'Sofri bullying e ouvi piadas horríveis sobre como ela morreu': o trauma e a impotênciabrazino777 logincrescer com uma mãe alcoólatra:brazino777 login

Crédito, Arquivo pessoal / Becky Ellis Hamilton

Legenda da foto, Becky ao lado da mãe na infância

Enquanto se arrumava, Pat sentou no vaso sanitário para a filha colocar delicadamente suas lentesbrazino777 logincontato —brazino777 loginseguida, a menina passou suavemente uma sombra lilás e batom rosa na mãe.

Pat era uma mulher alta, bonita e parecia jovem aos 53 anos, diz Becky.

A mãe estava animada naquela noite, tentando brincar e fazer piadas. Mas a filha estava chateada com ela.

"Estava muito frustrada. Só queria dizer: 'Eu sei que você tem bebido, por que está fazendo isso? Há anos que não bebe'", recorda.

Mas ela não disse nada.

E, com a maquiagem pronta, Pat deu um beijobrazino777 logindespedidabrazino777 loginBecky e saiu.

Garrafas escondidas

Desde muito pequena, ela sabia que a mãe bebia — embora Pat não bebesse na frente dela e nunca falasse sobre o assunto.

Becky ainda se lembra do cheiro que pairavabrazino777 logintorno da mãe, um cheiro que parecia vazar por seus poros.

"Dava para perceber na hora, ela simplesmente mudou, assim que começou a beber, ela se perdeu", diz.

Crédito, Arquivo pessoal / Becky Ellis Hamilton

Legenda da foto, Pat quando era jovem

Pat escondia garrafasbrazino777 loginvodcabrazino777 loginvários lugares da casa. Debaixo do colchão, entre as toalhas no armário, na descarga do banheiro.

Ela bebia escondido até cinco dias por semana.

Quando Becky encontrava uma das garrafas escondidas da mãe, ela derramava a vodca e substituía por água. Em seguida, devolvia a garrafa cuidadosamente ao seu esconderijo. Mas nenhuma das duas falava sobre isso.

Havia uma regra tácita na família: não tocar no assunto.

Proteção

"Eu não queria colocar minha mãebrazino777 loginperigo. Tinha medobrazino777 loginque alguém descobrisse e me afastasse dela. Eu sabia que minha mãe precisavabrazino777 loginmim", diz Becky.

Ela sentia que erabrazino777 loginresponsabilidade protegê-la.

"Se eu não estivesse lá, minha avó não conseguiria."

Becky nem sequer chegou a contar aos amigos mais próximos o que estava acontecendo — e só os convidava para dormir nabrazino777 logincasa nos finsbrazino777 loginsemana, quandobrazino777 loginmãe estava fora.

"Era um arranjo que não havia sido discutido, mas que convinha a todos", explica.

Na verdade, as únicas pessoas que Becky escutou falar sobre o problema da mãe com a bebida forambrazino777 loginavó e suas meia-irmãs, filhas do primeiro casamentobrazino777 loginPat. Elas eram muito mais velhas e foram morar com o pai após a separação.

"Acho que minha avó tinha vergonha, não da minha mãe, apenas do estigma. Ninguém sabia o que fazer com a minha mãe e simplesmente não existia o apoio que há agora."

"Minha mãe era alcoólatra e isso era um grande segredo", conclui.

Crédito, Arquivo pessoal / Becky Ellis Hamilton

Legenda da foto, Becky, aos 6 anos,brazino777 loginuma viagem com a mãe

Becky se acostumou com o comportamento imprevisívelbrazino777 loginPat. Encontrarbrazino777 loginmãe vomitando ou inconsciente não era incomum.

E se acostumou com as decepções. Uma noite, ela e a avó foram buscar Pat no trabalho — uma lojabrazino777 loginroupas íntimas — para ver as luzesbrazino777 loginNatal, mas a empolgação da filha logo foi embora quando viu o olhar da mãe e ouviubrazino777 loginvoz arrastada.

Às vezes, nas noitesbrazino777 loginque a avó jogava bingo, Becky ficava sozinha com a mãe depois da escola e fazia o possível para tentar manter a mãe longe da bebida.

"Eu ficava sempre preocupada e constantemente nervosa, porque uma vez que ela tomasse uma taça, era o fim, eu tinha que ficarbrazino777 loginalerta, cuidando dela a noite toda", afirma.

Quando Pat percebia que não havia álcoolbrazino777 logincasa, pedia à filha que a acompanhasse até o mercado.

"Quando voltávamos e no meio do caminho ela dizia: 'Ah, esqueci uma coisa, espera aqui', eu sabia que ela voltaria por causa do álcool", lembra Becky.

Silêncio

Às vezes, quando Pat estava embriagada, ela chorava, dizia à filha que só queria ser amada e repassava todas as coisas ruins que haviam acontecido com ela. A menina ficava ouvindo e garantia à mãe que a amava.

Na sequência, ela tentava convencer a mãe a ir para a cama.

"Quando morávamos na casa da minha avó, eu dividia o quarto com a minha mãe, então eu tinha que deitar na cama com ela e esperar ela adormecer. Depois, saíabrazino777 loginfininho e ligava para minha irmã do telefone no corredor", recorda.

