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'Tento dar conforto e carinho': o relato da médica brasileirahospital que atendeu centenasferidosGaza:
Ela contou que, não apenascasoguerra, masqualquer situaçãoque há grande fluxopacientes, é protocolo fazer uma triagem, identificando casos mais graves como "vermelho" para priorizá-los e para tentar estabilizar o maior número possívelcasos.
"Não se tem tempo hábil, nem recurso humano suficiente para operar todos...o que se faz é o que se chamacontroledanos num primeiro momento", justifica.
A maioria dos 40 feridos que foi parar no centro cirúrgico do hospital onde Liliana está trabalhandoGaza eram homens, jovens e com ferimentos nas pernas, causados por tiros.
Entre as quase 60 pessoas mortas na segunda-feira estavam sete crianças e um homem que teve as duas pernas amputadas, segundo as autoridades palestinas. Israel mobilizou mais100 atiradores, muitos delesunidades especiais,diferentes pontos da fronteira, durante os diasprotestos na região.
Há seis semanas que palestinos da FaixaGaza participaram desses protestos, a chamada "Grande MarchaRetorno" que terminou na terça, 15maio - dataque palestinos lembram a "nakba", "a catástrofe", o êxodomassa ocorrido há 70 anos e que está na raiz do conflitodécadas com os israelenses.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos criticou Israel pelo "uso indiscriminado da força" contra os manifestantes palestinos. Israel diz que agiu legitimamente para proteger seus civismilitantes que tentam violar a fronteira.
Os confrontos se intensificaram na região por causa da transferência da Embaixada americanaTel Aviv para Jerusalém. O gesto americano simboliza a aceitaçãoJerusalém como capitalIsrael. Os palestinos também reivindicavam o direitoter Jerusalém como capitalseu futuro Estado, e havia um acordo entre as duas partesque o status da cidade seria decidido no estágio finalnegociaçõespaz - que estão suspensas.
'Não me assusto mais'
A médica brasileira, que nasceu no Rio e mora há 16 anosBrasília, não hesitoudizer que "ama" estarGaza. Ela é católica e diz que,algumas situações e a dependeronde trabalha, precisa usar o hijab, o véu que muçulmanas usam para cobrir a cabeça.
Ela disse que já não se impressiona mais com a violência da região. "Não me assusto tanto com essas situações por já ter vivido outras vezes situaçãoguerra", diz, admitindo que tenta dar apoio psicológico aos colegas que estão pela primeira vez numa áreaconflito.
Liliana está emterceira missãoGaza, que visitou pela primeira vez2012 e, depois,2014. Já viajou 11 vezes para integrar equipes da Médicos sem Fronteiras.
Esteveuma maternidade no Afeganistão,um hospital erguido pela organizaçãoMossul, no Iraque, e também no Iêmen.
Ela diz que entrou para a Médicos sem Fronteira por vontadeajudar, e que acabou ficando "por ter sido a experiência mais transformadora da minha vida".
Vida e morte
Sobre o conflito entre palestinos e israelenses, ela diz ter "amigos nos dois lados". "Minha única função é, exclusivamente, atender quem precisaanestesia e tentar dar amor, conforto e carinho", afirma.
A médica brasileira conta ainda que, alémreceber feridosprotestos, seu hospital atende todas as "demandasum hospital local". "As pessoas continuam ficando doentes, as mulheres continuam tendo filhos", observa.
E foi assim que acabou ajudando no partouma menina, na terça-feira, na mesma salaque um homem ferido no confrontosegunda estava sob cuidados médicos. O nascimento, segundo ela, "quebrou o climatensão no hospital".
Liliana também anestesiou uma criança vítimaqueimadura - caso que não estava relacionado ao conflito.
A equipe da Médicos Sem Fronteiras no hospitalLilianaGaza foi reforçada.
"A vida continua", avalia. No fim das fériasGaza, Liliana volta à Brasília. Chegará numa quinta e, no dia seguinte, já começa a trabalhar.
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