Quem foi o embaixador brasileiro que contrariou Hitler e Vargas para ajudar fugitivos do nazismo:roleta leo vegas

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Legenda da foto, O embaixador Souza Dantas, ao centro, conversando com Oswaldo Aranha (esq.) e Getúlio Vargas (dir.)

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Legenda da foto, No filme "Querido Embaixador", dirigido Luiz Fernando Goulart, Souza Dantas é vivido pelo ator Norival Rizzo

O homem que desafiou duas ditaduras para auxiliar pelo menos mil fugitivos do nazismo não era um jovem idealista e temerário. O embaixador Luiz Martinsroleta leo vegasSouza Dantas tinha 64 anosroleta leo vegas1940 e só não havia sido aposentado compulsoriamente por idade quatro anos antesroleta leo vegasrazãoroleta leo vegasuma exceção aberta por Getúlio Vargas, "tendoroleta leo vegasvista os notórios serviços prestados ao governo brasileiro pelo seu atual embaixador na França".

Nasceuroleta leo vegas1876 no Rio, então capital imperial, numa família cariocaroleta leo vegasorigem baiana, e ingressara no serviço diplomático aos 20 anos, menosroleta leo vegasum mês depois da graduaçãoroleta leo vegasDireito. Fez uma longa e exitosa carreira. Serviraroleta leo vegasBerna (Suíça), São Petersburgo (Rússia), Roma, Buenos Aires e novamente Roma, com uma passagemroleta leo vegasalguns meses pelo comando do Itamaraty.

Nomeado embaixadorroleta leo vegas1919, na capital italiana, Souza Dantas era um diplomata da velha escola do Império, que recrutava servidores entre a elite e valorizava relações pessoais. "Isso explica por que tinha um retratoroleta leo vegasMussolini pendurado na parede da embaixada", escreveu Orlandoroleta leo vegasBarros, professor do Programaroleta leo vegasPós-graduaçãoroleta leo vegasCiências Sociais da Universidade Federal do Rioroleta leo vegasJaneiro (UFRJ).

Quando Souza Dantas trocou a embaixadaroleta leo vegasRoma pelaroleta leo vegasParis,roleta leo vegas1922, o ditador Benito Mussolini foi pessoalmente à estaçãoroleta leo vegastrem se despedir, tal eraroleta leo vegaspopularidade, revela Luiz Fernando Goulart, diretor da filme Querido embaixador, uma cinebiografia que foi lançadaroleta leo vegasagostoroleta leo vegas2018.

A embaixada na França era o posto mais importante da diplomacia brasileira nos anos 1920. Paris era a capital política e intelectual do mundo, e o francês era a língua franca da diplomacia, das ciências e das artes. Na chamada Cidade Luz, Souza Dantas firmou reputaçãoroleta leo vegasbon vivant. Gastava fortunasroleta leo vegasjantares e recepções, colhendo,roleta leo vegascontrapartida, um prestígio que lhe permitiu ficar no posto por quase um quartoroleta leo vegasséculo.

Além da foto autografadaroleta leo vegasMussolini, exibia na embaixada as imagens do rei da Itália Vittorio Emmanuele;roleta leo vegasSantos Dumont, do ex-presidente francês Raymond Poincaré e do poeta italiano Gabriele D'Annunzio (que o chamava de "ambasciatore delle grazie" - embaixador das graças).

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Legenda da foto, Sob o domínio nazista, um passaporte diplomático poderia representar a diferença entre a vida e a morte

Relatos atribuem ao diplomata brasileiro um timeroleta leo vegasamantes, especialmente atrizes: Madeleine Carlier - a quem presenteou com uma casaroleta leo vegascamporoleta leo vegasNantes -, Marie Bell e Arletty. Segundo um contemporâneo, "os colunistas mediam a importânciaroleta leo vegasqualquer reunião pela notaroleta leo vegassua presença". Seu amigo Heitor Lyra contava que, um dia, convidado pelo embaixador para jantar no Ritz, viu a estilista Coco Chanel, que morava no hotel, abrir um "largo sorriso" e perguntar ao amigo se ele tinha ido visitá-la.

Solteiro até os 57 anos, o embaixador casou-seroleta leo vegas30roleta leo vegassetembroroleta leo vegas1933 com Elise Meyer Stern, viúva americana residenteroleta leo vegasParis. Era irmãroleta leo vegasEugene Meyer, dono do jornal The Washington Post. Embora a noiva fosse judia, a cerimônia seguiu o rito católico.

Informado como poucos, Souza Dantas teria comunicado o Itamaraty da quedaroleta leo vegasParisroleta leo vegasjunhoroleta leo vegas1940 antes do exército alemão (chamadoroleta leo vegasWehrmacht) entrar na cidade. Os nazistas suspeitaram até o finalroleta leo vegasque fizesse espionagem para os Aliados. Com a retirada do governo francês para Bordeaux e, depois, para Vichy, e a capitulação final ao Reich, a França sofreu uma grave fratura política. Os alemães mantiveram autoridade sobre o Norte, incluindo Paris, enquanto a porção sulista, chamadaroleta leo vegasZona Livre, era entregue ao governo colaboracionista do marechal Philippe Pétain.

Souza Dantas teria sido o primeiro embaixador a se transferir para Vichy, numa decisão posteriormente seguida por outros representantes estrangeiros. Permitia, no entanto, que algunsroleta leo vegasseus subordinados mantivessem contato com as autoridades alemãsroleta leo vegasParis, a fimroleta leo vegastrocar informações que repassava ao Itamaraty.

