Ataque a mesquitas na Nova Zelândia: Por que a primeira-ministra do país decidiu nunca pronunciar nome do atirador:
Em discurso emocionado no Parlamento da Nova Zelândia, a primeira-ministra do país, Jacinda Ardern, anunciou que nunca dirá o nome do atirador que matou 50 pessoasduas mesquitas na cidadeChristchurch.
"Ele buscou muitas coisasseu atoterror, entre delas a notoriedade - é por isso que você nunca me ouvirá mencionar seu nome", disse.
Segundo a rede americana CNN, a estratégia tem surtido efeito: é o rosto dela, e não o do atirador, que tem dominado a cobertura da mídia. Com 38 anos, a política progressista é a chefegoverno mais jovem do mundo atual e tem recebido apoio dentro e fora do país pelas declarações e medidas pós-ataque.
O que está por trás da decisãonão nomear atiradores?
"Eu imploro, fale os nomes daqueles que perdemosvez do nome do homem que os levou. Ele é um terrorista. Ele é um criminoso. Ele é um extremista. Mas ele vai, quando eu falar, ser alguém sem nome", afirmou a primeira-ministra neozelandesaseu discurso.
Esta não é a primeira vez que conteúdos perturbadores relacionados a massacres circularamredes sociais, deixando muitos sobreviventes e parentesvítimas irritados com a publicidade que eles oferecem aos perpetradores.
Os paisuma das vítimas do ataqueum cinemaAurora, no Estado americano do Colorado,2012, montaram uma campanha chamada "No Notoriety" (Sem Notoriedade,tradução livre) para combater a cobertura jornalística dominante sobre quem comete esse tipoataque.
Seu site defende "nenhum nome, nenhuma foto e nenhuma notoriedade" aos criminosos, desafiando a mídia a "privar indivíduos com mentalidade violenta dos holofotes que tanto desejam".
A campanha "Don't Name Them" (Não os Nomeie,tradução livre), do Centro ALERRT da Universidade Estadual do Texas, é parecida, argumentando que dar publicidade "permite ao atirador realizar umseus objetivos e validavida e suas ações".
Como foi o discurso da primeira-ministra?
Jacinda Ardern foi eleita2017 por meiouma coalização entre o partido Trabalhista,esquerda, e o NZ First, que é populista e anti-imigração. Ela, que encerrou uma décadadomínio conservador no Parlamento, conseguiu ampliaraprovação popular à frente do cargo e atrair os holofotes internacionais, a exemplo da licença-maternidade que tirou enquanto era primeira-ministra.
O discursoArdern no Parlamento após o atentado teve bastante repercussão no país. Emfala, ela abordou outros três pontos importantes no debate que dominou o país: tolerância religiosa, redes sociais e restrições a armas.
Ela abriu seu discurso com a saudação árabe "As-Salaam-Alaikum", que significa "a paz esteja com você", e recomendou aos neozelandeses que reconhecessem a dor da comunidade muçulmana na sexta-feira - que é o diaadoração dos muçulmanos e marcará uma semana desde os ataquesChristchurch.
Ardern recebeu elogios porcondução do caso,especialmuçulmanos pelo gesto simbólicocobrir seus cabelos com um véu enquanto falava com familiaresvítimas do ataque.
"Eu olhei para o rosto das pessoas quando ela estava colocando o hijab e havia sorrisos nessas faces", afirmou à CNN Ahmed Khan, que sobreviveu ao ataque, mas perdeu o tio.
Há outro ponto sensível do ataque ligado aos muçulmanos. A tradição islâmica pede a limpeza e o enterro dos corpos o mais rapidamente possível após a morte, mas isso foi adiado devido ao lento processoidentificação e documentação forense.
"A polícia está ciente das frustrações das famílias associadas ao tempo necessário para o processoidentificação após o ataque", afirmou a corporaçãocomunicado. "Estamos fazendo tudo o que podemos para realizar este trabalho o mais rápido possível e devolver as vítimas aos seus entes queridos."
Mohamed Safi, 23, cujo pai Matiullah Safi foi assassinado na mesquita Al Noor, reclamou da faltainformação.
"Eles estão apenas dizendo que estão fazendo seus procedimentos. Por que eu não sei o que esá sendo feito para identificar o corpo?", disse à agêncianotícias AFP.
Responsabilização do Facebook
Em seu discurso, a primeira-ministra também pediu que as plataformasmídia social façam mais para combater o terror.
"Não podemos aceitar passivamente que essas plataformas simplesmente existam e que o que é dito dentro delas não seja responsabilidade dos lugares onde elas são publicadas", disse ela. "Eles são os editores, não apenas os 'carteiros'. Não pode haver um casolucro sem responsabilidade."
O vídeo do atirador foi visto menos200 vezes durante a transmissão ao vivo e cerca4.000 vezes no total antesser removido.
O Facebook disse que removeu mais1,5 milhãocópias do vídeo nas primeiras 24 horas após o ataque - 1,2 milhão das quais foram bloqueadas durante o upload.
Restrição ao acessoarmas
A primeira-ministra também defendeu restrições ao acesso a armas no país, mas ainda não divulgou detalhessua proposta.
Em 2016, a polícia da Nova Zelândia estimou que 1,2 milhãoarmas legais estavampossecivis - o equivalente a uma arma para cada quatro pessoas no país.
A idade mínima para possuir uma arma legalmente na Nova Zelândia é 16 anos - ou 18, no casoarmas semiautomáticasestilo militar.
Qualquer um acima dessas idades e que seja considerado capaz pela polícia pode possuir uma armafogo.
Todos os donosarmas precisamuma licença, mas a maioria das armas individuais não necessitaregistro. A Nova Zelândia é um dos poucos países a seguir essas regras.
Para possuir uma arma legalmente, os interessados devem passar por uma checagemantecedentes criminais e do históricosaúde. Fatores como saúde mental, vícios e violência doméstica são considerados na avaliação.
Uma vez que a licença é concedida, o cidadão pode comprar quantas armas quiser.
Os números indicam que, desde 2010, houve 28 homicídios provocados por pessoas que possuíam armas legalmente, e 126 causados por pessoas sem licenças.
O que aconteceu ao acusado do ataque?
Preso após os ataques transmitidos ao vivo no Facebook, o extremista, autodeclarado supremacista branco, responderá pela acusaçãohomicídio.
O jornal The New Zealand Herald informou na terça-feira que ele foi transferido para uma prisãosegurança máximaAuckland, onde está isolado, sem receber visitas nem ter acesso a jornais, televisão e rádio.
Ele apareceu no tribunal no último sábado e não negou as acusações. Seu advogado, indicado pelo Estado, disse que o suspeito não queria seus serviços e indicou que representaria a si mesmo a partiragora.
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