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'PIB cresce, mas destrói biodiversidade': economista ecológico propõe mudar forma como medimos nossa produçãopixbet365 originalriqueza:pixbet365 original
Martínez Alier conquistou o Balzan pela "excepcional qualidade das suas contribuições para a criação da economia ecológica", entre outras razões.
Leia a seguir a entrevista realizada pela BBC News Mundo, serviçopixbet365 originalespanhol da BBC, feita com ele.
pixbet365 original BBC News Mundo - O que é exatamente economia ecológica?
pixbet365 original Joan Martínez Alier - É uma crítica à ciência econômica tradicional. Há dois pontos principais: você precisa olhar a economia fisicamente, contar os fluxospixbet365 originalenergia e matéria-prima (em calorias, joules e toneladas) e não dar importância ao Produto Interno Bruto (PIB), que mistura o que é produção com o que é destruição. O PIB cresce, mas destrói a biodiversidade. Usa carvão, petróleo e gás que produzem excessopixbet365 originaldióxidopixbet365 originalcarbono e, consequentemente, as mudanças climáticas. Os danos não são subtraídos do PIB.
pixbet365 original BBC News Mundo - Por que a economia e a ecologia tradicionalmente se dão tão mal?
pixbet365 original Alier - Porque, quando a economia industrial cresce, os ecossistemas são destruídos.
pixbet365 original BBC News Mundo - Você se considera mais economista ou ecologista?
pixbet365 original Alier - Sou um economista ecológico, um dos fundadores da Sociedade Internacionalpixbet365 originalEconomia Ecológicapixbet365 original1990, autor jápixbet365 original1987 do livro Economia Ecológica (em inglês, espanhol, japonês etc.) e cofundador das revistas Ecological Economics e Ecología Políticapixbet365 original1990.
pixbet365 original BBC News Mundo - O atual modelo econômico está claramente exacerbando o problema das mudanças climáticas e da deterioração do meio ambiente. Como a economia ecológica pode ajudar nesse sentido?
pixbet365 original Alier - Mudando a forma como medimos o que fazemos e diminuindo a importância do que dizem os economistas, que mandam demais na política.
pixbet365 original BBC News Mundo - Desde 2012, você lidera o projeto Atlas da Justiça Ambiental, um levantamento que reúne os conflitos ambientais que existem no mundo e que somam atualmente 3.310. O que gera esses conflitos?
pixbet365 original Alier - Precisamente o fatopixbet365 originalque a economia industrial não é, e tampouco pode ser, circular, mas sim entrópica. Ela busca continuamente novas matérias-primas nas fronteiraspixbet365 originalextração, da Amazônia ao Ártico. Seja petróleo, carvão, gás natural, minériopixbet365 originalferro, cobre, soja, eucalipto para celulose, o que for...
Como se sabe, se você queimar carvão ou óleo, não pode queimar duas vezes, não é reciclável. Isso é o que queremos dizer com a expressão mais fundamental da economia ecológica: a economia industrial não é circular, mas entrópica. A entropia é uma palavrapixbet365 originalorigem grega que os físicos começaram a usar por voltapixbet365 original1870 para provar que a energia não se recicla.
Quando a economia industrial estápixbet365 originalcurso, ela inevitavelmente perde energia e matéria-prima. E isso acontece porque a energia que usamos há 200 anos — petróleo, carvão e gás natural — só pode ser usada uma vez.
Vou te dar um exemplo: se você esquentar água napixbet365 originalcozinha e deixar ferver, pouco tempo depoispixbet365 originaldesligar o fogão, a água esfria, e para requentá-la, é preciso ligar o fogão novamente. Isso acontece porque a energia se dissipa. E o mesmo acontece com as matérias-primas.
O alumínio, por exemplo, é obtido por meiopixbet365 originaluma rocha chamada bauxita, que é bombardeada com muita eletricidade. O alumínio é usado, entre outras coisas,pixbet365 originallataspixbet365 originalconserva, das quais apenas 10% a 20% são recicladas, e no casopixbet365 originaloutras matérias-primas, o percentual é bem menor. Os materiaispixbet365 originalconstrução usadospixbet365 originalobras quase não são reciclados.
Além disso, deve-se terpixbet365 originalmente que, ao queimar combustíveis fósseis como carvão, gás ou petróleo, produzimos dióxidopixbet365 originalcarbono. E estamos colocando tanto CO2 na atmosfera que ele está se acumulando e produzindo o chamado efeito estufa.
