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‘Fui estuprada por vários policiais’: as mulheres que acusam o Méxicogalerabet bonustortura sexual:galerabet bonus
O episódio se tornou um dos mais emblemáticos da repressão do governo mexicano a protestos. Durante as manifestações, duas pessoas morreram – elas tinham 14 e 20 anos. Maisgalerabet bonus200 foram presas, a maioriagalerabet bonusforma arbitrária.
Imagensgalerabet bonusTV que mostram policiais golpeando brutalmente os manifestantes assustaram o país e órgãosgalerabet bonusdefesa dos direitos humanos, que acusaram o governogalerabet bonuspraticar "graves violaçõesgalerabet bonusgarantias fundamentais" – como concluiu a Suprema Corte do México.
Segundo vários especialistas consultados pela BBC News Mundo, a sentença da Corte Interamericanagalerabet bonusDireitos Humanos sobre o caso deve sair ainda neste semestre.
'Estupros foram sistemáticos'
Para Stephanie Brewer, do Centrogalerabet bonusDireitos Humanos Miguel Agustín Pro Juárez, (Prodh), entidade que representa as vítimas, "a tortura sexual mostra uma das faces mais cruéis do que aconteceu durante a repressãogalerabet bonusAtenco".
No total, cercagalerabet bonus50 mulheres foram presas durante a operação.
"Informações que recebemos e relatos da Comissão Nacionalgalerabet bonusDireitos Humanos sugerem que todas sofreram agressões parecidas. A tortura sexual foi sistemática", diz Brewer à BBC News Mundo.
Onze dessas mulheres mantiveram as denúnciasgalerabet bonusestupros nos últimos 12 anos. Em novembrogalerabet bonus2017, elas testemunharam na Corte Interamericanagalerabet bonusDireitos Humanos.
Esse órgão judicial é ligado à Organização dos Estados Americanos (OEA). É responsável por julgar casosgalerabet bonusque países são acusadosgalerabet bonusviolar a Convenção Americanagalerabet bonusDireitos Humanos.
O México reconheceu que houve tortura sexual das 11 mulheres, mas negou que houvesse uma ordem para que crimes fossem cometidos contra pessoas presas.
"Não se pode afirmar que as autoridades tenham se organizado para cometer os crimes", diz Miguel Ruiz Cabañas, o representante do México no caso. A BBC tentou entrevistá-lo, mas não obteve sucesso.
Ruiz Cabañas, subsecretáriogalerabet bonusAssuntos Multilaterais e Direitos Humanos da Secretariagalerabet bonusRelações Exteriores do México, afirmou que a operação policial que atuou nas manifestações foi necessária para restabelecer a ordem.
Os manifestantes haviam espancado uma dúziagalerabet bonuspoliciais e mantinham uma estrada bloqueada.
As mulheres sofreram ameaçasgalerabet bonusmortes, tortura, abusos sexuais e,galerabet bonusalguns casos, estupros durante o transportegalerabet bonuspresos entre o local dos protestos e a prisão.
"Além dos atosgalerabet bonusviolência contra as mulheres, houve tortura e punições degradantes contra outros presos", diz o informe da Comissão Interamericanagalerabet bonusDireitos Humanos sobre o caso.
'Queria morrergalerabet bonusuma vez'
Os 12 anos que se passaram depois dos estupros não apagaram a dor, diz Norma. "Essa é uma das faces mais cruéis da tortura, especialmente a tortura sexual: é algo que não cura nunca, algo que você não consegue esquecer."
Ela tinha 23 anos na época e estudava artes plásticas. Tinha ido a Atenco como repórtergalerabet bonusuma revista feminista.
Uma das suas lembranças mais terríveis é a do que ocorreu durante a transferência dos detidos para a prisão: a polícia colocou as pessoas seminuasgalerabet bonusônibus, deitadas umasgalerabet bonuscima das outras. Segundo relatos dos manifestantes, o peso dos corpos dificultava a respiraçãogalerabet bonusquem estava embaixo. Algumas pessoas ficaram inconscientes; outras sangravam.
"Me lembrogalerabet bonussentir o cheiro e a umidade do sangue do garoto que estava embaixogalerabet bonusmim. Sofria ao pensar que ele não estava respirando, mas não conseguia me mexer porque havia outra pessoagalerabet bonuscimagalerabet bonusmim. Se nos mexíamos, a polícia nos batia", conta Norma.
Ela diz que segurava a mão do rapaz para "tentar dar algum ânimo a ele naquela situação terrível". "Algumas vezes ele soltava a minha mão, e eu achava que ele tinha morrido. Eu estava muito angustiada", lembra.
Também houve tortura psicológica, conta. "Os policiais diziam que iriam nos matar e sumir com os corpos. Falavam: 'suas famílias nunca vão achar um corpo para chorar'", diz ela.
De vezgalerabet bonusquando, como recorda, o ônibus parava – os agentes diziam que iriam retirar o corpogalerabet bonusalguém que havia morrido. Norma não duvidavagalerabet bonusque isso era possível: ela testemunhou agressões selvagens aos presos.
