‘Bolsonaro usa futeboldo pokermaneira oportunista e demagógica’, diz historiador:do poker

Crédito, Marcos Corrêa/Presidência da República

Legenda da foto, Sem máscara, Bolsonaro encontrou dirigentesdo pokerclubes brasileiros durante a pandemiado pokercovid-19

Leia a entrevista abaixo.

Crédito, Arquivo Pessoal

Legenda da foto, Para historiador Flaviodo pokerCampos, Bolsonaro não tem projetodo pokermelhorias do futebol brasileiro

do poker BBC News Brasil - Nos últimos meses, a gente viveu um raro momentodo pokerque não havia competiçõesdo pokerfutebol por vários meses. Como as pessoas lidaram com isso?

do poker Flaviodo pokerCampos - A pergunta que se colocou para o torcedor nos últimos meses é o que sobra do futebol quando não se tem futebol.

Houve um períododo pokerque torcedores revisitaram jogos importantes dos seus times, da seleção brasileira edo pokeroutras seleções. A televisão reprisou partidas históricas, mas os torcedores também resgataram acervos disponíveis na internet.

Então o que sobrou do futebol na pandemia? Sobrou a reflexão sobre política. Diversas lives e bate-papos discutiram o papel político do futebol e como ele pode contribuir para pensar e enfrentar problemas brasileiros.

Muita gente passou a enxergar que futebol e política são inseparáveis.

do poker BBC News Brasil - Por que temos essa impressãodo pokerque o futebol é apolítico, como se ele ocorresse fora do momento históricodo pokerque está inserido?

do poker Campos - O futebol é a modalidade esportiva mais importante do Brasil e do mundo contemporâneo. É um equívoco separar um elemento cultural desse tamanho das suas relações e implicações sociais, positivas e negativas.

Essa noção remonta à origem do esporte, na Inglaterra do século 19. O futebol era um bem cultural para a elite britânica. Como era amador, não previa e até proibia a remuneração dos praticantes. Ou seja, só podia jogar futebol quem tinha dinheiro. Quem lutava pelo sustento diário precisava ter outra renda, tornando o futebol incompatível com a classe trabalhadora.

Então surgiram formasdo pokerpraticar o futebol como resistência, furando as proibições e criando um profissionalismo oficioso. A remuneração surgiu assim.

Na segunda metade do século 19, o futebol se tornou uma grande febre na Inglaterra, com 1 milhãodo pokerpraticantes, da elite aos operários. Ele era resistência e lazer. Esse é um momentodo pokeravanço da industrialização e crescimento da classe trabalhadora, a ponto do historiador britânico Eric Hobsbawm, mais tarde, definir o futeboldo pokeruma maneira muito bonita: 'a religião laica da classe operária'.

Ao mesmo tempo, lideranças operárias, tanto socialistas como anarquistas, viram no futebol um elementodo pokeralienação. Para eles, a modalidade tirava o foco da resistência política e da lutado pokerclasses. Muitas dessas lideranças recomendaram que os trabalhadores não jogassem futebol.

De fato, há diversos momentosdo pokerque o futebol se tornou um instrumentodo pokerdominação. Na Itália fascista, por exemplo, bicampeã mundialdo poker1934 e 1938, ele foi utilizado por Mussolini para fortalecerdo pokerpopularidade e o nacionalismo.

Já do pontodo pokervista dos dominadores,do pokerquem explora o futebol, historicamente se apregoou a ideiado pokerneutralidade,do pokerque futebol e política não se misturam.

do poker BBC News Brasil - Como o sr. avalia a relação entre o presidente Jair Bolsonaro e o futebol brasileiro?

do poker Campos - Vejo uma ação oportunista da parte dele, como é característicado pokerJair Bolsonaro. A atuação dele se dádo pokerduas frentes: uma simbólica e outra, prática.

Na primeira, ele se apropriado pokerum elemento simbólico do futebol brasileiro que é a camiseta amarela da seleção. Ele e seus apoiadores usam a camisa como um símbolo do grupo.

