'Como perdoei os homens que mataram minha mãe com uma bomba':bet pt apostas

Legenda da foto, 'Aprendi que alguém pode fazer algo terrível, mas pode mudar depois, e eu o perdoo', diz Sarah

Iwan só soube muito tempo depois que se tratavabet pt apostasum ataque suicida,bet pt apostasautoria do grupo extremista local Jemaah Islamiyah, ligado à Al Qaeda, responsável por uma sériebet pt apostasataques na Indonésia, incluindo os atentadosbet pt apostas2002bet pt apostasBali, nos quais 202 pessoas foram mortas.

"Eu só via sangue. Muito sangue. Um pedaçobet pt apostasmetal que foi pelos ares destruiu um dos meus olhos."

A mulher dele foi arremessada da moto. Ambos foram levados às pressas para o hospital e,bet pt apostasestadobet pt apostaschoque, Halila Seroja Daulay entroubet pt apostastrabalhobet pt apostasparto gravemente ferida.

"Ela foi levada às pressas para o centro cirúrgico após começarem as contrações. Mas, louvado seja Alá,bet pt apostasalguma forma ela ainda conseguiu dar à luz naturalmente", conta Iwan.

Naquela noite, Rizqy nasceu. O nome dele significa "benção".

Crédito, Iwan Setiawan

Legenda da foto, Iwan com o filho Rizqy, que nasceu no dia do atentado, no colo

"Minha mãe era tão incrivelmente forte", diz Sarah, primeira filhabet pt apostasIwan e Halila, chorando.

"Embora os ossos dela estivessem quebrados, ela conseguiu dar à luz naturalmente o meu irmão. Ela era tão incrivelmente forte, minha mãe."

Mas Halila nunca se recuperou totalmente dos ferimentos e, dois anos depois, no quinto aniversáriobet pt apostasSarah, ela morreu.

"Perdi minha melhor amiga, minha alma gêmea, a pessoa que me completava. É muito doloroso falar sobre isso", desabafa Iwan, também aos prantos.

Crédito, Iwan Setiawan

Legenda da foto, Sarah no colo da mãe, Halila; 'Eu sempre perguntava ao meu pai quando era criança: Onde está minha mãe?'

No início, ele foi tomado por um desejobet pt apostasvingança.

"Eu queria que os autores do ataque que sobreviveram morressem, mas não queria que tivessem uma morte rápida", afirma.

"Queria que eles fossem torturados primeiro. Queria que cortassem a pele deles e colocassem sal nas feridas, para que eles tivessem uma ideia da dor causada pela explosão, tanto física quanto mentalmente. Meus filhos e eu lutamos muito para continuar vivendo."

É outubrobet pt apostas2019, já se passaram 15 anos desde o atentado a bomba à embaixada australianabet pt apostas2004, e 13 anos desde a mortebet pt apostasHalila.

Ao ladobet pt apostasIwan, pegamos um barco para atravessar o estreito que dá acesso à ilhabet pt apostasNusakambangan, na costabet pt apostasJava, onde está localizado um presídiobet pt apostassegurança máxima.

Legenda da foto, Sarah como o pai no barco: 'Por que eles fizeram isso? É o que eu quero saber'

Vamos encontrar dois homens que estão no corredor da morte. Ambos foram julgados e condenados pelo atentado que deixou as crianças sem mãe e Iwan, sem esposa.

"Meu coração está acelerado, estou muito emocionado. Não tenho palavras para explicar o que está passando na minha cabeça", diz Iwan, enquanto desembarcamos no porto, sob uma leve chuva e neblina.

"Só espero que esta jornada abra os corações dos autores do ataque a bomba."

Iwan já encontrou com um destes homens antes, graças ao programabet pt apostasdesradicalização da Indonésia, que organiza reuniões entre combatentesbet pt apostasgrupos extremistas e suas vítimas. Mas para os filhos dele, é a primeira vez.

Pergunto a Iwan, pela centésima vez, se ele realmente quer fazer isso.

Oportunidade importante

"Sim, é muito importante que meus filhos tenham essa oportunidade", diz ele decidido.

"Eu sempre os ensinei a não ter raiva. Mas eles querem saber como são os homens que fizeram isso. Querem ter a chancebet pt apostasconhecê-los."

Fica claro que eles são uma família muito unida.

Sarah, aos 17 anos, está estilosamente vestida com um véu preto, camisa listrada e calça comprida. Ela tira selfies ao longo do trajeto e, como muitos adolescentes, não desgruda do celular.

Mas quando fala sobre por que está fazendo isso, se mostra determinada.

"Espero que este encontro faça com que os terroristas reflitam e implorem por perdão a Alá. Se eles se arrependerem verdadeiramente do que fizeram, vão poder influenciar os outros e, com sorte, isso nunca mais vai acontecer."

