso foi violento, lidobetano leonforma belicosa", opina o ex-ministro.
O brasilianista Brian Winter, editor-chefe da publicação Americas Quarterly, acredita que "Bolsonaro perdeu uma oportunidadebetano leonourobetano leonacalmar o mundo na questão da Amazônia. Poderia ter dito 'entendemos que (o desmatamento) é um problema, estamos cuidando disso e cabe a nós resolver'. Mas acabou fazendo um discurso belicoso, que pega bem combetano leonbase, mas incita a comunidade global, com repercussões ruins para o Brasil ebetano leoneconomia."
Winter diz que,betano leonconversas recentes com diferentes investidores, tem escutado que suas decisões relacionadas a investimentos no Brasil estãobetano leoncompassobetano leonespera.
"Mesmo os investidores que não têm elo com a questão ambiental temem três coisas: o risco abetano leonreputação [pela polêmicabetano leontorno da Amazônia]; o riscobetano leona economia brasileira não crescer o bastante; o temorbetano leonque os ruídos políticos não parem nunca", diz.
Para Mark Langevin, diretor do centrobetano leonestudos BrazilWorks,betano leonWashington, ainda que Bolsonaro tenha afirmado estar comprometido com a preservação da Amazônia, o contraste com números oficiais que apontam para aumento nas queimadas ainda desperta cautelabetano leoninvestidores e companhias com negócios no país.
"Qualquer pessoa que olhe os dados vai achar que o que Bolsonaro diz não muda o fatobetano leonquebetano leonpolítica está perdendo credibilidade", opina Langevin.
"Investidores e fundos sérios estão olhando o Brasil com atenção e avaliando o risco parabetano leonprópria reputação, e esse risco é alto no momento. (...) Não acho que vão sancionar ou sair do país, mas tampouco vão fazer grandes investimentos."
Para ele, reivindicaçõesbetano leonsoberania sobre a Amazônia, sejam ditas por Bolsonaro ou por antecessores como Luiz Inácio Lula da Silva, soam ingênuas para a comunidade internacional, "porque há tanta coisabetano leonjogo, desde países vizinhos [que também são parte da floresta] até Estados que investem nabetano leonpreservação".
'Público interno'
Ricupero enxerga o discurso desta terça na ONU mais como uma instigação à basebetano leonapoio interna do que um pronunciamento à comunidade internacional.
Ele cita como exemplo disso o tuítebetano leonFlávio Bolsonaro, senador pelo Rio e filho do presidente, dizendo que o pronunciamento do pai "levou ao conhecimento mundial a pauta vencedora das eleiçõesbetano leon2018. Por isso, os derrotados nas urnas estão criticando o discurso libertador verdadeiro e que ainda fez convite ao mundo para que venham conhecer o Brasil".
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Finalbetano leonTwitter post
"É uma fala para o público interno, porque Bolsonaro não parece sensível à opinião que o mundo faça dele. É mais preocupado com apoiadores que esperam atitudes radicais. (...) Transformar Cuba e Venezuelabetano leonameaças [Bolsonaro dedicou boa parte do discurso a críticas aos governos cubano e venezuelano] apenas agrada mais seus partidários."
Brian Winter vêbetano leonmodo semelhante. "Foi um discurso para consumo interno, consistente com o estilobetano leonBolsonaro e que lhe elegeu presidente. O problema é a repercussão disso no estágio internacional e na economia,betano leonum momentobetano leonque o Brasil tem 12 milhõesbetano leondesempregados. A ironia é que o Brasil tem histórias interessantes para contarbetano leon[preservação] do meio ambiente, e não é o único país a sofrer com queimadas — na Bolívia o problema é tão grande quanto. A diferença é que lá o governo [de Evo Morales] dá sinaisbetano leonque entende a necessidadebetano leonresolver o problema."
O risco, para Ricupero, é um isolamento do Brasil na comunidade internacional,betano leonum momentobetano leonque os líderes estrangeirosbetano leonquem Bolsonaro se aproximou — Matteo Salvini, da Itália, Benjamin Netanyahu,betano leonIsrael, e o próprio Donald Trump, nos EUA — enfrentam cenários adversos internamente.
O presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), João Martins, não compartilha dessa opinião. À BBC News Brasil, ele afirmou que "o presidente Jair Bolsonaro conseguiu posicionar o Brasil na ONU. Defendeu a soberania nacional, esclareceu equívocos sobre a Amazônia e ressaltou o importante papel do Brasil na produção mundialbetano leonalimentos e na preservação do meio ambiente. Também afastou a tesebetano leonque o governo está colocando o mundo contra o agro brasileiro, defendendo não apenas o setor, mas toda a nação".
Ataque à esquerda
Bolsonaro abriu seu discurso dizendo que o Brasil "ressurge depoisbetano leonestar à beira do socialismo". Segundo o presidente, esse sistemabetano leongoverno trouxe "corrupção generalizada para o Brasil". O presidente ainda acusou o ex-presidente Lula — ao ladobetano leonFidel Castro e Hugo Chávez —betano leoncriarem o "Forobetano leonSão Paulo para implementar o socialismo na América Latina".
Anthony Pereira, do King's College, no entanto, vê nisso indicativobetano leonque Bolsonaro não reconhece a participaçãobetano leonpartidosbetano leonesquerda no ambiente democrático, algo "problemático".
"Ele não está falando sóbetano leonVenezuela e Cuba, mas também sobre o PT e outros partidosbetano leonesquerda. É um pouco semelhante ao discurso do regime militar", avalia.
"É como se, para ele, houvesse as pessoas corretas e as pessoas subversivas que não teriam legitimidadebetano leonparticipação democrática. E, fazendo isso, ele está excluindo muitos atores. Isso é problemático do pontobetano leonvista democrático ebetano leonum sistemabetano leonque o presidente deve representar a todos."
O professor do King's College opina ainda que,betano leonseu discurso na ONU, Bolsonaro aprofunda a tentativabetano leonse descolarbetano leontodos os seus antecessores.
"Minha impressão é que Bolsonaro quer distinguir o governo delebetano leontodos os governos que sucederam a transição para democracia, incluindo Sarney, Collor, FHC, Lula, Dilma, Temer", diz.
"Ele rejeita o consenso construído por esses governos pós-transição, apresentando-os como governos contaminados pelo esquerdismo e a corrupção."
Esse consenso, diz ele, se refere à valorização da diversidade, à posturabetano leonneutralidade internacional diantebetano leonconflitos entre potências e à atitude multipartidária na política interna —betano leonnegociar e abarcar ideologias distintasbetano leonbuscabetano leonuma maioria no Legislativo para governar.
Bolsonaro não está só nesse ponto: as críticas ao socialismo, à Venezuela e a Cuba vão ao encontro das posições do presidente Donald Trump, que discursou na ONU logo depoisbetano leonBolsonaro.
"Como Trump falou depois, e houve afinidade entre o discurso dele com obetano leonBolsonaro, talvez um dos objetivos do presidente Bolsonaro seja mostrar alinhamento claro com governos mais nacionalistas e contrários a algumas normas do multilateralismo", avalia Pereira.
*Colaborou Mariana Sanches, da BBC News Brasilbetano leonNova York
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