O que está por trás da polêmica decisãobetx1Trump sobre Jerusalém:betx1
Evangélicos
O papel dos evangélicos na política internacional americana a respeitobetx1Israel é cada vez maior, explica Kenneth Wald, professorbetx1ciência política da Universidade da Flórida. O grupo teria começado a ter relevância política nos anos 1980, e hoje já representaria uma das maiores e mais leais bases do Partido Republicano.
"Qualquer presidente quer manterbetx1base contente. Mas precisa estar atento às consequências. Por isso, os antecessoresbetx1Trump, inclusive os que eram comprometidos com Israel, viram essa medida como imprudente", continua Wald.
A influência dos evangélicos na decisãobetx1Trump teria sido maior até que a dos judeus americanos. Primeiro, porque Trump não tem uma boa interlocução com a comunidade judaica nos Estados Unidos. Segundo, porque os judeus representam um grupo muito menor na sociedade americana que os evangélicos.
E terceiro, porque apenas os judeus ortodoxos estariam interessados na solução adotada por Trump. Os judeus mais ao centro e à esquerda prefeririam uma solução negociada. "A decisãobetx1Trump também não tem a ver com a comunidade judaica, que é majoritariamente liberal", diz Goldberg.
'Política por impulso?'
Já Michael Barnett, professorbetx1assuntos internacionais da Universidade George Washington, discorda que os evangélicos tenham sido tão relevantes na decisãobetx1Trump. Para ele, é difícil encontrar uma explicação razoável.
"Não faz sentido fazer isso. Parece ser uma política dirigida por impulso. Trump decide ignorar as recomendações e fazer o que tem na cabeça. Não há uma estratégia internacional."
Contribui para essa visão o fatobetx1que o reconhecimentobetx1Jerusalém como capitalbetx1Israel, e a futura transferência da embaixada dos EUA, foram apresentados como medidas isoladas. Parecem não fazer partebetx1uma estratégia política mais ampla.
Se por um lado o anúncio do presidente foi uma surpresa para o mundo, por outro não destoabetx1outras das suas polêmicas posturas internacionais, como a saída dos EUA do Acordobetx1Paris sobre Mudanças Climáticas, o rompimento da Parceria Transpacífico e até as ameaças públicas a Kim Jong-un, da Coreia do Norte.
"Trump mostra nenhum interessebetx1considerar qualquer tipobetx1opinião mundial", avalia Goldberg.
A decisãobetx1Trump vai na mesma direçãobetx1uma medida aprovadabetx11995 pelo Congresso dos Estados Unidos, prevendo a transferência da Embaixada americanabetx1Israel para Jerusalém. No entanto, isso nunca havia sido postobetx1prática, porque era necessária aprovação da Presidência dos Estados Unidos.
Desde então,betx1todos os semestres, o ato do Congresso foi encaminhado aos presidentes americanos, mas a praxe sempre foi renunciar a mudança. Apesarbetx1parecer contraditório, foi o que o próprio Trump fez - o replubicano também assinou a renúncia, para que haja tempobetx1iniciar a transferência da embaixada.
Por que evangélicos querem Jerusalém como capitalbetx1Israel?
Nos Estados Unidos, as razões para o apoio dos evangélicos ao reconhecimentobetx1Jerusalém como capital são principalmente religiosas. "
Há muita diversidade no mundo evangélico, mas há uma ideia comumbetx1que o destinobetx1Israel é importante para o futuro religioso dos evangélicos", afirma Wald.
Alguns acreditam que, por razões bíblicas, Israel é o lugar destinado a agregar os judeus. Outros creem que o messias pode retornar para Jerusalém, vista como a Terra Sagrada e, para isso, é importante que ela esteja nas mãosbetx1Israel, e não dos muçulmanos.
Assim, há uma espéciebetx1ponte entre a históriabetx1Israel bíblico e a do Estado modernobetx1Israel.
Mas nem todos os evangélicos americanos compartilham dessa visão.
"Muitos evangélicos, como eu, não gostam do romance recente entre a igreja e a política republicana, e se preocupam com a mudança da embaixada americana. Para nós, a construção da paz e a buscabetx1Justiça são grandes virtudes", escreveu o professorbetx1estudos bíblicos Gary M. Burge,betx1artigo para a revista The Atlantic.
Quais as consequências para israelenses e palestinos?
O representante dos palestinos no Reino Unido, Manuel Hassassian, disse à BBC que a medida será o "beijo da morte" nas negociaçõesbetx1paz baseadas no reconhecimentobetx1dois Estados.
"Ele está declarando guerra no Oriente Médio contra 1,5 bilhãobetx1muçulmanos e centenasbetx1milhõesbetx1cristãos que não irão aceitar que os santuários sagrados estejam totalmente sob a hegemoniabetx1Israel", disse Hassassian.
Acadêmicos também estãobetx1alerta. "Os riscos são inacreditáveis. Quem pensava que poderia haver uma solução negociada entre Israel e Palestina, que levasse à coexistênciabetx1dois Estados, não pensa mais nisso. O que sobra para os palestinos? Não sobra muito. Vão sentir que os EUA já determinaram o futurobetx1Jerusalém", diz Barnett, da Universidade George Washington.
"Por isso, pode ser um pontobetx1inflexão na política palestina. Pode espalhar-se uma Terceira Intifada (insurreiçãobetx1palestinos contra Israel). Além disso, uma medida como essa deixa os oponentes dos Estados Unidos mais dispostos a enfrentar riscos. Essa é a ferramentabetx1recrutamento (de militantes) que al-Qaeda, o autodenominado Estado Islâmico e Hezbollah adorariam usar", completa Barnett.
Há ainda quem tenha uma visão mais moderada e acredite que a medidabetx1Trump possa facilitar as negociações entre Israel e os líderes palestinos. É o casobetx1Jonathan Sarna, professorbetx1história judaica americana na Universidadebetx1Brandeis, Massachusetts.
"Muitas pessoas no mundo muçulmano acreditavam que o tempo estava ao lado deles. Por isso, não queriam sentar à mesabetx1negociação. Mas agora a situação se inverte. É a horabetx1negociarem com Israel", afirma.
Sarna não acredita no surgimentobetx1um conflito, porque, nabetx1visão, Israel tem forças "capazesbetx1conter a violência árabe".