'Tiveaposta corrida de galgoscontar ao meu pai surdo que ele estava morrendo':aposta corrida de galgos

"Quando estava bem, meu pai sabia fazer leitura labial", conta Francesca.

"Mas àquela altura, ele mal conseguia enxergar. Colocaram uma placa atrás da cama dele — com a fotoaposta corrida de galgosuma orelha riscada com uma cruz —, as pessoas apareciam lá e gritavam com ele. E ele ficava assustado e confuso, não sabia o que estava acontecendo."

Então Francesca — assim como dezenasaposta corrida de galgosmilharesaposta corrida de galgosoutras pessoasaposta corrida de galgostodo o Reino Unido que costumam emprestar seus ouvidos e competência na línguaaposta corrida de galgossinais aos pais surdos para ajudá-los a sobreviveraposta corrida de galgosum mundo feito para quem ouve — entrouaposta corrida de galgoscena.

E sem pestanejar, Francesca interpretou a notícia para o pai naquele dia.

"Não havia mais tempo. Me foi dito. E eu interpretei (para a linguagemaposta corrida de galgossinais)."

"Tive que dizer a ele que estava morrendo."

Francesca cresceu como uma criança ouvinte filhaaposta corrida de galgospais surdos, na décadaaposta corrida de galgos1980 — uma época anterior aos telefones celulares e às mensagensaposta corrida de galgostexto — e começou a usar a linguagemaposta corrida de galgossinais com apenas sete mesesaposta corrida de galgosidade.

"Minha primeira língua é a Línguaaposta corrida de galgosSinais Britânica (BSL)", diz ela.

"É uma grande parteaposta corrida de galgosmim — amo minha língua."

'De plantão o tempo todo'

Francesca assumiu muitas responsabilidades desde muito cedo — seus pais não tiveram escolha a não ser confiar nela para realizar tarefas que para o restoaposta corrida de galgosnós podem soar banais. Aos quatro anos, ela já fazia ligaçõesaposta corrida de galgosnome deles e, aos oito, estava lidando com o banco.

"Eles sempre foram muito conscientesaposta corrida de galgostermosaposta corrida de galgosnão quererem me sobrecarregar", afirma.

"Mas era mais fácil para eu fazer. Eu me sentia muito adulta, era diferente e importante".

Fazendo uma retrospectiva, no entanto, Francesca diz que foi difícil ter que ajudar constantemente seus pais.

"Eu estavaaposta corrida de galgosplantão o tempo todo", diz ela.

"Nunca houve um momentoaposta corrida de galgosque não me sentisse responsável pela comunicação."

"Quando criança, você não é capazaposta corrida de galgosdizer: 'Não posso mais fazer isso', [porque] não sabe onde estão seus limites."

Filhosaposta corrida de galgospais surdos não costumam ter uma infância típica. O comediante escocês Ray Bradshaw,aposta corrida de galgos31 anos, construiuaposta corrida de galgoscarreiraaposta corrida de galgosstand-up garimpando uma rica coletâneaaposta corrida de galgoshistóriasaposta corrida de galgosquando era pequeno.

"Se eu falasse palavrão quando era criança usando a linguagemaposta corrida de galgossinais, meus pais me levavam para a cozinha e lavavam minhas mãos com sabão", ele brinca.

O conteúdoaposta corrida de galgosRay é espirituoso,aposta corrida de galgosum ativismo leve, muitas vezes sobre a escassa disponibilidadeaposta corrida de galgosintérpretesaposta corrida de galgosBSLaposta corrida de galgosescolas, hospitais e empresas.

Quando o intérprete não comparece, os membros da família costumam intervir para preencher a lacuna — como na ocasiãoaposta corrida de galgosque Rayaposta corrida de galgosmodo travesso se propôs a "traduzir erroneamente" a reuniãoaposta corrida de galgospais da escolaaposta corrida de galgosseu próprio benefício.

