Médicos brasileiros investigam mortescrazy time blaze como funcionacrianças por covid-19:crazy time blaze como funciona

Crédito, LuckyTD/Getty

"O estudo que a gente quer fazer seria mostrar o espectrocrazy time blaze como funcionapossíveis apresentações da covid gravecrazy time blaze como funcionacrianças que chegaram a morrer ecrazy time blaze como funcionaque pudemos fazer autópsia", diz Dolhnikoff que, ao lado do patologista Paulo Saldiva, coordena os estudoscrazy time blaze como funcionaautópsiacrazy time blaze como funcionaóbitos da covid na USP.

A Universidadecrazy time blaze como funcionaSão Paulo tem tradição no uso da autópsia como instrumentocrazy time blaze como funcionapesquisa e a equipe trabalhacrazy time blaze como funcionaritmo acelerado: explicar o que está levando as crianças pode ser crucial para que outras sejam salvas.

Entenda como a covid-19 se apresenta nas crianças, o que se sabe sobre os mecanismos que levaram algumas delas a morrer e por que médicos patologistas estão tendo um papel crítico no enfrentamento à pandemia.

Crédito, FMUSP

Legenda da foto, A equipe da FMUSP usa a autópsia minimamente invasiva guiada por ultrassom, um método que permite coletar tecidos com uma agulha, sem a abertura do corpo e com mínimos riscoscrazy time blaze como funcionacontaminação

Covid infantil 'clássica'

Para a pediatria, crianças são pacientes com até 18 anoscrazy time blaze como funcionaidade. Estudos indicam que este grupo, quando infectado pelo novo coronavírus, tende a ser assintomático (64,5%, segundo estudo recente realizado pela prefeituracrazy time blaze como funcionaSão Paulo) ou apresentar quadros levescrazy time blaze como funcionacovid-19.

Óbitos são raros. No Brasil, mortes nesse segmento representam um pouco mais do que 0,6% do totalcrazy time blaze como funcionaóbitos registrados.

Até abril, manifestações sintomáticas da doença identificadascrazy time blaze como funcionacrianças seguiam o padrão que é mais comumcrazy time blaze como funcionaadultos, onde o paciente apresenta doença respiratória.

A pediatra do Hospital das Clínicas Juliana Ferranti, coautora do estudocrazy time blaze como funcionacaso, explicoucrazy time blaze como funcionalinhas gerais como essa forma da covid-19 se manifesta:

"Os sintomas podem ser parecidos com os do adulto. Crianças podem apresentar quadros leves, com febre, tosse e desconforto respiratório. Outros sintomas, como mialgia, náuseas, vômitos e dorcrazy time blaze como funcionacabeça também podem estar presentes", escreveu a pediatracrazy time blaze como funcionae-mail para a BBC Brasil.

Essa forma, que podemos chamar mais "clássica" da covid-19 na criança crazy time blaze como funciona , tende a acometer pacientes com comorbidades, como câncer, por exemplo, explica a patologista Dolhnikoff.

"Uma criança morrer por insuficiência respiratória pela covid pode acontecer, mas são poucos casos", responde.

Mas a partir do finalcrazy time blaze como funcionaabril, começaram a surgir relatoscrazy time blaze como funcionauma manifestação atípica da doença — tambémcrazy time blaze como funcionacrianças sem comorbidades.

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, A patologista Marisa Dolhnikoff coordena, ao lado do também patologista Paulo Saldiva, os estudoscrazy time blaze como funcionaautópsia dos óbitos por covid-19 no Hospital das Clínicas da USP

SIM-P, a covid infantil atípica

Essa outra apresentação da covid-19crazy time blaze como funcionacrianças está sendo chamadacrazy time blaze como funcionaSíndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P).

"A Síndrome Inflamatória Multissistêmicacrazy time blaze como funcionacrianças é uma doençacrazy time blaze como funcionaque diferentes partes do corpo podem ficar inflamadas, incluindo o coração, os pulmões, os rins, pele, olhos e órgãos gastrointestinais", escreveu Ferranti.

Segundo a médica, essas crianças apresentam febre e uma sériecrazy time blaze como funcionaoutros sintomas, entre eles, dor abdominal, vômitos, diarreia, manchas na pele, olhos vermelhos e sensaçãocrazy time blaze como funcionacansaço.

O estudo publicado na revista Lancet Child and Adolescent Health descreve o casocrazy time blaze como funcionauma criançacrazy time blaze como funciona11 anos que morreu após apresentar um quadro gravecrazy time blaze como funcionaSIM-P.

"O mundo inteiro está falando sobre a síndrome inflamatória, uma apresentaçãocrazy time blaze como funcionaque as crianças podem ficar com quadro clínico grave, e algumas podem morrer", diz Marisa Dolhnikoff, autora principal do estudocrazy time blaze como funcionacaso.

