O fotógrafo cego do Piauí que luta para cobrir Paralimpíadasm cbetggTóquio:m cbetgg

João Maia

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, João Maia chamou atenção por ser um fotógrafo cego fazendo a cobertura dos Jogos Paralímpicos no Riom cbetggJaneiro,m cbetgg2016

Sua história foi contada por maism cbetgg30 veículosm cbetggimprensa pelo mundo e impulsionou a criação do projeto Fotografia Cega. Hoje, João se dedica não apenas a fotografar, mas também ensina técnicas da fotografia sem o uso da visão e assim "abre os olhos" da sociedade para as capacidades das pessoas com deficiência.

Depois do sucessom cbetgg2016, o fotógrafo visa agora a cobertura das Paralimpíadasm cbetggTóquio, que serão realizadas entre os mesesm cbetggagosto e setembro, sem a presença dos torcedores por causa das restrições da pandemia.

Atleta cega disputa corrida

Crédito, João Maia

Legenda da foto, João Maia (autor desta foto do Open Internacional Loterias Caixa,m cbetgg2018) já fotograva antesm cbetggperder a visão. Quando retomou o ofício, depoism cbetggcego, teve que aprender uma nova arte: am cbetggfotografar com os outros sentidos

"Quando eu estiver no Japão fotografando, alguém vai se questionar como uma pessoa cega está fazendo este trabalho. A gente precisa rever nossos valores, a questão da empatia. A pessoa com deficiência temm cbetggformam cbetggver o mundo, a minha é através da minha câmera. Eu conto histórias através das minhas imagens", contou à BBC News Brasil.

Desafiom cbetggTóquio

A ida para Tóquio deve impulsionar o novo projetom cbetggJoão Maia, que consiste na produçãom cbetggum livro sobrem cbetgghistóriam cbetggvida e na obtençãom cbetggmaterial para uma nova exposição fotográfica: 4 Sentidos e Uma Visão.

"Vamos usar o materialm cbetggTóquio nesta exposição, que terá acessibilidade total, com áudio-descrição, alto-relevo, legendasm cbetggbraile e letras ampliadas. Queremos ainda escrever este livro da minha trajetória, fazendo mais uma coberturam cbetggParalimpíada, desta vez do outro lado do mundo", comentou.

Atleta com deficiencia na perna corre provam cbetggciclismo nas Paralimpiadasm cbetgg2016

Crédito, João Maia

Legenda da foto, "Quando vou bater uma foto na Paralimpíada, sinto a conexãom cbetggsons, o disparo da prova, o som da batida do atleta correndo, o som da torcida. Eu transformo toda essa composiçãom cbetggsonsm cbetggimagens, por isto minha fotografia é cega"

João conta com a ajuda da jornalista e escritora Luciane Tonon, que deve guiá-lom cbetggTóquio, descrever os ambientes e posteriormente, escrever o livro sobre a trajetória dele.

Luciane, que é criadora do portal Guia do Deficiente, conta que conheceu Joãom cbetggum evento teste para as Paralimpíadasm cbetgg2016, no Estádio Olímpico Nilton Santos, o "Engenhão" no Riom cbetggJaneiro.

"Eu estava caminhando para a pista quando vi um cadeirante conduzindo um cego e ambos com máquinas fotográficasm cbetggmãos. Eu parei na hora, percebi que ali tinha uma história interessante", contou.

João Maia e Luciane Tonon

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, João conta com a ajuda da jornalista e escritora Luciane Tonon, que deve guiá-lom cbetggTóquio, descrever os ambientes e posteriormente, escrever um livro

Luciane abordou a duplam cbetggfotógrafos e então descobriu que o cego era João Maia. Desde então, os dois iniciaram uma parceriam cbetggtrabalho e hoje lutam para arrecadar a quantiam cbetggque precisam para cobrir as despesas previstasm cbetggTóquio.

As passagens foram financiadas, mas os gastos com alimentação e hospedagem estão pendentes, além da dívida que ficou por causa da passagem.

Atletam cbetggjudo

Crédito, João Maia

Legenda da foto, Quando trabalhou nas Paralimpíadasm cbetgg2016, onde registrou esta foto, João tevem cbetgghistória foi contada por maism cbetgg30 veículosm cbetggimprensa pelo mundo

"Nós fizemos uma vaquinha online, mas então a pandemia começou e acabou nos intimidando na divulgação. Comecei a refletir que muitas pessoas estavam sem renda, arrecadando fundos para combater a fome e nós querendo ir para o Japão", desabafou Luciane.

Mesmo assim, o projeto seguem cbetggpé e para João, a ida ao Japão representa um grande passo para mostrar o potencial das pessoas com deficiência, conscientizar a sociedade e trazer inspirações para quem convive com alguma limitação, física ou psicológica.

João Maia com certificadom cbetggcursom cbetggfotografia

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, João Maia já havia feito cursosm cbetggfotografia antesm cbetggperder a visão aos 29 anos

"Vou ao Japão para, mais uma vez, levantar esta bandeira. Quero empoderar e mostrar que há uma luz no fim do túnel, um caminho a ser traçado para que as pessoas com deficiência possam ter autonomia, segurança e liberdade para serem o que quiserem, para terem oportunidadesm cbetggse tornar um profissionalm cbetggqualquer área que desejarem", afirmou.