Sarah tem uma pergunta que a atormenta, e esperou anos para fazer.

"Por que eles fizeram isso? É o que eu quero saber."

Vestido com um macacão laranja, Iwan Darmawan Munto, também conhecido como Rois, aguarda sentadobet pt apostasuma pequena salabet pt apostasreuniões. Ele parece fraco e estábet pt apostasuma cadeirabet pt apostasrodas — ele sofreu um derrame recentemente, mas está com as pernas e mãos algemadas.

Legenda da foto, Iwan Darmawan Munto, conhecido como Rois, está sendo mantidobet pt apostasisolamento na prisão

Em seu julgamento, Rois se levantou após ser declarado culpado e afirmou: "Sou grato por ter sido condenado à morte, porque vou morrer como mártir!"

Acredita-se que a embaixada australiana tenha sido atacada por causa da aliança com os EUA na guerra no Iraque.

Dois guardas armados encapuzados estão ao lado dele. O clima está muito tenso. Eles nos dizem que, se Rois tentar alguma coisa, devemos nos dirigir rapidamente para as paredes.

Iwan, Sarah e Rizqy cumprimentam o preso, e se sentambet pt apostascadeirasbet pt apostasplástico. É Iwan quem quebra o silêncio.

"Meus filhos estão curiosos para conhecer a pessoa que os levou a perder a mãe, e o pai a perder os olhos", diz ele.

Rois pergunta casualmente onde Iwan estava no momento da explosão.

Legenda da foto, Sarah e Rizqy evitam contato visual ao se encontrar com Rois

Iwan explica quebet pt apostasesposa estava grávida, e que ela deu à luz na noite do atentado.

"Este é o filho que ela deu à luz", diz Iwan, apontando para Rizqy, que olha fixamente para as mãos.

Rois responde: "Eu também tenho um filho. Não vejo minha esposa e filho há anos. Sinto muita falta deles. Estou ainda pior do que você. Você ainda está com seus filhos. Meu filho nem sequer me conhece".

Rois olha para Sarah e Rizqy — agora estão os dois olhando fixamente para as mãos, evitando qualquer contato visual.

De repente, todo mundo está olhando para Sarah. Sabemos que ela queria perguntar uma coisa.

Mas aquela situação é demais para ela, que cai aos prantos. Iwan se apressabet pt apostascolocar as mãos na cabeça da filha — e a abraçabet pt apostasforma protetora. Ela, então, consegue perguntar a Rois calmamente por que ele fez aquilo.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Em seu julgamento, Rois disse que estava ansioso para morrer como um mártir

"Eu não fiz o que eles disseram que fiz. Por que eu confessei? A resposta está ao olhar nos meus olhos", diz ele, apontando para os olhos.

"Talvez quando for mais velha, você vai entender", ele continua. "Não concordo com ataquesbet pt apostasque as vítimas são muçulmanos. Isso não está certo. Você não pode matar muçulmanos — ferir um muçulmano, não está certo."

Eu me intrometo: "E se as vítimas não forem muçulmanos?"

"Também não concordo com isso", diz ele rapidamente.

Perigo e influência

Rois está isoladobet pt apostasuma cela na prisãobet pt apostassegurança máxima — os guardas dizem que estão preocupados com a influência dele sobre outros detentos.

Antes, ele dividia cela com o clérigo radical Aman Abdurrahman, que jurou lealdade ao grupo extremista autodenominado Estado Islâmico atrás das grades. Ambos são suspeitosbet pt apostasterem planejado um atentadobet pt apostas2016bet pt apostasJacartabet pt apostasdentro da prisão.

Antesbet pt apostasIwan partir, Rois se oferece para orar por ele.

"Todos os homens cometem erros. Se eu o ofendibet pt apostasalguma forma, peço desculpas. Eu sinto muito. Sinto mesmo."

Legenda da foto, 'Estou muito decepcionado. Ele causou tanta dor, mas não quer admitir', diz Iwan

Do ladobet pt apostasfora, Iwan parece profundamente abalado.

"Ele ainda acha que fez a coisa certa. Receio que se tivesse outra chance, faria novamente", diz ele, segurando as lágrimas.

"Estou muito decepcionado. Ele causou tanta dor, mas não quer admitir. O que mais posso fazer?"

Estamos no ônibus militar que vai nos levar até a outra prisão na ilha e, a certa altura, passamos por um grupobet pt apostasmacacos penduradosbet pt apostasárvores perto da estrada.

Há duas prisões na ilha: estamos saindobet pt apostasBatu para Permisan, onde vamos encontrar Ahmad Hassan — o segundo homem no corredor da morte condenado pelo ataque que matou a mãebet pt apostasSarah e Rizqy.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Hassan deixou o tribunal com o punho erguido, olhando furiosamente para as câmeras

Nas fotos tiradas durante o julgamento, Hassan aparece com o punho erguido, olhando furiosamente para as câmeras, ao deixar o tribunal, cercado por seguranças e hordasbet pt apostasjornalistas. Mas o homem que encontramos hoje é muito diferente.

