Como negros estão resgatando suas raízes na 'Suíça da América Latina':dicas de basquete aposta

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Legenda da foto, A religiosidade ajuda a dar visibilidade para os afrouruguaios

Para estudiosos e integrantes dos coletivosdicas de basquete apostaafrodescendentes, os tambores e a religiosidade contribuem para dar visibilidade aos chamados "afrouruguaios" — uruguaios que se identificam com as raízes africanas.

Mas há entre eles os que se preocupam com que os simbolismos não sejam vistos apenas como "folclóricos" e "estereotipados", já que a dimensão da cultura e da exclusão dos negros repetem princípios semelhantes aos registradosdicas de basquete apostaoutros países da América Latina, como o Brasil.

Como observa a professora Niki Johnson, da Universidade da República,dicas de basquete apostaMontevidéu, ao olhar para a presença da ascendência africana no país, não podemos nos fixar só nos ritos. É preciso analisar também os indicadores sociais, que revelam uma desigualdade étnica e racial no país.

Portadicas de basquete apostaentrada para escravizados

Em séculos passados, o Uruguai chegou a ser uma importante portadicas de basquete apostaentradadicas de basquete apostapessoas escravizadas na América do Sul, por meio do rio da Prata.

No censodicas de basquete aposta1996, segundo dados oficiais, 165 mil uruguaios se diziam afrodescendentes — cercadicas de basquete aposta5% da população do país na época. Dez anos mais tarde, no censodicas de basquete aposta2006, o número quase dobrou, para 280 mil.

Levantamentos mais recentes apontam que a população afrodescendente édicas de basquete apostaaproximadamente 10% nesse paísdicas de basquete apostacercadicas de basquete aposta3,5 milhõesdicas de basquete apostahabitantes, onde os primeiros desembarquesdicas de basquete apostapessoas escravizadas datam dos anos 1600, junto com os portugueses, na cidade históricadicas de basquete apostaColonia do Sacramento,dicas de basquete apostaacordo com estudiosos do tema.

Pesquisas acadêmicas informam que, no passado, os negros eram chamadosdicas de basquete aposta"raçadicas de basquete apostacor" edicas de basquete aposta"raça negra", antesdicas de basquete apostapassarem a ser definidos, já no século 21, como afrouruguaios.

'Negrosdicas de basquete apostauma nação branca'

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Legenda da foto, O desfile anual das comparsas arrasta multidões

No livro Blackness in the White Nation (Negritudedicas de basquete apostauma Nação Branca,dicas de basquete apostatradução livre), o americano George Reid Andrews, especialista na história latino-americana e na presença africana na América Latina pela Universidadedicas de basquete apostaPittsburgh, que passou longos períodos no Uruguai no início dos anos 2000 para escrever a obra, cita comunicados oficiais que, nos séculos anteriores, ressaltam as peles brancas no país:

"O tipo nacional é ativo, nobre, franco, hospitaleiro, inteligente, forte e valente e édicas de basquete apostaraça branca emdicas de basquete apostaquase totalidade, o que significa a grande superioridadedicas de basquete apostanosso país sobre outros da Américadicas de basquete apostaque a maioria da população é composta por índios, mestiços, negros e mulatos", dizia o escritor Horacio Araujo Villagrandicas de basquete aposta1929, conforme trecho reproduzido no livro.

Enfatizar a cor branca ou raízes europeias foi temadicas de basquete apostatextos no século 19 e início do século 20 também no México, na Argentina e no Brasil, por exemplo.

Ao citar as llamadas ("chamadas",dicas de basquete apostaespanhol), desfile anual das comparsas (escolasdicas de basquete apostasamba e blocos) que arrastam multidões e levam nomes como "Serenata Africana" e "Senegal", Andrews diz que "os tambores e os ritmos são africanos", mas existem grupos "completamente brancos" e "poucos que contam com integrantes predominantemente afrouruguaios".

"Como se explica que um país que sempre se jactoudicas de basquete apostasua herança europeia, uma nação que historicamente se apresenta como 'a Suíça da América do Sul', tenha assumido formas culturais africanas como elementodicas de basquete apostasua identidade nacional?", observa na nota.

Hoje, os afrouruguaios formam a "maior minoria" do Uruguai,dicas de basquete apostaacordo com o Atlas Socio-demográfico e da Desigualdade do Uruguai, produzido pelo Instituto Nacionaldicas de basquete apostaEstatísticas e entidades acadêmicas.

Candombe e desigualdade

Representantes dos coletivos afrouruguaios e pesquisadores apontam que o candombe, com seus tambores, letras e danças, está presentedicas de basquete apostatodo o país.

"O candombe não está reunido num lugar só, masdicas de basquete apostavários pontos do país, com menor ou maior concentração", explica a ativista do movimento negro uruguaio Ana Karina Moreira Godoy, que é psicóloga e conta ter antepassados brasileiros e europeus.

