‘Decidi adotar minha filha após desfilarmos na passarela’: as mães que adotaram jovens após evento polêmico:jogar jogo do blaze
Em dezembrojogar jogo do blaze2017, Jéssica recebeu a notícia com a qual sonhava todas as noites desde a infância: ela foi escolhida por uma família. "Quando soube, puleijogar jogo do blazealegria. Não conseguia acreditar", diz.
Ela conta que se surpreendeu ao ver que havia sido adotada por Sandra e pelo marido da empresária. "No dia do desfile, eu tinha sentido um pouco que ela era a minha mãe. Não sabia se seria adotada, mas comecei a criar expectativas. Porém, essas expectativas sobre uma família acontecem sempre com quem vivejogar jogo do blazeabrigos."
"Mas eu tentei não me envolver muito, porque sempre percebi que as pessoas não gostam muitojogar jogo do blazeadotar adolescentes, por achar que crianças são mais fáceis e não têm personalidade formada", fala.
Polêmica com o desfilejogar jogo do blazeadoção
A históriajogar jogo do blazeSandra e Jéssica é usada como exemplojogar jogo do blazeque o projeto "Adoção na Passarela" pode ser uma forma positivajogar jogo do blazeachar uma família para jovens aptos a serem adotados.
Na tarde deste sábado (25), elas receberam a BBC News Brasil na casa da família,jogar jogo do blazeVárzea Grande. Mãe e filha defenderam a iniciativa organizada pela Associação Mato-grossensejogar jogo do blazePesquisa e Apoio à Adoção (Ampara),jogar jogo do blazeparceria com a Comissãojogar jogo do blazeInfância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional Mato Grosso (OAB-MT).
A polêmica envolvendo o desfile teve início na última quarta-feira (22), um dia depois da segunda edição do evento, desta vez realizadojogar jogo do blazeum shoppingjogar jogo do blazeCuiabá. Nas redes sociais, internautas criticaram a iniciativajogar jogo do blazereunir adolescentes órfãosjogar jogo do blazeuma passarela, para serem vistos pelo público, incluindo pessoas que têm interessejogar jogo do blazeadoção. Alguns, chegaram a comparar a situação ao período da escravidão.
A Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, emitiu, no dia 22jogar jogo do blazemaio, nota pública repudiando o desfile. "O Estatuto da Criança e do Adolescente atribui à sociedade e ao Estado o deverjogar jogo do blazeproteger integralmente crianças e adolescentes, o que inclui a proteção à exposiçãojogar jogo do blazesua identidade e as suas emoções", diz trecho do comunicado da entidade.
A Defensoria Públicajogar jogo do blazeMato Grosso também divulgou, na quarta (22), uma notajogar jogo do blazerepúdio contra o evento. "Corre-se o riscojogar jogo do blazeque a maioria dessas crianças e adolescentes não seja adotada, o que pode gerar sérios sentimentosjogar jogo do blazefrustração, prejuízos à autoestima e indeléveis impactos psicológicos."
A organização do desfile nega que as crianças tenham sido expostas durante o evento. "Essa repercussão foi uma triste surpresa. A gente não esperava esses entendimentos equivocados, que se multiplicaramjogar jogo do blazetamanha forma", afirma a presidente da Ampara, Lindacir Rocha Bernardon, que está há 15 anos na entidade filantrópica.
Para Sandra, não há dúvidas: o desfile foi interpretadojogar jogo do blazemodo equivocado por muitas pessoas. "O que estão fazendo está causando um grande problema para a Ampara. Mas analiso que isso também serviu para dar uma acordada no Brasil, para que a sociedade entenda que essas crianças existem, estão escondidas e precisamjogar jogo do blazefamília."
A empresária participou da primeira edição do "Adoção na Passarela" após ser convidada por uma amiga. Sandra passou a se interessar por adoção há 14 anos, após perderjogar jogo do blazeentão única filhajogar jogo do blaze18 anosjogar jogo do blazeum acidentejogar jogo do blazecarro. Anos depois, tornou-se responsável por criar a filhajogar jogo do blazeuma conhecida, quando a criança ainda era recém-nascida. "Hoje tenho a guarda definitiva dela", diz, sobre a garota que atualmente tem 10 anos.
Para participar do desfilejogar jogo do blaze2016, Sandra conta que recebeu uma lista com os nomes dos adolescentes aptos para adoção que participariam do evento. Ela relata que teve acesso somente aos nomes e idades deles. A empresária deveria escolher um ou mais para "patrocinar", por meiojogar jogo do blazedoaçãojogar jogo do blazeroupas e calçados para o dia do evento. "Escolhi a Jéssica e mais uma, mas foram nomes aleatórios, porque não havia muitas informações sobre elas."