Uma imagem ainda a assombra: agalerabet bonusuma dezenagalerabet bonuspoliciais espancando com chutes e golpesgalerabet bonuscassetete uma mulher mais velha que estava no chão do ônibus.
"Em algum ponto, cheguei a pensar: 'eu queria morrergalerabet bonusuma vez. Tomara que seja rápido, porque não aguento mais'", lembra.
Ela sobreviveu, mas o episódio marcougalerabet bonusvida. Norma ficou presa por um ano.
Altos custos
Outra das mulheres que processaram o Estado mexicano é Italia Méndez. Ela também não sabe quantos policiais a estupraram.
"Eles me bateram, me tocaram, morderam e introduziram objetos na minha vagina", diz ela à BBC News Mundo.
Italia sofreu muito com os abusos. Teve assistência ginecológica egalerabet bonustratar uma grande ferida na cabeça, que foi fechada sem anestesia e limpeza.
Quando apresentava seu testemunho ao Ministério Público, uma pessoa não identificada entrou na sala, retirou a folha da máquinagalerabet bonusescrever e rasgou o depoimento. "Essa pessoa disse para eu não falar mais nada, que eu teriagalerabet bonusdesistirgalerabet bonusdenunciar", diz.
A jovem acusa o Estado mexicanogalerabet bonustentar impedir que as vítimas continuassem com as denúncias. "Todas nós pagamos um preço muito alto. Para as mãesgalerabet bonusfamília foi muito mais difícil. Algumas foram deixadas por seus maridos."
Italia tinha 27 anos, e havia ido a Atenco para documentar os protestos após a mortegalerabet bonusJavier Cortés, um garotogalerabet bonus14 anos que sucumbiu com um tiro disparado pela polícia.
Ela conta que, depois do estupro, sofreugalerabet bonusdepressão e dificuldades para dormir e se alimentar.
'Um policial pisou na minha cabeça'
Outra das sobreviventes, Claudia Hernández, estava nos protestos por causagalerabet bonusum trabalho do cursogalerabet bonusCiências Políticas e Sociais, que frequentava na Universidade Nacional Autônoma do México (Unam).
Ela contou que os policiais a golpearam repetidamente, zombaram das pessoas feridas e repetiam ofensas. "Um policial pisou na minha cabeça comgalerabet bonusbota e ficou me apertando contra as outras pessoas que estavam deitadas no ônibus", recorda.
Depois, vários policiais começaram a puxar suas roupas íntimas. "Quando perceberam que eu estava menstruada, um deles gritou: 'vamos sujar mais essa vadia'. Então eles tiraram minha calcinha e introduziram seus dedos na minha vagina", lembra.
Stephanie Brewer, do Centro Prodh, diz que casosgalerabet bonusestupros e torturas contra mulheres são comuns também na repressão policial ao narcotráfico mexicano, um dos mais lucrativos e violentos do mundo. Segundo ela, há inúmeros casosgalerabet bonusprisões arbitráriasgalerabet bonusmulheres comuns, tortura, estupro, abusos e fabricaçãogalerabet bonuscasos contra pessoas inocentes.
Ela afirma que, maisgalerabet bonus12 anos depois do casogalerabet bonusSan Salvador Atenco, nenhum policial foi punido pelos estupros e torturas.
As sentenças da Corte Interamericanagalerabet bonusDireitos Humanos não condenam ninguém individualmente, e sim os países.
"Provavelmente a corte vai responsabilizar o Estado mexicano pelas violaçõesgalerabet bonusdireitos humanos cometidosgalerabet bonusAtenco e pedirá reformas no sistema policial e investigações para condenar os responsáveisgalerabet bonustodos os níveis", diz Brewer.
Para Alberto Abad Suárez, do Institutogalerabet bonusInvestigações Jurídicas da Unam, o México deverá mesmo ser condenado pelo caso. E segundo ele, há duas razões pelas quais a sentença é importante.
A primeira seria o enviogalerabet bonusuma forte mensagem da corte sobre violência contra mulheres. E tambémgalerabet bonusque é preciso diminuir a violência na repressão a protestos.
"Acredito que a intervenção (policial) era necessária, porque as pessoas mantinham policiais detidos. Mas a operação deve ter protocolos para que se respeitem sempre os direitos humanos. Neste caso, os policiais agiram por vingança", diz Suárez à BBC News Mundo.
'Isso não deveria acontecer com ninguém'
Entre as medidasgalerabet bonusreparação que as sobreviventes pedem é uma retratação dos funcionários públicos que as acusaramgalerabet bonusserem criminosas. Também pedem um centrogalerabet bonusacompanhamento para vítimasgalerabet bonusestupros, onde elas mesmas poderiam ajudar outras mulheres.
Norma conta que, depoisgalerabet bonusser estuprada, ouviu outros casosgalerabet bonusque mulheres sofreram agressões semelhantes por partegalerabet bonuspoliciais. "Me senti muito mal, porque eu não podia fazer nada para ajudá-las. Mas agora posso lutar por esse caso, para que isso não aconteça com mais ninguém."
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