A incrível jornadabaixar estrelabetAsia Bibi,baixar estrelabetnove anosbaixar estrelabetsolitária por blasfêmia à vida nova no Canadá:baixar estrelabet
Os colegasbaixar estrelabetAsia disseram que ela era "suja" e não era dignabaixar estrelabetbeber no mesmo copo que eles. Houve discussão, e termos fortes foram ditos por ambos os lados.
Cinco dias depois, a polícia invadiu a casabaixar estrelabetAsia e a acusoubaixar estrelabetinsultar o profeta Maomé, principal símbolo do Islã, acusação feita também por um clérigo da aldeia.
Reunidabaixar estrelabetfrente à residênciabaixar estrelabetAsia, uma pequena multidão começou a agredi-la diante dos policiais, e ela acabou presa sob acusaçãobaixar estrelabetblasfêmia. Durante o julgamento,baixar estrelabet2010, ela se disse inocente, mas acabou sentenciada à morte.
No Paquistão, a punição por blasfêmia contra o Islã e seu profeta pode ser a prisão perpétua ou a morte. Mas muitas vezes essas acusações são utilizadas como formabaixar estrelabetvingança por conflitos pessoais. Acusadosbaixar estrelabetblasfêmia, juntamente com as famílias, sofrem represálias e ataques mesmo antesbaixar estrelabetirem a julgamento.
Asia passou os últimos nove anosbaixar estrelabetsua vida no corredor da morte,baixar estrelabetconfinamento solitário. Mas, depoisbaixar estrelabetuma intensa mobilização social, conseguiu reverter a sentença e foi absolvidabaixar estrelabetoutubrobaixar estrelabet2018.
Ainda assim, custou a ganhar a liberdade. Foi mantida num lugar secreto por meses por causabaixar estrelabetameaçasbaixar estrelabetmorte. Agora, autoridades paquistanesas confirmam que ela embarcoubaixar estrelabetsegurança para o Canadá.
'Agonia infinita'
Desde a prisão dela a famíliabaixar estrelabetAsia vive escondida e fugindo.
"Se um parente querido está morto, o coração consegue se curar depoisbaixar estrelabetalgum tempo. Mas quando uma mãe está viva, e ela se separabaixar estrelabetseus filhos… A maneira como a Asia foi tiradabaixar estrelabetnós, a agonia é infinita", explicou Ashiq, maridobaixar estrelabetAsia, à BBC News.
Enquanto conversávamos na varanda, Ashiq tentava se manter calmo, mas seu rosto tinha um ar sombrio. "Nós vivemos sempre com medobaixar estrelabetalguma coisa acontecer conosco, há sempre um sentimentobaixar estrelabetansiedade e insegurança. Eu deixo as crianças irem à escola, mas não deixo elas brincarem do ladobaixar estrelabetfora. Nós perdemos nossa liberdade", afirmou.
Apesarbaixar estrelabetanosbaixar estrelabetinsegurança e incerteza, Ashiq nunca desistiu da esposa. "Perdi minha liberdade, meu sustento e minha casa, mas não estou pronto para perder a esperança. Vou continuar lutando pela liberdadebaixar estrelabetAsia", disse, há quase um ano.
No ano passado,baixar estrelabet31baixar estrelabetoutubro, nove anos depois da prisãobaixar estrelabetAsia, o desejobaixar estrelabetAshiq foi finalmente realizado.
Contra as expectativasbaixar estrelabetmilharesbaixar estrelabetmuçulmanos conservadores, a Suprema Corte do país revogou sentença anterior por faltabaixar estrelabetprovas e permitiu que Asia Bibi fosse libertada.
Em poucas horas, indignados com a decisão histórica, manifestantes tomaram as ruas exigindo a mortebaixar estrelabetAsia Bibi.
Por três dias consecutivos, os manifestantes tentaram submeter o governo e a nação àbaixar estrelabetvontade. As principais estradas foram bloqueadas, carros e ônibus foram incendiados, pedágios, saqueados e policiais acabaram atacados pela multidão. Particularmente na província orientalbaixar estrelabetPunjab, muitos escritórios, empresas e até mesmo escolas foram forçados a fechar as portas.