O elemento prático édo pokerpresençado pokerjogos e conquistasdo pokerclubes. Bolsonaro levou (o ex-ministro da Justiça) Sérgio Moro a um jogo do Flamengodo pokerum momento difícil para o ex-juiz, quando surgiram os vazamentos do site Intercept Brasil sobre conversas entre membros da Lava Jato.

Em 2018, Bolsonaro também surfou na conquista do Campeonato Brasileiro pelo Palmeiras. Ele foi ao estádio no dia do recebimento da taça e, indevidamente, entroudo pokercampo, distribuiu medalhas e desfilou com o troféu.

Recentemente, ele lançou uma Medida Provisória (MP), que mudou uma questão difícildo pokerresolver no Brasil: os direitosdo pokertransmissãodo pokerjogos. A assinatura dessa MP, que dá a transmissão ao clube mandantedo pokeruma partida, foi uma retaliação à Rede Globo, que tradicionalmente paga por esses direitos.

Para além disso, Bolsonaro não tem um projeto para o futebol brasileiro, ou para esporte e lazer no Brasil. Se você perguntar a alguém do governo sobre isso, ninguém vai saber responder. As medidas sobre futebol estão sendo tomadas no improviso,do pokermaneira atabalhoada e ao sabor dos interesses imediatos.

do poker BBC News Brasil - Vestir a camisado pokerum clube rival é algo inaceitável para um torcedor. Por outro lado, Bolsonaro usa camisasdo pokervários clubes até antagônicos. Isso demonstra um amor fraternal pelos clubes ou é estratégia política?

do poker Campos - Até hoje não se sabe se Bolsonaro torce mesmo pelo Palmeiras, pelo Botafogo, pelo Vasco da Gama, pelo Flamengo... Ele já vestiu camisetasdo pokerdiversos clubes.

Na cultura do futebol e do torcedor, vestir a camisetado pokerum rival revela faltado pokercaráter. É uma infidelidade inadmissível. Normalmente, quando você perde uma aposta, precisa vestir a camiseta do time rival e ser fotografado com ela, pois isso é um motivodo pokerchacota.

Eu sou palmeirense, e vou confessar que uma única vez na vida torci para o Corinthians. O fato é que sempre torço contra o Corinthians. Ser palmeirense também significa ser anti-Corinthians. Ou seja, não há a menor possibilidadedo pokereu gostar do rival. E vice e versa. Você nunca vai ver um corintiano com a camisa do Palmeiras porque ele quer fazer média com a outra torcida.

Quando Bolsonaro veste a camiseta do Flamengo, do Vasco, do Palmeiras, do Botafogo edo pokeroutros times, ele está sendo oportunista e mostrandodo pokervolatilidadedo pokercaráter. Com isso, ele tenta surfar na onda do futeboldo pokermaneira demagógica.

do poker BBC News Brasil - Qual a diferença para outros políticos? Por exemplo, José Serra é palmeirense, Geraldo Alckmin é santista, Fernando Henrique Cardoso e Lula, corintianos…

do poker Campos - O Serra é um habitué do estádio do Palmeiras há muitos anos: ele aparecerdo pokeruma comemoração do clube, por exemplo, seria compreensível… Já o Guilherme Boulos é corintiano, foi da Gaviões da Fiel, tem legitimidade para falar sobre o Corinthians. O Lula sempre se disse corintiano. Você nunca viu o Lula torcendo pelo Palmeiras ou pelo Flamengo.

Ou seja, existe uma vinculação histórica desses políticos com seus clubes, o que não ocorre com Bolsonaro.

Quando Bolsonaro foi à comemoração do Palmeiras, a diretoria do clube permitiu que ele fizesse um uso demagógico do título e do clube, pois ele nunca teve nenhuma vinculação com o Palmeiras — se ela existe, começou muito recentemente.

do poker BBC News Brasil - Nos últimos meses, houve uma aproximação entre Flamengo e Bolsonaro. Como sr. vê essa relação?

do poker Campos - Essa não é uma grande preocupação para mim. Não é novidade que um time se aproximedo pokergovernos, ou da CBF, para costurar acordos que o beneficiem.