Diagnóstico e superação

Foim cbetgg2004, que a vidam cbetggJoão começou a mudar drasticamente. Na época, com então 29 anos, ele trabalhava como carteirom cbetggSão Paulo, mas começou a ter dificuldades no trabalho por causa da visão.

Na época, ele sofriam cbetggmiopia e astigmatismo e passou a ter episódiosm cbetggdificuldadem cbetggenxergar, o que resultoum cbetggidas frequentes ao oftalmologista, trocam cbetggóculos e um diagnóstico erradom cbetggglaucoma.

"Uma vez eu desci do ônibus para ir ao trabalho e uma pessoa esbarroum cbetggmim com tanta violência que os meus óculos caíram e eu não os encontrei. Fui ao trabalho naquele dia sem enxergar. Naquela tarde eu ganhei óculos novos, mas tive que trocar dois meses depois. Passei um ano tratando glaucoma", explicou.

A visãom cbetggJoão foi piorando cada vez mais, até não conseguir mais separar as cartas ou enxergar letras pequenas Um tempo depois, já não era mais capazm cbetggler o letreiro do ônibus ou enxergar qualquer coisa a distância.

João Maia quando atleta

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, João Maia foi atleta paralímpico, experiência que o ajuda a fotografar o esporte hoje

"Teve um momento bem difícilm cbetggque eu fui passar por um túnel iluminado entre o metrô e o terminalm cbetggônibus. Eu tive que caminhar bem devagarinho para não esbarrar nas pessoas e percebi que o problema era sério. Já não conseguia trabalhar com a mesma agilidade dos outros, então fui ao médico da empresa e ele me afastou. Fui aposentado por invalidez e não voltei mais", contou.

Depois do diagnósticom cbetgguveíte bilateral, João finalmente entendeu a condição que acometeum cbetggsaúde ocular. Ele sofreu uma inflamaçãom cbetggalto grau, teve descolamento da retina e perdeu a visão por completo no olho direito. No esquerdo, sofreu uma lesão do nervo ótico e tem uma visão chamadam cbetgg"conta dedo". Até 1,20 metrom cbetggdistância, têm percepçõesm cbetggvultos coloridos.

Quando soube que nunca mais voltaria a enxergar, João conta que passou pelo luto e um processo difícilm cbetggaceitação, reabilitação e por fim a compreensãom cbetggque podia ir alémm cbetggsua limitação fisíca e ter autonomia e qualidadem cbetggvida.

"Foi muito difícil. Eu tinha baixa visão, pensava que estava enxergando um pouco e não me aceitava como deficiente. Então me dei contam cbetggque não conseguia mais ler, não podia pegar um ônibus ou andar à noite sozinho. Eu tive que me aceitar e começar a usar bengala. Hojem cbetggdia moro sozinho e vivo muito bem graças à tecnologia", reitera.

Vida como fotógrafo

A fotografia veio muito antes da cegueira. Aos 14 anos, o jovem piauiense começou a se interessar, ler e trocar ideias com um amigo cujo pai era fotógrafo. Depois se inspiroum cbetggum professor que tinha uma câmera profissional e passou a escrever para empresas do ramo da fotografia, que o presentearam com manuais.

Quando ainda estavam cbetggBom Jesus, João ganhou a primeira câmeram cbetggpresentem cbetggum irmão e passou a fotografar como hobby. Depois foi para São Paulo atrásm cbetggoportunidades, ainda na adolescência, seguindo algunsm cbetggseus irmãos que já moravam na cidade.

A fotografia esteve presente durante todos os anosm cbetggque ainda enxergava e quando retomou o ofício depoism cbetggcego, teve que aprender uma nova arte: a artem cbetggfotografar com os outros sentidos.

Atletas com deficiencias disputam corrida no atletismo

Crédito, João Maia

Legenda da foto, "Conheço cada botão do meu equipamento e me apoio nos sons da câmera. O barulho me dá certezam cbetggque está sendo focado. Minha fotografia é feita essencialmente com as minhas percepções"

"Conheço cada botão do meu equipamento e me apoio nos sons da câmera. O barulho me dá certezam cbetggque está sendo focado. Minha fotografia é feita essencialmente com as minhas percepções", explica.

No caso das Paralimpíadas, a passagem que teve pelo esporte como atleta ajuda a entender as provas e João sempre conta com o apoiom cbetggalgum colega para descrever o ambiente e ajudar nas configurações.

"Quando vou fotografar uma provam cbetggatletismom cbetgg100 metrosm cbetggvelocidade, por exemplo, eu me posiciono na área restrita e peço para a pessoa do meu lado descrever o ambiente. Sei qual atleta quero fotografar e peço que me digamm cbetggque raia ele está, então posiciono a câmera", descreve.

Depoism cbetgg2019 ficou mais fácil para João fotografar. No Natal daquele ano, ganhou um protótipom cbetggcâmera profissional com acessibilidadem cbetgguma campanha da Canon. O novo equipamento permitiu que trabalhasse no mesmo nívelm cbetggum fotógrafo sem deficiência.

"Quando vou bater uma foto na Paralimpíada, sinto a conexãom cbetggsons, o disparo da prova, o som da batida do atleta correndo, o som da torcida. Eu transformo toda essa composiçãom cbetggsonsm cbetggimagens, por isto minha fotografia é cega", conclui.

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