O país assistiu às cenasbaixar estrelabetviolência com horror enquanto o governo pouco aparecia. No início, o primeiro-ministro Imran Khan,baixar estrelabetum discurso na televisão, emitiu uma advertência aos manifestantes, dizendo para eles não "entrarembaixar estrelabetconflito com o Estado".
Mas depoisbaixar estrelabettrês diasbaixar estrelabetcaos crescente, o governo disse que, para evitar qualquer derramamentobaixar estrelabetsangue, seria feito um acordo com os líderes da revolta.
Imediatamente após a libertação da Asia, o líder religioso Khadim Hussain Rizvi e seu partido políticobaixar estrelabetextrema-direita Tehreek-e-Labbaik Pakistan (TLP) usaram as mídias sociais para defender a desordem civil e a violência.
Rizvi e seus partidários pediram que os juízes que absolveram Asia fossem mortos e encorajaram um motim entre os militares, declarando que o chefe do Exército era um apóstata – ou seja, ele teria renunciado ao islamismo.
O líder também conseguiu apoio fora do círculobaixar estrelabetseu partido. Vídeos nas redes sociais convocaram mais protestos, levando às ruas milharesbaixar estrelabetpessoasbaixar estrelabetdiferentes segmentos sociais do Paquistão.
Rizvi também acusou o Ocidentebaixar estrelabetencorajar a blasfêmia contra o Islã e seu profeta Maomé. Em umbaixar estrelabetseus tuítes, ele disse que as pessoas deliberadamente cometiam blasfêmia para conseguir dinheiro e receber asilo dos países ocidentais.
Em outubro, depoisbaixar estrelabettrês diasbaixar estrelabetdemonstraçõesbaixar estrelabetforça do TLPbaixar estrelabettodo o Paquistão, o governo cedeu: concordoubaixar estrelabetnão se opor a uma petição para um novo julgamentobaixar estrelabetAsia e a proibiubaixar estrelabetdeixar o país.
A petição foi promulgada e os protestos cederam. Asia foi libertada da prisão, mas foi levada sob custódia protetiva.
Ainda demorou três meses para ela ser finalmente postabaixar estrelabetliberdade. E, mesmo livre, foi mantida num lugar secreto por questõesbaixar estrelabetsegurança até que a saída dela do Paquistão fosse acertada.
O líder conservador e o político liberal
Poucos anos antes, Khadim Hussain Rizvi não tinha tanta influência, pois trabalhava como clérigobaixar estrelabetuma pequena mesquita local. Apesarbaixar estrelabettrabalhar para o governo, era tido como uma figura marginal. Mas ele começou a chamar a atenção por seus sermões controversos.
Enquanto faziabaixar estrelabetorações, Rizvi frequentemente glorificava o assassinatobaixar estrelabetSalman Taseer, um proeminente político paquistanês que chegou a ser ministro das Indústrias e governador da provínciabaixar estrelabetPunjab. Ele acabou assassinadobaixar estrelabet2011 por defender a liberdadebaixar estrelabetAsia e mudanças na legislação que prevê penabaixar estrelabetmorte por blasfêmia ao Islã.
Como governador, Taseer visitou Asia Bibi na prisãobaixar estrelabetSheikhupurabaixar estrelabet2010. Em uma coletivabaixar estrelabetimprensa na TV, com Asia sentada ao seu lado, Taseer apelou ao presidente do Paquistão para perdoá-la.
Algumas semanas depois,baixar estrelabetum dia friobaixar estrelabetjaneiro, Taseer foi assassinado por seu próprio segurança. No meio do movimentado mercadobaixar estrelabetKohsaar,baixar estrelabetIslamabad, Malik Mumtaz Hussain Qadri, um jovem policial, atirou no governador à queima-roupa, 27 vezes.
Qadri se tornou um herói para milhõesbaixar estrelabetmuçulmanos conservadores. Logo depois do crime, ele se entregou à polícia, mas disse não ter qualquer arrependimento – estava cumprindo um "dever religioso", disse.
"A punição para a blasfêmia é a morte", afirmou aos policiais.
Em seu julgamento, que foi realizado dias depois, Qadri foi aplaudido por centenasbaixar estrelabetfãs e regado com pétalasbaixar estrelabetrosa. Ele foi condenado à morte e executadobaixar estrelabet2016.
