'Doença da pobreza': o que é a tuberculose latente, que afeta 11 blaze4 pessoas?:1 blaze
Tanto a pobreza quanto o acesso aos serviços1 blazesaúde foram profundamente afetados1 blazemuitos países pela pandemia1 blazecovid-19.
"Doze meses1 blazecovid-19 eliminaram 12 anos1 blazeprogresso na luta global contra a tuberculose", disse esta semana o End TB Partnership, um consórcio global para impedir o avanço da doença.
O grupo disse que,1 blazeum grupo1 blazeapenas 23 países, o número1 blazepessoas que receberam diagnóstico e foram tratadas para tuberculose caiu pelo menos 1 milhão1 blaze20201 blazecomparação com 2019.
A tendência também é percebida no Brasil. Segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, divulgado na quarta-feira (24-03), o país teve queda1 blaze9,5%1 blazecasos registrados da doença: 66.819 novos casos1 blaze2020 (31,6 para cada 100 mil habitantes), contra 73.864 casos novos1 blaze2019 (35 casos por 100 mil habitantes).
Para especialistas, essa aparente queda preocupa porque pode refletir uma baixa no número1 blazediagnósticos1 blazemeio à pandemia do coronavírus, e não uma queda no número1 blazepessoas infectadas.
Assim, mais brasileiros podem estar transmitindo a doença sem tratamento.
De acordo com dados da Índia e da África do Sul, as pessoas infectadas simultaneamente com tuberculose e covid-19 têm um risco1 blazemortalidade três vezes maior do que pacientes que só têm tuberculose.
A ameaça da tuberculose latente
A tuberculose é causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, que quase sempre afeta os pulmões, mas pode afetar outras partes do corpo.
A OMS explica que a infecção é transmitida1 blazepessoa para pessoa pelo ar. Quando alguém com tuberculose pulmonar tosse, espirra ou cospe, ela expele bacilos para o ar. E basta uma pessoa inalar alguns desses bacilos para se infectar.Cerca1 blaze25% das pessoas no planeta estão infectadas com o bacilo da tuberculose, segundo a OMS. A tuberculose latente pode ser detectada com um exame1 blazepele ou sangue.
Para a maioria das pessoas que respiram a bactéria da tuberculose e ficam infectadas, seus corpos podem lutar contra as bactérias e impedir que se multipliquem.
Embora não apresentem sintomas1 blazedoença ou transmitam a infecção, essas pessoas têm um risco ao longo da vida1 blazeadoecer com tuberculose entre 5% e 15%.
Pessoas imunossuprimidas, por exemplo, as que vivem com HIV ou sofrem1 blazedesnutrição ou diabetes, bem como usuários1 blazetabaco, correm um risco "muito maior"1 blazeadoecer,1 blazeacordo com a OMS.
"A tuberculose latente significa aquela pessoa que num determinado momento se infectou, mas as defesas do seu corpo a protegeram, tem a tuberculose dentro do corpo e, graças às suas defesas, não desenvolve a doença; é como se a tuberculose estivesse dormindo ou hibernando", explica Leonid Lecca, diretor no Peru da Socios En Salud, uma ONG com sede nos Estados Unidos, e instrutor do Departamento1 blazeSaúde Global e Medicina Social da Universidade1 blazeHarvard.
"O problema é que se esse grupo1 blazepessoas não estiver protegido,1 blazealgum momento da vida, quando suas defesas forem reduzidas (por exemplo, devido à má nutrição), o germe pode 'acordar' e causar a tuberculose."
"É por isso que há duas mensagens aqui: combater os determinantes sociais (pobreza, desnutrição) e proteger as pessoas1 blazerisco1 blazetuberculose (com terapia preventiva contra a tuberculose)."