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Legenda da foto, O ritmo candombe é uma herança africana

Em Colonia do Sacramento, no sul do país, por exemplo, a presençadicas de basquete apostaafrouruguaios é pequena se comparada com lugares na fronteira com o Brasil, como Rivera, Artigas e Cerro Largo, observa Godoy.

Um estudo da Unicef, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para a infância, sobre crianças e adolescentes afrodescendentes no Uruguai, que foi realizado entre 2006 e 2018, também confirma essa situação, ao citar que eles são 17%dicas de basquete apostaArtigas, 19%dicas de basquete apostaRivera e um pouco menos - 12% -dicas de basquete apostaMontevidéu.

Levantamentos acadêmicos, baseadosdicas de basquete apostadados oficiais, apontam ainda que as maiores comunidadesdicas de basquete apostaafrouruguaios estão nas regiões menos pujantes economicamente.

Tanto Godoy como a professora Niki Johnson, responsável por levantamentos sobre a desigualdade racial no país, observam que os afrouruguaios vivem, geralmente, nos bairros menos prósperos do Uruguai, dedicando-se, muitas vezes, a trabalhos mais mal remunerados, como serviços domésticos e empregos informais, por exemplo.

'Direitos humanos'

A ativista Ana Karina Moreira Godoy se define como "afrofeminista" e integra o coletivo Coordinadora Nacional Afrouruguaya, fundado há dez anos.

"O Uruguai tem uma história importantedicas de basquete apostatermosdicas de basquete apostadireitos humanos, como a buscadicas de basquete apostadesaparecidos da ditadura militar. Mas a agenda do movimento afro ainda não tem o espaço que deveria", opina.

Godoy lembra que há décadas os negros do Uruguai buscam estar mais representados politicamente e, por isso, já nos anos 1930 foi fundado o Partido Autoctodo Negro (PAN).

No entanto, os afrouruguaios até hoje têm representatividade limitada na política, como observa ela.

"Somos afros criadosdicas de basquete apostaum paradigma da brancura. Na minha época, na escola não ensinavam nada (sobre a questão racial). Vamos descobrindo através da violência racial. E é muito recente a preocupação do sistema educativo com a discriminação", diz.

Godoy defende políticas públicas para "desestruturar o racismo" e é professoradicas de basquete apostaum curso, parte da plataforma educacional oficial do Uruguai, que forma professores e estudantesdicas de basquete aposta"direitos humanos para a busca da maior igualdade racial na saladicas de basquete apostaaula".

"O objetivo é que os professores tenham ferramentas para enfrentar o racismo dentro da sala. A ideia é também começar a questionar o paradigma racista na educação", conta ela, que usadicas de basquete apostasaladicas de basquete apostaaula autores afrodescendentes e outros que estudaram a fundo a questão racial.

Segundo Godoy, existem outras açõesdicas de basquete apostacursodicas de basquete apostaalguns municípios uruguaios que buscam a valorização dos tambores e do candombe - declarado Patrimônio Não Material Cultural da Humanidade pela Unesco (braço da ONU para cultura e educação). Mas a especialista entende que ainda é preciso tornar as minorias - inclusive afrodescendentes - mais "visíveis" no Uruguai.

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Legenda da foto, Afrodescendentes são 10,2% da população do Uruguai

'Vulnerabilidade' e 'pandemia'

A cientista política Niki Johnson é a responsável por um amplo estudo sobre as condições sociais dos afrodescendentes no país.

Ela diz que "ainda há estigma" sobre ser negro no Uruguai. E que, mesmo quando conseguem escapar da pobreza, os negros são mais socialmente vulneráveis que os não negros. Isso está ligado aos níveis educacionais, afirma a pesquisadora.

"As pessoas afro têm menos anosdicas de basquete apostaeducação do que o resto da população. Os dados mostraram que os afro têm menor possibilidadedicas de basquete apostachegar ao ensino secundário (médio) e mais ainda o terciário (universitário) completo. Somente 3% da população afro têm o terciário completo, enquanto os não afro chegam a 9%", diz Johnson.

No Brasil,dicas de basquete aposta2017, segundo dados do Institutodicas de basquete apostaPesquisa Econômica Aplicada (Ipea), considerando a população com 25 anos ou mais, apenas 9,3% dos negros tinham ensino superior completo, enquanto na população branca havia chegado a 22,9%.

"O Brasil registrou muitos avanços na frequência ao ensino superior, mas ainda estamos longedicas de basquete apostaum cenáriodicas de basquete apostaigualdade", disse Tatiana Dias Silva, autora da pesquisa.

