Efeitos colaterais do coronavírus: as mortes 'ocultas' causadas pela covid-19:app da blaze

Mas enquanto isso acontecia, outra tragédia se desenrolava.

O surto afetou gravemente o sistemaapp da blazesaúde local — médicos e enfermeiros morreram, vários hospitais foram fechados e os que permaneceram abertos acabaram sobrecarregados com o vírus. Nos três países mais afetados — Serra Leoa, Libéria e Guiné — as pessoas começaram a deixarapp da blazeprocurar ajuda médica por medo.

Todas estavam apavoradas com a possibilidadeapp da blazeser infectadas pela nova doença, mas também tinham medo dos médicos. Com seus macacões brancosapp da blazeproteção, os profissionaisapp da blazesaúde ficaram estigmatizados, como se fossem "mensageiros da morte".

Dados mostram que, por causa disso, houve uma queda drástica no númeroapp da blazepessoas buscando auxílio médico. Maisapp da blazeoitoapp da blazecada dez mulheres grávidas deixaramapp da blazeprocurar ajuda para o parto, as taxasapp da blazevacinação caíram e houve 40% menos internaçõesapp da blazecrianças com malária. Ironicamente, após um intenso esforço internacional para combater a pandemia, esse dano colateral foi mais grave do que a própria doença.

Em 2020, o mundo corre o riscoapp da blazeassistir a um cenário semelhante.

Nenhum inimigo único

Desde o início, muitos países fizeram questãoapp da blazetranquilizar o público sobre a estratégiaapp da blazecombate à covid-19 — compraram leitos e respiradores, estocaram tratamentos não comprovados e remanejaram profissionaisapp da blazesaúde remanejados.

Por outro lado, à medida que os países concentraram esforçosapp da blazecombater as crescentes taxasapp da blazeinfecção, outros serviços médicos foram deixadosapp da blazelado.

Cirurgias consideradas não urgentes foram adiadas ou canceladas, assim como foram temporariamente suspensos programasapp da blazeapoio à saúde sexual, ao tabagismo, à saúde mental, tratamento dentário, vacinas, examesapp da blazecâncer eapp da blazerotina.

E os efeitos colaterais já estão sendo sentidos ao redor do mundo.

Pacientes relatam ter recebido negativas para tratar câncer, diálise renal e cirurgiasapp da blazetransplante urgentes, com resultados algumas vezes fatais.

Nos Bálcãs, as mulheres foram levadas a recorrer a abortos experimentais perigosos, enquanto especialistas no Reino Unido relataram um aumentoapp da blazepessoas fazendo seu próprio tratamento dentário sem ajudaapp da blazeum profissional, alguma vezes envolvendo até supercola.

E, comoapp da blazetodas as crises, a atual pandemia parece destinada a atingir os países mais pobres com mais força. Os cientistas alertaram que,app da blazealguns locais, interromper programasapp da blazecontroleapp da blazedoenças como HIV, tuberculose e malária pode causar mortes na mesma escala daquelas causadas diretamente pelo vírus. Da mesma forma, os especialistas temem que os óbitos por doenças como a cólera possam excederapp da blazemuito as por covid-19.

As vacinas são uma preocupação particular. A Organização Mundial da Saúde calculou que pelo menos 80 milhõesapp da blazecrianças com menosapp da blazeum anoapp da blazeidade estão agora sob riscoapp da blazedifteria, poliomielite e sarampo, depois que a pandemia interrompeu a continuidade dos programasapp da blazepelo menos 68 países.

Há um risco realapp da blazeretorno da poliomielite, apesarapp da blazeum esforçoapp da blazebilhõesapp da blazedólares que vem se estendendo por décadas. A doença era considerada praticamente extinta.

Dano colateral

Enquanto isso, David Beasley, diretor executivo do Programa Mundialapp da blazeAlimentos das Nações Unidas (PAM), alertou que o mundo está à beiraapp da blazeuma fomeapp da blazeproporções "bíblicas" — com 130 milhõesapp da blazepessoas sob riscoapp da blazemorrerapp da blazefome, além do 135 milhões que já estão à beira da fome.

