Wiñaypacha: o comovente longa protagonizado por uma senhora que nunca tinha visto um filme:arbety bônus

Crédito, Cine Aymara Studios

Legenda da foto, Rosa Nina (esq.) e Vicente Catacora interpretam Phaxsi e Willkaarbety bônusWiñaypacha

O jovem cineasta peruano Óscar Catacora,arbety bônus31 anos, nos conta a história deles. Não fazem falta música, movimentosarbety bônuscâmera e nem efeitos especiais: 96 planos fixos bastam para compor uma narrativa que comove e estremece.

Com seu primeiro filme, ele ganhou no Festivalarbety bônusCinemaarbety bônusGuadalajara (México) os prêmiosarbety bônusMelhor Jovem Diretor, Melhor Obra e Melhor Fotografia e será o indicado peruano aos prêmios Oscar e Goya na categoriaarbety bônusmelhor filme estrangeiro e ibero-americanoarbety bônus2019.

A BBC Mundo, serviçoarbety bônusespanhol da BBC, conversou com ele no festival Hay Arequipa, que aconteceu entre 8 e 11arbety bônusnovembro.

Crédito, Cine Aymara Studios

Legenda da foto, Os santuários são oferendas típicas dos aimarás à Pachamama - estes são osarbety bônusWillka e Phaxsi

arbety bônus BBC News Mundo - "Wiñaypacha" é uma ficção, mas também é autobiográfica. O protagonista, Vicente Catacora, é seu avô materno. Que outros componentes daarbety bônusvida pessoal há no filme?

arbety bônus Óscar Catacora - Vivi parte da minha infância com meus avós paternos nas partes altasarbety bônusPuno, a uns 4,5 mil metrosarbety bônusaltitude. Eles não falavam castelhano, por isso eu falo perfeitamente aimará. O filme se baseia nesse passado com meus avós e na nostalgia que eles sentiam pela ausência do meu pai earbety bônusseus outros filhos.

Meu pai me enviou para viver com meus avós quando eu era bem pequeno, tinha 6, 7 anos. E fez o mesmo com meu irmão. Passávamos três ou quatro meses lá durante as férias. Há esse costume entre os que vivem na zona alta do Peru. É uma tradição necessária e que hoje está se perdendo.

Meus avôs paternos morreram há vários anos. Para a produção do filme, buscávamos atores que pudesse interpretá-los e, finalmente, decidimos apostar no meu avô materno, que também é aimará. Ele apoiou muito o projeto por uma questão familiar.

Crédito, Cine Aymara Studios

Legenda da foto, Rosa Nina, a atriz principal, nunca tinha visto um filme, conta Óscar

arbety bônus BBC News Mundo - Rosa Nina, a mulher que interpreta Phaxsi, não éarbety bônusavó, mas também não é atriz. Como foi trabalhar com ela?

arbety bônus Catacora - Rosa nos foi indicada por um amigo por suas qualidades artísticas earbety bônuspersonalidade sociável. Fomos à casa dela e ela aceitou imediatamente nosso convite.

A senhora nunca tinha visto um filme e nunca tinha ido a uma salaarbety bônuscinema. Lembro bem quando me disse: "Não sei muito bem o que me estão propondo, mas vou apoiá-los". Para nós foi incrível receber essa resposta. E falararbety bônusaimará com ela foi chave.

Tivemos seis mesesarbety bônustrabalho intensoarbety bônuspreparaçãoarbety bônusatuação. Ao princípio, eles erravam muito nos diálogos, improvisavam, não dominavam as pausas, o ritmo... Não foi fácil. Era algo novo para eles.

arbety bônus BBC News Mundo - O que te inspirou a fazer este filme?

arbety bônus Catacora - Durante minhas aulasarbety bônuscomunicação para desenvolvimento visitei vários povoados andinos, onde viarbety bônusperto o abandono das pessoasarbety bônusterceira idade.

Seus filhos tinham emigrado para as cidades e voltavam muito poucas vezes por ano para vê-los. Eles,arbety bônuscerta maneira, sofriamarbety bônusabandono.

arbety bônus BBC News Mundo - Poderíamos então dizer que o abandono é o tema central?

arbety bônus Catacora - Sim, o filme aborda vários temas, mas o central é o abandono da terceira idade. Willka e Phaxi estão distantes da sociedade. Precisamarbety bônusoutras pessoas,arbety bônusoutros que possam acompanhá-los e apoiá-los.

Tenho muito respeito por personagens mais velhos. Graças aos meus pais aprendi que os mais velhos têmarbety bônusser respeitados, que têm sabedoria.

Crédito, Cine Aymara Studios

Legenda da foto, Abandono é tema central do filme

Mas no Peru earbety bônusoutras partes do mundo há muitas pessoas que nunca visitam seus pais e avós. É uma realidade que existe. Muita gente está perdendo o respeito pelos mais velhos. Ignoram e os maltratam.

Na cidade e nas montanhas, um adulto velho é um estorvo. Mas na cultura andina não existe isso: quanto mais velhas, mais veneradas as pessoas são.

O filme também fala sobre a perdaarbety bônusidentidade do povo andino. A cultura e a língua andinas são pouco valorizadas pela sociedade. Recentemente têm ganhado um pouco maisarbety bônusimportância.

