Covid-19: por que América Latina concentra maior númerobet game apostavítimas no mundo?:bet game aposta

O cenário é dos mais desoladores no Paraguai, no Peru, na Colômbia e na Argentina.

E, no meio desse caos, o Brasil se destaca: prestes a se tornar o segundo local do mundo a ultrapassar as 500 mil mortes provocadas pelo coronavírus, especialistas apontam que o país influencia direta e indiretamente o agravamento da situação nas nações vizinhas.

Mas como a América Latina chegou ao postobet game apostaepicentro da pandemia?

Situação que só piora

Desde que os primeiros casos da covid-19 foram descritos na Chinabet game apostajaneirobet game aposta2020, países e regiões passaram por momentos mais ou menos complicados.

O primeiro local a ser acometimento gravemente pela pandemia foi a Europa: entre março e junhobet game aposta2020, o continente foi o líder nas mortes por milhãobet game apostahabitantes provocadas pela nova doença.

A partir do segundo semestrebet game aposta2020, as Américas passaram a ser o novo epicentro da pandemia.

Em algumas semanas dos mesesbet game apostajulho a dezembro do ano passado, a situação ficava pior no Norte, com destaque para os Estados Unidos. Em outras, o agravamento era maior no Sul, com participação decisiva do Brasil.

Esse panorama se manteve assim até marçobet game aposta2021, quando a América do Sul tomou a dianteira e abriu uma vantagem considerável sobre as demais localidades

No dia 16bet game apostajunhobet game aposta2021, a nossa região contabilizava um acumuladobet game aposta2,2 mil mortes a cada milhãobet game apostahabitantes.

Enquanto isso, esse número estavabet game aposta1,5 mil na América do Norte, 1,4 mil na Europa, 162 na Ásia, 101 na África e 25 na Oceania.

A partirbet game apostamarçobet game aposta2021, a América do Sul tomou a dianteira e virou o lugar com o maiorbet game apostanúmerobet game apostamortes por covid-19 por milhãobet game apostahabitantes

E essa disparidade se acentua ainda mais quando analisamos a média diária da última semana, o que demonstra a evolução da gravidade da covid-19 num período mais recente.

Enquanto a América do Sul apresenta 9 óbitos por milhãobet game apostahabitantes, esse índice estábet game aposta1,2 na Europa, 1,1 na América do Norte, 1 na Ásia, 0,26 na África e 0,01 na Oceania.

Essas informações vêm do Our World In Data (que adota o critério América do Norte X América do Sul,bet game apostavez da denominação América Latina), site que compila estatísticas globais da pandemia.

Do exemplo à frustração

Vale destacar que,bet game apostameio a tantos gráficos, curvas e números, alguns países da América Latina despontaram como exemplos positivos ao longobet game aposta2020 e iníciobet game aposta2021.

Foram os casosbet game apostaParaguai, Uruguai e Argentina, que eram sempre lembrados como símbolosbet game apostaboa conduta e políticas públicas bem feitas e com bons resultados.

O Chile, porbet game apostavez, era elogiado porbet game apostacampanhabet game apostavacinação pioneira, veloz e eficiente, capazbet game apostaproteger milhõesbet game apostapessoas num curto espaçobet game apostatempo.

Mas algo diferente aconteceu nos últimos dois ou três meses: esses mesmos países viram os númerosbet game apostanovos casos e óbitos piorarem repentinamente.

Hoje, eles aparecem no grupo das nações com a situação mais preocupante da pandemia, ao ladobet game apostaBrasil, Peru e Colômbia.

E nem dá pra dizer que a culpa é das estatísticas, que acabam ficando infladas pelo número elevadobet game apostahabitantes nessas bandas do planeta: as análises epidemiológicas mais confiáveis fazem a ponderação matemática e levambet game apostaconta os índices proporcionais, que relativizam as taxas segundo a população.

Outro dado gritante vem das análises do Financial Times, que calculou o excessobet game apostamortes segundo as médias históricasbet game apostacada país: os cinco primeiros do ranking são todos latinoamericanos (Peru, Equador, Nicarágua, Bolívia e México).