Mas, se Pat acordasse, ficava irritada ao perceber que Becky não estava lá.

"Ela começava a chorar e dizer: 'Você não me ama' ou 'você vai me deixar'. Então eu tinha que voltar para a cama e começar tudobrazino777 loginnovo", revela.

Quando a mãe adormecia ou desmaiava bebendo, Becky se sentia desconfortável demais para dormir, mesmo que já fosse tarde e ela estivesse cansada. De vezbrazino777 loginquando, ela segurava um pequeno espelho na frente do rosto da mãe para verificar se ela ainda estava respirando.

Na manhã seguinte, ainda cheirando a álcool, Pat agia como se nada tivesse acontecido.

"Ele me dava um abraço se sabia que havia feito algobrazino777 loginerrado, que havia me aborrecido ou algo dramático havia acontecido na noite anterior", recorda.

Segundo a filha, essa era a maneirabrazino777 loginPat reconhecer o que havia feito sem tocar no assunto.

"Era estranho, para ser honesta, era como se ela fosse uma pessoa diferente."

Quando estava sóbria, Pat era "a mãe mais incrível e perfeita".

"Tão amável, divertida, engraçada", acrescenta Becky.

E houve períodosbrazino777 loginque ela se saiu relativamente bem, reduzindo o consumobrazino777 loginálcool.

Passado doloroso

Independentementebrazino777 loginquanto tempo ela tenham passadobrazino777 loginclínicasbrazino777 loginreabilitação (em uma dessas ocasiões, disseram a Becky quebrazino777 loginmãe "ficaria na casabrazino777 loginum amigo"), ou quanta forçabrazino777 loginvontade ela tenha reunido para ficar longe da bebida, Pat parecia não conseguir afugentar os demônios que a levaram a se automedicar.

"Quando ela estava bêbada, me contava como foi abusada na infância e dizia que havia sido alguém da família", revela Becky.

Às vezes, as coisas ficavam tão difíceis para Pat que ela tentava acabar com tudo.

Becky se lembrabrazino777 loginpelo menos três tentativasbrazino777 loginsuicídio — e acredita que a mãe provavelmente tenha tentado várias vezes antesbrazino777 loginela nascer.

"Tenho certezabrazino777 loginque houve mais, minha mamãe chegou a um pontobrazino777 logindesespero", diz ela.

Uma noite, quando Becky era criança, não devia ter nem sequer 5 anos, suas irmãs estavam passando o fimbrazino777 loginsemana na casa dela e seu pai havia saído.

"Mamãe começou a beber, ficou num estado crítico e desapareceu com um montebrazino777 logincomprimidos", lembra a filha.

Ela conta que não conseguiram encontrá-la, então as irmãsbrazino777 loginBecky foram procurar o pai dela.

"Lembro que me colocaram no carrinhobrazino777 loginboneca e meu pai falou: 'Levem ela para a casa dabrazino777 loginavó'", relata.

Elas saíram caminhando,brazino777 loginmeio à escuridão, e Becky se lembrabrazino777 loginter visto uma ambulância.

Pat foi encontrada caída no bancobrazino777 loginum parque e levada com urgência para o hospital. Quando teve alta, ninguém explicou a Becky o que havia acontecido, tampouco comentaram nada a respeito.

A luta

Embora o casamento dos pais não tenha durado ebrazino777 loginmãe não tenha parado completamentebrazino777 loginbeber, quando Becky tinha 13 anos ela achou que as coisas estavam melhorando. A mãe tinha arrumado um namorado bacana, Brian, e só bebia nos finsbrazino777 loginsemana, quando estava na casa dele.

"Tenho mais lembranças felizes dela nessa época", diz a filha.

O fatobrazino777 loginPat ter conhecido alguém que realmente se importava com ela, combrazino777 loginfilha ebrazino777 loginmãe, "deu a ela ainda mais motivos para tentar", avalia Becky.

Em um desses diasbrazino777 loginsobriedade, ela viu a mãe deixar uma marca positivabrazino777 loginseu diário. Como aquela que os professores colocam quando um exercício está correto.

"Não falamos sobre isso, mas me lembrobrazino777 logintê-la visto contar até 10. Ebrazino777 loginficar muito feliz que finalmente a minha mãe estava melhorando. Eu pensei: 'Sim! Ela conseguiu.'

Mas logo depois algo mudou. As marcas no diário se transformarambrazino777 loginpontosbrazino777 logininterrogação. Pat estava bebendo novamente.

Naquele sábado à noite, depois que Becky terminoubrazino777 loginmaquiar a mãe, ela foi para a casabrazino777 loginBrian. É possível que tenha bebido mais no caminho, diz a filha, já que Brian disse a ela para dormir e saiu sozinho.

Crédito, Arquivo pessoal / Becky Ellis Hamilton

Legenda da foto, Pat tentou pararbrazino777 loginbeber quando começou a namorar Brian

Na manhã seguinte, por volta das seis ou sete horas, o telefone tocou e a avó acordou Becky.

"Acorda, Becky. Tua mãe se matou", ela gritava sem parar.