No caso da Argentina "estima-se que 30% da população tenha uma infecção latente e que, nos imunocompetentes, a possibilidade dessa infecção se transformar1 blazedoença é1 blaze10%", explica Marcela Natiello, coordenadora do programa contra tuberculose e hanseníase do Ministério da Saúde do país.
A especialista argentino destacou que correm o maior risco as pessoas que por alguma causa fisiológica ou adquirida tenham alteração do sistema imunológico (gestantes, crianças, desnutridas, com tratamento imunossupressor, HIV, etc.).
"A tuberculose latente pode ser tratada1 blazealgumas situações para evitar que se transforme1 blazedoença", diz ela.
"Em nosso país, a maior fonte1 blazecontágio se deve à exposição a casos contagiosos, sendo necessário que os pacientes possam terminar o tratamento e fazer um controle adequado dos contatos."
Até 13 milhões1 blazepessoas nos Estados Unidos podem ter uma infecção latente1 blazetuberculose,1 blazeacordo com o Centro para Controle e Prevenção1 blazeDoenças (CDC).
A mesma agência indica que mais1 blaze80% das pessoas que adoecem com tuberculose nos Estados Unidos tiveram uma infecção tuberculosa latente que não foi tratada.
Evitável, mas letal
O CDC diz que as pessoas com infecção latente1 blazetuberculose devem ser tratadas para evitar que desenvolvam a doença.
O tratamento preventivo varia1 blazeacordo com o país, e os padrões1 blazeterapia preventiva foram atualizados pela OMS1 blaze2020, explica Lecca.
"Por exemplo, um tratamento muito bom seria três meses1 blazeisoniazida mais (o antibiótico) rifapentina semanalmente durante três meses, mas infelizmente a rifapentina é acessível a poucos países. O Peru, por exemplo, não tem acesso a esse medicamento e usa um regime1 blazeisoniazida apenas por seis meses diariamente."
Depois que as pessoas desenvolvem a doença, a taxa1 blazemortalidade pode ser alta.
A OMS destaca que sem tratamento adequado,1 blazemédia 45% das pessoas soronegativas com tuberculose e praticamente todas as pessoas soropositivas com tuberculose morrerão.
Cerca1 blaze85% das pessoas que desenvolvem tuberculose podem ser tratadas com sucesso com medicamentos como a rifampicina, administrados por um período1 blazeseis meses.
Embora demore alguns meses para se curar, uma pessoa com tuberculose deixa1 blazeser contagiosa1 blazemédia 15 dias após o início do tratamento.
Mas o aumento global da tuberculose resistente é uma grande ameaça à saúde pública e requer um tratamento mais caro e prolongado.
Globalmente, cerca1 blazemeio milhão1 blazepessoas desenvolveram tuberculose resistente à rifampicina1 blaze2019, das quais mais1 blaze70% tinham tuberculose multirresistente,1 blazeacordo com a OMS.
Tuberculose no continente americano
A maioria dos casos1 blazetuberculose1 blaze2019 ocorreu no sudeste da Ásia e na África. O continente americano representou 2,9% do total.
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o braço da OMS nas Américas, estimou 289 mil casos1 blazetuberculose1 blaze2019 nas Américas, dos quais cerca1 blaze15 mil eram pessoas com menos1 blaze15 anos.
A OPAS estima que a tuberculose matou 22,9 mil pessoas na região1 blaze2019, das quais 26% estavam infectadas com HIV.
"A região das Américas tem um grupo dos chamados países1 blazealta carga que são liderados por Brasil, Peru, México, Colômbia e Haiti, com 69% dos casos1 blazetuberculose para 2019", diz Rafael López Olarte, especialista da OPAS para prevenção, controle e eliminação da tuberculose.
"Em relação à tuberculose resistente a medicamentos, Peru e Brasil respondem por 52%1 blazetodos os casos no continente."
Embora a incidência1 blazetuberculose1 blazetodo o mundo tenha diminuído, entre 2017 e 2018, o número1 blazecasos nas Américas aumentou 2,5%.
