Crise na Venezuela: orgulho nacional, música clássica vira trampolim para quem sonha deixar paísveeea pokercrise:veeea poker
Latin Vox Machine
O saxofonista e também músicoveeea pokerfagote, César Pérez,veeea poker33 anos, desembarcouveeea pokerBuenos Aires há seis meses com um objetivo claro: fazer parte da orquestra Latin Vox Machine, na qualveeea pokerirmã, também imigrante, tocava oboé. "Cheguei aqui e fui direto procurar o criador da orquestra", contou Pérez, que tem mestradoveeea pokermúsica. Hoje, alémveeea pokertocarveeea pokerlugares públicos, como o metrô, ele é coordenador da orquestra e quer continuar os estudos acadêmicos na capital argentina.
A Latin Vox Machine é uma ideia do pianista e produtor musical venezuelano Omar Zambrano,veeea poker37 anos, que também deixouveeea pokerterra natal há três anos. "Eu vim pra cá sem trabalho e queria primeiro entender a cidade. Mas um dia estava no metrô e vi uns jovens, bem novinhos, tocando instrumentos clássicos. A trompa francesa foi o que mais chamou minha atenção", contou Zambrano à BBC News Brasil.
O produtor conversou com os jovens músicos e, com esse grupo e outros músicos, lançou a orquestraveeea poker2017. "Mais do que uma orquestra é até uma formaveeea pokercontenção emocional para todos nós porque nos reunimos com frequência para os ensaios e as apresentações. Um músico precisa muito praticar a música, ainda mais sendo imigrante", disse Zambrano.
Até pouco tempo, a orquestra tinha 35 integrantes. No fim do ano passado, passou a contar com 180 membros, incluindo músicos e coro, entre eles argentinos, venezuelanos, peruanos, chilenos e sírios. Em ascensão, eles realizaram apresentaçõesveeea pokeralgumas das principais salasveeea pokerconcerto da cidade e têm outras quatro grandes apresentações agendadas para este ano na capital argentina.
"O Sistema"
Oriundosveeea pokerlugares diferentes da Venezuela (Maracaibo, Barquisimeto e Maracay), os músicos Omar Zambrano, César Pérez e Adriana Cruz têm algoveeea pokercomum entre eles e entre milharesveeea pokervenezuelanos.
Eles foram alunos do chamado 'El Sistema' (O Sistema), uma instituição públicaveeea pokerensino musical criadaveeea poker1975 pelo músico José Antonio Abreu (1939-2018). O objetivo do 'Sistema' (Sistema Nacionalveeea pokerOrquestras da Venezuela) é "a inclusão social e o ensino da cidadania", através da música clássica, para crianças e jovensveeea pokerdiferentes camadas sociais, como definiram ex-alunos.
Na Venezuela, graças ao Sistema, passou a ser comum ver crianças, que não foram a um conservatório, tocando peças musicais clássicas, como asveeea pokerTchaikovsky, nos bairros pobres, como recordou Zambrano.
"Assim como aqui na Argentina a paixão das crianças é aprender a jogar futebol, na Venezuela, a partir da ideia do maestro Abreu, passou a ser a música clássica", lembrou ele. Para Adriana, é difícil não encontrar, na Venezuela, quem não conheça os instrumentos clássicos das orquestras, graças ao trabalho do maestro Abreu. "O que ele fez foi inovador e se perpetuou", disse.
Estima-se que o modelo do 'Sistema' tenha sido replicadoveeea pokervários países. Ele resultouveeea pokernomes internacionaisveeea pokerprestígio, como o maestro Gustavo Dudamel, que atualmente dirige a Orquestra Filarmônicaveeea pokerLos Angeles. Procurado pela reportagem, ele não respondeu ao pedidoveeea pokerentrevista.
Além do braçoveeea pokerformação massiva, 'El Sistema' inclui também uma orquestra, a tradicional e prestigiosa Simón Bolívar, que já foi regida por Dudamel. Mas a situação e o prestígio se deterioraram nos últimos anos. Segundo o jornal Folhaveeea pokerS.Paulo, 100 dos 120 nomes que integravam o corpo artísticoveeea pokerseu auge deixaram a Venezuelaveeea pokerbuscaveeea pokercondiçõesveeea pokervida melhores.
Durante a entrevista à BBC, Zambrano lembra com saudade da época que um músico venezuelano "não precisava mudar para a Europa para ter prestígio" e que "muitos músicos estrangeiros iam ao nosso país para estudar e se aperfeiçoar".
Sem dinheiro para fotocópias
O maestro Felipe Izcaray, do Sistema Nacionalveeea pokerOrquestras e Coros Juvenis e Infantisveeea pokerCarora, no Estado venezuelanoveeea pokerLara, que faz parte do Sistema, disse à BBC News Brasil que o salárioveeea pokerum músico pode serveeea pokero equivalente a dez dólares (cercaveeea pokerR$ 38).