"Quando ficam graves, é por doença no coração. Elas têm miocardite, uma disfunção cardíaca."

O estudo esclareceu uma questão que intrigava os especialistas: qual seria a relação entre o coronavírus e o quadro inflamatório sistêmico (incluindo a miocardite)?

A resposta está nas imagens abaixo.

A figura 1 mostra uma célula muscular cardíaca da criança cujo caso foi descrito no estudo. A imagem original foi produzidacrazy time blaze como funcionatons cinza, mas para melhor visualização, nesta imagem, o núcleo da célula está artificialmente coloridocrazy time blaze como funcionaazul.

Crédito, Elia Caldini/FMUSP

Legenda da foto, 'Há regiões nas quais as miofibrilas apresentam-se degeneradas, como pode ser visto na área delimitada pela linha vermelha. No caso dessa criança havia muitas células musculares cardíacas total ou parcialmente degeneradas'

Em e-mail para a BBC Brasil, a bióloga e professora da FMUSP Elia Caldini, responsável pelas imagens, explicou o que estamos vendo:

"A maior parte do citoplasma está preenchido por miofibrilas (que aparecem aqui como massas escuras). Ao se contraírem, as miofibrilas promovem o batimento cardíaco eficiente e regularcrazy time blaze como funcionaum coração normal."

Mas na figura 1 nota-se algo diferente: "Há regiões nas quais as miofibrilas apresentam-se degeneradas, como pode ser visto na área delimitada pela linha vermelha. No caso dessa criança havia muitas células musculares cardíacas total ou parcialmente degeneradas."

Quando as áreas degeneradas foram analisadas no microscópio eletrônico, com potencialcrazy time blaze como funcionaaumentocrazy time blaze como funcionamilharescrazy time blaze como funcionavezes, apareceram imagens como a figura 2:

Crédito, Elia Caldini/FMUSP

Legenda da foto, Imagem gerada por microscopia eletrônica revela 'a presençacrazy time blaze como funcionavírus com tamanho e formacrazy time blaze como funcionaSars-CoV-2 (indicados pelas setas) no interior das células musculares cardíacas lesadas'

Ela revela "a presençacrazy time blaze como funcionavírus com tamanho e formacrazy time blaze como funcionaSars-CoV-2 (indicados pelas setas) no interior das células musculares cardíacas lesadas", disse Caldini, que é chefe do Centrocrazy time blaze como funcionaMicroscopia Eletrônica da FMUSP.

Dolhnikoff explica por que a descoberta é importante:

"Nesse trabalho, mostramos que, na verdade, esse quadrocrazy time blaze como funcionainsuficiência cardíaca foi (causado) pela presença do virus no coração."

"O vírus está implicado como agente causal por dois mecanismos: primeiro, pela lesão direta nos tecidos, segundo, pela resposta inflamatória local (no coração) e sistêmica."

"Fomos o primeiro grupo a fazer a relação direta entre a presença do virus no coração causando uma inflamação no coração que levou ao óbito da criança."

A SIM-Pcrazy time blaze como funcionanúmeros

O númerocrazy time blaze como funcionacasos registrados da SIM-P no mundo é pequeno.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Sociedades pediátricas lançam alertas para que médicos não deixemcrazy time blaze como funcionadiagnosticar a covid-19 atípica, SIM-P

Nos Estados Unidos, país com o maior índicecrazy time blaze como funcionapessoas infectadas pelo coronavírus, o Centro para o Controlecrazy time blaze como funcionaDoenças (CDC) registrou, até o iníciocrazy time blaze como funcionasetembro, 792 casos da síndrome e 16 mortes.

No Brasil, são pouco maiscrazy time blaze como funcionacem registros, diz Dolhnikoff.

"Estou falandocrazy time blaze como funcionaregistros da síndrome, não óbitos. Óbitos são 2 ou 3% disso."

"São poucos casos, não podemos ser alarmistas", ela diz. "Mas as sociedades pediátricas no mundo estão lançando alertas para as comunidades médicas, para que se atentem a esse tipocrazy time blaze como funcionaapresentação atípica da covid-19. Para que façam a testagem, para que não deixemcrazy time blaze como funcionadiagnosticar a doença."

A contribuição da patologia

A covid-19 trouxe para a bocacrazy time blaze como funcionacena um tipocrazy time blaze como funcionamédico que não trata o paciente, ele trabalha nos bastidores: o patologista. E a razãocrazy time blaze como funcionaser da patologia, diz Dolhnikoff, é entender o mecanismo por trás da doença.

"Sempre que você tem um melhor entendimento, tem condiçõescrazy time blaze como funcionapropor um melhor tratamento."

Uma das ferramentas usadas pelo patologista é a autópsia, ou seja, o exame do cadáver. E é nessa área que Dolhnikoff e equipe se sentem bem posicionados para fazer uma contribuição.