O Brasil aparecebet game apostasétimo lugar, atrás do Azerbaijão.

E aquele número citado no início da reportagem reforça mais uma vez essas observações: se a América Latina abarca 8% da população mundial, como que ela pode concentrar 24%bet game apostatodas as mortes por covid-19?

Uma região desigual

Em novembrobet game aposta2020, a prestigiosa publicação científica The Lancet publicou um editorial que já chamava a atenção para a pandemia na América Latina.

Os autores parecem antecipar o problema que passaríamos a viver dali a alguns meses: eles classificam que a covid-19 não significou apenas um problemabet game apostasaúde pública, mas uma crise humanitária para esse conjuntobet game apostapaíses.

"Para quem estábet game apostafora, grande parte da discussão sobre a covid-19 na América Latina se concentrou no Brasil e nos erros do presidente Jair Bolsonaro", escrevem.

"Mas a região como um todo está enfrentando uma crise humanitária, nascida da instabilidade política, da corrupção, da agitação social, dos sistemasbet game apostasaúde frágeis e, talvez o mais importante, da desigualdadebet game apostarenda, saúde e educação duradoura e generalizada", completam.

A desigualdade é mesmo um dos fatores que parece mais ter contribuído para a atual situação: aindabet game apostaacordo com o artigo do The Lancet, 54% da forçabet game apostatrabalho latinoamericana é informal. Em alguns países, como o Peru, esse número ultrapassa os 70%.

Ou seja: esse contingente enormebet game apostapessoas não possui a mínima condiçãobet game apostapermanecerbet game apostacasa por longos períodosbet game apostatempo, pois necessitam sair às ruas para garantir o sustento das próximas horas.

Isso ajuda a explicarbet game apostaparte os momentos contrastantes das nações bem e mal sucedidas no controle do coronavírus: Argentina, Paraguai e Uruguai até conseguiram criar políticas públicas para controlar a circulaçãobet game apostapessoas, mas isso só foi possível por um períodobet game apostatempo muito curto.

"Após a quarentena, a flexibilização ocorreubet game apostaforma indiscriminada, sem qualquer planejamento, controle epidemiológico ou testagembet game apostamassa", observa o médico José David Urbaez, presidente da Sociedade Brasileirabet game apostaInfectologia no Distrito Federal.

"As lideranças da América Latina não entenderam que o foco deveria ser nas medidas que não permitem o alastramento do vírus, para que a transmissão não atinja níveis dramáticos", critica.

A bioquímica e imunologista Marcela Gatica, da Universidadebet game apostaLa Serena, no Chile, detalha como esse fenômenobet game apostafechar e abrir as atividades repercutiu na prática:

"Aqui no Chile a disparidade socioeconômica é gritante. Há uma parcela da população que precisa trabalhar para conseguir comer", contextualiza.

"Nas regiões metropolitanas, esses indivíduos pegam transporte público apertado para se locomover e costumam dividir a casa com muitos moradores. Tudo isso contribui para a disseminação do vírus", completa.

Até o finalbet game aposta2020, estima-se que 231 milhõesbet game apostalatino-americanos viviam na pobreza, um nível que só havia sido observado há 15 anos.

Para completar, esse pedaço do continente americano é marcado por uma instabilidade política muito intensa: no último ano, foram registrados protestos massivos na Colômbia, no Peru e no Brasil.

Equador, Peru e Bolívia registraram eleições presidenciais muito tensas e disputadas, enquanto o Chile se viu diantebet game apostaum plebiscito para mudar a constituição após movimentos sociais tomarem as ruasbet game aposta2019.

Isso tudo, claro, se reflete no enfrentamento da pandemia:bet game apostameio a tantas tormentas, as políticas sanitárias muitas vezes ficarambet game apostasegundo plano ou variarambet game apostaacordo com preferências políticas e pressõesbet game apostagrupos com interesses variados.