Já Rizvi acabou sendo demitidobaixar estrelabetseu trabalho como clérigo por causa dos sermões que elogiavam Qadri como se ele fosse mártir. Então Rizvi se voltou para a política e fundou seu próprio partido, o TLP.
Meses depoisbaixar estrelabetestabelecer o partido, os ativistasbaixar estrelabetRizvi bloquearam uma rodovia principal, paralisando a capital Islamabad por 20 dias. Rizvi acusou o governobaixar estrelabetblasfêmia depois que uma referência ao profeta Maomé foi deixadabaixar estrelabetforabaixar estrelabetuma versão revisada do juramento eleitoral.
Assim, na eleição do ano passado, o até então pequeno partido populista, declarando-se defensor da honrabaixar estrelabetMaomé, atraiu maisbaixar estrelabet2 milhõesbaixar estrelabetvotos. Ao longo da campanha, seus cartazes e faixas exibiam fotografiasbaixar estrelabetQadri, idolatrado como um mártir da causa religiosa.
Blasfêmia como crime
Nos últimos 30 anos, blasfêmia contra o profeta Maomé levava à penabaixar estrelabetmorte no Paquistão, mas ninguém havia sido executado.
Há ao menos 1.549 casos conhecidosbaixar estrelabetpessoas acusadas por blasfêmia contra Maomé ou profanação do Alcorão, segundo o Centro Paquistanêsbaixar estrelabetJustiça Social.
Desses casos, 75 pessoas acusadas por esses crimes foram assassinadas antes mesmobaixar estrelabetserem julgadas. Muitas foram mortas sob custódia da polícia ou linchadas pela multidão.
Um desses incidentes ocorreu quase perto da cidadebaixar estrelabetLahore, no pequeno municípiobaixar estrelabetKot Radha Kishan, nomebaixar estrelabethomenagem a dois deuses hindus.
Na região, os campos são verdes e exuberantes. A cada 800 metrosbaixar estrelabettodas as direções, estão as altas chaminés fumegantes dos fornos das olarias onde se fabricam tijolos. Em cada um, centenasbaixar estrelabetblocos são empilhadosbaixar estrelabetfileiras.
Foibaixar estrelabetum desses fornos que Shahzad e Shama Maseeh, um casal cristão acusadobaixar estrelabetblasfêmia, foi queimado vivo por uma multidão,baixar estrelabet2014.
O jornalista local Rana Khalid relembra os eventos que levaram aos assassinatos. Ele aponta para uma pequena estrutura perto do fornobaixar estrelabettijolos. "O casal estava trancado nessa sala se protegendo da multidão", ele conta.
Liderada por um clérigo local, a multidão estava furiosa: vários membros subiram no telhado e abriram caminho pelo teto. O casal foi arrastado para fora.
"Eles foram brutalmente espancados com paus e tijolos e arrastados pelos homens raivosos da aldeia até o fornobaixar estrelabettijolos e jogados lá dentro", descreve o jornalista.
Shama estava grávidabaixar estrelabetquatro meses.
A multidão acreditava que um dia antes Shahzad e Shama haviam queimado várias páginas do Alcorão, junto com o lixo. A família do casal nega, dizendo que eles estavam queimando documentos antigos.
Cinco pessoas da aldeia, incluindo o clérigo local, foram condenadas à morte por terem assassinado o casal cristão. Outros oito moradores foram condenados a dois anosbaixar estrelabetprisão por incitar a violência.
Perseguição a muçulmanos
Mas não são apenas os cristãos que suportam o peso da controversa lei contra a blasfêmia do país. Ela também é usada para perseguir os muçulmanos do grupo Ahmadi. Essa comunidade é considerada pelo governo como uma minoria religiosa não-muçulmana. Por lei, os ahmadis não podem chamar seus locaisbaixar estrelabetcultobaixar estrelabetmesquitas, são proibidosbaixar estrelabetrecitar do Alcorão ou mostrarbaixar estrelabetfébaixar estrelabetpúblicobaixar estrelabetqualquer maneira.
Aslam Jameel (nome fictício), um fazendeiro ahmadi, estava trabalhandobaixar estrelabetseus camposbaixar estrelabettrigo no sulbaixar estrelabetPunjabbaixar estrelabet2009, quando foi abordado por um casalbaixar estrelabetmoradores locais. Eles disseram que ele precisava correr.