Pouco antesroleta leo vegasdeixar a cidade ocupada, passou a expedir vistos diplomáticos para quem os pedisse sem exigir nadaroleta leo vegastroca. A atitude era uma desobediência frontal à política migratóriaroleta leo vegasVargas, que, na época, proibia a concessãoroleta leo vegasvistos a "semitas e outros indesejáveis". Antes mesmo da instauração da ditadura do Estado Novo,roleta leo vegasnovembroroleta leo vegas1937, o governo Vargas tentara impedir o ingressoroleta leo vegasjudeus no país por meio das chamadas "circulares secretas" do Itamaraty - a primeira delas, sob o nº 1.127, fora editadaroleta leo vegasjunho daquele ano.

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Legenda da foto, Esta placa comemorativaroleta leo vegasParis reconhece Souza Dantas como um "grande amigo da França"

A maioria dos chefesroleta leo vegasmissões brasileiras no Exterior cumpria à risca a determinação. Em abrilroleta leo vegas1938, menosroleta leo vegasum ano depois da emissão da primeira circular, o cônsul-geralroleta leo vegasBudapeste, Mário Moreira da Silva, comunicou ao ministro das Relações Exteriores, Oswaldo Aranha, a recusaroleta leo vegasvistoroleta leo vegasentrada no Brasil a 55 indivíduos, "todos declaradamenteroleta leo vegasorigem semita".

"Os refugiados estávamos submetidos aos maiores escárnios, às maiores torturas, os soldados franceses pegando ratos e enfiando no colo das mulheres, no peito, para espantar, coisa horrorosa. E, no meio disso, nós ficamos, até que,roleta leo vegasrepente, se ouve que existia um Dom Quixote que se chamava... meu Deus do céu, me escapa agora... o famoso embaixador Dantas, que disse o seguinte: 'Abra as portas da embaixada que eu vou dar vistos diplomáticos'. E deu", conta o ator e diretor teatral polonês Ziembinski, um dos beneficiados pelo diplomata.

A legislação brasileira estabelecia que vistos só poderiam ser concedidos mediante apresentaçãoroleta leo vegasdocumentos como certidões negativasroleta leo vegasantecedentes policiais e atestadosroleta leo vegassaúde,roleta leo vegasprofissão eroleta leo vegas"origem étnica", inacessíveis para refugiados naquelas condições. A maioria dos que procuravam Souza Dantas era portadora dos chamados passaportes Nansen, fornecidos pela defunta Liga das Nações para apátridas.

"Ele assinava vistos atéroleta leo vegascardápiosroleta leo vegasrestaurantes", afirma Goulart.

Em 12roleta leo vegasdezembroroleta leo vegas1940, Oswaldo Aranha expediu a circular 1.498, pela qual era reiterada a proibiçãoroleta leo vegasconcessãoroleta leo vegasvistos a judeus. Souza Dantas passou então a assinar os documentos com datas anteriores à da circular. Nem todos os que auxiliou se dirigiram ao Brasil. Em finsroleta leo vegas1941, depoisroleta leo vegaster sido repreendido pelo governo brasileiro porroleta leo vegasprodigalidade no fornecimentoroleta leo vegasvistos, tornou-se alvoroleta leo vegasinquérito administrativo. Na época, porém, a pressão dos Estados Unidos fazia Vargas se inclinarroleta leo vegasfavor dos Aliados, e o Brasil romperia relações com o Eixoroleta leo vegasjaneiroroleta leo vegas1942.

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Legenda da foto, A Praça da Ópera,roleta leo vegasParis, foi o último endereçoroleta leo vegasSouza Dantas antes daroleta leo vegasmorte,roleta leo vegas1954

Enquanto as investigações no Itamaraty prosseguiam, os nazistas invadiram a Zona Livre e bateram à porta da embaixada brasileiraroleta leo vegasVichy à procuraroleta leo vegasarquivos. O conselheiro Trajano Medeiros do Paço, que viveraroleta leo vegasBerlim e era fluenteroleta leo vegasalemão, disse aos militares que os papéis haviam sido queimados. Ao oficial da Gestapo que lhe perguntou a razão da medida, respondeu: "Porque nós conhecemos vocês".

Os policiais invadiram a embaixada. Chamado emroleta leo vegasresidência, Souza Dantas, aos 66 anos, protestou energicamente: "Os senhores estão violando as leis das convenções internacionais. Estamos aquiroleta leo vegassolo brasileiro. Peço-lhes imediatamente que se afastem". E ficou sob a mira das pistolas da Gestapo. Foi retido por 14 meses na Alemanha, sendo libertadoroleta leo vegastrocaroleta leo vegasprisioneiros alemães detidos no Brasil.

De volta ao Rio, soube que o inquérito do Itamaraty havia sido arquivado, mas foi relegado ao ostracismo até o final da Segunda Guerra. Afetada pela senilidade, a esposa, Elisa, foi levada pela família para os Estados Unidos, onde morreuroleta leo vegas1952. Em abrilroleta leo vegas1954, quase octogenário e com a saúde debilitada, foi a vezroleta leo vegasSouza Dantas morrerroleta leo vegasseu último endereço parisiense, um quarto do Grand Hôtel, na Praça da Ópera. O inventário listava poucos bens. O corpo foi trasladado para o Brasil.

O nomeroleta leo vegasSouza Dantas está inscrito no Jardim dos Justos entre as Nações,roleta leo vegasIsrael, como um dos que ajudaram a salvar judeus do Holocausto.