'Aceitamos US$ 3.500 para casar nossa filhaarbety democinco anos':arbety demo

Inayatulhaq Yasini, do Serviço Mundial da BBC, falou com eles sobre a decisãoarbety demovender a filha.

Arrependimento

"Nosso filho sofrearbety demoepilepsia desde os quatro anos e não tínhamos dinheiro para pagar o tratamento dele", diz o paiarbety demoNazanin.

Num esforço desesperado para salvar o filho, a família decidiu entregar a filha.

"Eu aceitei o dinheiro e aceitei dar minha filha mais velha. Mas meu filho não se recuperou e não pude ficar com minha filha", diz a mãe.

"Se alguém vende um filho é claro que há arrependimentos. Eu tenho, mas não adianta nada", diz o pai.

Casamentoarbety democrianças

No Afeganistão, a idade legal para casamento éarbety demo16 anos para meninas e 18 para meninos. Mas muita gente se casa antes disso.

De acordo com um relatórioarbety demo2018 do Unicef, 35% das meninas afegãs são casadas aos 18 e 9% se casam antes dos 15.

Entre outros países, o Níger tem o pior desempenho, com 76% das meninas se casando antes dos 18. Em Bangladesh, que viveu um grande progresso econômico nos últimos anos, o dado éarbety demo59%, segundo o relatório.

'Preçoarbety demonoiva'

O Afeganistão sofreu por décadas com guerras e, mais recentemente, uma seca terrível. Por consequência, a perspectivaarbety demoemprego é ruim para muitas famílias.

"No nosso costume tribal, não é um problema ou um tabu fazer um acordoarbety democasamento, mesmo com crianças pequenas. Mas muitos só casariam as filhas aos 18", diz a mãe.

De acordo com a lei islâmica, o noivo temarbety demodar um presente à noiva -arbety demogeral, dinheiro - quando é feito o contrato do casamento. Isso é conhecido como Mehr.

Mas além do Mehr, o pai da noiva ou o irmão mais velho podem tentar obter dinheiro da família do noivo - o "preçoarbety demonoiva" - antes do casamento.

Pedir esse dinheiro é uma tradição afegã, sem fundamento na lei islâmica, segundo Faizal Muzhary, pesquisador da Afghanistan Analysts Network.

O dinheiro cobrado dependearbety demovários fatores, como o status da família, beleza, idade e nível educacional da menina. Pode ir desde algumas centenasarbety demodólares até dezenasarbety demomilhares.

Num país com PIB anual per capitaarbety demomenosarbety demoUS$ 600, esse dinheiro pode fazer toda a diferença para algumas famílias.

Seca

A famíliaarbety demoNazanin foi atingida por uma seca que tomou grande parte do Afeganistãoarbety demo2018.

"Tínhamos plantações e algumas criaçõesarbety demogado. Mas tivemos que largar tudo", diz o pai.

Os animais morreram desidratados, a família abandonou seu vilarejo e se mudou para o campoarbety demorefugiados.

De acordo com a ONU, 275.000 pessoas foram desalojadas no oeste do Afeganistão devido à seca. Muitas agências locais e internacionais estão dando apoio, mas o paiarbety demoNazanin diz que ainda falta muita coisa.

Presos numa espiralarbety demodívidas, o futuro do casal e das outras duas filhas, que têm menosarbety demo10 anos, é incerto.

"Se continuar na miséria e alguém oferecer dinheiro pelas minhas filhas, faria o mesmo com elas. As pessoasarbety demoquem peguei dinheiro emprestado me ligam várias vezes por dia cobrando", diz o pai.

"Minhas filhas são o único ativo que tenho."

Casamento infeliz

Forçados a deixar seu lar, eles optaram por fazer um casamento rápido para reduzir gastos.

Quando Nazanin fez 10 anos, a família organizou a cerimônia, que teve maisarbety democem convidados.

"Eu dei o que pude à minha filha. O dinheiro do casamento não era tanto", diz o pai.