No dia do evento, segundo a empresária, a produção a convidou para desfilar com as duas jovens que apadrinhou. Nos bastidores, ela teve o primeiro contato com a filha.
"Eu queria adotar mais uma menina, mas queria uma criançajogar jogo do blazequatro ou cinco anos. Mas quando conheci a Jéssica e outros jovens no evento, logo pensei: tem vários casais disputando crianças pequenas, então por que não adotar uma garota que está sem esperançasjogar jogo do blazeser escolhida por ser mais velha?", diz Sandra.
Adoção tardia
Presidente da CIJ, Tatianejogar jogo do blazeBarros Ramalho afirma que a adoção tardia é um dos maiores desafiosjogar jogo do blazeentidades que cuidamjogar jogo do blazeórfãos. "São necessárias políticas públicas urgentes sobre o assunto. É hipocrisia achar que adolescentes que estãojogar jogo do blazelares,jogar jogo do blazebuscajogar jogo do blazeserem adotados, não existem. Eles são tratados como invisíveis. A gente precisar trazer esses adolescentes à tona", declara.
Em razão das dificuldadesjogar jogo do blazeencontrar um lar para muitos dos jovens, Tatiane argumenta que as medidas alternativas, como o "Adoção na passarela", se tornam importantes para que os adolescentes consigam uma família. "Se o desfile fosse algo errado, não teríamos autorização judicial da Vara da Infância e Juventudejogar jogo do blazeCuiabá e Várzea Grande", afirma.
Na edição da terça-feira (21), segundo a organização, 18 jovens acimajogar jogo do blaze12 anos, aptos para a adoção, desfilaram na passarela. "Eles estavam acompanhados dos padrinhos ejogar jogo do blazenenhum momento foram mencionadas informações sobre eles ou se poderiam ser adotados. Disseram que os jovens desfilavam com identificação, como se fossem mercadorias, mas não é verdade. Eles não foram identificados na passarela. É muito triste saber que algumas pessoas divulgaram mensagens inverídicas sobre o evento", declara Tatiane.
Além dos jovens aptos para adoção, crianças que já encontraram famílias adotivas também participaram, junto com os pais, da segunda edição do desfile. O evento aconteceu durante a Semana da Adoção, que incluiu, entre outras atividades, palestras, e recreações com as crianças.
Para o advogado Thiago Vargas Simões, especializadojogar jogo do blazedireitojogar jogo do blazefamília, houve boa intenção na criação do evento. No entanto, ele afirma que o desfilejogar jogo do blazemenores que buscam por uma família "coisificou" os jovens.
"Creio que poderiam ter sido tomadas outras providências para divulgar e incentivar a adoção daqueles jovens. O Estatuto da Criança e Adolescente prevê que toda criança tem o direitojogar jogo do blazeser respeitada e inviolada física, psíquica e moralmente, bem como ter ajogar jogo do blazeimagem e identidade preservadas", afirma. "Ao colocar aquelas criançasjogar jogo do blazedesfile, por melhor que tenha sido a intenção do evento, pareceu-me algo muito constrangedor para os menores".
Os organizadores do evento argumentam que as crianças aceitaram participar do desfile. O Conselho Regionaljogar jogo do blazePsicologiajogar jogo do blazeMato Grosso porém, afirmou, por meiojogar jogo do blazenota, que a permissão do jovem para participar do desfile não reduz as consequências que podem ser trazidas aos órfãos.
"Em relação às crianças e adolescentesjogar jogo do blazesituaçãojogar jogo do blazeacolhimento institucional, entendemos que tal exposição, ainda que estas tenham demonstrado interesse, não respeita seus direitos à intimidade e individualidade, uma vez que não compreende e/ou ressalta a dimensão subjetiva das crianças e adolescentes e suas expectativas diante da necessidadejogar jogo do blazeconvivência familiar e social", diz o comunicado do conselho.
O processojogar jogo do blazeadoção
Depois do desfile com Jéssica, Sandra conversou com representantes da Ampara sobre o desejojogar jogo do blazeadotar a garota. "Eu não estava na fila para adoção. Tinha o desejojogar jogo do blazeadotar mais uma filha, mas não tinha feito nada para isso ainda. Naquele momento, me orientaram a preencher uma ficha. Semanas depois, comecei a fazer um curso preparatório para a adoção [na Vara da Infância e Juventudejogar jogo do blazeVárzea Grande], junto com o meu marido", diz a empresária.
Tatiana frisa que os jovens que desfilaram somente podem ser adotados mediante processo na Vara da Infância e Juventude. "Falaram que se uma pessoa da plateia tivesse gostado do adolescente que desfilou, era só sair com ele dali. Isso é um absurdo. Inventar algo assim é pura insanidade e maldade", declara.
