De Quebec ao sul do Brasil: o referendo pela independência da Catalunha pode impulsionar movimentos nas Américas?:betesporte 91
Mas, apesar do entusiasmo, ainda não está claro se a crise catalã poderá realmente tornar mais vigorosos os movimentos separatistas do outro lado do Atlântico.
'Amanhecer'
As ideiasbetesporte 91separatismo dentrobetesporte 91países americanos são praticamente tão antigas quanto o próprio surgimento dessas nações.
O Panamá, por exemplo, nasceu como país ao se separar da Colômbiabetesporte 911903, por meiobetesporte 91um movimento independentista doméstico que recebeu uma ajuda chave dos Estados Unidos, interessado na construção do canal que atravessa a região.
E alguns projetos soberanistas nas Américas permaneceram latentes ao longo do tempo por motivos culturais ou econômicos: as regiões envolvidas com esses movimentos costumam ser mais ricas do que outras partesbetesporte 91seus respectivos países.
Nos Estados Unidos, movimentos que buscam a independência da Califórnia e do Texas também comemoraram as novidades da Catalunha, mesmo que seus próprios projetos tenham possibilidades muito limitadasbetesporte 91sucesso.
"Estamos testemunhando o amanhecer da era da secessão", disse Louis Marinelli, americano baseado na Rússia e um dos principais apoiadores do separatismo californiano, o "Calexit", à publicação New York Daily News.
Em Quebec, uma província canadense onde se fala majoritariamente francês, chegaram a ser realizados dois referendosbetesporte 91independênciabetesporte 911980 ebetesporte 911995, nos quais o separatismo foi derrotado - da segunda vez, por uma margem pequena.
No entanto,betesporte 912006 o parlamento canadense reconheceu Quebec como uma "nação" dentro do país, enquanto separatistas da província mantiveram a ideiabetesporte 91realizar um terceiro referendo.
E agora que a Catalunha realizou seu próprio referendobetesporte 91independência - que foi declarado ilegal pela Justiça espanhola e com 90%betesporte 91votos a favor do "sim" -, alguns quebequenses se sentem mais animados.
"Os catalães escolheram a independência, e agora é o restante", disse,betesporte 91seu perfilbetesporte 91redes sociais, Martine Ouellet, a líder do partido federal canadense Bloc Québécois (BQ), que viajou a Barcelona para acompanhar o voto.
'Oportunistas'
As repercussões da Catalunha chegaram até mesmo à Ilhabetesporte 91Páscoa, no oceano Pacífico, onde membros da etnia ancetral rapa nui mantém diferenças históricas com o governo do Chile, pedindo por mais autonomia.
"Nos identificamos com o que está acontecendo na Catalunha", disse o prefeito da ilha ao jornal chileno El Mercuriobetesporte 91Valparaíso. "É o mesmo que vai nos acontecer se o Chile e seus governos não levarem a sério os pedidosbetesporte 91décadas dos rapa nui."
Nas redes sociais também surgiu uma iniciativa que defende a separação dos Estados do norte do México para criar a "República do México do Norte", que até a terça-feira tinha maisbetesporte 9150 mil curtidas no Facebook.
Alguns veem essa ideia como brincadeira, mas o governador do Estadobetesporte 91Coahuila, Rubén Moreira, a qualificou como "um disparate". "Nunca faltam oportunistas que,betesporte 91momentos como este, tentam desfazer nosso país."
'Fragilidade'
No entanto, após os acontecimentos na Catalunha - e talvez por causabetesporte 91crise que geraram - os movimentos separatistas nas Américas ainda parecem longebetesporte 91conseguir apoiobetesporte 91massa.
A consulta separatista informal do Sul do Brasil recebeu, no domingo, cercabetesporte 91350 mil votos pelo "sim", segundo os organizadores - menos do que os cercabetesporte 91600 mil que outra consulta conseguiu um ano antes, e com menosbetesporte 912% do totalbetesporte 91eleitores registrados na região.
Isso apesarbetesporte 91o Brasil viverbetesporte 91pior crise econômicabetesporte 91décadas e o maior escândalobetesporte 91corrupção políticabetesporte 91sua história.
Mas Anidria Rocha, a coordenadora do movimento, acredita que o grupo conseguiu as assinaturas necessárias para impulsionar um projetobetesporte 91leibetesporte 91iniciativa popular que convoque uma consulta oficial sobre a independência dos três Estados.
No entanto, qualquer iniciativa desse tipo se chocaria com o primeiro artigo da Constituição do Brasil, que estabelece que o país é uma "união indissolúvel"betesporte 91seus Estados.
"Em países como Brasil, Argentina ou México não vejo uma grande possibilidade (de secessionismo), por causa da fragilidade dos movimentos separaristas locais e porque são países com regimes federalistas, que deram autonomia e poderes aos governos locais", diz Mauricio Santoro, professorbetesporte 91relações internacionais na Universidade Estadual do Riobetesporte 91Janeiro (Uerj).
"Há riscosbetesporte 91que isso possa se transformarbetesporte 91uma crise num país como a Bolívia, que teve na década passada tensões muito graves entre a região da 'meia-lua' (no leste do país) e o governo central", explica.
Por outro lado, ainda não há indíciosbetesporte 91que um novo conflito ocorra nessa região da Bolívia, mais rica e menos indígena do quebetesporte 91outras partes do país.
"Eu não diria que (a Catalunha) terá um efeito direto ou implicação nas Américas. A maioria dos países não têm problemas com movimentos separatistas da mesma forma que a Espanha", diz Matt Qvortrup, professsorbetesporte 91Relações Internacionais da Universidadebetesporte 91Coventry, na Inglaterra.
'Pouco provável'
Autorbetesporte 91um livro sobre referendos e conflitos étnicos, Qvortrup explica que a única formabetesporte 91um movimento separatista ter efeitos práticos é se tornando realmentebetesporte 91massa. Ele diz, inclusive, que dentrobetesporte 91Quebec os secessionistas estão perdendo força.
Os dados reunidos pelo pesquisador mostram como é difícil levar adiante qualquer projeto separatista: desde 1980 houve 38 referendosbetesporte 91independência ao redor do mundo ebetesporte 9135 deles ganhou o "sim", mas só 13 resultarambetesporte 91fato no nascimentobetesporte 91um novo Estado.
"E nesses 13 casos, o denominador comum foi que o Reino Unido, a França e os Estados Unidos apoiaram a criação destes novos Estados no Conselhobetesporte 91Segurança da ONU", afirma Qvortrup.
"Ao menos que você consiga esse tipobetesporte 91apoio, é pouco provável que consiga ter seu próprio país."
O especialista também é cético a respeitobetesporte 91um possível "efeitobetesporte 91contágio" do referendo catalão.
"Se ele tivesse sido reconhecido, talvez tivesse se espalhado. Por isso ninguém na Europa o apoiou. Da maneira como está agora, ele não vai causar inspiração. Os países que tentam a independência viram como tem sido difícil - praticamente impossível - para a Catalunha e para o Curdistão."