Serviçosbet game apostasaúde precários

Um segundo ingrediente que não pode ser ignorado é a faltabet game apostasistemas públicosbet game apostasaúde bem estruturados: com exceçãobet game apostaBrasil e Costa Rica, os moradores dos outros países latino-americanos têm acesso limitadíssimo a consultas, exames, hospitais e serviçosbet game apostaacompanhamento e prevenção.

"Sem cobertura universalbet game apostasaúde, é impossível lidar com a pandemia", afirmam os autores do artigo publicado no The Lancet.

As mesmas falhas se repetem nos sistemasbet game apostavigilância epidemiológica e genômica: a América Latina é um dos lugares que menos faz testes para o diagnóstico da covid-19.

Em alguns países, o índicebet game apostapositividade dos exames que detectam o coronavírus beira os 50% — a Organização Mundial da Saúde calcula que uma taxa abaixobet game aposta5% indica um bom controle da pandemia.

A ausência das tais políticas públicasbet game apostasaúde se reflete nos próprios indicadores da região:bet game apostapaíses como Chile e México, 75% das mulheres apresentam excessobet game apostapeso.

Os índicesbet game apostasobrepeso, obesidade e diabetes também só aumentambet game apostatoda a América Latina: a disponibilidadebet game apostaalimentos altamente calóricos e ricosbet game apostaaçúcar, sal ou gordura por preços baixos facilita e estimula o consumo, especialmente entre os mais pobres.

Tudo isso vai desembocar no cenário que vivemos hoje: falamosbet game apostapaísesbet game apostaque uma enorme parcela da população apresenta fatoresbet game apostarisco para o agravamento da covid-19 e não há a estrutura mínima necessária para o diagnóstico, o acompanhamento e o atendimento adequadobet game apostatantos pacientes.

E esse cenário interno se reflete na condução e no enfrentamentobet game apostaproblemasbet game apostaforma coletiva: ao contrário do que acontecebet game apostaoutros continentes, a América Latina não possui instituições regionais capazesbet game apostalançar diretrizes, criar políticas públicas ou fazer estudosbet game apostaforma coordenada entre as várias nações.

Até a África, que apresenta uma situação sócio-econômica parecida com a nossa, tem o Centro Africanobet game apostaControle e Prevençãobet game apostaDoenças, um órgão com capacidadebet game apostaaglutinar esforços e produzir uma resposta unificada entre vários países.

A influência brasileira

Como maior economia da região, é claro que o Brasil exerce um papel decisivo sobre o que acontecebet game apostapositivo oubet game apostanegativo na América Latina.

Durante a pandemia, essa atuação ficou bastante evidente: especialistas avaliam que nosso país teve influência direta e indireta sobre o agravamento da covid-19bet game apostanossos vizinhos.

"Historicamente, o Brasil contou com personalidades da forçabet game apostaOswaldo Cruz, Carlos Chagas e Emílio Ribas, que construíram uma das escolasbet game apostadoenças infecciosas mais prestigiosas do mundo. Nós também tínhamos modelosbet game apostacontrole virais modernos e reconhecidos internacionalmente, que funcionavambet game apostasintonia com um Sistema Únicobet game apostaSaúde imenso", explica Urbaez.

"Na América Latina, sempre fomos referência para certificar e validar práticas sanitárias ebet game apostasaúde pública. E é inacreditável ver todo esse saber e esse papel simbólico ser trucidado agora", complementa.

Além da influência indireta, o Brasil também contribui claramente para que a situação se agravasse alémbet game apostasuas fronteiras: a variante Gama, que parece ter se desenvolvidobet game apostaManaus a partirbet game apostanovembro e dezembrobet game aposta2020, cruzou as fronteiras com uma facilidade impressionante.

"O que aconteceu na América Latina nos últimos meses tem uma relação clara com o ingresso e a circulação da variante Gama a partir do Brasil", indica o médico Tomás Orduna, chefe do Serviçobet game apostaMedicina Tropical e do Viajante do Hospitalbet game apostaDoenças Infecciosas F. J. Muñizbet game apostaBuenos Aires, na Argentina.