Após concluir o curso, Sandra e o marido, o administrador Amarildo Monteiro, receberam o certificado que apontou que eles estavam aptos para adotar. "Juntamos todas as documentações necessárias, apresentamos na Vara da Infância para que pudéssemos adotar a nossa filha. Do dia do desfile até a datajogar jogo do blazeque ela chegoujogar jogo do blazecasa, passou-se um ano."
A empresária relata que a chegadajogar jogo do blazeJéssica trouxe alegria à família. "Quando ela entrou nessa porta, houve uma transformação na minha casa. A minha filha mais nova é hiperativa, mas isso mudou quando a Jéssica chegou. As duas são muito amigas e parceiras. Ela veio para mudar e somar", diz.
Jéssica considera que a chegada na casajogar jogo do blazeSandra foi uma das melhores coisas que aconteceram emjogar jogo do blazevida. "Todos os dias, ficava pensando: o que serájogar jogo do blazemim amanhã? Será que ainda tenho chancejogar jogo do blazeter uma família? A gente vai perdendo a esperança, depoisjogar jogo do blazever tantos amigos indo embora. Eu achava que eu tinha algum problema, porque muitos casais conversavam comigo, mas eu não sabia que era porque eles queriam adotar alguém. Depoisjogar jogo do blazeum tempo, eles apareciam no abrigo e levavam algum dos meus amigos com eles. Só aí eu entendia que não tinham me escolhido."
Por quase 10 anos, Jéssica viveujogar jogo do blazeum abrigojogar jogo do blazeVárzea Grande, desde que foi abandonada pelos pais biológicos junto com três irmãos - ela é a segunda mais velha. "Não tenho muitas lembranças dos meus pais", conta. Ela relata que a esperajogar jogo do blazequase uma década por uma família trouxe traumas, que agora tenta superar com o amor dos pais adotivos. "O tempo foi passando no abrigo, eu fui crescendo e entendendo a situaçãojogar jogo do blazeque eu vivia."
Irmãos adotados
Um dos objetivosjogar jogo do blazeJéssica desde que foi deixada pelos pais foi se manter próxima aos três irmãos. A primeira a ser adotada entre eles foi a mais nova, na época com seis anos. O mais velho fugiu do lar e não foi localizado desde então. Somente a jovem e Lucas* permaneceramjogar jogo do blazeabrigos até dois anos atrás.
Logo que descobriu que seria adotada, Jéssica se preocupou com o futurojogar jogo do blazeLucas. "Eu pensei no meu irmão, porque soube que uma família havia apadrinhado ele e poderia haver adoção. Eu chorei muito", relata, aos prantos. "Porque eu não queria ficar longe dele", completa,jogar jogo do blazemeio a lágrimas.
Lucas, hoje com 14 anos, havia recebido apadrinhamento afetivo - vínculo no qual uma família passa a ajudar o órfão - da contadora Elísia Reginajogar jogo do blazeOliveira,jogar jogo do blaze47 anos, ejogar jogo do blazeseu marido, o servidor público Lusanil Egues da Cruz, 48. O casal, paijogar jogo do blazedois filhos biológicos,jogar jogo do blaze14 e 19 anos, relata ter conhecido o irmãojogar jogo do blazeJéssica por meio do "Adoção na passarela".
Elísia é amigajogar jogo do blazeSandra e foi convidada pela empresária para participar do desfilejogar jogo do blaze2016. "Eu queria "patrocinar" uma menina no desfile, pois sou mãejogar jogo do blazedois rapazes e sempre quis adotar uma garota. Mas havia apenas meninos quando fui procurar, então escolhi o Lucas, mesmo sem conhecê-lo."
Elísia não tinha planosjogar jogo do blazeadotar Lucas. "O desfile me fez criar coragem para dar forma ao meu projetojogar jogo do blazevidajogar jogo do blazeadotar uma filha. Então, eu e meu marido fizemos o curso preparatório para adoção."
Enquanto visitava um abrigojogar jogo do blazemeninas, ao fim do curso, Elísia reencontrou Lucas. "Naquele dia, os meninos foram até a casajogar jogo do blazeque ficam as garotas. Quando o reencontrei, fui conversar com ele, mas ele não falou muito comigo, porque era muito arredio", diz. A contadora relata que ouviu,jogar jogo do blazefuncionários do larjogar jogo do blazeacolhimento, histórias sobre o quanto o garoto era peralta. "Conversei com meu marido e decidimos que iriamos apadrinhá-lo."
"A gente queria, ao menos, dar oportunidades para ele. Ajudá-lo no dia a dia ou nos estudos", afirma Lusanil.