Mas passou longearbety demoser uma ocasião feliz.

"Se não fosse o desespero, não optaria pelo casamento dela, juro que não, mas precisava do dinheiro", diz ele.

"O que poderia fazer? Era minha única opção. Não estou só - muitos outros já fizeram isso."

Grupo vulnerável

Um relatórioarbety demo2015 do Conselho Norueguêsarbety demoRefugiados diz que mulheres desalojadas e meninas que vivemarbety demoassentamentos informaisarbety demoáreas urbanas estão especialmente vulneráveis a serem obrigadas a casar com homens mais velhos, que têm mais dinheiro para pagar o 'preçoarbety demonoiva'.

Mas Nazanin, que tem 11, não se casou com um homem mais velho, pelo menos.

"Ela ficou dois meses na casa dos sogros. Eles a trataram comoarbety demofilha. Seu marido tem uns 12 anos. Ele também é tímido e não fala muito", diz a mãe.

Sem consentimento

Nazanin nunca foi consultada sobre seu casamento. Sua mãe e pai não explicaram a ela os papéis e as responsabilidades da vidaarbety democasada e, claro, Nazanin teve dificuldadearbety demose adaptar.

"Pedimos que deixassem nossa filha ficar conosco mais uns anos", diz a mãe.

Nazanin agora voltou a morar com seus pais. Seus sogros prometeram pegá-laarbety demovolta quando estiver um pouco maior,arbety demodois ou três anos.

"Ela não sabe lidar com os sogros e o marido porque é muito nova", diz o pai.

Aumento no casamentoarbety democrianças

O Unicef diz que 161 casamentos infantis ocorreram naquela região entre julho e outubro do ano passado. Desses, 155 eram meninas e seis, meninos.

"O casamentoarbety democrianças é uma norma social tradicionalarbety demoalgumas partes do país. A situação é piorada pela guerra e pela seca", diz a chefearbety democomunicação do Unicef no Afeganistão, Alison Parker.

"De julho a outubro houve um aumento drástico desses casamentos. Mas, desde então, houve forte intervenção do governo, o que resultou numa redução grande."

O governo afegão lançou uma ambiciosa campanha para acabar com os casamentosarbety democrianças e casamentos forçados. Uma lei que aumenta a idade mínimaarbety democasamentosarbety demomeninas para 18 anos está tramitando no Parlamento.

Ajuda humanitária

Agênciasarbety demoajuda humanitária estão tentando melhorar a vida das pessoas desalojadas.

"Quatro décadasarbety demoguerra civil destruíram as estruturas sociais básicas que você encontraarbety demooutros países. Em várias partes do país a população rural não tem acesso a crédito. É um ambiente volátil e ninguém está disposto a investir", diz Alfred Mutiti, do Unicef.

"A maioria das famílias desalojadas tem dívidas altas. Não conseguem pagar empréstimos. Mesmo se dermos dinheiro, não vai ajudar, será uma gota no oceano", diz ele.

Esperteza

No acampamento, a famíliaarbety demoNazanin ainda espera receber ajuda do governo ou das agências humanitárias. A única luz no fim do túnel é o fatoarbety demoque há oportunidades educacionais.

Os pais dela têm orgulho do fatoarbety demoque a filha mais velha sabe escrever o próprio nome e o do pai.

"Nazanin é esperta, conhece o alfabeto", diz a mãe.

Dois dos filhos estão estudando.

Esperança

Mas a família está longearbety demoestar feliz e diz que não tem ninguém para apoiá-los. Isso chateou a jovem noiva.

"Nazanin me diz: 'mãe, você me casou muito nova, mas meu irmão continua doente'. Mas ela também diz: 'meu irmão vai se recuperar e eu vou crescer'. Eu lamento ter casado ela, mas ainda tenho esperançaarbety demoum futuro melhor", diz a mãe.

(O nomearbety demoNazanin foi alterado)

Ilustraçõesarbety demoJilla Dastmalchi

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