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Crise na Venezuela: a batalhaapostador betuma mãe para salvarapostador betfilha doente:apostador bet
Ela conta a históriaapostador betJulia sentadaapostador betuma cama do hospital, onde se amontoam alguns lençóis. Também há uma Bíblia e uma barata que teimaapostador betsubirapostador betnossas pernas. Ela chama a filhaapostador bet"minha princesa".
Julia nasceu com um cérebro minúsculo. Alémapostador betnão enxergar, a menina tem um crânio proporcionalmente grande paraapostador betidade - passa o dia prostradaapostador betum berço.
Yurika diz que nunca viu a filha sorrir. "Ela está sempre quietinha", diz, com ternura.
Os médicos já disseram que a menina pode morrer a qualquer momento por causa da má formação congênita. O prognóstico é que, à medida que ela cresça, seu pequeno cérebro entreapostador betcolapso. "Um neurocirurgião me disse que ela não viveria maisapostador betum ano, mas minha princesa continua aqui", diz Yurika.
Históricoapostador betproblemas
A mãeapostador betJulia é uma camponesaapostador betPortuguesa, Estado no centro-oeste da Venezuela.
Durante a gravidezapostador betJulia, ela teve zika e dengue.
O feto se desenvolveu fora do útero e não recebia oxigênio suficiente, o que,apostador betacordo com os médicos, causou os danos irreversíveis da menina. Segunda Yurika, ninguém a avisou durante a gravidez sobre os problemas que a garota teria.
"Se eu soubesse, teria interrompido a gravidez, não porque sou uma mãe ruim, mas porque é muito difícil ter um bebê e vê-lo sofrer. Você acha que isso seria errado?", pergunta ela.
Julia nasceuapostador bet30apostador betagostoapostador bet2017apostador betum hospital público. O parto foi complicado e Yurika também correu riscoapostador betmorrer. "Perdi muito sangue e no hospital não havia remédios nem material esterilizado", lembra Yurika.
O último balanço nacional publicado pelo Ministério da Saúde,apostador betmaioapostador bet2017, apontou um aumentoapostador bet30% na mortalidade infantil e 65% na mortalidade materna.
Essas são os últimos dados disponíveis.
Atualmente, na crise, são escassos os medicamentos na Venezuela e o custoapostador betvida aumentou exponencialmente devido à hiperinflação.
O país vive a maior recessãoapostador betsua história: são 12 trimestres seguidosapostador betretração econômica, segundo anunciouapostador betjulho a Assembleia Nacional, o Parlamento venezuelano, que atualmente é controlado pela oposição.
A dimensão do colapso pode ser vista nos números do Produto Interno Bruto. Entre 2013 e 2017, o PIB venezuelano teve uma quedaapostador bet37%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que, neste ano, caia mais 15%.
Além disso, a previsão do FMI éapostador betque neste ano a inflação na Venezuela chegue a 1 milhão % (Isso significa que você multiplicar por 10 mil o preçoapostador betum produto). Por dia, o FMI estimaapostador bet4% o valor da inflação venezuelana.
O governo atribui os problemas a uma "guerra econômica" instigada pelos Estados Unidos e pela oposição política.
Os filhos mais velhosapostador betYurika,apostador bet11 e nove anos, nasceramapostador bethospitais particulares - serviço que hoje ela não tem como bancar financeiramente.
Julia cresceu e acabou contrariando as previsões médicasapostador betque teria pouco tempoapostador betvida. "A realidade me veio assim e não tenho escolha não ser enfrentar", diz Yurika.
A peregrinação
"Um dia, vi na televisão que o hospital infantil J. M.apostador betlos Ríos,apostador betCaracas, estava fazendo a operação para implantar as válvulasapostador betque ela precisava."
Sem a ação dessas válvulas, o cérebroapostador betJulia não consegue resistir à pressão do líquido que se acumula emapostador betcabeça.
Yukira, então, decidiu viajarapostador betGuanare, o povoado onde vive, até a capital da Venezuela para chegar ao hospital que já foi referênciaapostador betpediatria na América Latina.
Essa foi apenas a primeiraapostador betsuas peregrinações à capital para tentar salvar a vida da filha. As duas viajam por 12 horas e precisam pegar três ônibus lotados. "A princesa chega muito cansada", lamenta.