Em sete países da região, foi observado um aumento na taxa1 blazeincidência relatada entre 2014 e 2018,1 blaze82% na Venezuela, 58%1 blazeEl Salvador, 6% no Brasil e México e 5% na Argentina.
O aumento da incidência na região se deve, por um lado, à utilização1 blazemétodos diagnósticos mais sensíveis.
Mas a OPAS afirma que também se deveu à "persistente deterioração das condições socioeconômicas e à fragmentação dos sistemas1 blazesaúde", entre outras causas.
O impacto da pandemia
Pouco mais1 blazeum ano após o início da pandemia, seu impacto é muito pior do que o projetado,1 blazeacordo com a Stop TB Partnership.
Nove países, responsáveis por 60% dos casos globais, viram uma redução drástica,1 blazeaté 41%, no diagnóstico e tratamento1 blazeinfecções por tuberculose1 blaze2020. São eles: Bangladesh, Índia, Indonésia, Mianmar, Paquistão, Filipinas, África do Sul, Tajiquistão e Ucrânia.
A queda significa um retorno a níveis não vistos nesses países desde 2008, um retrocesso1 blaze12 anos.
"Doze anos1 blazeprogresso impressionante foram tragicamente revertidos por outra infecção respiratória", diz Lucica Ditiu, presidente da End TB Partnership. "Nesse processo, colocamos a vida1 blazemilhões1 blazepessoas1 blazeperigo."
No continente americano, o impacto da pandemia foi sentido na queda na oferta1 blazeserviços1 blazedetecção, tratamento e monitoramento1 blazepacientes com tuberculose, diz Olarte.
"O diagnóstico e a notificação1 blazenovos casos diminuíram cerca1 blaze15-20%1 blazemédia na região1 blazerelação a 2019 segundo dados preliminares, que indicam casos não diagnosticados pelos serviços1 blazesaúde e a continuidade na transmissão", disse o especialista da OPAS.
"A transmissão intradomiciliar1 blazepessoas ainda não diagnosticadas, dada a situação1 blazeconfinamento, é preocupante."
O caso do peru
O Peru é o segundo país do continente americano com maior incidência1 blazetuberculose depois do Haiti,1 blazenúmero1 blazenovos casos por ano a cada 100 mil habitantes.
"É preciso entender que a tuberculose, além1 blazeser um problema médico, é um problema social. Isso significa que requer um enfoque multissetorial, e esse é o grande desafio para1 blazeresposta1 blazetodos os países, inclusive no Peru", diz Lecca.
"Uma família com alguém afetado pela tuberculose não só enfrenta a doença, mas também geralmente a pobreza, as condições insalubres, a superlotação, o estigma e a discriminação."
No Peru, a doença está concentrada principalmente nas áreas urbanas e periferias dos bairros mais pobres e marginais, "onde coexistem pobreza, superlotação e má nutrição", acrescenta o especialista peruano.
O país também enfrenta o grande desafio com a tuberculose resistente. "O Peru infelizmente ocupa o primeiro lugar nas Américas1 blazecasos1 blazetuberculose resistente. É um problema muito sério porque requer medicamentos melhores e mais caros, além1 blazeapoio integral aos pacientes, já que são tratamentos que duram muitos meses."
O tratamento integral não inclui apenas os comprimidos, mas também o apoio emocional e socioeconômico aos pacientes para que não abandonem o regime1 blazecuidados.
"Infelizmente, no Peru, atualmente apenas cinco ou seis1 blazecada dez casos1 blazetuberculose multirresistente (TB MDR) são curados, e 2 a 3 abandonam o tratamento."
A Socios en Salud está no Peru há 25 anos e tratou mais1 blaze12 mil casos1 blazetuberculose multirresistente1 blazeparceria com o Ministério da Saúde.
