5 razões que explicam o recorde histórico batido por Wall Street:
O momento épreçosforte ascensão no mercado, o que se conhece como "bull market", ou mercadotouro,tradução literal - e que é representado pela escultura monumentalum touroManhattan.
O "touro" está há quase uma década sem sofrer uma grande correção - ou seja, uma quedamais20%.
Apesarter sofrido algumas estocadas, como se fosse "cutucado" por um toureiro, nada conseguiu derrubá-lo nos últimos anos.
A medida que representa esse ciclocrescimento é o índice S&P 500, que acompanha a trajetória500 grandes empresascapital aberto listadas na BolsaNova York e na Nasdaq. E o salto dado desde os dias obscuros da crise até agora tem sido impressionante:676 pontos2009 para 2.864 nesta quarta-feira, alta acumuladaquase 325%.
O avanço recorde é explicado por uma confluênciafatores - o ciclojuros baixos que marcou a última década nos Estados Unidos, a inflação comportada e, mais recentemente, a recuperação da economia e os estímulos tributários lançados pelo governo Trump.
"Se eu tivesse que escolher uma razão para explicar este recorde, diria que ele se deve a medidasDonald Trump, com seu corteimpostos sobre lucros das empresas epromessadesregulamentar (ou seja,reduzir a burocracia e as regulamentações federais no país)", diz à BBC News Mundo Robert J. Shiller, professorEconomia na UniversidadeYale.
"Há um aumento nas oportunidades para apostar, (movimento) que eu associo a esse presidente e seu estilomagnataum cassino."
Alguns fundosinvestimento têm argumentado que o crescimento recorde é uma prova da habilidade das grandes corporações norte-americanasfazer negóciostempos difíceis, criar confiança nos investidores e gerar riqueza no país.
"Não houve negócios inconsequentes, nem pânico na compra e vendaações", disse Jack Ablin, diretorinvestimentos da consultoria Cresset Wealth Advisors. "(O crescimento) tem sido bastante sustentado."
Estas são algumas das razões elencadas por diferentes analistas para explicar o fenômeno:
1 - Boomlucros
Nos Estados Unidos, fala-se"boomlucros" nas grandes empresas.
O lucro líquido das que negociam na bolsavalores alcançou os maiores níveis da última década, com altas trimestrais superiores a 10%.
As receitas das empresas são o motor que impulsiona o preço das ações e, por isso, seu aumento sustentado explica a ascensãoWall Street.
Estima-se que o valormercado do índice S&P 500 tenha aumentadocercaUS$ 4 bilhões (R$ 16,36 bilhões)2017.
A bolsa americana tem sido "surpreendentemente forte", diz John Rekenthaler, vice-presidentepesquisa da Morningstar, empresapesquisa independente na áreainvestimentos.
Emavaliação, o fatoas companhias estarem evitando repassar seus lucros aos empregados, aumentando os salários, tem permitido manter a inflação sob controle e as taxasjuros baixas - cenário favorável às empresas.
2 - Crescimento da economia
Em meio à crise financeira2009, o governo dos EUA e o Federal Reserve, o banco central americano, colocaramcirculação bilhõesdólares para impulsionar a recuperação, resgatando bancos e empresas automotivas e comprando ativos que haviam perdido praticamente todo o seu valor.
Na medidaque a geraçãoempregos reaqueceu, os gastos dos consumidores - os principais impulsionadores da economia dos EUA - se recuperaram. Em paralelo, a recuperação global deu outro empurrão aos americanos.
A economia dos EUA teve crescimento expressivo no segundo trimestre, expandindo-se a uma taxa anual4,1%, o ritmo mais fortequase quatro anos.
Com o desemprego no nível mais baixo17 anos, 3,9%, o temor que existe, contudo, éque a economia esteja "esquentando" demais e que a inflação volte a subiralgum momento.
3 - Baixas taxasjuros
A décadaouroWall Street, dizem os analistas, foi possível graças às baixas taxasjuros e à baixa inflação.
Durante anos, o Federal Reserve e outros bancos centrais injetaram liquidez na economia para sustentar a recuperação e permitir que os investidores assumissem mais riscos ao comprar ativos.
Depois desse longo ciclo, o FED tem, atualmente, começado a retirar esses estímulos, elevando progressivamente as taxasjuros e acabando, desta forma, com os anos do chamado "dinheiro fácil" para o financiamento das empresas.
4 - 'Efeito Trump'
O corteimpostos para as empresas, uma das bandeiras políticasDonald Trump, tem aumentado os lucros das companhias e influenciado a altaWall Street, dizem os analistas.
A redução35% para 21% na alíquota para pessoa jurídica pôs uma grande quantidadedinheiro sobre a mesa dos conselhosadministração, por um lado, e tem significado menos arrecadação para o governo, por outro.
Esse cenário tem gerado preocupação pelo nível gigantescoendividamento ao qual a maior economia do mundo está sujeita.
Emeio ao "boomlucros", executivosempresas têm recomprado suas próprias ações e se beneficiadouma menor fiscalização das regrasconcorrência.
5 - O salto das tecnológicas
Finalmente, há o crescimento das empresas tecnológicas, que impulsionou expressivamente o valor total da BolsaNova York.
As chamadas "FAANGs" (Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google) tiveram crescimento explosivo nos últimos anos. Em agosto, a Apple se tornou a primeira empresa do mundo a atingir o valormercadoUS$ 1 trilhão, o equivalente a R$ 4,09 trilhões (sem considerar a chinesa PetroChina, por faltaconfiabilidade nos dados) - e foi a que mais contribuiu para o recordecrescimento.
E quanto ao fim da festa?
Embora as previsões apontem que o S&P 500 fechará o ano perto3 mil pontos e que a tendência positiva continuará por pelo menos mais um ano, o debate sobre "o fim da festa" continua.
"Os mercadoscrescimento são como as lâmpadas incandescentes. Elas tendem a alcançar seu brilho máximo justamente antesse apagarem", disse San Stovall, diretorestratégiasinvestimento da consultoria CFRA.
E, nesse sentido, as previsões apontam para todos os lados. Alguns dizem que não haverá uma queda retumbante, mas várias correções sucessivas que ajustarão o mercado.
"Ainda esperamos um forte crescimento da economia no próximo ano, impulsionado por cortesimpostos", disse Andrew Milligan, diretorestratégias globais da empresainvestimentos Aberdeen Standard.
Outros investidores estão preocupados com os efeitos que o aumento do endividamento das empresas pode ter.
Outra questãodebate é o fatoque os enormes lucros do mercado "não se estenderam para o resto da população", destaca um artigo do jornal The New York Times.
"A riqueza do mercadoações está altamente concentrada entre as famílias mais ricas", diz a publicação.
Um fenômeno que se acentuou na última década, a mesma décadaouro para o touroManhattan, mais forte do que nunca.