'Chorava todos os dias': o lado obscuro da vida dos lutadoressport bet brasil cadastrosumô no Japão:sport bet brasil cadastro

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Campeãosport bet brasil cadastrosumô tevesport bet brasil cadastrose aposentar após agredir um jovem lutadorsport bet brasil cadastroum bar

O incidente reacendeu uma discussão sobre o esporte nacional do Japão, e não é a primeira vez que algo assim acontece. Há uma década, a reputação do sumô entrousport bet brasil cadastrocrise quando um rapazsport bet brasil cadastro17 anos que treinava para ser lutador morreu após levar uma surra com uma garrafa e um tacosport bet brasil cadastrobaseball.

Os agressores eram seus toshiyoris, ou anciãos, como são chamados os ex-lutadores que assumem posiçõessport bet brasil cadastroautoridade, podendo ser treinadores e gerentessport bet brasil cadastroum ginásiosport bet brasil cadastrosumô.

Em 2010, o esporte levou um novo golpe com a descoberta do envolvimentosport bet brasil cadastroum atleta esport bet brasil cadastroum treinadorsport bet brasil cadastroum esquema ilegalsport bet brasil cadastroapostassport bet brasil cadastropartidassport bet brasil cadastrobaseball que teria ligações com a máfia japonesa, a yakusa.

No mesmo ano, o mentorsport bet brasil cadastroHarumafuji, o grande campeão mongol Asashoryu, deixou o sumô após se envolver, embriagado,sport bet brasil cadastrouma briga do ladosport bet brasil cadastroforasport bet brasil cadastrouma boate na capital do país, Tóquio. Depois, vieram à tona provas da combinação préviasport bet brasil cadastroresultados na segunda divisão do esporte.

Seriam sinaissport bet brasil cadastroque o sumô estásport bet brasil cadastrodeclínio e que a disciplina que um dia o definiu estásport bet brasil cadastrodecadência? Ou será simplesmente que, após 15 séculos, o lado obscuro do esporte está finalmente vindo à tona?

'Os mongóis estão chegando'

Uma formasport bet brasil cadastroresponder essas questões é olhar para a origem do esporte e para o duro regimesport bet brasil cadastrotreinos ao qual os lutadores são submetidos.

Ainda que o sumô tenha surgido a partirsport bet brasil cadastrorituaissport bet brasil cadastrotemplos japoneses entre 1,5 mil e 2 mil anos atrás, o país não domina mais o circuito internacional da luta. Até a aposentadoriasport bet brasil cadastroHarumafuji, havia quatro grandes campeões. Três deles, inclusive o do agora aposentado Harumafuji, eram da Mongólia.

Legenda da foto, Ginásios são regidos por uma hierarquia bem rígida (Foto: Getty Images)

Rússia, Havaí, Samoa e países do leste europeu costumam enviar lutadores promissores para os ginásiossport bet brasil cadastrosumô do Japão, locaissport bet brasil cadastroque mestres treinam adolescentes na arte que um dia foi a grande atração das cortes imperiais da nação asiática.

O sumô não é apenas um esporte no país. É uma cerimônia que abre uma janela para o passado, calcada na tradição e na essência do que é ser japonês. Rituais rígidos estabelecem um códigosport bet brasil cadastroconduta, e ser nascido no exterior não é desculpa para não receber um tratamento tão duro quanto o conferido aos nativos.

Todos os lutadores devem usar trajes tradicionaissport bet brasil cadastropúblico, inclusive um coque como osport bet brasil cadastrosamurais. Nas competições, o triunfo e o fracasso devem gerar a mesma reação impassível. Em conversas, o lutador deve ser um modelosport bet brasil cadastrohumildade e falar suavemente, comportando-se com hinkaku, ou dignidade. O status é tal que estranhos se curvam quando cruzam com eles na rua.

Cada um dos 45 centrossport bet brasil cadastrosumô no país aceita treinar apenas um estrangeiro, ou gaikokujin,sport bet brasil cadastrocada vez, por ordem da conservadora Associaçãosport bet brasil cadastroSumô do Japão. E, quando conseguem chegar lá, normalmente aos 15 anos e com no máximo 23, devem comer, falar, vestir e respirar como japoneses.