Na décadado poker1970, revistas e jornais publicaram uma fotografia do general Emílio Garrastazu Médici e um texto da diretoria do Sport, do Recife. O texto, bastante apologético e carinhoso, agradecia ao ditador por ele ter aceito conceder seu nome para o estádio do Sport. Essa reportagem, porém, apontava uma contradição: o projeto do estádio era do arquiteto Oscar Niemeyer, um notório comunista.

Conto isso para demonstrar que esse movimento é recorrente: é um oportunismodo pokerparte à parte. O Bolsonaro quer se escorar no Flamengo e, pordo pokervez, o Flamengo quer ter vantagens do governo.

do poker BBC News Brasil - Na campanha eleitoral, Bolsonaro teve apoio explícitodo pokermuitos jogadoresdo pokergrandes clubes.

do poker Campos - Bolsonaro ganhou os vestiários. Durante a campanha eleitoraldo poker2018, vários jogadores comemoraram gols fazendo aquele famoso gesto da 'arminha',do pokeralusão a Bolsonaro.

Vários deles continuam com o apoio mesmo com um ano e meio desse governo desastroso e violento. Um exemplo é o ex-goleiro Marcos, ídolo do Palmeiras. Ele não só apoiou Bolsonaro como ainda mantém uma postura fanáticado pokerrelação ao governo.

A oposiçãodo pokeresquerda e pessoas que têm compromisso com a democracia não têm conseguido disputar os vestiários com a extrema-direita. Há poucos atletas, técnicos e dirigentes que se pronunciamdo pokeroposição ao governo, a maioria aderiu ao bolsonarismo.

Uma exceção é o ex-jogador Raí, hoje diretor do São Paulo. Ele comprou algumas brigas, se posicionando contra o retorno do futebol durante a pandemia, o que o governo defendia. Além dele, há o Roger Machado, técnico do Bahia, que tem falado bastante sobre racismo estrutural no futebol e na sociedade brasileira.

do poker BBC News Brasil - É possível apontar os motivos para esse apoio dos jogadores a Bolsonaro?

do poker Campos - A gente já teve uma geraçãodo pokeratletas bastante politizada à esquerda, na décadado poker1980. Isso estavado pokersintonia com a efervescência democrática do momento, no final da ditadura. Por isso, atletas como Sócrates, Casagrande e Wladimir se posicionaramdo pokermaneira corajosa.

Nos últimos anos, do pontodo pokervista da sociedade, houve um desgaste da cultura democrática. E ela se dá sobretudo a partir do segundo mandatodo pokerDilma Rousseff, com a revelaçãodo pokercasosdo pokercorrupção pela operação Lava Jato.

Houve uma campanha judiciária e midiática contra a corrupção, mas voltada apenas a um agrupamento específico da política brasileira, que é o Partido dos Trabalhadores. Ao mesmo tempo, iniciou-se uma discussão política que era, na verdade, uma valorização da antipolítica.

O segundo aspecto precisa ser colocado na conta das gestões do PT.

Os governos petistas tiveram nas mãos uma grande agenda esportiva. Desde os mandatosdo pokerLula, houve vários megaeventos esportivos no país: Jogos Mundiais Militares, o Pan Americano, a Copa das Confederações, Copa do Mundo, Jogos Mundiais dos Povos Indígenas e a Olimpíada.

Essa agenda se articulou à política. Mas, nesse aspecto, o PT não conseguiu imprimir uma marcado pokerinclusão social edo pokertransformação pelo esporte. Pelo contrário. Nesses megaeventos, os governos petistas capitularam frente à lógica dos grandes interesses das construtoras, das grandes empresasdo pokermídia e dos patrocinadores.

Não se aproveitou uma oportunidade única na história do Brasil que era mudar essa correlaçãodo pokerforça. Não foram criados mais canaisdo pokerparticipação dos atletas na construçãodo pokerpolíticas públicas para o esporte.