E fala sobre um efeito da globalização: quando um filho emigra para outro espaço socialarbety bônusbuscaarbety bônusmelhores oportunidades. É uma denúncia, uma crítica a quem abandona suas raízes ancestrais.

arbety bônus BBC News Mundo - Numa cena, Phaxsi conta a Willka que teve um sonho: seu filho voltaria. A busca pelo filho é um tema recorrente. Quem este filho representa? É o próprio espectador?

arbety bônus Catacora - Sim. Alguns me dizem que, mais que uma indireta, é uma direta aos espectadores que abandonam seus pais.

Mas também representa nossa sociedade, os filhos que nunca vão poder dar sequência ao legado cultural. Esse filho que foi embora para um lugar longe e que nunca vai poder transmitir os conhecimentosarbety bônussua cultura a futuras gerações.

É como um filho que nunca nasceu, é uma metáfora, na verdade.

Crédito, Cine Aymara Studios

Legenda da foto, Óscar Catacora tem 31 anos

arbety bônus BBC News Mundo - Quais outras metáforas tem o filme?

arbety bônus Catacora - São muitas. Uma delas é a do fósforo, que é um produto da globalização. Os povos originais se converteramarbety bônusdependentes do sistema globalizado. Por isso acontecem várias tragédias no filme.

Outra metáfora é a cena final, que aborda a cosmovisão andina. Por isso se fala muito da Pachamama, a Mãe Terra. Na cultura andina, morros têm sexo. Há um morro macho e uma fêmea e há um casalarbety bônusmorros.

A avó sobe essa montanha para se tornar deusa, um ser sagrado. Passamos um bom tempo buscando esse cenário natural para concluir o filme. Não foi fácil encontrar a geografia adequada.

arbety bônus BBC News Mundo - A montanha é outra protagonista do filme. Como foi rodar a maisarbety bônus5 mil metrosarbety bônusaltitude?

arbety bônus Catacora - Foi um grande desafio. Apesararbety bônusem Puno vivermos a 3,8 mil metros acima do nível do mar, subir mais mil metros é complicado, porque você sente a diferença climática. Trabalhamos a zero grauarbety bônusalguns casos, às vezes menos.

Mas não diríamos que foi sofrido. Não nos queixamos do trabalho. Na cultura aimará o trabalho não é nenhum castigoarbety bônusDeus.

E, sim, a montanha é importante. A cordilheira dos Andes é considerada uma beleza paisagística para tirar boas fotos. No entanto, as pessoas não se dão conta do que está por trás desse desafio.

Pode ter uma família como a do filme esperando seu filho. Pode haver uma cultura que vem sendo maltratada pela incursão das empresas mineiras ouarbety bônusoutras instituições. O filmearbety bônuscerta forma expõe essa realidade.

Crédito, Cine Aymara Studios

Legenda da foto, 'Wiñaypacha' significa 'eternidade' na língua aimará

arbety bônus BBC News Mundo - Há, sem dúvida, uma forte intençãoarbety bônuscrítica política no filme.

arbety bônus Catacora - Sim, é uma crítica ao Estado que abandona os povos originais. É um olhar político para que o Estado se preocupe com essas populações.

O Peru é multicultural, tem cercaarbety bônus49 línguas nativas. Algumas estão desaparecendo pouco a pouco. O Estado agora está promovendo a recuperação e preservaçãoarbety bônusalgumas.

Os povos indígenas recebem algum apoio. Mas temo que seja mal utilizado com o pretextoarbety bônuspreservar, e que muitos se aproveitem disso. Acho que é um tema delicado.

Crédito, Cine Aymara Studios

Legenda da foto, Vicente Catacora é avôarbety bônusÓscar

Deveria haver mais políticasarbety bônusproteção e apoio, mas com um tratamento cuidadoso. A ideia não é que o Estado converta esses povosarbety bônusdependentes. Deveria haver um fortalecimento para eles, dar-lhes apoio para que aprendam a se sustentar depois.

O Estado deveria evitar que o povo aimará dependa dele.

arbety bônus BBC News Mundo - Que mensagem quer transmitir a quem vê seu filme?

arbety bônus Catacora - Que entendam que a unidade familiar é o mais importante da vida. Que aprendam a valorizar seus costumes e tradições. Que valorizem um pouco a importância da família. Que olhem para o passado,arbety bônusonde vêm, isso vai ajudá-los a se projetar no futuro.

Minha avó costumava dizer que a maneira como você trata seus pais é como seus filhos te tratarão quando for mais velho.

Crédito, Cine Aymara Studios

Legenda da foto, A montanha e a natureza são personagens do filme

arbety bônus BBC News Mundo - E que interpretação gostaria que fizessem?

arbety bônus Catacora - Não gostaria que vissem o povo aimará como ignorante, nem como miserável. Um dos grandes valores desse povo é o orgulho. Somos um povo resistente e enfrentamos assim algumas culturas que quiseram nos aniquilar.

arbety bônus BBC News Mundo - O filme ganhou vários prêmios. Esperava ter tanto sucesso com seu primeiro filme?

arbety bônus Catacora - Na verdade, não. Queríamos fazer um bom filme, e não estararbety bônusfestivais.

É bom ouvir as notícias que correm, mas talvez eu não expresse muito.

Tem a ver com minhas raízes, o homem aimará não se emociona facilmente. Não quero dizer insensível, mas não exteriorizo muito essa emotividade. Sinto e vivo isso internamente, e às vezes compartilho.

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