Aslam tinha sido acusadobaixar estrelabetinsultar o profeta Maomé por um líder religioso local e a multidão estava atrás dele.
"O clérigo alegou que, Deus me livre, eu tinha levado quatro meninos ahmadis a escrever o nome do profetabaixar estrelabetum banheiro", diz Aslam, com a voz embargada pelas lágrimas.
Ele esperoubaixar estrelabetcasa até depois do anoitecer. Então conseguiu se esgueirar pela porta dos fundos e fugir. Não chegou muito longe antesbaixar estrelabetperceber que fugir provavelmente o colocariabaixar estrelabetmais problemas. Para onde ele iria?
Na manhã seguinte, ele se entregoubaixar estrelabetuma delegacia da polícia local. Demorou quase dois anos até seu caso ir a julgamento - ele ficou seis meses na prisão.
"O juiz estava sob imensa pressão", conta Aslam, emocionado. "O tribunal estava lotadobaixar estrelabetclérigos, mas ele [juiz] demonstrou uma grande coragem."
Aslam foi inocentado por faltabaixar estrelabetprovas. Quando voltou para casa, ele viu que seus pertences e animais haviam sido furtados. Ele então decidiu sair do Paquistão, e pediu asilo ao Canadá.
"Minha família foi ameaçada e assediada, minha vida e meu sustento, arruinados. Tivemos que abandonar a aldeia para salvar nossas vidas", diz.
O estigma da blasfêmia
Para aqueles que são levados a julgamento e considerados culpadosbaixar estrelabetblasfêmia, o estigma os acompanha do tribunal até as grades da prisão.
Shakeel Wajid (nome fictício), outro ahmadi, diz que a multidão se reúne para acompanhar os julgamentos. "Os juízes dos tribunais inferiores estão sob grande pressão dos tribunais superiores e dos extremistas religiosos, que se reúnembaixar estrelabetgrande número durante as audiências", explica Shakeel. "Os juízes têm pouca segurança e também temem por suas próprias vidas."
Depoisbaixar estrelabetser considerado culpadobaixar estrelabetblasfêmia, Shakeel passou dois anosbaixar estrelabettrês prisõesbaixar estrelabetsegurança máxima na provínciabaixar estrelabetPunjab.
Ele diz que condenados por blasfêmia são mantidosbaixar estrelabetseparado,baixar estrelabetalasbaixar estrelabetsegurança máxima. Algumas vezes eles têm como companheirosbaixar estrelabetcela prisioneiros com doenças mentais.
Na maioria das vezes, os detentos por blasfêmia são mantidos trancadosbaixar estrelabetsuas celas e, parabaixar estrelabetprópria segurança, são proibidosbaixar estrelabetcomer com os outros detentos, pois há riscobaixar estrelabetenvenenamento.
"Um dos meus companheirosbaixar estrelabetprisãobaixar estrelabetRawalpindi era um professor universitário. Um aluno não concordou combaixar estrelabetinterpretaçãobaixar estrelabetcéu e inferno e o denunciou por blasfêmia", conta Shakeel.
Ele acredita ter tido sorte por conseguir a liberdade. Mas, acimabaixar estrelabettudo, Shakeel estava desesperado para conseguir limpar seu nome das acusações.
"O rótulobaixar estrelabetblasfemo é pior que o medo da morte. É uma acusação tão séria que eu não queria morrer com isso. Eu queria que meu nome fosse limpo para que minha família pudesse sobreviver com dignidade na sociedade", diz ele.
Penabaixar estrelabetmorte
A lei paquistanesa contra a blasfêmia ficou mais severa na décadabaixar estrelabet1980,baixar estrelabetum cenáriobaixar estrelabetcrescente polarização no país.
Em 1979, o Paquistão era aliado dos americanos quando o vizinho Afeganistão foi invadido pela União Soviética e os Estados Unidos iniciaram operações secretas para ajudar combatentes islâmicos.
O país teve ganhos econômicos significativos porbaixar estrelabetparticipação na jihad afegã, mas acabou impulsionando fanatismo religioso. Durante a década seguinte, a influência política e social dos grupos religiosos radicais aumentou dramaticamente.