Além disso, acredita-se que os confinamentos decretados pela maioria dos países do mundo e a subsequente turbulência econômica possam aumentar as chamadas "mortesapp da blazedesespero", já que algumas pessoas vêm recorrendo ao alcoolismo ou ao suicídio.

Para o epidemiologista Timothy Roberton , juntamente com colegas da Universidade Johns Hopkins,app da blazeMaryland (nos Estados Unidos), os efeitos colaterais da pandemia tornaram-se uma preocupação quase assim que ela começou.

"Muitosapp da blazenós analisamos a resposta ao surtoapp da blazeebola na África Ocidentalapp da blaze2014, então sabíamos o que poderia acontecer", diz ele.

Em particular, a equipe estava interessadaapp da blazecomo a covid-19 poderia afetar mulheres e criançasapp da blazepaísesapp da blazebaixa renda. Eles usaram um modelo matemático para analisar o impactoapp da blazevários cenáriosapp da blazecrescente gravidade e identificaram duas maneiras principais pelas quais a resposta ao covid-19 poderia aumentar o númeroapp da blazevítimas.

Uma é através da interrupção dos serviçosapp da blazesaúde.

"Isso pode acontecer porque as pessoas ficam com medoapp da blazebuscar ajuda — ou seja, o lado da demanda", diz Roberton.

Mas também há o lado da oferta: "os profissionaisapp da blazesaúde podem ficar doentes, podem ser deslocados para trabalhar na pandemia ou pode haver escassezapp da blazemedicamentos".

Outro problema iminente diz respeito às famílias que não têm acesso a alimentos suficientes, o que pode aumentarapp da blazesuscetibilidade a doenças infecciosas.

No total, os cientistas previram que, no pior cenário,app da blazeque o usoapp da blazeserviçosapp da blazesaúde é reduzidoapp da blazeaté 50% e a desnutrição é aumentada no mesmo porcentual, maisapp da blaze1 milhãoapp da blazecrianças e 56,7 mil mães podem morrer como resultado indireto da pandemia. A maioria das mortesapp da blazecrianças seria por pneumonia ou desidratação devido a diarreia, enquanto que, para as mulheres, provavelmente ocorreriam devido a complicações da gravidez ou do parto.

Quando essas mortes são adicionadas ao número das pessoas sob riscoapp da blazefome, a tragédia se torna ainda maior. Atualmente, o PAM está fornecendo comida para quase 100 milhõesapp da blazepessoas no mundo todos os dias — e desse número, cercaapp da blaze30 milhões dependem desse fornecimento paraapp da blazeprópria sobrevivência. Segundo seu próprio levantamento, 300 mil pessoas podem morrerapp da blazefome todos os dias nos próximos meses, se esse serviço for interrompido. A projeção não inclui as pessoas que foram empurradas para a pobreza devido ao coronavírus.

A pandemia atual não apenas levará mais um número adicionalapp da blaze130 milhõesapp da blazepessoas à inanição, mas também ameaça as doações das quais o programa depende.

"Se a economia mundial for atingida e os países não puderem fornecer o financiamento esperado, então teremos que lidar com um cenário bastante assustador", diz Jane Howard, chefeapp da blazecomunicações do PMA.

Exatamente como a covid-19 levará as pessoas à fome é um pouco mais complicado. oward explica que, ao contrário das imagens estereotipadasapp da blazepessoas famintas nas propagandasapp da blazepedidoapp da blazedoações na décadaapp da blaze90, que viviam nas partes mais remotas da África Subsaariana, hoje a desnutrição também é um grande problema nas cidades — e são nelas que a pandemia deverá atingir as pessoas com mais força.

"Se você moraapp da blazeuma zona rural, pode ter uma horta ou uma vaca", diz ela. "Você tem como minimizar os efeitos disso. Masapp da blazeuma cidade você está absolutamente à mercê dos preços no mercado."