O virologista Fernando Spilki, da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, tem acompanhado como a variante Gama "viajou" Brasil afora.

"Os estudos demonstram que ela chegou a lugares como a Argentina e se tornou majoritáriabet game apostatoda a América do Sul", destaca.

Spilki e Orduna lembram que a cepa que surgiu no Brasil não é a única a preocupar os cientistas latino-americanos: a variante Lambda, que veio do Peru, apresenta algumas características que facilitam abet game apostatransmissão.

"Ela chegou a representar maisbet game aposta80% dos casosbet game apostacovid-19 no Peru e foi introduzida na Argentina a partir da Bolívia, onde também já apresenta um crescimento importante", resume Spilki, que também coordena a Rede Corona-Ômica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.

E tanto a Gama quanto a Lambda revelam mais uma das fragilidades latino-americanas: a faltabet game apostacontrolebet game apostaaeroportos, portos e demais postos aduaneiros.

"Nossas fronteiras possuem muitos poros, o que traz dificuldades quando estamosbet game apostapandemias", diz Orduna.

"O melhor que poderíamos fazer é criar mecanismosbet game apostacontenção inicial, para inibir o ingresso abrupto e intenso dos vírus ou das novas variantes. Mas nem esse controle seria capazbet game apostaevitar totalmente a entradabet game apostaindivíduos infectados", raciocina o especialista argentino.

O que fazer agora?

Diantebet game apostanúmeros tão ruins, a melhora da situação na América Latina passa invariavelmente por duas ações prioritárias: políticas ajustadasbet game apostarestrição da mobilidade (o popular lockdown) e a aceleração das campanhasbet game apostaimunização contra a covid-19.

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil entendem que, no atual estágio, não é possível focarbet game apostaapenas uma dessas coisas.

E o exemplo prático disso é o Chile: o país começou a vacinação cedo e já conseguiu proteger quase metadebet game apostatoda a população.

Mesmo assim, os númerosbet game apostacasos e mortes voltaram a subir por lá nos últimos tempos.

Gatica entende que o avanço na aplicaçãobet game apostadoses gerou uma falsa sensaçãobet game apostasegurança entre os chilenos.

"As pessoas interpretaram a vacina como um passebet game apostaliberdade e entenderam que elas não precisavam mais se cuidar tanto", pensa.

"Faltou uma comunicação mais adequada para a população. Era necessário explicar melhor a razão das medidas, como o vírus se transmite, como as pessoas deveriam se comportar…", lista.

Urbaez concorda: "A vacina é uma formabet game apostacontrolar a pandemia no médio prazo. Só vamos conseguir melhorar as coisas mesmo quando tivermos uma porcentagem grande da população imunizada", antevê.

Até que isso aconteçabet game apostaverdade, seria necessário manter o máximobet game apostapessoasbet game apostacasa, com o auxílio social e financeiro tão importante num momento como esse.

A restrição aliviaria os sistemasbet game apostasaúde, que sofrem com a alta ocupaçãobet game apostaleitosbet game apostaenfermaria e terapia intensiva, e controlaria melhor as cadeiasbet game apostatransmissão, fazendo com que o vírus circule menos pela comunidade.

Há também a urgênciabet game apostafortalecer ou criar instituições capazesbet game apostapensar na saúde pública da região como um todo, avaliam os especialistas.

"Não podemos sempre correr atrás do prejuízo e apagar os incêndios que aparecem pela frente", opina Urbaez.

"Ações coordenadas e centralizadas permitiriam controlar a pandemiabet game apostauma forma muito mais rápida", aponta o infectologista.

Numa perspectiva mais ampla, a pandemiabet game apostacovid-19 pode mostrar que a América Latina precisa atacar seus problemas estruturais mais urgentes e diminuir a desigualdade social e a pobreza.

Só assim deixaremosbet game apostaser "a região das veias abertas", como escreveu o uruguaio Eduardo Galeano.

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