É por causa desses fatores que o discurso da antipolítica e da banalização do machismo e da homofobia ganhou os vestiários.

do poker BBC News Brasil - A Copado poker2014 foi organizada pelos governo do PT, com diversas denúnciasdo pokercorrupção. Como o sr. acha que ela será lembrada no futuro?

do poker Campos - A Copa não foi um 7 a 1 só dentrodo pokercampo. No gramado, a seleção brasileira sofreudo pokermaior derrota, a mais vergonhosa, a mais sentida, a mais absurda. Isso levandodo pokerconsideração que o time alemão, no segundo tempo, tirou o pé por respeito. E esse respeito foi humilhante.

O resultado também representa uma virada da política no Brasil. Antes disso,do pokermaiodo poker2013, a popularidade da Dilma batia recordes. Um mês depois, as jornadasdo pokerjunho trouxeram primeiro a pauta da mobilidade urbana, mas depois incluíram demandas sociais, como saúde e educação.

A partir daí as demandas se viraram cada vez mais para a agenda esportiva, e contra o PT. Os cartazes dos manifestantesdo poker2013 pedia "educação padrão Fifa" e "saúde padrão Fifa", uma ironiado pokerrelação ao padrão que a Fifa exigia para as arenas da Copa.

Ao mesmo tempo, os governos petistas abriram a guarda para superfaturamentos escandalososdo pokerobras da Copa e para a construçãodo pokerestádios absolutamente desnecessários, que desperdiçaram muito dinheiro público.

Ou seja, o 7 a 1 também ocorreu na organização e na política. Eu diria que 2014 será lembrado como a Copa do ocaso do PT. Ela marca o esgotamento do lulismo edo pokersua capacidadedo pokerarticular setores antagônicos da sociedade brasileira. O presidencialismodo pokercoalizão do PT levou ao governo bancários e banqueiros, latifundiários e sem-terra, sindicalistas e empresários, setores da direita e da esquerda.

O enfraquecimento desse sistema, simbolicamente representado pelo 7 a 1, vai levar ao impeachment, que eu avalio como um golpe parlamentar.

Crédito, Lucas Figueiredo/CBF/Fotos Públicas

Legenda da foto, Em 2018, Bolsonaro foi ao Allianz Parque, estádio do Palmeiras, para participar, no gramado, da comemoração pela vitória do clube no Campeonato Brasileiro

do poker BBC News Brasil - Hoje a camisa da seleção virou símbolo da direita, a pontodo pokerpessoasdo pokeroutro posicionamento político não quererem mais vesti-la. O que essa disputa revela?

do poker Campos - Acho um equívoco associar a camisa da seleção, símbolo oficioso do Brasil, à extrema-direita e ao fascismo. Ela é polissêmica dependendo do contexto histórico, e pertence a toda sociedade brasileira.

A ditadura militar, por exemplo, se apropriou dos símbolos nacionais para reforçar seu projeto. No entanto, a seleção da Copado poker1982 representava a transição democrática e a luta contra o próprio regime.

A campanha das Diretas,do poker1984, tinha a participaçãodo pokerjogadores como Sócrates e Casagrande. O símbolo da campanha era o amarelo da bandeira nacional e da seleção. O mestredo pokercerimônia era o Osmar Santos, principal locutor esportivo da época.

Ou seja, a camiseta já teve uma significação democrática, também.

Desde a Copa das Confederaçõesdo poker2013 e da Copa do Mundo no ano seguinte, ela virou elementodo pokercontestação ao governo Dilma, a pontodo pokerAécio Neves pedir que seus apoiadores usassem a camiseta na campanha eleitoral. A partirdo pokerentão, ela se tornou símbolo do impeachment e, depois, foi herdada pelo grupo que apoia Bolsonaro.

Crédito, Wilson Dias/Agência Brasil

Legenda da foto, Apesardo pokerse dizer torcedor do Botafogo no Riodo pokerJaneiro, Bolsonaro já posou com camisetasdo pokerclubes rivais, como Flamengo e Vasco da Gama

do poker BBC News Brasil - Em 1970, a maior seleçãodo pokertodos os tempos venceu a Copa. Foi um momentodo pokergrande alegria no Brasil, mas, ao mesmo tempo, a repressão da ditadura vivia seu auge. Como o regime utilizou esse momento?

do poker Campos - A ditadura militar se utilizou do sucesso daquela seleção exuberante para se fortalecer e ampliardo pokerpropaganda políticado pokerlegitimação interna. Mas isso é algo que ocorreu com todos os governos da história.