Mas Ray diz que há algo errado quando as pessoas têm que traduzir diagnósticosaposta corrida de galgosdoenças terminais para seus próprios pais.

A professora Jemina Napier, especialistaaposta corrida de galgoslinguagemaposta corrida de galgossinais e comunicação da Universidade Heriot-Watt, na Escócia, afirma que filhos ouvintesaposta corrida de galgossurdos são linguistas talentosos.

E também são dotadosaposta corrida de galgosuma sérieaposta corrida de galgoshabilidades cognitivas e emocionais resultantesaposta corrida de galgosterem sido inseridos no mundo adulto desde tenra idade, decifrando os registros sutis da fala adulta e resolvendo problemas complexos.

Assim como Francesca e Ray, a professora Napier ouve, mas cresceuaposta corrida de galgosuma família surda.

Ela critica a noçãoaposta corrida de galgossurdez como um déficit — para ela, é uma identidade cultural a ser celebrada. E é igualmente positiva quanto à interpretação, que ela chamaaposta corrida de galgos"intermediação", para abranger o sensoaposta corrida de galgosnegociação emocional envolvido.

Mas há uma grande diferença entre lidar com uma entregaaposta corrida de galgospizzaaposta corrida de galgosdomicílio e serviraposta corrida de galgosintérpreteaposta corrida de galgossituações desafiadoras, como Francesca teve que fazer no hospital com o pai, diz ela.

"Está muito além da capacidade das crianças. O impacto emocionalaposta corrida de galgossituaçõesaposta corrida de galgosque há muito tem jogo não é apropriado."

Campanha e petição

Pearl Clinton,aposta corrida de galgos30 anos, também teve que ser portadoraaposta corrida de galgosnotícias devastadoras. Quando ela tinha 12 anos, seu pai morreu, e coube a Pearl contar para a mãe. Aos 28 anos, também foi ela quem teveaposta corrida de galgosexplicar para a avó que ela estava morrendo.

Agora ela está fazendo campanha para acabar com a interpretaçãoaposta corrida de galgosfamiliaresaposta corrida de galgosconsultas médicas, não apenas por causa das dificuldades que eles enfrentam para transmitir informações médicas complexas, mas também por causa do potencial impacto sobre a saúde mental que teraposta corrida de galgosdar más notícias pode ter.

"Desde o lançamento da petição, ouvi muitas histórias", diz Pearl. "Ainda está acontecendo."

De acordo com a Lei da Igualdadeaposta corrida de galgos2010, os surdos deveriam ter acesso ao serviçoaposta corrida de galgosintérpretesaposta corrida de galgoslinguagemaposta corrida de galgossinais no hospital, mas na realidade os intérpretes são escassos.

As equipes dos hospitais estão sob pressão e nem sempre reconhecem que dependeraposta corrida de galgosparentes é um problema.

"Não éaposta corrida de galgosmodo algum culpa deles", observa Francesca.

"Eles estão ridiculamente ocupados, estão sobrecarregados e, às vezes, não sabem como fazer isso."

O mundo mudou desde que a mãeaposta corrida de galgosFrancesca, com deficiência auditiva profunda, era criança. Ela foi enviada para um internatoaposta corrida de galgos1952, quando tinha quatro anos. Francesca conta que o objetivo era produzir surdos que pudessem "funcionar na sociedade padrão" — mas ela se enfurece ao descrever o tratamento terrível queaposta corrida de galgosmãe recebeu ali.

"Minha mãe foi colocadaaposta corrida de galgosuma camisaaposta corrida de galgosforça basicamente — eles amarravam seus braços à cama e colocavam luvas nas mãos dela. Uma vez, ela foi trancadaaposta corrida de galgosum abrigo antiaéreo", diz Francesca.

"Imagine ser uma criança pequena, punida por tentar conversar com seus amigos e usar linguagemaposta corrida de galgossinais, quando você não consegue ouvir nada eaposta corrida de galgosfamília não está lá."