Cozinhando, limpando – sem nada para o café da manhã

"(Os lutadores) São como soldados recebendo treinamento básico", explica Mark Buckton, um ex-comentarista e colunistasport bet brasil cadastrosumô do jornal Japan Times. "São eles que cozinham, limpam, descascam batatas... E todos aprendem japonês."

Legenda da foto, Os lutadores não tomam café da manhã e precisam dormir logo após o almoço (Foto: Getty Images)

O ginásiosport bet brasil cadastrosumô é regido por uma hierarquia rigorosa, com um mestre – um ex-lutador – no comando. "Não é como no futebol,sport bet brasil cadastroque você pode se transferirsport bet brasil cadastroum time para outro", diz Buckton à BBC.

"Você faz partesport bet brasil cadastroum ginásio para o resto da vida. A única formasport bet brasil cadastrosair dele é abandonando o sumô."

Os lutadores deixam o cabelo crescer, normalmente até o meio das costas, para que o cabelereiro do ginásio possa fazer um penteado tradicional. Só lavam o cabelo a cada uma ou duas semanas, e passam nele bintsuke, um tiposport bet brasil cadastrocera feita a partirsport bet brasil cadastrosoja com um cheiro adocicado que acompanha o lutador aonde ele vá.

As refeições, geralmente compostassport bet brasil cadastroum caldo quente ricosport bet brasil cadastroproteína com vegetais, são tão controladas quanto o regimesport bet brasil cadastrotreinos,sport bet brasil cadastroque os jovens passam horas tentando empurrar seus enormes colegassport bet brasil cadastroum círculo coberto por areia. "Eles comem muito. Mas o crucial é ir dormir logo apóssport bet brasil cadastrocomer", diz Buckton.

"Eles não tomam café da manhã. Todo o treinamento ocorre pela manhã. Eles almoçam quase o mesmo que uma pessoa normal, talvez um pouco mais. Mas comem isso com uma grande quantidadesport bet brasil cadastroarroz. Depois, vão para a cama e só acordam no meio da tarde. Comemsport bet brasil cadastronovo à noite e vão dormir cedo, porque se levantam às 5h, 6h da manhã para treinar."

Ginásios mais rigorosos costumam gerar lutadores melhores? "Com certeza, com certeza", afirma o especialista.

Sem salário, namoradas ou telefones

Há seis competições profissionaissport bet brasil cadastrosumô por ano, todas no Japão. Um lutador ganha ao forçar seu oponente a sair do círculo ou ao fazê-lo tocar o chão com alguma parte do corpo que não os pés. Conforme acumula vitórias, o lutador sobe no ranking.

Há cercasport bet brasil cadastro650 lutadores nas seis divisões, mas apenas cercasport bet brasil cadastro60 disputam a primeira. Eles não recebem salários nas quatro divisões inferiores. Um lutador talentoso pode levarsport bet brasil cadastrodois a três anos para começar a receber um salário.

Quando há pagamento, ele é bom: cercasport bet brasil cadastroUS$ 12 mil (R$ 39,6 mil) por mês na segunda divisão, um valor que pode chegar a US$ 60 mil (R$ 198 mil) na elite do esporte, incluindo contratossport bet brasil cadastropatrocínio.

Legenda da foto, Lutadoressport bet brasil cadastrosumô devem se comportar segundo rígido códigosport bet brasil cadastroconduta mesmo fora do ginásio (Foto: Getty Images)

Os lutadores mais jovens devem usar um trajesport bet brasil cadastrotecidosport bet brasil cadastroalgodão fino, o yukata, e geta, ou sandáliassport bet brasil cadastromadeira, mesmo no auge do inverno. Dirigir não é permitido, mas os melhores lutadores têm motoristas, algo que é tanto um símbolosport bet brasil cadastrostatus quanto uma necessidade, já que seu tamanho dificulta a vida ao volante.

Celulares e namoradas são tecnicamente proibidos abaixo das duas primeiras divisões, ainda que haja uma tolerância crescente com isso. Mulheres não podem morar nos ginásios, e lutadores não podem se casar ou morarsport bet brasil cadastrooutro local comsport bet brasil cadastronamorada até atingir ao menos a segunda divisão.