O que a ditadura fez com a seleçãodo poker70 não é essencialmente diferente do que o então presidente Juscelino Kubitschek fez com o time que ganhou a Copa na Suécia,do poker1958: ele recebeu a seleção, tirou foto com os atletas, levantou a taça. Em 1962, quando o Brasil venceu a Copa do Chile, o presidente João Goulart, que vivia um momento político difícil, fez a mesma coisa.

Em 1970, no entanto, temos algo mais complexo, claro. Houve um projetodo pokermilitarização da comissão técnica da seleção brasileira. Membros da preparação física e da coordenação, como Carlos Alberto Parreira e Cláudio Coutinho, eram egressosdo pokersetores das Forças Armadas.

Na cabeçado pokerparte da população, porém, havia um paradoxo: existia uma seleção esplendorosa, com Pelé, Tostão e Jairzinho, mas ao mesmo tempo a repressão prendia, torturava e matava militantes da resistência. Mesmo entre esses militantes havia discussões sobre se se devia torcer pela seleção brasileira ou não.

Aquela seleção representa a expressão máxima da cultura popular brasileira. Ela pode ter sido apropriada pelo governo militar naquele momento, mas não nunca pertenceu ao regime, e sim à cultura popular.

Crédito, Marcos Corrêa/Presidência da República

Legenda da foto, Agora ex-técnico do Flamengo, Jorge Jesus, colocando medalhado pokerJair Bolsonaro; nos últimos meses, o clube carioca se aproximou do presidente

do poker BBC News Brasil - Voltando ao governo Bolsonaro, como torcedores se envolveram nos recentes protestos contra o governo?

do poker Campos - As torcidas organizadas têm, emdo pokerhistória, diversos episódiosdo pokerparticipação política. A Gaviões da Fiel surge, na décadado poker1960, como uma contestação à diretoria do Corinthians, cujo nome mais forte e importante era o Wadih Helu, que foi deputado pela Arena (partido da ditadura).

Em marçodo poker1979,do pokeruma partida contra o Santos no estádio do Morumbi, a mesma torcida abriu uma faixa com os dizeres: "Anistia ampla, geral e irrestrita". Alguns dias depois, no mesmo estádio, a torcida do Santos,do pokerum jogo contra o Palmeiras, levou uma faixa com os mesmos dizeres.

Já nos protestos recentes, o que tivemos foi a atuaçãodo pokercoletivosdo pokertorcedores deflagrando as primeiras críticas ao governo dentro da linguagem do futebol. Eles não são necessariamente torcidas organizadas, que aderiram depois.

São agrupamentosdo pokeresquerda que, nos últimos anos, atuaram sobretudo na internet: anarquistas, socialistas, LGBTs e mulheres que lutam pelo direitodo pokerexpressão nos estádios.

No primeira manifestação contra Bolsonaro, havia uma chave clubística: corintianos, são-paulinos, palmeirenses e santistas marchando pela avenida Paulista. Não houve qualquer enfrentamento, pois a palavrado pokerordem era democrática,do pokerrespeito à diferença mesmo entre rivais históricos.

Do outro lado,do pokerfrente ao prédio da Fiesp, havia outra torcidado pokerfutebol, com as camisetas da seleção brasileira. Eles reivindicavam uma identidade homogênea e nacionalista, com um discurso autoritáriodo pokerque não há espaço para a diversidade. Essa torcida bolsonarista defendia o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal e o estabelecimentodo pokeruma ditadura no Brasil, inclusive com menções ao AI-5.