O levantamento da Unicef no Uruguai indicou que "as brechas raciais" na América Latina são mantidas e mostram que "nascerdicas de basquete apostauma casadicas de basquete apostapais afrodescendentes aumenta claramente a possibilidadedicas de basquete apostaserem apresentadas desigualdades ao longo da vida. A situação no Uruguai é similar".

Em seu relatório, a Unicef observa que no início do período letivo do ensino médio, quase doisdicas de basquete apostacada cinco afrodescendentes uruguaiosdicas de basquete aposta15 a 17 anos não frequentavam nenhuma instituiçãodicas de basquete apostaensino.

Entre os que frequentavam, umdicas de basquete apostacada três tinha repetido pelo menos dois anos letivos.

Os resultados são diferentes para os não afrodescendentes. Nesse caso, umdicas de basquete apostacada quatro não assistiu a nenhum centro educativo e umdicas de basquete apostacada seis, dos que assistiam, tinham repetido pelo menos dois anos letivos.

Para Niki Johnson, a maior vulnerabilidade social faz com que a pandemia "certamente" afete mais os afrodescendentes do que os demais no país.

A cientista política cita, por exemplo, a diferença entre os índicesdicas de basquete apostadesemprego entre a população afro (cercadicas de basquete aposta11%) e não afro (7,5%) - dadosdicas de basquete aposta2017 -, a menor presença no setor público e a maior presençadicas de basquete apostatrabalhosdicas de basquete apostaserviços.

Assim como no Brasil, "escravidão deixou como legado uma desigualdade sistêmica", diz Johnson.

Para ela, a "visibilidade" dos afrodescendentes é resultado do trabalho dos coletivos, mas falta a "consolidaçãodicas de basquete apostapolíticas públicas" para reduzir a desigualdade.

'Filhos da diáspora africana'

Formadadicas de basquete apostaRelações Internacionais, a DJ e dançarinadicas de basquete apostacandombe Tania Ramírez diz que, apesar da existênciadicas de basquete apostauma lei que destina bolsasdicas de basquete apostaestudo e cotas para empregos estatais, "falta uma políticadicas de basquete apostacombate ao racismo estrutural".

A chamada leidicas de basquete apostareparação à população afrodescendente do Uruguai foi assim definida ao ser aprovadadicas de basquete aposta2013. No texto afirma-se que a legislação "reconhece que a população afrodescendente, que habita o território nacional, foi, historicamente, vítimadicas de basquete apostaracismo,dicas de basquete apostadiscriminação e da estigmatização desde os tempos do tráfico escravocrata".

Essa lei determina que 8% dos postosdicas de basquete apostatrabalhodicas de basquete apostatodo o setor estatal devem ser ocupados, anualmente, por pessoas afrodescendentes por um prazodicas de basquete apostaquinze anos.

Ela também determina que estudantes afrodescendentes tenham bolsasdicas de basquete apostaestudos, mas, no texto original da lei, não foi estipulado qual o percentual ou cota com este objetivo.

Aos 36 anos, Tania Ramírez faz parte do coletivo Mizangasdicas de basquete apostaMulheres Afrodescendentes, que trabalha pela elaboraçãodicas de basquete apostapolíticas públicas voltadas para as afrouruguaias.

"Somos filhos da diáspora africana. Montevidéu era a entrada da população escravizada, e sentimos o racismo estrutural, que são evidentes nos índicesdicas de basquete apostapobreza,dicas de basquete apostaexclusão na educação e na desigualdade dos indicadores quando vemos o nível educacional comparado com a população branca", diz.

Para ela, as mulheresdicas de basquete apostaraízes negras "continuam vivendo sob as regras dos séculos passados", fazendo trabalhosdicas de basquete apostalimpeza, por exemplo, e ainda há um longo caminho a se percorrer para reverter isso.

As ações do Mizangasdicas de basquete apostaMulheres Afrodescendentes incluem, por exemplo, aulasdicas de basquete apostadança edicas de basquete apostaespiritualidade, alémdicas de basquete apostadebates, exposições, como fotográficas, vinculadas à temática.

Ramírez e Godoy, que estudam a cultura negra, observam que a prática da religião da umbanda "por influência africana e brasileira", é comum entre os afrodescendentes.

Também destacam que, como a abolição da escravatura aconteceu antes no Uruguai (1842) do que no Brasil (1888), muitos brasileiros escravizados buscaram a liberdade no Uruguai.

Pesquisadores dizem que esse é um dos motivos da presençadicas de basquete apostasobrenomes portugueses e brasileiros no país. E observam ainda que a miscigenação, pouco propagada quando se fala no Uruguai, inclui outra minoria: a indígena, que tem presença menor que a dos afrouruguaios, mas que também passou a ganhar relevânciadicas de basquete apostadebatesdicas de basquete apostaalguns setores da sociedade uruguaia.

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