Caso se machuque e caia para a terceira divisão, o lutador deve deixarsport bet brasil cadastromulher e filhos para trás e voltar a morar no ginásio.

O que acontece se os jovens não atenderem os padrões dos mestres ou criticarem o regime quase monástico do ginásio? "Ah, eles são terríveis", diz Buckton. "Antes do rapaz ser mortosport bet brasil cadastro2007, havia espancamentos frequentes. Você via os caras com marcas nas costas e na partesport bet brasil cadastrotrás das pernas por não se esforçarem o suficiente."

No ano passado, segundo relatos, um lutador recebeu quase 32,4 milhõessport bet brasil cadastroienes (R$ 946,3 mil)sport bet brasil cadastroindenização apóssport bet brasil cadastroter sido maltratado diariamente e ficar cegosport bet brasil cadastroum olho.

Depois que Takashi Saito,sport bet brasil cadastro17 anos, foi espancado até a morte por ter ameaçado deixar seu ginásio, o grande campeão mongol Hakuho relatou experiências chocantessport bet brasil cadastrosurras que chegam a durar 45 minutos.

"Você pode olhar para mim agora e ver um semblante feliz, mas, na época, eu chorava todos os dias", disse.

Legenda da foto, Campeãosport bet brasil cadastrosumô quebrou silêncio sobre as surras que tevesport bet brasil cadastroaguentar, e treinador também denunciou agressões | Foto: AFP/Getty Images

"Os primeiros 20 minutos são muito dolorosos, mas, depois, fica mais fácil, porque mesmo que você esteja apanhando, começa a sentir menos dor. Claro que chorei e, quando meu ancião disse que isso era para meu próprio bem, choreisport bet brasil cadastronovo."

Quebrando o silêncio

Mas por que -sport bet brasil cadastroum esporte que submete seus maiores talentos a anossport bet brasil cadastropunição corporal - Harumafuji foi forçado a se aposentar após agredir um lutador mais jovem? "Bem, ele bateu no rapazsport bet brasil cadastroum bar...", afirma Buckton.

O escritor Chris Gould, que acompanha o universo do sumô há três décadas, diz que o "pactosport bet brasil cadastrosilêncio" no esporte é bem poderoso.

"Há uma consistência impressionantesport bet brasil cadastrocomo o treinamento e as punições são aplicadossport bet brasil cadastrodiferentes ginásios e ao longo do tempo. Isso significa que, quando ocorrem incidentes como osport bet brasil cadastroHarumafuji, não se fala sobre o assunto para preservar o grupo", diz Gould.

No episódio mais recente, o técnico do lutador agredido foi quem fez a denúncia e defendeu mudanças no esporte. "É interessante ver um técnico ser criticado por quebrar o códigosport bet brasil cadastrosilêncio. Na maioria dos esportes, ele seria celebrado como um herói."

Legenda da foto, Harumafuji fez um pedido públicosport bet brasil cadastrodesculpas por causasport bet brasil cadastroseu comportamento | Foto: AFP

Com esse tiposport bet brasil cadastroatitude, é possível esperar que jovens continuem se interessando pelo esporte?

Os diassport bet brasil cadastroque a promessasport bet brasil cadastroduas boas refeições diárias atraía jovenssport bet brasil cadastrofamílias pobres do Japão rural para o sumô ficaram no passado, e esportes como o futebol e o baseball oferecem salários melhores sem o riscosport bet brasil cadastrosofrer violência.

Mas, apesarsport bet brasil cadastrotudo isso, a popularidade do sumô vem crescendo. Em janeiro, foi consagrado o primeiro campeão japonêssport bet brasil cadastroquase duas décadas, para a alegria dos fãs. A Associaçãosport bet brasil cadastroSumô do Japão também tem feito campanhas publicitárias para voltar a tornar o esporte atraente.

Na visãosport bet brasil cadastroChris Gould, a previsões sobre a ruína do sumô foram prematuras. "Ainda não é horasport bet brasil cadastroentrarsport bet brasil cadastropânico quanto ao futuro. Mas a associação precisa divulgar o que o sumô defende ou não, seus valores fundamentais. A não ser que isso aconteça, o númerosport bet brasil cadastrograndes lutadoressport bet brasil cadastropotencial que nem chegam a entrar para o esporte só vai continuar a crescer."