Francesca afirma queaposta corrida de galgosmãe é uma mulher inteligente, mas abandonou os estudos aos 16 anos sem qualificações e tem uma habilidadeaposta corrida de galgosleituraaposta corrida de galgoscercaaposta corrida de galgosnove anos.

Segundo ela, o tratamento que a mãe recebeu no internato afetouaposta corrida de galgossaúde mental até a idade adulta.

"Há toda uma geraçãoaposta corrida de galgossurdos que vivenciaram coisas semelhantes", diz Francesca.

Ainda hoje, há muitas frustrações para os surdos. Quando a ativista surda Rubbena Aurangzeb-Tariq foi contratada como consultoraaposta corrida de galgosacessibilidade por uma companhia ferroviária, ela os avisou que o vidro da janela da bilheteria era muito reflexivo para quem faz leitura labial.

Era algo que poderia ser facilmente solucionado com uma mudançaaposta corrida de galgosiluminação ou vidro antirreflexo, mas nada foi feito.

Para Rubbena, isso não é apenas irritante, mas também depreciativo, já queaposta corrida de galgosfilhaaposta corrida de galgos12 anos precisa acompanhá-la para comprar suas passagensaposta corrida de galgostrem.

Mas houve muitas mudanças positivas. A crescente conscientizaçãoaposta corrida de galgosrelação aos surdos está fazendo a diferença.

Pais surdos têm acesso a uma educação melhor, e a tecnologia da informação faz com que eles dependam muito menos dos filhos com audição.

Há organizações para filhosaposta corrida de galgosadultos surdos (CODAs, na siglaaposta corrida de galgosinglês),aposta corrida de galgosque as pessoas podem compartilhar suas experiências e celebraraposta corrida de galgosherança, e a falta históricaaposta corrida de galgosrepresentatividade na grande mídia também está sendo desafiada.

Em 2020, Rose Ayling-Ellis,aposta corrida de galgos27 anos, se tornou a primeira atriz ou ator surdo a interpretar um personagem surdoaposta corrida de galgosEastEnders, e quando ela se tornou a primeira concorrente surda no Strictly Come Dancing deste ano, houve um número recordeaposta corrida de galgospessoas procurando por cursosaposta corrida de galgosintérprete online.

Ella Depledge,aposta corrida de galgos21 anos, faz parte da geração mais jovemaposta corrida de galgosfilhos ouvintes que sentem menos pressão para serviraposta corrida de galgosintérprete para seus pais surdos do que outros talvez tenham sentido no passado.

"É estressante", diz Ella.

"Eu costumava me sentir muito responsável, e isso não era bom para mim. Há algum tempo, tomei a decisãoaposta corrida de galgosdizer apenas 'não'".

Os paisaposta corrida de galgosElla apoiamaposta corrida de galgosdecisão, mas ela valoriza as perspectivas linguísticas que a interpretação precoce lhe proporcionou — e acabaaposta corrida de galgosse formaraposta corrida de galgosletras (inglês) pela Universidade King's College London.

"Se você sabe usar a linguagemaposta corrida de galgossinais, isso oferece a você uma compreensão muito boa da linguagem", diz ela.

A responsabilidade ao longo da vidaaposta corrida de galgosFrancescaaposta corrida de galgosserviraposta corrida de galgosintérprete dos pais também a moldou.

Ela tem uma carreiraaposta corrida de galgossucesso na áreaaposta corrida de galgoslegendagemaposta corrida de galgosuma redeaposta corrida de galgosTV — e ri ao se descrever como muito boaaposta corrida de galgos"ser adulta" e nunca se atrasar para nada.

Mas ser filha e intérprete ao mesmo tempo — e descobrir que seu pai estava morrendoaposta corrida de galgosum momento, e ter que passar esta informação no outro — foi difícil.

"Já fiz muitas coisas difíceis na vida", diz ela.

"Mas esta foi a mais difícil."

As imagens são cortesiaaposta corrida de galgosFrancesca Bussey.

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