Vestido com uma túnica islâmica e um chapéubet pt apostasoração, ele parece nervoso e fala baixinho.

Iwan já havia estado com Hassan antes.

"Convidei meus filhos para conhecê-lo", diz Iwan, colocando a mão gentilmente no joelho dele.

"Quero que eles também entendam por que você fez o atentado que matou a mãe deles e me fez perder um dos olhos."

Hassan assente solenemente.

"Eles precisam saber. Eles perderam a mãe tão jovens", afirma.

"Eu disse ao seu pai e agora tenho a oportunidadebet pt apostasdizer a vocês, louvado seja Alá, que eu tenho essa chance."

"Eu nunca quis machucar seu pai, coincidiubet pt apostasele estar passando, e meu amigo que estava carregando a bomba explodiu naquele momento. Espero que vocês, filhosbet pt apostasIwan, possam me perdoar."

A voz dele começa a falhar. "Eu sou um homem imperfeito. Cometi muitos erros."

Sarah olha para ele e diz, educada e assertivamente: "Por que você fez algo assim? Qual foi o motivo?"

"Meus amigos e eu recebemos a educação e os ensinamentos errados. Gostaria que não tivéssemos agido antesbet pt apostastermos realmente adquirido conhecimento e entendido o que estávamos fazendo", ele responde.

Sarah conta a ele então a história dela. Como a mãe morreu no seu aniversáriobet pt apostascinco anos, como eles planejavam fazer uma festa às quatro horas e como a alegria se transformoubet pt apostasdesespero.

"Eu perguntava sempre ao meu pai quando era criança: 'Onde está minha mãe?', e ele me dizia que ela estava na casabet pt apostasAlá. Eu perguntava onde era, e ele dizia que era na mesquita."

"Então, eu fugi para a mesquita. Minha avó estava me procurando e, quando ela me encontrou, eu disse a ela que estava esperando minha mãe. Estava esperando minha mãe voltar para casa. Mas ela nunca voltou."

Legenda da foto, Hassan faz oração pedindo perdão

Hassan fecha os olhos e abre as mãosbet pt apostasoração. Repetidas vezes, ele murmura uma oração pedindo perdão a Alá.

"Alá queria que eu te conhecesse e fosse obrigado a tentar explicar", diz ele.

"Mas eu não posso te explicar, minha filha, me desculpe."

"Não consigo segurar as lágrimas. Vejo Sarah como minha própria filha. Por favor, por favor, me perdoe. Está nas suas mãos."

Todos na pequena sala estão chorando.

Mais tarde, Iwan diz o quanto as lágrimasbet pt apostasHassan significavam para ele.

"Quando vi Hassan chorando, soube que ele era uma boa pessoa. Ele pode sentir o sofrimento e a dor dos outros. Talvez naquele momento ele tenha sido influenciado pelas pessoas erradas com as ideias erradas, e agora ele abriu seu coração."

No fim da reunião, eles tiram fotos juntos. E dão as mãos. É incrível sentir o climabet pt apostasperdão nesta sala.

Legenda da foto, Rizqy, Hassan, Iwan e Sarahbet pt apostasmãos dadas

"Eu sempre disse que a penabet pt apostasmorte não era o bastante para eles, que eles deveriam ser torturados primeiro para sentir a dor que sofremos", diz Iwan. "Mas Alá privilegia seus seguidores que são capazesbet pt apostasperdoar."

Saímos da sala, enxugando lágrimas do rosto, e voltamos ao ônibus militar.

Há uma praia famosa nesta ilha, localizada atrás dos presídios — um lugar a que os presos não têm acesso. É a chamada praiabet pt apostasPermisan, ou praia branca, onde as forças especiais do país treinam.

Sarah, Rizqy e Iwan pedem para ir até lá.

É um lugar selvagem, com rochas escarpadas, e ondas batendo na praia. De mãos dadas, Sarah, Rizqy e Iwan correm pela areia. Eu nunca vi Sarah sorrindo assim antes.

Legenda da foto, Ao fim dos encontros, a família correbet pt apostasmãos dadas pela praia

"Os encontrosbet pt apostashoje me ensinaram muito", diz ela.

"Hassan pediu desculpas e se arrepende do que fez. Aprendi que alguém pode fazer algo terrível, mas pode mudar depois, e eu o perdoo."

"Estou sorrindo mais agora porque o que eu queria saber, o que eu queria perguntar há tanto tempo, foi finalmente respondido."

"Sinto as ondas (do mar) e ondasbet pt apostasalívio."

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