Por que o banco mais antigo do mundo está no centro do temor sobre uma nova crise econômica:
O Monte dei PaschiSiene é o banco mais antigo do mundo. Já fazia 20 anos que havia sido fundado, na Itália, quando Cristóvão Colombo chegou às Américas,1492.
Mas hoje esse banco do século 15 - que é a terceira maior instituição financeira do país - está envolvidoum problema bem típico do século 21.
O Banco Central Europeu acabaordenar que o Monte dei Paschi reduza a proporçãodívidas que mantémseus livros contábeis.
O estado precário da instituição tem despertado preocupação sobre o sistema financeiro italiano, a mais nova fontenervosismo financeiro do continente.
Pior: os sintomas desse problema podem ser apenas a ponta do icebergum mal que afeta a economia italiana por inteiro. E com possíveis repercussões para o resto da região.
'Décadas perdidas'
Os temores são reforçados pelas debilidades da economia italiana, a terceira da zona do euro.
Um relatório recente do Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o país enfrentará duas décadasfraco crescimento econômico - abaixo1% este ano e por volta1,25% no ano que vem.
De acordo com o FMI, a Itália só voltará aos níveisantes da crise2008meados da década2020 - ou seja, após duas "décadas perdidas", disse o Fundo.
"O tamanho da economia italiana edívida governamental tornam o país um vulcão fumegante", diz o especialistaeconomia da BBC, Andrew Walker.
O PIB do país é 8% menor do que quando teve início a crise financeira internacional. A economia hoje tem mais ou menos o mesmo tamanho do que no começo do século.
Ao mesmo tempo, possui a maior dívida do bloco.
O desempenho econômico fraco aumenta a possibilidadeque empresasdificuldades atrasem o pagamentoempréstimos.
O resultado é que os bancos italianos estão tendolidar com dívidas difíceisserem cobradas,um valor equivalente a US$ 398 bilhões (R$ quase 1,3 trilhões) - cercaum quintotoda a atividade econômica anual do país.
O temor, segundo Walker, é que a quebraum dos grandes bancos italianos desate uma crise financeira mais ampla.
Os preços das ações do setor vêm caindo - as do Monte dei Paschi, por exemplo, caíram mais75% este ano.
Regras quebradas?
Por isso, o governo italiano está considerando uma açãoresgate. Mas há divergênciasrelação àadequação às regras da União Europeia.
"As regras da União Europeia, criadas durante a crise financeira, determinam que os credoresum banco, especialmente os que detêm títulos, assumam as perdas antesos contribuientes entrarem na jogada", afirma Walker.
Mas no caso da Itália, muitos desses títulos pertencem a investidores particulares. Seguir as regras da União Europeia e impor perdas a esse grupo seria uma medida impopular.
"No momentoque o premiê Matteo Renzi já está sob pressão, especialmente por opositores da União Europeia, o governo deve resistir a assumir esse risco político. Acaba sendo atraentetermospolítica driblar as regras do bloco e injetar fundos públicos diretamente nos bancos", avalia Walker.
Mas essa é uma ideia que não será bem recebidaoutros países. Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel afirmou que as regras não podem ser flexibilizadas caso a caso.
"As regras são parteum projeto muito importante da zona do euro, chamado união bancária", explica Walker.
"Foi uma resposta à crise financeira regional para tornar bancos mais resistentes e uma tentativaromper os vínculos malignos entre bancos frágeis e governos com problemas financeiros."
Isso não tem evitado que a Itália seja agora o novo motivopreocupação dos que temem uma nova turbulência na economia europeia.