Eles ganharam visibilidade e voz. O Estado promoveu abertamente a ideologia islâmica ultraconservadora Wahhabi, sob liderança do general Zia ul-Haq, presidente do país entre 1978 e 1988.
Leis foram promulgadas e adaptadas para reforçar a chamada sharia (legislação islâmica) e fazer do Paquistão uma nação "verdadeiramente islâmica". Nesse contexto, as regras sobre blasfêmia foram alteradas pelo Parlamentobaixar estrelabet1986.
Originalmente, uma legislação que respeitava diferenças religiosas havia sido criada pelos britânicosbaixar estrelabet1860. O objetivo era conter conflitos religiosos entre hindus, muçulmanos, cristãos e siquesbaixar estrelabettoda a Índia governada pelo Reino Unido na época.
A lei protegia locaisbaixar estrelabetculto e objetos sagrados e tornava crime perturbar assembleias religiosas, invadir locaisbaixar estrelabetsepultamento e insultar deliberadamente crençasbaixar estrelabetqualquer pessoa. Os infratores eram punidos com até dez anosbaixar estrelabetprisão.
Em 1927, durante uma tensão política e antagonismo entre diferentes comunidades, a lei foi reforçada.
As leisbaixar estrelabetblasfêmia não favoreciam nenhuma religião específica até 1986, quando o Parlamento paquistanês introduziu novas emendas e incluiu uma cláusula que punia com a morte quem ofendesse o profeta Maomé.
Na votação, apenas um parlamentar se posicionou contra a cláusula 295-C. Seu nome é Muhammad Hamza.
Hoje com 90 anos, Hamza conta como foi aquele diabaixar estrelabetque a lei estava sendo discutida na Assembleia Nacional.
Em seu discursobaixar estrelabet1986, Hamza argumentou que os textos islâmicos citados pelos defensores da penabaixar estrelabetmorte precisavam ser exaustivamente revisados pelos estudiosos da religião antes que qualquer mudança na lei fosse aprovada. Ele alegou que o Parlamento estava sendo irresponsável, evitando um debate mais profundo sobre o assunto.
"Tenho uma opinião firme", diz Hamza. "Você não pode administrar o país com justiça seletiva. Qual é o propósito da lei se ela é destrutiva para a sociedade?"
"Nossa população não tem profundidade, é excessivamente emocional sobre religião, então eu sabia que a lei seria mal utilizada – é por isso que eu me opus", completa.
Hamza era a única voz da oposição no Parlamento naquele dia – a cláusula 295-C foi aprovada imediatamente. Ele ainda vivebaixar estrelabetseu antigo distrito eleitoral, a cidadebaixar estrelabetGojra.
Cristãos queimados vivos
Em 2009, no mesmo anobaixar estrelabetque Asia foi presa, Gojra ganhou as manchetes internacionais depoisbaixar estrelabetuma sériebaixar estrelabetataques que teve como alvo o maior assentamento cristão da cidade.
Provocada por rumoresbaixar estrelabetque páginas do Alcorão haviam sido profanadas, uma multidão islâmica atacou e saqueou várias casas antesbaixar estrelabetincendiá-las. Oito cristãos foram queimados vivos.
"Foi um dia triste. As acusações eram totalmente infundadas, mas a multidão estava furiosa. As pessoas não prestavam atenção no que as autoridades estavam tentando lhes dizer e a situação ficou forabaixar estrelabetcontrole", conta o ex-parlamentar Muhammad Hamza.
Desde a introdução da penabaixar estrelabetmorte, o númerobaixar estrelabetpessoas acusadas por blasfêmia vem aumentando massivamente, segundo o Centro Paquistanêsbaixar estrelabetJustiça Social.
"Sinto-me desanimado com a forma com que a lei está sendo usada contra pessoas vulneráveis", diz Hamza. "A religião se transformoubaixar estrelabetuma ferramenta política poderosa, não é mais uma bênção, tornou-se uma maldição, infelizmente."
Conservadorismo nas escolas
Os críticos da lei acreditam que a violência contra os acusados de blasfêmia se deve a uma má interpretação dos textos sagrados já a partir da infância.
No Paquistão, milharesbaixar estrelabetcrianças são enviadas para madraças (escolas muçulmanas) e internatos islâmicos - uma alternativa gratuita à escola pública. Muitas dessas instituições ensinam uma profunda interpretação conservadora do Islã, incluindo uma constante retórica sobre a blasfêmia.