No momento, a principal preocupação é com operáriosapp da blazefábricas, motoristasapp da blazeriquixás e trabalhadores da construção civil.

O dilema da idade

Claro, há outra razão pela qual muitos países podem sofrer mais mortes por danos colaterais,app da blazevez do próprio vírus: a idadeapp da blazesua população.

É sabido que a covid-19 afeta mais os idosos — no Brasil, eles são cercaapp da blaze70% das vítimas, segundo dados do Ministério da Saúde.

Por outro lado, os paísesapp da blazebaixa renda tendem a ter mais populações jovens. No país mais jovem do mundo - Níger, na África Ocidental — a idade média éapp da blazeapenas 15,2 anos. Até agora, 254 mortes foram registradas por causa do coronavírus ali.

Em contraste, a Itália tem uma idade média que giraapp da blazetornoapp da blaze45, bem como um dos maiores saldosapp da blazemortos por covid-19 — foram maisapp da blaze33 mil óbitos.

O grauapp da blazeque a pandemia é responsável por essas fatalidades ainda está sob debate — pode ser que haja menos anosapp da blazevida perdidos diretamente para o vírus do que parece.

Por exemplo, enquanto os idosos têm maior riscoapp da blazemorte por covid-19, eles também correm risco maiorapp da blazemorte por outras doenças sazonais ou respiratórias, como norovírus ou pneumonia. No momento, ainda há significativamente mais mortes a cada mês do que o normal para esta época do ano. Mas se o totalapp da blazemortos cair posteriormente para abaixo da média, é possível que o vírus tenha antecipado a morteapp da blazeidosos por meses, e não anos.

De fato, mesmoapp da blazepaíses ricos, acredita-se que as mortes indiretas possam eventualmente eclipsar o númeroapp da blazemortes diretas a longo prazo.

Tome-se o câncer por exemplo. Desde o início da pandemia, grande parte das ações destinadas a reduzir a carga da doença e torná-la menos fatal — do papanicolau à mamografia — foi afetado. Para algumas pessoas, isso inevitavelmente terá consequências fatais.

"O câncer não pode esperar", diz Sara Hiom, diretoraapp da blazediagnóstico precoce e inteligênciaapp da blazecâncer da Cancer Research UK, uma ONG que financia pesquisas científicas sobre o câncer. "O câncer sempre será mais fácilapp da blazetratar e curar, quanto mais cedo for diagnosticado."

Os programasapp da blazedetecção precoce do câncer foram interrompidosapp da blazealguns países desde o início dos confinamentos. Para aqueles que já têm um diagnóstico, pode demorar muito tempo antesapp da blazepoderem iniciar o tratamento — e Hiom explica que quando a pandemia começar a diminuir, recuperar o atraso pode ser um processo extremamente lento.

Economia

Finalmente, há a questão da recessão iminente, que já começou oficialmente na Alemanha e deve ser a mais grave desde a Grande Depressão.

E muitas organizaçõesapp da blazesaúde, grandes e pequenas, dependemapp da blazecontribuiçõesapp da blazedoadores privados e do públicoapp da blazegeral — e uma economiaapp da blazerecessão pode representar um revés nesse trabalho, bem como nos esforçosapp da blazepesquisa acadêmica, por muitos anos.

Então, o que pode ser feito para minimizar as consequências indiretas da covid-19?

Howard aponta para uma listaapp da blazecoisas que o PMA enumera, desde ajudar os governos a trazer redesapp da blazesegurança para suas populações — como continuar a fornecer merendas gratuitas para as crianças, mesmo com as escolas estando fechadas, a manter as cadeiasapp da blazesuprimentos funcionando e evitar barreiras comerciais.

"São pequenas coisas que realmente podem ter um grande impacto", diz ela. "Por exemplo, se você determinar que caminhoneiros internacionais tenham que entrarapp da blazequarentena,app da blazecadeiaapp da blazesuprimentos entraráapp da blazecolapso. Então, no sul da África, temos convencido os governos a enviar cartas a certas transportadoras contratadas, garantindo os direitos à livre circulação dos motoristas."