Becky saiu correndo até a casabrazino777 loginBrian. E parou na rua quando viu as ambulâncias. Estava descalça e apenasbrazino777 logincamisola.

"Foi como uma espéciebrazino777 loginsonho, mas eu sabia que isso ia acontecer, estava me preparando", relata.

Segundo ela, Pat sofreu uma falênciabrazino777 loginórgãos grave e desabou no chão da casabrazino777 loginBrian, morrendo "quase instantaneamente".

A mãe tinha níveis extremamente altosbrazino777 loginálcool na corrente sanguínea, e um legista atestou morte acidental.

"Parece horrível, mas você fica um pouco entorpecido porque teve que fazer carabrazino777 logincorajosa desde que era criança", diz Becky.

"É triste, mas essa era a minha realidade."

O jornal local Scunthorpe Telegraph publicou um artigo sobre a mortebrazino777 loginPat pouco depois.

"Nenhum dos meus amigos sabiabrazino777 loginnada até ela morrer, mas isso me colocoubrazino777 loginuma posição na qual me via obrigada a aceitar que tínhamos esse enorme segredo que eu considerava normal", diz Becky.

Quando ela voltou para a escola, todo mundo sabia.

"Sofri um poucobrazino777 loginbullying e ouvi algumas piadas horríveis sobre minha mãe e como ela morreu. E as pessoas diziam que a culpa era minha", recorda.

Becky conta que faltou apoio formal da escola.

"Teve um professor que me puxou num canto um dia e perguntou o que estava acontecendo — então eu sempre recorria a ele quando começava a me sentir mal."

Lidar com a morte

No diabrazino777 loginque Becky desmaiou na aulabrazino777 loginmatemática, a professora sabia exatamente o que estava acontecendo (era o primeiro aniversário da morte da mãe).

"Eu não sabia como lidar com a situação nem o que fazer. Simplesmente não conseguia processar, era horrível", afirma.

Para ela, a vida giravabrazino777 logintornobrazino777 logincuidar da mãe — e agora ela havia partido.

Anos depois, Becky ainda está processando a perda. Ela se sente frustrada com o "silêncio tóxico" que rondou tanto o abuso que Pat sofreu na infância quanto seu subsequente alcoolismo. Mas ela não culpa ninguém.

"Era algo geracional na época", diz.

Crédito, Arquivo pessoal / Becky Ellis Hamilton

Legenda da foto, Becky, muitos anos depois, com o marido Jay

Becky gostariabrazino777 loginter conversado com a mãe ou procurado ajuda para elabrazino777 loginoutro lugar.

"Provavelmente, meu único arrependimento é não ter feito isso."

"Na época, não me atrevi porque tinha botado na cabeça que se falasse com ela sobre isso, só iria piorar (a situação). Mas se eu tivesse falado com alguémbrazino777 loginfora do círculo familiar, talvez eu tivesse tido força para conversar com ela, e conversar poderia ter sido tudo o que era necessário."

Vida adulta

Já se passaram quase 18 anos desde que Pat morreu, e estar pertobrazino777 loginpessoas alcoolizadas ainda deixa Becky desconfortável.

"Eu fico assustada e então me torno muito controladora, porque sinto que tenho que assumir esse papel maternal. Não consigo relaxar ou pararbrazino777 logintomar conta, fico hiperconsciente", diz ela.

Há dois anos, na véspera do seu casamento, o noivobrazino777 loginBecky, Jay, estava comemorando com alguns drinques.

"Percebi que era um gatilho para mim e deixei isso arruinar o dia seguinte", diz ela.

Jay não bebe álcool desde então.

"Ele tem sido incrível", afirma Becky.

E, desde novembro do ano passado, ela também parou — na verdade, ela nunca bebeu com frequência porque sempre teve medo, no fundo,brazino777 loginacabar como a mãe.

Pouco depois da mortebrazino777 loginPat, Becky foi diagnosticada com transtorno bipolar e, embora sempre tenha tomado seus medicamentos, não estava realmente se cuidando.

Então, dois anos atrás, na épocabrazino777 loginseu casamento com Jay, ela percebeu que precisavabrazino777 loginajuda, tanto para a depressão quanto para ser capazbrazino777 loginprocessar o trauma que viveu na infância.

Por meiobrazino777 loginpesquisas, ela descobriu organizações que apoiam pessoas que cresceram com pais alcoólatras.

"Achava que era a única pessoa que encontrava garrafasbrazino777 loginvodca na descarga do banheiro até descobrir essa comunidade e conversar com pessoas que passaram pela mesma situação", afirma.

E isso tirou um grande pesobrazino777 logincima dela.

Becky agora tem uma redebrazino777 loginpessoas com quem pode conversar e que se identificam com suas experiênciasbrazino777 logininfância. Ela também descobriu um novo propósito por meio do treinamento para apoiar dependentesbrazino777 loginsuas próprias jornadasbrazino777 loginrecuperação.

"Eu me encontrei e minha confiança cresceu", diz ela.

Becky ressalta que a mãe gostaria que ela fizesse o que a deixa feliz.

"E o que me deixa feliz é ajudar pessoas como ela."

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