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Por que o papa Francisco está sofrendo oposição dos conservadores da Igreja:
"Francisco, você destituiu os chefes das congregações, removeu sacerdotes, decapitou a OrdemMalta e a dos Franciscanos da Imaculada, ignorou cardeais. Onde estámisericórdia?", dizia o texto, coberto horas depois pela PrefeituraRoma com a inscrição "publicidade ilegal".
Na mesma época, cardeaisRoma receberam uma versão falsa do jornal do Vaticano, o L'Osservatore Romano. Na capa,um ataque irônico ao pontífice, havia uma listaperguntas ao papa feitas por cardeais conservadoresque a resposta era sempre sic et non (sim e não).
Eleitomarço2013 após escândalos que abalaram a imagem do Vaticano, o papa tomou medidas e fez declaraçõesimpacto que polarizam opiniões dentro e fora do mundo católico.
Reestruturou, por exemplo, as confusas finanças do Vaticano, criou comissão para combater abuso sexualcrianças na Igreja, fez duras críticas ao capitalismo e ajudou a reaproximar Cuba e EUA. Também chama a atençãodefesauma Igreja mais tolerantequestõesfamília - já pediu a sacerdotes que não tratem divorciados como excomungados e procurem acolher católicos homossexuais.
Para seus detratores, porém, ele ageforma autoritária e centralizadora.
"O Papa é o vigárioCristo na Terra, mas não é Cristo. Pode errar, pecar e até ser corrigido. Não concordo com seu modogovernar. A Igreja está hoje imersaconfusão e desorientação: os fieis precisamcertezas, mas não conseguem encontrá-las. Corremos o riscouma cisão", diz Roberto De Mattei, presidente da Fundação Lepanto, que faz campanha pela "defesa dos princípios e instituições da civilização cristã".
De Mattei efundação sempre foram duros com o para argentino, e chegaram a ser apontados como suspeitosestar por trás da ideia dos cartazes - os responsáveis não foram identificados.
"Não sei quem são os autores (dos cartazes), mas não fomos nós. Em Roma você percebe um climamedo, típicoregimes totalitários. Estamos dianteuma monarquia absoluta que usa a colaboraçãocardeais e bispos, mas lhes dá pouca autonomia. O papa ama nomear comissários especiais para muitos assuntos, assim, ao final, ele sempre pode decidir", disse De Mattei à BBC Brasil.
Tiposoposição
Para o historiador Massimo Faggioli, professorTeologia na Villanova University (EUA), é possível identificar três tiposoposição ao papa Francisco: teológica, institucional e política.
"A teológica partealguns setores na Igreja que acham que o papa é muito modernoquestões como casamento e família. É uma oposição pequena, que ageforma respeitosa", diz o professor.
Entre esse setor estão quatro cardeais ultraconservadores quesetembro2016 pediram,carta pública, que o papa corrija "erros doutrinários" da encíclica Amoris Laetitia (Alegria do Amor), um guia para a vidafamília que prega a aceitação, pela Igreja,certas realidades da sociedade contemporânea.
Na oposição institucional, afirma Faggiolo, há pessoas que querem manter o status quo. "Alguns cardeais têm medoperder privilégios ou da mudançamecanismos para a nomeação dos bispos", diz.
O historiador vê a oposição política como a mais forte. "O papa fala sobre vivermos juntos,construir pontesvezmuros. São questões 'inconvenientes' para a política global da atualidade, pois contrastam com ideias da direita francesa, italiana e americana. São tidas como uma ameaça. O papa pode lidar com as duas primeiras oposições, mas a política é a mais difícil", afirma.
A reação contra o papa não se concentra apenas na Itália e na Europa. Autor do livro "Os inimigosFrancisco" (com lançamento previsto no Brasil para o segundo semestre), o jornalista italiano Nello Scavo diz que há grupos nos EUA que trabalham pelo enfraquecimento da liderançaJorge Bergoglio, o nomebatismo do papa.
"Há grupos financeiros, fabricantesarmas e multinacionais que querem que o papa perca poder. Sua retórica é muito anti-establishment. Ele afirmou que a nossa economia mata, condenou o capitalismo e se fez escutarquestões ecológicas", diz Scavo, citando críticas à Francisco feitas pelo centroestudos conservador American Enterprise Institute (AEI).
O AEI contaseus quadros com vários ex-integrantes do governo George W. Bush (2001-2008), entre eles o ex-vice-presidente Dick Cheney. "Cheney faz parte do AEI, foi membro do conselho da Lockheed Martin, principal fabricantesistemasdefesa no mundo, e a AEI tem a Halliburton entre seus principais financiadores", afirma o jornaista, citando a multinacionalserviços para exploraçãopetróleo.
Jornalista da emissora católica canadense Salt and Light, Matteo Ciofi diz que a oposição teológica é,fato, a que menos deve preocupar o papa. "Não é possível que um cardeal africano e um europeu possam ter a mesma visão sobre a família. Faz parte das diferenças culturais, é normal que haja críticas. O problema, dentro da Igreja, se concentra naqueles que não querem perder privilégios", diz.
Papa e política
Um dos cardeais que assinaram a carta pública contra a encíclica Amoris Laetitia, o americano Raymond Leo Burke teve reunião recente com Matteo Salvini, líder do partidoextrema-direita italiano Liga do Norte.
Com discurso anti-imigração, Salvini fez duras críticas ao papa quando o pontífice visitou um camporefugiados na ilha gregaLesbos,abril2016.
"Com todo o respeito, o papa está errado. Parece-me que a catástrofe ocorre na Itália, não na Grécia. Ele quer convidar outros milharesimigrantes para a Itália? Uma coisa é acomodar os poucos que escaparam da guerra, outra é incentivar e financiar uma invasão sem precedentes. Tem pobres na Grécia, mas também a dois minutos do Vaticano", afirmou o político, que já foi fotografado usando camiseta com a frase "Meu papa é Bento", referência ao antecessorBergoglio.
Para Roberto De Mattei, da Fundação Lepanto, não é a direita que se opõe ao papa, mas é a esquerda que quer torná-lo um símbolo. "Os movimentosesquerda querem fazer dele um anti-(Donald)Trump porque não dispõemoutras pessoas carismáticas."
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