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Por que confundir populistas com fascistas é um equívoco, segundo pesquisador do Holocaustosportingbet resgateIsrael:sportingbet resgate
Para Milgram, as declarações do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, e do chanceler Ernesto Araújosportingbet resgateassociar o nazismo à esquerda corroboram erros históricos e encontram ecossportingbet resgateestratégias políticas que ganharam força nos EUA, na Polônia, na Hungria e mesmosportingbet resgateIsrael. "Governos populistas usam a incitação e o ódiosportingbet resgateum grupo contra o outro para desacreditar inimigos, virtuais ou reais – muitos são apenas virtuais–, conquistar as massas, ficar no poder e difundir uma mensagem nacionalista ou até mesmo racista", afirma o pesquisador.
Segundo Milgram, as declaraçõessportingbet resgateBolsonaro sobre o Holocausto ("podemos perdoar, mas não esquecer" o Holocausto) foram recebidas com uma indignação ainda maior no país porque foram feitas logo após repetir que o nazismo foi um movimentosportingbet resgateesquerda no diasportingbet resgatesua visita ao Museu do Holocausto.
O historiador afirma que a presença das palavras nacional-socialista no nome do partidosportingbet resgateHitler, argumentosportingbet resgateBolsonaro, era uma tática política para disputar eleitorado com a própria esquerda. Ele relembra que uma das primeiras medidas do regime nazista foi, inclusive, matar socialistas, comunistas e sindicalistassportingbet resgatecampossportingbet resgateextermínio.
Milgram, que emigrou para Israel nos anos 1970, foi pesquisador por maissportingbet resgatetrês décadas do próprio Yad Vashem, o Museu do Holocausto, visitado por Bolsonarosportingbet resgateJerusalém, onde coordenou múltiplos estudos e editou a Enciclopédia dos Justos Entre as Nações (em referência aos não-judeus que arriscaram suas vidas para salvar judeus na época do Holocausto). Fez bacharelado, mestrado e doutorado na Universidade Hebraica e publicou, no Brasil esportingbet resgatePortugal, livros sobre a história judaica.
sportingbet resgate BBC News Brasil - Houve repercussãosportingbet resgateIsrael à fala do presidente Jair Bolsonaro sobre ser possível perdoar, mas não esquecer o Holocausto?
sportingbet resgate Avraham Milgram - Houve grande repercussão, principalmente porque a declaração ocorreu logo após a visitasportingbet resgateBolsonaro a Israel e porque ele corroborou o que disse o chanceler (Ernesto) Araújo, no diasportingbet resgatesua visita ao Museu do Holocausto (Araújo afirmara que o nazismo foi um movimentosportingbet resgateesquerda, declaração repetida por Bolsonaro), no local que marca a mortesportingbet resgate6 milhõessportingbet resgatejudeus pelo nazismo.
A frasesportingbet resgateque "pode-se perdoar, mas não esquecer" recebeu manifestação do presidentesportingbet resgateIsrael, Reuven Rivlin (este escreveu, via redes sociais, que "sempre iremos nos opor àqueles que negam a verdade ou desejam expurgar nossa memória. (...) Nunca vamos perdoar ou esquecer"), com indignação, assim comosportingbet resgateoutros jornais.
O que é importante é que os leitores saibam que Israel é um país estabelecidosportingbet resgate1948, três anos após o fim da Segunda Guerra Mundial e o fim do Holocausto, que dizimou um terço do povo judeu. Chegaram ao país cercasportingbet resgate300 mil sobreviventes do Holocausto, que viveram grandes tragédiassportingbet resgatecampossportingbet resgateextermínio.
Ou seja, a memória do Holocausto é central na memória e na identidade coletivassportingbet resgateIsrael. As pessoas se reconhecem como judeus e como israelenses pela centralidade do Holocausto emsportingbet resgatememória. Há, portanto, uma sensibilidade muito grande (quanto ao tema), não existesportingbet resgateigual pesosportingbet resgateoutros países.
Além disso, fala-se coisas sem base histórica, como que o nazismo era um movimentosportingbet resgateesquerda, só porque o partido (de Hitler) tinha as palavras nacional-socialista no nome (o partido chamava-se Nacional Socialista da Alemanha).
Esse nome foi dado por Hitler no início do movimento apenas como uma questão tática,sportingbet resgateconcorrer com o eleitoradosportingbet resgateesquerda. Nunca houve a intençãosportingbet resgatelutar pela classe obreira, explorada ousportingbet resgatedefender a igualdade (como os movimentossportingbet resgateesquerda).
