Como foi a primeira travessia aérea sem escalas entre Europa e América Latina:esporte betis

Crédito, Arquivo pessoal Rostand Medeiros

Legenda da foto, O avião decolouesporte betisMontecelio, comuna italiana da região do Lácio, provínciaesporte betisRoma, e pousou na a pequena cidadeesporte betisTouros, a cercaesporte betis80 quilômetrosesporte betisNatal, no Rio Grande do Norte

Crédito, Arquivo pessoal Rostand Medeiros

Legenda da foto, O feitoesporte betisFerrarin e Del Prete se insere num contexto históricoesporte betisque vários aviadores e países corriam para obter marcas pioneiras

Segundo o historiador, o avião tinha a missãoesporte betisbater dois recordes aeronáuticosesporte betisreconhecimento mundial: oesporte betisvooesporte betisdistância e duraçãoesporte betiscircuito fechado e o recordeesporte betisdistânciaesporte betisviagemesporte betislinha reta. Este último recorde era dos pilotos norte-americanos Clarence Duncan Chamberlin e Charles Albert Levine, que entre os dias 4 e 6esporte betisjunhoesporte betis1927 decolaramesporte betisNova York com destino a Berlim.

Eles não chegaram ao destino, no entanto, porque foram obrigados a pousar por faltaesporte betisgasolinaesporte betisEisleben (Alemanha). Mas, mesmo assim, completaram a marcaesporte betis6.294 km, algo que jamais havia sido alcançado até então.

Antes disso, entretanto, outros aviadores tinham feito história com seus voos memoráveis. "Muitos pensam que a primeira travessia aérea do Atlântico foi realizada pelo norte-americano Charles Augustus Lindbergh, no dia 20esporte betismaioesporte betis1927", diz Medeiros.

"Outros apontam, e eu concordo, que os primeiros aviadores a realizarem a travessia do Atlântico foram John William Alcock, inglês, e Arthur Whitten Brown, escocês. Eles partiram da Terra Nova, no Canadá,esporte betis14esporte betisjunhoesporte betis1919, e chegaram à Irlanda 16 horas depois."

Já no Atlântico Sul, a primeira travessia realizada com sucesso ocorreuesporte betis17esporte betisjunhoesporte betis1922, pelos aviadores portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabral, como parte das comemorações do primeiro centenário da independência do Brasil. Mas eles realizaram a travessia com escalas. Nos 3.041 quilômetros que percorreram, os dois enfrentaram muitas dificuldades e tiveram que utilizar três aeronaves diferentes.

O voo tenso até o Brasil

Para participar desse momentoesporte betispioneirismo, a Itália escolheu os experientes aviadores Ferrarin e Del Prete, que deveriam sairesporte betisseu país e chegar ao Brasil. Medeiros conta que, depoisesporte betisdecolarem, a primeira parte do voo ocorreu ora com tempo aberto, ora com nuvens.

"Eles deixaram a Itália sobre a cidade Ostia, mas, devido ao peso (por causa da grande quantidadeesporte betiscombustível), seguiram a uma altitude que pouco superou os 100 metros e a uma velocidade médiaesporte betis180 km/h", diz.

Somente à meia-noite, horaesporte betisGreenwich, 21hesporte betisBrasília (ou do Rioesporte betisJaneiro, que era a Capital Federal na época), depoisesporte betissobrevoarem o Mediterrâneo, avistaram a costa da Argélia. Naquele momento, um vento quente vindo do deserto do Saara provocou um aumentoesporte betistemperatura da água do radiador, do óleo do motor e da própria cabine.

"Os pilotos passaram pelo Estreitoesporte betisGibraltar às 5h20 GMT (2h20esporte betisBrasília), depoisesporte betisestarem voando continuamente havia maisesporte betisdez horas e terem percorrido 1.780 quilômetros", relata o historiador potiguar. "Eles iniciaram uma curva suave e aberta à esquerda, acompanhando o contorno do continente africano."

Ainda segundo Medeiros, depois das temperaturas elevadasesporte betisparte do trajeto, surgiram nuvens pesadas na altura da cidade marroquinaesporte betisCasablanca, sendo necessário elevar a altitude para escapar da instabilidade.

Mesmo com essa medida, os pilotos não conseguiram evitar as nuvens, ficando apenas com a bússola para a orientação do voo. Após saírem da áreaesporte betisnebulosidade, a visibilidade melhorou e eles puderam verificar aesporte betisposição. "Os dois, então, se aproximam da costa desértica e Ferrarin se impressionou com a paisagem árida", diz. "Seguiam a uma altitudeesporte betis300 metros."

Crédito, Arquivo pessoal Rostand Medeiros

Legenda da foto, Pilotos passaram por muitos momentosesporte betisperigo no voo até o Brasil

Mas as dificuldades do voo ainda não tinham acabado. Medeiros conta que, durante a noite, novas áreas com muitas nuvens apareceram, e, para evitar a instabilidade gerada por elas, Ferrarin e Del Prete subiram gradativamente, mas sem sucesso.