Para que pudessem apadrinhar o garoto, eles tiveramjogar jogo do blazepedir permissão à Justiça. Logo que conseguiram, Lucas passou a fazer visitas frequentes aos padrinhos. "Na terceira vezjogar jogo do blazeque ele nos visitou, decidimos adotá-lo. Fizemos todos os trâmites judiciais e recebemos a guarda provisória depoisjogar jogo do blazeum ano", diz Elísia.
A descobertajogar jogo do blazeque o irmão iria morar com Elísia e Lusanil trouxe alívio a Jéssica. Isso porque ela descobriu que conseguiria manter proximidade com Lucas,jogar jogo do blazerazão da amizade entre Sandra e Elísia. "Hoje fazemos várias atividades juntos. Eu e a Elísia éramos próximas, mas nos tornamos muito mais amigas depois das adoções", diz Sandra.
Ao menos uma vez por mês, as famílias se unem aos pais adotivos da irmã mais novajogar jogo do blazeLucas e Jéssica. "A família que adotou a caçula entroujogar jogo do blazecontato para que nos reuníssemos. Sempre que podemos, saímos com os três", conta Sandra. Eles não têm notícias do irmão mais velho dos adolescentes.
Lusanil comenta que tem se preocupadojogar jogo do blazedar a melhor estrutura possível para que Lucas, que cursa o oitavo ano do ensino fundamental, consiga ter um futuro melhor. "Ele estudajogar jogo do blazeescola particular e estamos traçando o caminho dele da mesma forma dos nossos filhos biológicos", declara.
Elísia e Lusanil consideram o desfile da Ampara como uma boa alternativa para jovens órfãos. "Esse evento foi fundamental para fazermos o cursojogar jogo do blazeadoção e para mudarmos o perfil que buscávamos. O Lucas só veio para nós porque se tornou uma criança visível, por conta do desfile. Então, acho que é uma iniciativa muito boa", afirma a contadora.
O futuro do desfile
O juiz Túlio Duailibi Souza, coordenador da Comissão da Infância e Juventude do Poder Judiciáriojogar jogo do blazeMato Grosso, classifica o desfile como uma iniciativa relevante. "Não foi uma exposiçãojogar jogo do blazecrianças e adolescentes. Visibilidade é diferentejogar jogo do blazeexposição", declara à BBC News Brasil.
"Precisavam se inteirar mais dos fatos para expressar essas críticas. As crianças não foram ao desfile com o sentimentojogar jogo do blazeque seriam escolhidas para a adoção. Essa enxurrada não se preocupoujogar jogo do blazesaber a realidade das crianças dentrojogar jogo do blazeuma entidadejogar jogo do blazeacolhimento, que vive a ansiedadejogar jogo do blazealguém bater na porta para dizer: 'hoje você vai ser adotado'", completa.
Ele argumenta que a participação dos jovens aptos a adoção foi aprovada pela Justiça por acreditar que a medida pode ajudar a diminuir os númerosjogar jogo do blazeabrigos do Estado. "Temos 75 crianças e adolescentes aptos a adoçãojogar jogo do blazeentidadesjogar jogo do blazeacolhimentojogar jogo do blazeMato Grosso. Há 953 pretendentes a adoção. Esse número nos remete à necessidadejogar jogo do blazefazer políticajogar jogo do blazevisibilidade para esses grupos que não são preferência, como adolescentes, irmãos e portadoresjogar jogo do blazenecessidades especiais ou doenças crônicas."
No Brasil, conforme dados do Cadastro Nacionaljogar jogo do blazeAdoção, do Conselho Nacionaljogar jogo do blazeJustiça (CNJ), 8,7 mil crianças e adolescentes estão à esperajogar jogo do blazeuma família.
Em meio às críticas sobre a exposição dos jovens aptos a adoção, a Corregedoria do Conselho Nacionaljogar jogo do blazeJustiça (CNJ) pediu respostas à Corregedoria Geraljogar jogo do blazeJustiçajogar jogo do blazeMato Grosso sobre o desfile. "É um pedido salutar. Foi um evento impulsionado por críticas que parecem destoar da realidade. Gerou repercussão nacional. É natural que o CNJ, como instituição que cuida do Poder Judiciário, busque esclarecimentos", minimiza Duailibi.
"É uma oportunidade para discutir o desfile. Se tiver que aperfeiçoar o modelo, ok. O importante é que o tema entrejogar jogo do blazepauta. Não vejo isso [o pedido do CNJ] como algo negativo. Ao contrário, temos que enxergar pelo lado positivo", declara o magistrado.
jogar jogo do blaze *Nomes alterados para preservar a identidade dos adolescentes