O fato é que, logo que Hitler foi nomeado chanceler (premiê) da Alemanha e começou a transferência para um regime totalitário, uma das suas primeiras medidas foi destruir a esquerda. As primeiras vítimas dos campossportingbet resgateextermínio foram socialistas, líderes sindicais, comunistas.
O presidente (Jair Bolsonaro) cometeu o errosportingbet resgatecorroborar uma fala ignorante.
sportingbet resgate BBC News Brasil - O argumento do chanceler Ernesto Araújo erasportingbet resgateque o nazismo era um movimento "anticapitalista, antireligioso, antiliberal e anticonservador" e, assim, semelhante ao marxismo. Faz sentido do pontosportingbet resgatevista histórico?
sportingbet resgate Milgram - Não. O marxismo tem teses universalistas, que abrangem o homem emsportingbet resgatetotalidade, independentemente do país (onde ele tenha nascido). O nazismo, ao inverso, estava orientado a um gruposportingbet resgateparticular, que era a chamada raça ariana.
O marxismo tinha (o ideal)sportingbet resgateque a história humana se desenvolvesportingbet resgateconflitossportingbet resgateclasse e tinha como denominador comum a condição socioeconômica do ser humano, não racial.
Já o nazismo se prende na questão racial, e não social. O primordial para o movimento era o homem ser da raça ariana.
sportingbet resgate BBC News Brasil - Por que o senhor acha que esse tema tem ganhado a atenção do governo brasileiro agora?
sportingbet resgate Milgram - É uma boa pergunta. Acho que tem a ver com a visita ao Museu do Holocausto. Mas a primeira declaração (de que o nazismo ésportingbet resgateesquerda) é também uma agenda político-ideológica do atual governo,sportingbet resgatetentar desacreditar a esquerda.
O que o nazismo representou e a consequênciasportingbet resgateseus atos criminosos, com a perseguiçãosportingbet resgatejudeus e outros grupos, é associado a algo negativo por qualquer ser humano.
O chanceler (Araújo), ao associar esse movimento à esquerda, desacredita a esquerda com algo que não tem nada a ver.
É algo que ocorre muito no mundosportingbet resgatehoje, também na Polônia, na Hungria, nos EUA, na Eslováquia e até mesmosportingbet resgateIsrael: governos populistas usam a incitação e o ódiosportingbet resgateum grupo contra o outro para desacreditar inimigos, virtuais ou reais – muitos são apenas virtuais –, conquistar as massas, ficar no poder e difundir uma mensagem nacionalista ou até mesmo racista.
Quando (o presidente americano Donald) Trump diz que os mexicanos são estupradores (frase ditasportingbet resgatecampanha), faz uma generalização que incita o ódio. O mesmo ocorre também na Rússiasportingbet resgate(Vladimir) Putin, nas Filipinassportingbet resgate(Rodrigo) Duterte e, no lado inverso, na Venezuelasportingbet resgate(Nicolás) Maduro. É um estilo que penetrou na vida política global dos últimos anos, que dá uma impressãosportingbet resgatevolta aos anos 1930-40.
sportingbet resgate BBC News Brasil - Dito isso, existe a chancesportingbet resgateas condições históricas que criaram o nazismo se repetirem agora?
sportingbet resgate Milgram - Em princípio, ocorrências históricas dessa magnitude não se repetem, são eventos que ocorrem uma única vez. Os condicionamentos nunca são os mesmos.
Às vezes temos a impressãosportingbet resgateviver algo que já vimos antes, que nos faz associar e a dizer coisas que do pontosportingbet resgatevista histórico não se sustentam.
Por exemplo, é preciso cuidado ao chamar tudosportingbet resgatefascismo,sportingbet resgatedizer "tal líder é um fascista". É preciso fazer distinções objetivas e dizer que são fenômenos diferentes (dos vividos atualmente).
Há certamente coisas (em comum hoje) que nos fazem lembrar daquela época: crise econômica, social, líderes carismáticos, tentativassportingbet resgatese cristalizar a identidade nacionalsportingbet resgatetornosportingbet resgateuma ideia romântica. Não sou profeta e não sei o que vai acontecer no futuro, mas o que temos hoje não é igual (ao fascismo). Pode até nos fazer lembrar daquela época, mas o Trump, por exemplo, é lídersportingbet resgateum Estado democrático.
sportingbet resgate BBC News Brasil - E quais são então as principais diferenças entre o período do fascismo e o populismo no mundo atual?
sportingbet resgate Milgram - Todos esses líderes populistas atuais não criaram organismos paramilitares armados para eliminar seus inimigos e guardarsportingbet resgateforma brutal e violenta o regime. Até porque não há necessidade desses regimes armados – esses líderes atingem seus objetivos usando os meios democráticos, sem destruí-los, embora possam enfraquecê-los com ataques à imprensa e às elites pensantes e intelectuais.
