O ciclista italiano que salvou centenasjudeus do Holocausto:

O Giro teve uma pausacinco anos. A Tour,sete. A interrupção impediu Bartaliser ainda mais vitorioso no ciclismoseu ápice físico — mas permitiu que ele se engajasseuma arriscada tarefa para salvar centenasjudeus das garras dos nazistas.

Rejeitando Mussolini

Bartali é visto, até hoje, como um dos mais heroicos entre os ciclistas. Quando venceuprimeira TourFrance,1938, era tratado como o "o segundo italiano mais famoso" do mundo, atrás apenasBenito Mussolini, líder do Partido Nacional Fascista.

Mas a Era Mussolini foi um período difícil para os ciclistas profissionais na Itália, especialmente para aqueles que não queriam se envolverpolítica.

No Giro d'Italia1940, o último realizado antes da interrupção causada pela guerra, Bartali foi apresentado ao homem que se tornaria seu rival mais feroz: Fausto Coppi, um competidor esguio20 anos oriundouma famíliaagricultores no norte da Itália.

A rivalidade começou quando Coppi foi alçado a líderequipe após Bartali ter se machucadoum acidente com um cão na segunda etapa do Giro.

Coppi surpreendeu a todos quando conseguiu vestir a Maglia Rosa (camisa usada durante as etapas pelo competidor que está liderando a competição) emprimeira participaçãoum Grand Tour. Mas as etapas mais difíceis ainda estavam por vir — como a subida das Dolomitas (uma cordilheira nos Alpes orientais).

Na décima-sexta etapa, Bartali viu Coppi à beira da estrada sofrendo com problemas estomacais.

Com humildade, Bartali o convenceu a subir novamente embicicleta. Os dois subiram as Dolomitas e continuaram como parceiros pelo restante do Giro.

Bartali conseguiu vencer outras duas etapas. Coppi venceu na classificação geral com uma vantagemdois minutos e quarenta segundos.

"Algumas medalhas são penduradas na alma, não na roupa", disse Bartali certa vez.

Ajudando os perseguidos

O que não se sabia na época é que Gino Bartali arriscouvida para entregar documentos falsos durante seus treinamentos — e desafiar o Partido Fascista.

Fausto Coppi e outros ciclistas haviam sido convocados para servir às forças armadas, mas foram autorizados a competir nas poucas corridas que ainda foram realizadas durante a guerra.

Bartali, cristão devoto, continuou a realizar seus longos treinamentos no norte da Itália.

Até 1943, a Itália era território seguro para os judeus. Então, os nazistas começaram a ocupar o país e a enviar tanto judeus quanto quaisquer outros que combatessem o regime fascista para camposconcentração.

Foi quando Bartali se juntou à organização clandestina Rede Assisi, operada por um setor da Igreja Católica, para proteger quem estivesse sob ameaça.

Fazendo treinoslonga distância, ele levava, escondidos na estrutura da bicicleta, documentosidentidade falsificados.

Os documentos, fabricados por uma rede clandestina na Itália, eram levados dentro dos tubos do guidão e do canote do selim.

Bartali passava por pontoscontrole sem grandes explicações, já que era apenas um campeãotreinamento.

Em uma ocasião, foi parado e interrogado pela polícia secreta fascista.

Ele pediu para não ser incomodado e explicou que mexer embicicleta significaria atrapalhar o delicado ajuste aerodinâmico feito para um campeão do esporte.

Os policiais, então, não se atreviam a revistá-lo ou a mexer embicicleta.

As famílias recebiam os documentos e conseguiam, assim, fugir da perseguição nazista.

Alémajudar no transporte clandestinodocumentos para facilitar a fugajudeus, Bartali também escondeu seu amigo Giacomo Goldenberg efamíliacasa.

Era arriscado — quem fosse pego fazendo isso poderia ser morto.

O italiano foi reconhecido como Justo Entre As Nações — título concedido aos que atuaram salvando vidasjudeus durante a perseguição nazista — pelo Memorial do Holocausto Yad Vashem,Jerusalém. O filhoBartali, Andrea, visitou o memorial2013.

No fim da vida, Bartali contou a seu filho,detalhes, o que fez durante a guerra. Pediu, ainda, a Andrea que mantivesse a informação entre eles.

Bartali queria ser lembrado porcarreira esportiva. Mas, quando perguntado sobre suas façanhas durante a guerra, dizia: "Fiz a única coisa que sabia fazer: pedalei".

Às vezes, é o suficiente.

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