"Aqui na USP, a autópsia virou instrumentocrazy time blaze como funcionapesquisa científica. Somos um dos maiores centroscrazy time blaze como funcionaautópsia do mundo."

O grupo redobrou seus esforços e trabalha longas horas, ela conta.

"É a pressão da situação, dessa vontade que a gente temcrazy time blaze como funcionatrazer respostas mais rápidas. Isso está acontecendo com toda a classecrazy time blaze como funcionapesquisadores, muita gente parou o que estava fazendo para trabalhar com essa doença."

E os desafios são imensos.

O boletim epidemiológico especial 29 do Ministério da Saúde diz que 796 crianças (com até 19 anos) morreramcrazy time blaze como funcionacovid-19 no Brasil até o finalcrazy time blaze como funcionaagosto, comenta a médica.

"E voltamos ao começo", diz. "Se morreram quase 800, sabemos do que morreram?", pergunta.

"Não sabemos, não temos registros específicos. Pode ser que haja casoscrazy time blaze como funcionasíndrome inflamatória no meio, pode ser que tenham morrido pela forma mais clássica."

Na ausênciacrazy time blaze como funcionarespostas para o totalcrazy time blaze como funcionaóbitos no país, a equipe da FMUSP concentra seu fococrazy time blaze como funcionaexplicar todas as mortescrazy time blaze como funcionapacientes crianças por covid-19 no Hospital das Clínicas — foram cinco, incluindo-se aquela descrita no estudocrazy time blaze como funcionacaso.

"O estudo continua", diz Dolhnikoff. "Estamos investigando os mecanismos envolvidos no óbitocrazy time blaze como funcionaoutras criancas."

"Como elas apresentam manifestaçõescrazy time blaze como funcionaalteraçãocrazy time blaze como funcionavários órgãos — coração, trato digestivo, pulmões — é importante a gente saber se os mecanismos que levaram ao óbito podem ser distintos do caso que a gente já estudou", ela explica.

Feita essa análise, seria importante entendermos as condições sociais das crianças que têm casos graves, diz a especialista.

Crédito, FMUSP

Legenda da foto, As imagens produzidas por ultrassonografia permitem que a equipe veja a posição da agulha dentro do corpo

"Quem são essas criancas?", pergunta.

"Seria importante saber seu nívelcrazy time blaze como funcionaexposição ao vírus. Tiveram contato com carga viral mais alta, tiveram condiçãocrazy time blaze como funcionafazer distanciamento social? Tiveram dificuldadecrazy time blaze como funcionater atendimento?Procuraram atendimento tardiamente?"

Entender tudo isso pode ajudar a explicar o que existecrazy time blaze como funcionacomum entre elas. E, possivelmente, dar a pista sobre quem são as crianças mais vulneráveis. Mas um estudo dessa abrangência teriacrazy time blaze como funcionacontar com a colaboraçãocrazy time blaze como funcionaoutros especialistas.

Por agora, Dolhnikoff ecrazy time blaze como funcionaequipe se contentamcrazy time blaze como funcionaoferecer algumas peças para o grande quebra-cabeças que é a covid-19.

Na patologia "você vê, você enxerga a doença no local onde ela está acontecendo", ela diz.

Não temos todas as respostas, "mas temos todas as condiçõescrazy time blaze como funcionaajudar a responder. Porque quando você faz a autópsia, traz informações que não tem como trazer sem estudar o tecido. Você vê o vírus lá, machucando, lesando aquele tecido."

Técnica 'brasileira'crazy time blaze como funcionaautópsia

Emcrazy time blaze como funcionapesquisa, a equipe da FMUSP trabalha com um métodocrazy time blaze como funcionaautópsia que hoje é único no mundo, a autópsia minimamente invasiva guiada por ultrassom.

Dolhnikoff explica que, como a doença é muito contagiosa, esse método oferece mais segurança às equipes.

"Não só para os médicos, mas também os técnicoscrazy time blaze como funcionaautópsia e as pessoas que preparam aquele corpo."

O método consistecrazy time blaze como funcionaretirar amostrascrazy time blaze como funcionatecido usando uma agulha, como se fazcrazy time blaze como funcionabiópsiascrazy time blaze como funcionapacientes vivos.

"A autópsia minimamente invasiva são múltiplas biópsiascrazy time blaze como funcionavários órgãos e a gente coleta material sem tercrazy time blaze como funcionaabrir o corpo", explica.

"Isso é difícilcrazy time blaze como funcionafazer, você pode errar porque não sabe onde está a agulha."

"A novidade do grupo brasileiro é que a autópsia é guiado pelo ultrassom. A ultrassonografista da equipe, dra. Renata Monteiro, localiza o órgão, vê qual é a área mais doente e direciona a agulha para o lugar certo."

"É uma coisa que só se faz aqui, no nosso grupo."

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