Já o fascismo queria conquistar o Estado, eliminar a oposição política, criar uma situaçãosportingbet resgatedomínio quase total da sociedade. No nazismo e no fascismo europeus, a democracia era vista como um perigo ao Estado, como algo a ser eliminado, como um veneno que havia permitido (a existência)sportingbet resgatesetores que pensavam diferente esportingbet resgateminorias.
E os judeus sempre foram apontadossportingbet resgatetodos os momentos do fascismo como um inimigo e um elemento estranho a ser eliminado.
sportingbet resgate BBC News Brasil - A ascensão atual do antissemitismo e da rejeição a imigrantes preocupa tanto quanto preocupava na época do nazismo?
sportingbet resgate Milgram - Para as camadas mais liberais, sim, é preocupante. Porque o migrante é visto como algo a ser eliminado. Basta ver os grupos que queremsportingbet resgateextinção, como (Marine) Le Pen, lídersportingbet resgateum partido nacionalista esportingbet resgatecoloração racista na França, ou (o ministro do Interior da Itália conhecido porsportingbet resgateretórica anti-imigração Matteo) Salvini.
O denominador comum é uma extrema direita racista, antiliberal e antidemocrática, que defende a ideiasportingbet resgateque a sociedade liberal é que permitiu a entradasportingbet resgateimigrantes.
sportingbet resgate BBC News Brasil - Ainda persistem teoriassportingbet resgateque o Holocausto não existiu. O que o senhor diz a respeito delas?
sportingbet resgate Milgram - Diria que a negação do Holocausto já passou muitos anos desde o seu auge, nos anos 1980, quando havia mais intelectuais que defendiam a tese do negacionismo. Houve uma épocasportingbet resgatequesportingbet resgatefato isso era uma ameaça à memória, e (ainda) está presente no radicalismo islâmico.
Mas não desapareceu. Sempre digo que isso (a negação do Holocausto) é uma expressão do antissemitismo ocidental e no Oriente Médio, não é algo que ocorrasportingbet resgatesociedades como China ou Índia, por exemplo. É algo, portanto, essencialmente europeu, apesarsportingbet resgateocorrersportingbet resgatemenor escalasportingbet resgateoutros lugares.
Acho que tem a ver com o caráter ambivalente do conflito teológico entre o cristianismo e o judaísmo. O cristianismo tinha e tem respeito pelos judeus por seu monoteísmo e por Cristo, mas também uma aversão e um ódio aos judeus por não terem aceitado os dogmas cristãos. Na cultura ocidental cristã se cristalizou por séculos a ideia do judeu como o outro negativo,sportingbet resgateusureiro. São sempre vistos como ameaçadores desse complexo nacional.
Além disso, se você consegue convencer as pessoassportingbet resgateAuschwitz – o maior centro destrutivosportingbet resgateseres humanos que já houve – não ocorreu, Hitler se torna algo mais digerível, mais aceitável.
sportingbet resgate BBC News Brasil - Recentemente, foi descobertasportingbet resgateBelarus (Europa Oriental) uma vala comum com milharessportingbet resgatejudeus, da época da Segunda Guerra. Ainda não se dimensionou completamente o que ocorreu naquela época?
sportingbet resgate Milgram - Na Europa Oriental, da metade da Polônia até Moscou,sportingbet resgatejulhosportingbet resgate1941 começou um assassinato sistemático e massivosportingbet resgatejudeus pela SS (forças alemãs) e outros organismos do Estado alemão. E há milharessportingbet resgatelocalidades como essasportingbet resgateBelarus,sportingbet resgatefossas comuns com centenas ou milharessportingbet resgatecivis que foram metralhados pertosportingbet resgateonde viviam.
Há lugaressportingbet resgateque os idosos sabem onde estão essas valas, eles testemunharam as expulsões, e alguns foram até obrigados a cavar as valas.
Passada a guerra, ninguém se preocupousportingbet resgateexumar, ou então fez uma placa comemorativa genérica apontando que ali morreram pessoas. Isso também é uma formasportingbet resgatenegação, algo comum no período comunista (que marcou a Europa Oriental após a Segunda Guerra Mundial). A identidade das vítimas não aparece. Mas é preciso lembrar que eram pessoassportingbet resgateuma determinada religião e que falavam ídiche, língua falada pelos judeus daquela região.
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