Coronavírus: o que a Ciência diz sobre o uso da cloroquina contra a covid-19:globoesporte botafogo
Na coletivagloboesporte botafogoimprensagloboesporte botafogoque anunciou a distribuição da cloroquina para hospitais pelo país, o secretáriogloboesporte botafogoCiência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Denizar Vianna, afirmou que pesquisas laboratoriais feitos até agora mostraram bons resultados contra o novo coronavírus.
Isso significa que o medicamento foi testado com sucessogloboesporte botafogolaboratório,globoesporte botafogoculturagloboesporte botafogocélulas - o primeiro degraugloboesporte botafogoum longo processo para se desenvolver um medicamento.
Longegloboesporte botafogoconclusão
Passada essa primeira fase, há pelo menos outras três: testesgloboesporte botafogocamundongos, estudosgloboesporte botafogoanimais não roedores, como cães e macacos e, finalmente, estudosgloboesporte botafogohumanos.
Os testesgloboesporte botafogohumanos, porgloboesporte botafogovez, se subdividemgloboesporte botafogooutras etapas, até chegarem ao estudo clínico randomizado controlado - RCT, na siglagloboesporte botafogoinglês -, quando se sabe sobre o nívelgloboesporte botafogotoxicidade do remédio para o corpo,globoesporte botafogoeventual interação com outros medicamentos, seus efeitos colaterais.
No caso do uso da cloroquina para tratar covid-19, a única sinalização positiva que se tem é o estudogloboesporte botafogovitro,globoesporte botafogoculturagloboesporte botafogocélulas.
Apesargloboesporte botafogoele já ser um medicamento comercializado no mercado, é usado no tratamentogloboesporte botafogooutras doenças e, por isso, precisaria ser amplamente testadogloboesporte botafogohumanos para se avaliargloboesporte botafogoeficácia contra o novo coronavírus e seus eventuais riscos a esses pacientes.
No estudo in vitro, pesquisadores chineses avaliaram o efeito antiviral da cloroquina e da hidroxicloroquina e verificaram que os medicamentos inibiram a tanto a etapagloboesporte botafogoentrada do vírus na célula quanto estágios celulares posteriores relacionados à infecção pelo novo coronavírus.
Houve bloqueio, por exemplo do transporte do vírus entre organelas das células, os endossomos e endolisossomos, que, segundo uma nota técnica divulgada pela Anvisa, parece ser a etapa determinante para a liberação do genoma viral nas células.
Fora do ambiente laboratorial, não existe um estudo clínico que aponte que o remédio funcionegloboesporte botafogofatogloboesporte botafogopacientes com covid-19 ou que seja seguro para essas pessoas.
Trump e o estudo francês
Donald Trump, chegou a dizer que o uso da hidroxicloroquina combinada com um antibiótico chamado azitromicina poderia "mudar o jogo" no momento atual da pandemia.
A fala gerou uma corrida às farmácias tanto nos EUA quanto no Brasil, e faltou o medicamento para quem precisava, pessoas que fazem tratamentogloboesporte botafogolúpus e malária, por exemplo.
Essa situação levou inclusive a Anvisa a restringir a venda e passar a exigir prescrição médica para que ele fosse comercializado.
Nos EUA, um homem morreu egloboesporte botafogomulher foi internadagloboesporte botafogoestado grave após ingerirem a cloroquina como "prevenção".
Estudogloboesporte botafogomá qualidade
Em seu comentário, o presidente americano se referia a um estudo francês, o primeiro realizado com seres humanos, e que tem sido duramente criticado pela comunidade científica.
"A qualidade metodológica é tão ruim que ele não pode nem ser usado como referência", diz o médico cardiologista Luis Correia, professor adjunto da Escola Bahianagloboesporte botafogoMedicina e Saúde Pública.
Alémgloboesporte botafogoa amostra ser pequena,globoesporte botafogoapenas 36 pacientes, diz Natalia Pasternak, diretora do Instituto Questão Ciência, ele não segue uma sériegloboesporte botafogocritérios estatísticos importantes na pesquisa científica: a amostra, por exemplo, não é randomizada - ou seja, os pacientes não são escolhidos aleatoriamente para evitar que haja um viésgloboesporte botafogoconfirmação.
O fatogloboesporte botafogoa hidroxicloroquina ser combinada com outro medicamento é outro problema, porque, dessa forma, não se sabe sobre o efeito do medicamentogloboesporte botafogosi.
Pasternak destaca ainda que não tem se dado a devida atenção a um dado importante. Da amostragloboesporte botafogo36 pacientes, 6 foram excluídos do estudo porque, do total, 3 foram parar na UTI, um morreu, outro resolveu abandonar o tratamento por causa dos efeitos colaterais, porque estava sentindo muita náusea, e outro decidiu deixar o hospital.
Em um momentogloboesporte botafogopandemia como o atual,globoesporte botafogoque os cientistas estão correndo contra o tempo para tentar desenvolver um tratamento e salvar o máximo possívelgloboesporte botafogovidas, é compreensível quegloboesporte botafogoalguns casos se decida não ter o rigorgloboesporte botafogopesquisa que se temgloboesporte botafogotempos normais, diz Pasternak, mas isso não é desculpa para se fazer o que na visão dela é um trabalho ruim.