O embate entre economistas ecológicos e economistas acontece porque os economistas agem como se não soubessempixbet365 originalnada disso. Eles falam, por exemplo,pixbet365 originalcrescimento econômico, quando as reservaspixbet365 originalpetróleo e gás diminuem, o efeito estufa aumenta e a biodiversidade desaparece.
pixbet365 original BBC News Mundo - Quais são os conflitos ambientais mais urgentes?
pixbet365 original Alier - Acredito que são aqueles que acontecem onde há população mais vulnerável, população indígena, gente pobre que não tem poder político para se defender das empresas extrativistas. O pior que eu vi foi a exploraçãopixbet365 originalpetróleo da Chevron-Texaco no Equador e da Shell no Delta do Níger, na Nigéria. Mas há centenaspixbet365 originalcasos semelhantes.
pixbet365 original BBC News Mundo - Você prevê que os conflitos ambientais vão continuar crescendo nos próximos anos? Quais serão os mais relevantes?
pixbet365 original Alier - Acho que vão seguir aumentando. As fronteiras da extração e da poluição continuam avançando. Chegam a territórios onde há pessoas, que protestam. Em 22pixbet365 originaloutubro, mataram uma senhora ecologista, Fikile Ntshangase,pixbet365 originalSomkhele, na região sul-africanapixbet365 originalKwaZulu-Natal.
Centenaspixbet365 originalambientalistas são vítimas todos os anos, não acho que o número vai diminuir. Mas, se tornarmos esses conflitos mais visíveis, talvez possamos ajudar a reduzir a repressão contra ambientalistaspixbet365 originalalguns países.
pixbet365 original BBC News Mundo - Nos últimos 120 anos, a população humana quintuplicou, enquanto a quantidadepixbet365 originalprodutos usados por ano pela economia global no processopixbet365 originalprodução (da biomassa aos combustíveis fósseis, passando por materiaispixbet365 originalconstrução e metais) aumentou quase 13 vezes. O que isso significa e quais são as consequências?
pixbet365 original Alier - Obviamente, a economia não se "desmaterializa", muito pelo contrário. É um bom sinal que o crescimento da população se freie por conta própria— a população humana atingirá um picopixbet365 originalcercapixbet365 original9,5 bilhõespixbet365 originalpessoas até 2060 e, então, diminuirá um pouco, me parece. Mas o consumo está crescendo muito mais do que a população, pelo menos até este ano pandêmicopixbet365 original2020.
pixbet365 original BBC News Mundo - Cada vez se recicla mais, há mais economia verde, mais economia circular, mais energias alternativas. Isso significa que estamos no caminho certo?
pixbet365 original Alier - É que não há mais do que isso, palavras. Há mais energia eólica e fotovoltaica, sem dúvida, mas globalmente elas se somam às fontes anteriores, carvão, petróleo, gás. O uso do carvão aumentou sete vezes no século 20 e continuou a crescer até 2020. Petróleo e gás, muito mais. A nível mundial.
pixbet365 original BBC News Mundo - A epidemiapixbet365 originalgripe espanholapixbet365 original1918 e 1919 deu lugar aos 'anos loucos'pixbet365 original1920. Será que devemos esperar um consumo desenfreado e selvagem depois que o coronavírus for derrotado? E, caso sim, que consequências isso teria do pontopixbet365 originalvista da economia ecológica?
pixbet365 original Alier - Acredito que a pandemia colocou a renda básica universal na mesa do debate político. Porque se a economia não cresce (e acredito que não deva crescer mesmo nos países ricos, porque é um crescimento falso), aumenta o desemprego. As pessoas não têm a renda dos salários. Portanto, você deve dar a elas uma renda que não seja provenientepixbet365 originalsalários. Isso deve ser garantido pelos governos federais ou regionais, uma Renda Básica Universal.
pixbet365 original BBC News Mundo - O confinamento mostrou que podemos viver consumindo muito menos e também resultoupixbet365 originalmelhorias para o meio ambiente, ao reduzir a produção e o impacto do homem na natureza. Devemos continuar nessa linha ou o consumo é necessário para sustentar o atual modelo econômico?
pixbet365 original Alier - É preciso aumentar o "consumo" socialpixbet365 originalassistência médica,pixbet365 originalhabitação popular. O consumo da moradia social deveria crescer, sem endividar as pessoas e sem despejos criminosos, não acha? O consumopixbet365 originalviagenspixbet365 originalavião deve diminuir. A agroecologia deve crescerpixbet365 originaldetrimento das monoculturas que usam agrotóxicos.
pixbet365 original BBC News Mundo - Você argumenta que a pandemia revelou que o PIB é um índicepixbet365 originalmedida com muitas deficiências. Que deficiências são essas napixbet365 originalopinião?
pixbet365 original Alier - O PIB se esquecepixbet365 originalcontabilizar o trabalho gratuitopixbet365 originalcuidar das pessoas, o afeto gratuito e as obrigações familiares e sociais gratuitas, isso não entra no somatório porque não se paga no mercado; tampouco o tomate ou o feijão que cultivo na minha horta, caso eu tenha uma, para consumo da minha família e amigos, isso não é somado. O PIB não adiciona atividades que são realizadas fora do mercado e não subtrai os danos ambientais. As empresas quase nunca pagam seus passivos ambientais, é óbvio.
pixbet365 original BBC News Mundo - E se o PIB não é um bom indicador, que índice deveria ser usado para avaliar a riqueza gerada por um país?
pixbet365 original Alier - Esta é fácil: devemos usar vários indicadores físicos e sociais. Não apenas um único índice. E não usar a expressão "riqueza gerada", porque colocar mais CO² na atmosfera e destruir a biodiversidade não é exatamente gerar riqueza vital.
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