Crédito, Marcos Corrêa/Presidência da República

Legenda da foto, Para Flaviodo pokerCampos, Brasil deveria investir para estruturar melhor o futeboldo pokermulheres praticado no país

do poker BBC News Brasil - Há na sociedade uma visão negativa sobre as torcidas organizadasdo pokervirtudedo pokerepisódiosdo pokerviolência. Os próprios apoiadores do governo usaram essa perspectiva para criticar os protestos.

do poker Campos - O olhar repressor que propõe a extinção das torcidas organizadas é o mesmo que se lança contra movimentos sociais.

Inegavelmente, as torcidas se envolveramdo pokerepisódiosdo pokerviolência edo pokerenfrentamento. Mas, muitas vezes, nesses atos houve corresponsabilidade da Polícia Militar ou dos promotores dos eventos.

A extrema-direita costuma dar respostas simplistas a problemas complexos. As torcidas organizadas são um problema complexo, que não se resolve com repressão.

Não estou defendendo a violência,do pokerjeito nenhum. Mas é contraditório o bolsonarismo apontar os erros dos outros quando o presidente faz uma reiterada defesa da cultura da violência, do ódio e da eliminaçãodo pokerseus adversários políticos.

do poker BBC News Brasil - Quais são as principais demandas para futebol brasileiro hoje?

do poker Campos - De cara, penso no futeboldo pokermulheres. A gente vê o futebol no Brasil como um esportedo pokerhomens, mesmo com todo o histórico e importância do futeboldo pokermulheres para a sociedade. Precisamos criar condições estruturantes para desenvolvê-lo.

A segunda questão seria equilibrar a diferenças entre os clubes grande e os menores, que hoje são gigantescas. Acreditodo pokeresquemasdo pokerincentivo aos clubes menores, como bolsõesdo pokeratletas. As federações estaduais e a CBF, que têm muitos recursos, deveriam criar condições para reequilibrar o jogo.

Há também uma disparidade enorme entre saláriosdo pokerjogadores. A gente vê o salário do Neymar e acredita que todos têm a mesma condição. Isso está muito longedo pokerser verdade. A condição da grande maioria dos jogadores profissionais no Brasil beira a indigência.

A inclusão social nos espaçosdo pokerexpectação, os estádios, também deveria ser repensada. A elitização e gentrificação das arenas eliminou espaços para camadas mais pobres, pois não há mais setores populares.

Na mesma lógica, precisamos lutar incessantemente contra os preconceitos e discriminação no futebol: o racismo, a homofobia e o machismo. Hoje, torcedores LGBTs têm pouquíssimo espaço nos estádios, porque as arquibancadas são ambientes bastante homofóbicos.

Outra política importante seria a construçãodo pokerum sistema nacionaldo pokeresportes e lazer, projeto abandonado pelas gestões do PT. Seria uma articulação entre as práticas esportivasdo pokeralto rendimento e asdo pokerlazer. A montagem desse sistema garantiria o direito universal ao lazer, previsto pela Constituição, e iria favorecer o aparecimentodo pokerbons atletasdo pokerdiversas modalidades.

Por fim, eu citaria o fortalecimento dos clubes. Vejo com muita reticência o discurso neoliberaldo pokerconstruçãodo pokerclubes-empresas e gestões tecnocráticas. Acredito que deveríamos resgatar gestões participativas, democráticas e inclusivas dos clubes. Os sócios e torcedores deveriam ter mais espaço e voz.

do poker BBC News Brasil - O sr. disse antes que torceu uma única vez para o Corinthians. Quando foi isso?

do poker Campos - Foi na final do Campeonato Paulista entre Corinthians e São Paulo,do poker1983. Meu pai, já falecido, torcia para o São Paulo. Óbvio que, como palmeirense, eu iria torcer contra o Corinthians.

Estávamos na frente da TV, e o time do Corinthians entroudo pokercampo com uma faixa com os dizeres: "Ganhar ou perder, mas sempre com democracia". Naquele momento, meu pai percebeu que eu iria torcer para o Corinthians, porque naquele ano a defesa da democracia era mais importante que a rivalidade. Foi a única vez que isso aconteceu, e posso dizer que nunca vesti a camisa do Corinthians.

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