Um contraexemplo nesse sentido citado por ela é um estudo também recente, deste mêsgloboesporte botafogomarço, realizado na China com 30 pacientes e que usou, por exemplo, a randomização para selecionar a amostra.
O resultado, noticiado pela agência Bloomberg, não mostrou diferença entre o tratamento convencional para pacientes com covid-19 e aqueles que foram submetidos à hidroxicloroquina.
Este último é uma variante considerada mais segura da cloroquina. Ainda assim, o uso desse medicamento pode causar uma sériegloboesporte botafogoefeitos colaterais, entre eles cegueira, problemas no coração e no fígado.
A liberação para uso no Brasil
O protocolo para uso do fármaco no Brasil restringegloboesporte botafogoutilização para pacientes graves internadosgloboesporte botafogohospitais. O tratamento deve acontecer por cinco dias, sob supervisão médica. O Ministério da Saúde anunciou a distribuiçãogloboesporte botafogo3,4 milhõesgloboesporte botafogounidades do medicamento para os Estados.
Uma nota técnica da Anvisa publicada antes da liberação pontuava que o sucesso dos estudos pré-clínicos com o uso do medicamento justificava a pesquisa clínicagloboesporte botafogopacientes com covid-19. Nesse sentido, a agência destacava que dadosgloboesporte botafogosegurança e dadosgloboesporte botafogoensaios clínicosgloboesporte botafogomaior qualidade eram, portanto, urgentemente necessários.
"A Anvisa reforça que, para a inclusãogloboesporte botafogoindicações terapêuticas novasgloboesporte botafogomedicamentos, é necessário conduzir estudos clínicosgloboesporte botafogouma amostra representativagloboesporte botafogoseres humanos, demonstrando a segurança e a eficácia para o uso pretendido", encerra o texto.
Para Pasternak, a liberação da cloroquina e da hidroxicloroquina no Brasil aconteceugloboesporte botafogoforma prematura e irresponsável, já que, alémgloboesporte botafogonão haver evidências científicas concretasgloboesporte botafogoque ele funcione, será usadogloboesporte botafogopacientes graves, possivelmente com alguma comorbidade - como diabetes e cardiopatias -, e que podem sofrer efeitos adversos significativos.
Para Luis Correia, que é também diretor do Centrogloboesporte botafogoMedicina Baseadagloboesporte botafogoEvidências, "a distração com pseudonovidades traz o risco da perdagloboesporte botafogofoco na alta performancegloboesporte botafogomomentos críticos: o desafio da qualidade assistencial."
Ele acrescenta ainda que não se tratariagloboesporte botafogoum "tudo ou nada" - ou se usa o medicamento ou se deixa as pessoas morrerem.
Já existe um protocolo médicogloboesporte botafogocasos gravesgloboesporte botafogocovid-19, com usogloboesporte botafogorespiradores e o controlegloboesporte botafogocongestão pulmonar.
O Brasil tem registrado casosgloboesporte botafogopacientes internadosgloboesporte botafogoUTIs que conseguiram se recuperar quando submetidos a esses procedimentos.
Assim como, nos últimos dias,globoesporte botafogopacientes que foram submetidos à cloroquina e também saíramgloboesporte botafogoquadros mais severos.
Cientistasgloboesporte botafogotodo o mundo seguem testando o medicamento
Estudo global
Existe hoje um esforço internacional para testar se o medicamento égloboesporte botafogofato eficiente e seguro contra o novo coronavírus.
A cloroquina egloboesporte botafogovariante estão entre os quatro fármacos que estão sendo estudadosgloboesporte botafogouma iniciativa lançada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) batizadagloboesporte botafogoSolidariedade.
Além dela, os cientistas também estão estudando a viabilidadegloboesporte botafogousogloboesporte botafogoum medicamento concebido para tratar o ebola, que não se mostrou eficaz contra a doença mas tem tido bom desempenho contra covid-19globoesporte botafogotestes laboratoriais; uma combinaçãogloboesporte botafogodois remédios usados no tratamentogloboesporte botafogoHIV, ritonavir e lopinavir; e uma combinação entre esses dois e o interferon-beta, um fármaco que ajuda a controlar inflamações e se mostrou eficazgloboesporte botafogoanimais infectados por outro coronavírus, o que causa a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers).
No Brasil, foi lançado recentemente o Projeto Coalizão Covid Brasil, liderado pelos hospitais Albert Einstein, Sírio Libanês e HCor, além da Rede Brasileiragloboesporte botafogoPesquisagloboesporte botafogoTerapia Intensiva, para, entre outros objetivos, realizar testes clínicos com a cloroquina e a hidroxicloroquina.
A ideia é realizar testesgloboesporte botafogo70 hospitais pelo paísgloboesporte botafogomais ou menos mil pessoas com diferentes quadros: dos leves aos mais graves, inclusive aqueles que estão na UTI.
A pesquisa deve durar entre dois e três meses.
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