A vergonhabaixar estrelabetuma possível blasfêmia é tamanha que alguns religiosos chegam a se flagelar como punição.
Aos 16 anos, Muhammad Anwar era um típico adolescente. Ele viviabaixar estrelabetuma pequena aldeia do distritobaixar estrelabetOkara e, como outros jovensbaixar estrelabetsua idade, costumava ajudar seu pai na plantação.
Como é comumbaixar estrelabetmuitas partes rurais do Paquistão com baixos níveisbaixar estrelabetalfabetização, o adolescente ebaixar estrelabetfamília veem o clérigo local como a autoridade máximabaixar estrelabettodos os assuntos religiosos.
Em janeirobaixar estrelabet2016, ele participavabaixar estrelabetum culto na mesquita da aldeia. O clérigo que liderava a celebração,baixar estrelabetuma tentativabaixar estrelabetcriar um fervor religioso entre os fiéis, questionou: "Quem aqui é seguidor do profeta Maomé?"
Os fiéis levantaram as mãos enquanto Anwar estava cochilando. O clérigo continuou: "Quem aqui não acredita nos ensinamentobaixar estrelabetMaomé?"
O adolescente, meio adormecido, levantou a mão sem pensar.
A mesquita ficoubaixar estrelabetsilêncio. Então o clérigo acusou publicamente o garotobaixar estrelabetdesonrar o profeta Maomé. Anwar ficou profundamente perturbado. Depoisbaixar estrelabettodos os fiéis foram para casa, ele ficou atrás da mesquita, procurando um consolo.
"Eu queria provar meu amor a Maomé", diz ele, sincero.
Como um atobaixar estrelabetadoração abaixar estrelabetreligião, o adolescente decidiu que o melhor a fazer era cortarbaixar estrelabetprópria mão. Ele colocoubaixar estrelabetmão direitabaixar estrelabetuma máquinabaixar estrelabetcortar grama e decepou o membrobaixar estrelabetapenas um golpe.
"Não foi uma questãobaixar estrelabetdor. Fiz isso pelo amor ao meu profeta, que a paz esteja com ele", conta.
Ele colocou a mão decepadabaixar estrelabetuma bandeja, cobriu com um pano branco e voltou para a mesquitabaixar estrelabetbuscabaixar estrelabetabsolvição do clérigo.
Nos dias que se seguiram, pessoasbaixar estrelabetvilarejos e cidades próximas foram até a vilabaixar estrelabetAnwar para prestar seus respeitos a ele, elogiando-o por seu amor ao profeta Maomé.
Dois anos depois, ele passa boa parte do tempo lendo o Alcorãobaixar estrelabetuma madraça local. Ele afirma que não se arrependebaixar estrelabetter amputado a própria mão. "Não me importo com o que as pessoas falam. Isso é entre mim e meu profeta. Você não vai entender", diz.
Liberdade para Asia
O prédiobaixar estrelabetque fica o Supremo Tribunalbaixar estrelabetLahore é mais alto que os outros adjacentesbaixar estrelabetuma movimentada avenida da cidade. Com seus tijolos vermelhos e altas colunas brancas, o edifício é uma lembrança do passado colonial do Paquistão.
Ao redor do Supremo Tribunal, ruelas estreitas acomodam muitos gabinetesbaixar estrelabetadvogados, muitas vezes escritórios bem apertados.
Em uma praça atrás do tribunal,baixar estrelabetfrente a uma lojabaixar estrelabetchá movimentada, fica o escritório do advogado Ghulam Mustafa Chaudhry. Ele é presidentebaixar estrelabetum associaçãobaixar estrelabetadvogados pró-lei da blasfêmia chamada Khayam-e-Nabuwat –baixar estrelabettradução livre, seria algo como "finalidade do profeta". Eles oferecem aconselhamento jurídico a qualquer muçulmano que apresentar um casobaixar estrelabetblasfêmia.
A associação tem cercabaixar estrelabet800 advogados voluntários por todo o Paquistão.
"Sempre que descobrimos qualquer incidente desse tipo [de blasfêmia]baixar estrelabetqualquer lugar do país, procuramos os queixosos e oferecemos assistência jurídica gratuita", explica Chaudhry.