Novos testes e inteligência artificial
Um dos avanços no Peru foi a incorporação1 blazeum método1 blazediagnóstico molecular mais sensível, denominado GeneXpert, embora apenas1 blazealguns lugares.
Outro aspecto crucial, segundo Lecca, é a busca ativa da tuberculose, ou seja, ir às comunidades para identificar possíveis casos.
"É uma estratégia com ótimos resultados. Encontramos casos precoces e oportunos na comunidade, incluindo pessoas sem sintomas respiratórios (13% dos casos)."
A equipe identifica locais da comunidade onde sempre houve casos1 blazetuberculose, explica o especialista, oferece radiografia1 blazetórax gratuita para toda a comunidade (e não apenas para quem tem sintomas respiratórios) e usa software1 blazeleitura automatizada baseado1 blazeinteligência artificial para analisar o raio-x.
"Isso evita o erro humano e, muitas vezes, também a falta1 blazepessoal1 blazesaúde treinado para ler os raios-X."Casos com radiografia anormal passam por um segundo teste, o teste molecular GeneXpert.
O caso da Argentina
A tuberculose na Argentina continua sendo um importante problema1 blazesaúde pública e com tendência1 blazeaumento nos últimos anos, segundo Natiello.
"Desde 2013, a queda dos casos parou e, a partir1 blaze2014, a curva se inverteu, com um aumento aproximado1 blaze20% nos últimos cinco anos."
"Este aumento coincide com o aumento da pobreza1 blazenosso país e a deterioração das condições1 blazevida."
A tuberculose na Argentina atinge principalmente grupos1 blazejovens, com significativa concentração nos grandes centros urbanos, disse a especialista.
"60% dos casos residem na região metropolitana1 blazeBuenos Aires. Em grande parte, o padrão epidemiológico responde aos problemas das grandes cidades, afetando principalmente populações que vivem1 blazesituação1 blazevulnerabilidade, aglomeradas,1 blazeambientes sem ventilação, mal nutridas e com dificuldades1 blazeacesso à saúde devido a diferentes tipos1 blazebarreiras (fragmentação do sistema1 blazesaúde, cultural, econômica, trabalhista, etc.)."
Outros grupos altamente afetados pela doença são pessoas privadas1 blazeliberdade, imigrantes e populações indígenas, principalmente no norte do país.
Em relação ao impacto da pandemia, "constatou-se que um1 blazecada três casos com tuberculose ativa e covid-19 requer hospitalização, e o risco1 blazemorrer é 3,6 vezes maior neste grupo do que na população1 blazegeral."
Houve aproximadamente 30% menos notificações preliminares1 blazenovos casos1 blaze2020 na Argentina do que1 blaze2019,1 blazeacordo com Natiello.
'Pode afetar a todos nós'
A estratégia da ONU para o fim da tuberculose visa reduzir as mortes por infecção1 blaze95% e reduzir os novos casos1 blaze90% entre 2015 e 2035.
Mas essa é uma meta distante, já que milhões1 blazepessoas1 blazetodo o mundo ainda não têm acesso a um diagnóstico ou tratamento rápido.
Natiello recorda que "a tuberculose é uma doença evitável, tratável e curável com seis meses1 blazetratamento na maioria dos casos".
"Se tivermos contato repetido com uma pessoa doente, podemos desenvolver a doença até meses ou anos após a exposição."
"Qualquer pessoa que tiver tosse e expectoração com ou sem eliminação1 blazesangue por 15 dias pode fazer um estudo1 blazeresfriado para descartar a doença."
"Por décadas, a tuberculose tem sido uma doença negligenciada, então, ao contrário1 blazeoutros problemas1 blazesaúde, não temos boas ferramentas1 blazediagnóstico ou muitos novos medicamentos", diz Lecca.
"A infecção é muito semelhante à covid-19, e não estamos fazendo muita coisa para controlá-la. Precisamos nos conscientizar1 blazeque a tuberculose é uma doença que pode afetar a todos nós".
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