O transporte precário é outra consequência da crise venezuelana. "Um médico me disse uma vez para fazermos a viagemapostador betavião", lembra. O pedido a fez rir. "As passagens aéreas são pagasapostador betdólares, não sei como esse homem pensou que eu tivesse dólares."
Sua única renda vem da vendaapostador bettangerinas e abacates que crescemapostador betseu quintal, além dos U$ 3 (R$ 11) que recebeapostador betum subsídio que o Estado paga a pessoas pobres.
Nem com a ajudaapostador betseu parceiro, que trabalha com exploraçãoapostador betmadeira, a família consegue cobrir as necessidades. "Ele não me abandonou, como muitos homens fazem quando não querem se ocupar dos filhos."
Na primeira visita ao hospital, os médicos colocaram as válvulasapostador betJulia, mas a garota sofreu com uma grave infecção - depois, ela começou a ter convulsões.
"Ele precisa tomar ácido valpróico para evitar as convulsões, porque os médicos me disseram que convulsões poderiam matar os poucos neurônios que ela tem", explica Yurika, enquanto faz a filha engolir sucoapostador betmelão por meioapostador betuma seringa sem agulha.
Encontrar ácido valpróico tem sido a prioridadeapostador betYurika, pois no hospital J. M.apostador betlos Ríos não existe esse remédio.
Katherine Martínez, da ONG Prepara Família, especializadaapostador betatender a famíliasapostador betcrianças hospitalizadas, afirmou que não há distribuição regularapostador betantibióticos no hospital. "Algo que seria básico", diz.
"Ainda que tenhamos reclamadoapostador bettodas as instâncias, não recebemos nenhuma resposta das autoridades", diz.
O hospital J. M.apostador betlos Ríos é a última esperança para muitas mães do interior do país. Segundo explica Martínez, "a situação dos hospitais [da Venezuela] é terrível".
O médico Augusto Pereira, chefeapostador betOncologia Pediátrica do hospital, admite que "há, sim, um déficitapostador betsuprimentos."
"A alimentação dos meninos não é equilibrada, nem adaptada para suas patologias", diz Martínez.
Pereira também aponta que os pacientes têm recebido "na maioria das vezes, apenas carboidratos, e nadaapostador betproteínas".
Mais uma batalha
Yurika levou Julia outra vez ao hospital no verão passado, pois a menina precisavaapostador betuma nova válvula. Ela diz que a menina chegou ao local com nove quilos e hoje pesa cinco.
Ela apresenta quadroapostador betdesnutrição e está fraca demais para passar por outra cirurgia.
Há pacientes que tiveram pior sorte.
A ONG Prepara Família diz que várias crianças morreram nos últimos meses por causaapostador betuma infecção que se espalhou pelo setorapostador betnefrologia do hospital.
Yurika conta que viu um dos casos. "Havia um meninoapostador betnove anos que morreu. Chorei muito. Pedi a Deus para dar força a essa mãe", conta.
Devido à desnutrição, o hospital J. M.apostador betlos Ríos transferiu Julia para outra instituição.
Primeiro, recuperar o peso
Desde a semana passada, Julia estáapostador betum centro especializadoapostador betnutriçãoapostador betum dos programas sociais do governo venezuelano.
No local, as regras são mais restritivas: a menina só pode sair da instituição com autorização do diretor.
Yurika não quer se separar um milímetro do berço da filha, nem mesmo para tomar um café comigo.
Os médicos estimam que Julia deve passar ao menos um mês seguindo uma dieta especial para ganhar peso. Depois, deve retornar ao J. M.apostador betlos Ríos para que seja colocada outra válvula - os neurocirurgiões disseram que só farão a operação caso a menina ganhe peso.
Por ora, a garota teve alguma melhora. Em cinco dias, ganhou meio quilo dos quatro que havia perdido.
Mas, recentemente, surgiu um novo obstáculo. O centro nutricional disse que Yurika e a menina devem retornar a Guanare para completar o tratamento nutricional e retornar a Caracas somente quando Julia conseguir ganhar peso.
Isso significa mais um sacrifício para as duas.
A ciência não vê um grande futuro para Julia, mas, como dizapostador betmãe, "ela segue lutando".
Yurika não faz apostas: "Coloco nas mãos do Senhor, o que ele decidir eu vou aceitar". Mesmo assim, a camponesa promete: "Enquanto ela viver, vou continuar lutando por ela".
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