"Nós fazemos isso para agradar Alá e proteger o profeta Maomé, não há motivação material", diz.
Chaudhry criou a associação há quase 18 anos, logo depoisbaixar estrelabetcomeçar a trabalhar como advogado. Hoje com 50 anos, ele diz que está mais motivado que nunca embaixar estrelabet"missão".
"É muito lamentável. A blasfêmia se tornou excessiva. Há 40 casosbaixar estrelabetblasfêmiabaixar estrelabetjulgamento apenas na cidadebaixar estrelabetLahore. As pessoas que cometem blasfêmia são celebradas como heróis, isso é muito triste.
Ele critica a forma como o casobaixar estrelabetAsia Bibi se desenrolou. "Ela insultou o profeta Maomé, mas virou uma heroína no Ocidente."
Chaudhry também era o advogadobaixar estrelabetdefesabaixar estrelabetMumtaz Qadri, o antigo guarda-costas transformadobaixar estrelabetassassino do governador Salman Taseer. O advogado diz que a lei da blasfêmia é uma "bênção" e que ela impede que a população faça Justiça com as próprias mãos.
"Mumtaz Qadri procurou a polícia para apresentar uma queixabaixar estrelabetblasfêmia contra o ex-governador, masbaixar estrelabetreclamação não foi acolhida", diz o advogado. "Ele não teria sido forçado a pegar uma arma nas mãos se a lei tivesse sido seguida", acrescentou.
O casobaixar estrelabetAsia chegou até a corte máxima do país. Ela foi inocentada por faltabaixar estrelabetprovas, mas, mesmo assim, os protestos violentos continuaram no Paquistão.
Ainda assim, o governo concordou que poderia haver uma revisão do julgamento da Suprema Corte sobre a absolviçãobaixar estrelabetAsia. O governo queria dispersar os manifestantes, e depois acabou reprimindo o partido TLP, do líder religioso ultraconservador Khadim Hussain Rizvi.
Rizvi foi levado sob custódia pela polícia.
Já a famíliabaixar estrelabetAsia foi mantidabaixar estrelabetum local secreto por quase três meses. Ela foi absolvida, mas ainda não estava livre.
Finalmente, o Supremo Tribunal aceitou a petiçãobaixar estrelabetrevisãobaixar estrelabet29baixar estrelabetjaneiro deste ano. O julgamento durou algumas horas. Ghulam Mustafa Chaudhry representou Qari Salim, o denunciante no casobaixar estrelabetAsia.
O advogado não conseguiu demonstrar qualquer erro no veredito. O tribunal rejeitou a petição e reiteroubaixar estrelabetdecisão anteriorbaixar estrelabetlibertar Asia.
O presidente da corte disse que houve inconsistências nas declarações das testemunhas que depuseram contra Asia. "Como poderíamos enforcar alguém usando declarações falsasbaixar estrelabettestemunhas?", questionou.
Asia deixou o Paquistão e foi para o Canadá, onde já estariam o marido e as duas filhas dela. Autoridades paquistanesas não confirmam, contudo, onde ela está nem quando embarcou. Eles também a mantiveram num lugar secreto enquanto negociavam a saída dela do país.
A decisão da Suprema Cortebaixar estrelabetanular a sentençabaixar estrelabetoutubro passado levou a violentos protestosbaixar estrelabetreligiosos que apoiam as severas leisbaixar estrelabetblasfêmia no Paquistão, enquanto setores mais liberais da sociedade pediam a libertaçãobaixar estrelabetAsia.
Em retrospectiva, é irônico como um caso baseadobaixar estrelabetdeclarações falsas tumultuou o tecido social do Paquistão por oito anos. Mas, finalmente, o governo mostroubaixar estrelabetforça e o estadobaixar estrelabetdireito prevaleceu.
Foi um momento decisivo para o Paquistão e a mensagem era clara: a justiça pelas próprias mãos não pode governar o país e a puniçãobaixar estrelabetmorte por blasfêmia não deve ser permitida.
Apesar da mensagem, a lei ainda continua valendo e ninguém ainda se levantou para falar sobre revogá-la ou promover mudanças. O assassinato do governador Salman Taseer ainda assombra a mente dos paquistaneses.
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