A escassez leva a dificuldades básicas para desempenharveeea pokerprofissão, como tirar fotocópiasveeea pokerpartituras, que muitas vezes não são possíveis por falta dos insumos ouveeea pokerdinheiro. Paiveeea pokertrês músicos, que moram nos Estados Unidos, na Argentina e no Brasil, Izcaray,veeea poker68 anos, fundou a orquestraveeea pokerSalta, no norte argentino e é um dos grandes nomesveeea pokerpeso entre os maestros venezuelanos, segundo especialistas.
"Quando voltei para a Venezuela, há cercaveeea pokerdez anos, era difícil imaginar que passaríamos a enfrentar dificuldades tão básicas", disse.
Há poucos dias, ele era o homenageadoveeea pokeruma das principais orquestras públicasveeea pokerCaracas. "Apesarveeea pokerser o homenageado, eles sequer tinham o dinheiro para me mandar a passagem, o que antes teria ocorrido normalmente", disse.
Para além da música clássica
Ex-professorveeea pokerviolão na Berklee College of Music, nos Estados Unidos, o músico e compositor Aquiles Báez,veeea poker54 anos, com vários discos, voltou para a Venezuelaveeea poker2011. Na época, a crise já dava sinaisveeea pokergravidade. "A música e os músicos venezuelanos são o segredo melhor guardado da Venezuela. Eu quis voltar para trabalhar como gestor cultural. Por causa da crise, carecemos hojeveeea pokergestores. Fiz o caminho inverso (dos imigrantes)", disse.
Mas para ele, que costuma viajar para tocarveeea pokeroutros países, como o Brasil e os Estados Unidos, a música venezuelana vai além do 'El Sistema'. Báez criou uma plataforma, a Guataca, para congregar e promover músicos venezuelanos, fora do circuito da música clássica. "A Venezuela tem maisveeea poker500 ritmos. É uma riqueza musical infinita e sem dúvida uma ferramenta também para o imigrante (venezuelano)", disse à BBC News Brasil. A plataforma conecta e reúne músicos venezuelanos no país, no Panamá, nos Estados Unidos e na Espanha.
Quando Báez contava à reportagem as dificuldades dos músicos que continuam na Venezuela, que inclui a necessidadeveeea pokershowsveeea pokerresidências porque os teatros nem sempre estão habilitadosveeea pokertemposveeea pokercrise, seu amigo Dylke Barrena,veeea poker51 anos, chegou ao local. Ele também falou com a reportagem pelo telefone.
Professorveeea pokermúsicaveeea pokeruma escola pública no interior do país, Barrena contou que ganha a vida também como taxista porque seu salárioveeea pokerprofessor foi esvaziado pela hiperinflação. Depende hoje da ajudaveeea pokeramigos para a manutençãoveeea pokerseu instrumento. "Um conjuntoveeea pokercordas pode custar mais que um salário. E não é fácil encontrá-las", disse. Músicos no país ganhamveeea pokerbolívar soberano, desvalorizados, e os insumos costumam ter preços dolarizados.
Derrocada econômica
País petroleiro que se acostumou a viver o pêndulo da riqueza na alta do petróleo eveeea pokertempos mais magros na baixa do preço do produto, a Venezuela enfrenta a combinaçãoveeea pokerinflação e desvalorização que tem ruído o poderveeea pokercompra dos venezuelanos.
A economia local deverá registrar quedaveeea poker15%veeea poker2018 eveeea poker10%veeea poker2019, segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal). Ao mesmo tempo, a inflação no país éveeea pokerlonge a maior da América Latina, com uma médiaveeea poker200% mensal entre agosto e outubro do ano passado, após medidas anunciadas por Maduro. Nos meses anteriores,veeea poker2018, o índice superava os 100% por mês, mas disparou ainda mais, segundo economistas.
Na Venezuela, o salário mínimoveeea pokerum professor da rede pública, por exemplo, éveeea pokercercaveeea poker1.800 bolívares a 3 mil bolívares (entre cercaveeea pokerR$ 104 e R$ 170), o que gerou protestos recentes.
Segundo a Acnur, três milhõesveeea pokervenezuelanos, entre refugiados e migrantes, deixaram o país principalmente para destinos da América Latina e Caribe (2,4 milhões) e o restante para outros continentes.
Aindaveeea pokeracordo com o organismo da ONU, a Colômbia abriga o maior númeroveeea pokerrefugiados e migrantes da Venezuela, um totalveeea pokermaisveeea pokerum milhãoveeea pokerpessoas. Peru, Chile e Argentina, além do Brasil,veeea pokermenor medida, também registraram a chegadaveeea pokervenezuelanos nos últimos tempos. A Venezuela tem pouco maisveeea poker30 milhõesveeea pokerhabitantes.
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