A velocidade média giravaesporte betistornoesporte betis170 quilômetros por hora e foi vista como "excepcional" pela distância percorrida. Os relatos dos pilotos mostram que entre o final do dia 4esporte betisjulho e o início do dia 5, durante o trajeto entre Cabo Verde e o Brasil, o tempo foi piorando cada vez mais e apenas a bússola servia como instrumentoesporte betisnavegação.

Finalmente, depoisesporte betis27 horasesporte betisvoo, devido ao consumoesporte betiscombustível, o avião estava mais leve, permitindo alcançar a altitudeesporte betis4.000 metros e fugir do mau tempo. A manobra não obteve os resultados esperados, no entanto, pois ocorreram fortes turbulências.

Para piorar, não era possível voar mais alto, pois 4.000 metros já é uma altitude considerada acima do limiteesporte betissegurança que se pode alcançar quando uma aeronave não dispõeesporte betissistemasesporte betisrespiração autônoma com oxigênio.

De acordo com Medeiros, Ferrarin e Del Prete passaram por um momento extremamente crítico na escuridão da noite. "Dianteesporte betisfortes rajadasesporte betisvento, o S-64 foi muito sacudido, o que alterou a leitura da bússola e fez eles pensarem que aquele seria o seu fim", explica.

"Já tendo passado da 'metade do Atlântico',esporte betismeio a uma forte fadiga, molhados e com frio, os dois lutavam para manter o avião no ar. Finalmente o dia amanheceu, melhorando sensivelmente a condição do tempo, aliviando a tensão e tranquilizando os pilotos, pois havia condições para eles aferirem corretamenteesporte betisposição sobre o oceano."

O pouso

O dia 5esporte betisjulho ia amanhecendo na costa nordeste do Brasil e as notícias do S-64 não chegavam. Medeiros conta que, às 12h52 GMT (9h52esporte betisNatal), no entanto, os operadores da estação radiotelegráfica da empresa potiguaresporte betisbeneficiamentoesporte betisalgodão S. A. Wharton Pedroza informaram ter conseguido captar a mensagemesporte betisum navio anunciando que os aviadores italianos se encontravam a "50 milhas do arquipélagoesporte betisSão Pedro e São Paulo", ou seja,esporte betistornoesporte betis1.090 quilômetrosesporte betisdistânciaesporte betisNatal.

Com o dia claro, ainda a 4.000 metrosesporte betisaltitude, Del Prete buscou com binóculos o continente. "Às 15h GMT (12h Natal)esporte betis5esporte betisjulho, a emoção toma conta da pequena cabine", diz Medeiros.

"Extasiados, Ferrarin e Del Prete se abraçam. Delirantemente observam, somente com a ajudaesporte betisbinóculos, sinais inconfundíveisesporte betisterra. Mesmo com toda emoção, os pilotos ainda se encontravam a maisesporte betis200 quilômetros do litoral potiguar e, devido à baixa velocidade, levariam maisesporte betisuma hora para sobrevoarem as praias do Rio Grande do Norte."

Crédito, Arquivo pessoal Rostand Medeiros

Legenda da foto, Naquele dia, a populaçãoesporte betisNatal prestava bastante atenção aos céus, aguardando a chegada do Savoia-Marchetti S-64

Medeiros diz que naquele dia a populaçãoesporte betisNatal prestava bastante atenção aos céus, aguardando a chegada do Savoia-Marchetti S-64. "Por ironia do clima e para dificultar a situação dos italianos, desde o dia 3esporte betisjulho chovia muito forte no nosso litoral", conta. "Durante todo dia o 5, a cidade estava coberta por pesadas nuvens e o povo já dava como certo que o avião italiano seguiria para o Recife."

Após alcançarem o litoral, no entanto, os aviadores vagaram por várias áreas. "Retornaram à região, onde avistaram primeiramente a costa brasileira e finalmente, às 16h10, sobrevoaram Natal", relata o historiador. "Da cabine, Ferrarin e Del Prete viram as pessoas que acenavam com lenços brancos das ruas." Pouco depois, pousavamesporte betisTouros.

A queda

A história não teve um final feliz, no entanto. No dia 7esporte betisagosto, durante um vooesporte betistestesesporte betisum outro avião, um Savoia-Marchetti S-62 (similar ao S-64), sobre a Baía da Guanabara, no Rio, para onde os pilotos haviam idoesporte betisnavio, houve um acidente.

A aeronave, que levava a bordo os dois italianos e o suboficial brasileiro Raul Inácioesporte betisMedeiros, voava a uma altura estimadaesporte betis50 metros, quando, subitamente, numa curva fechada para o lado direito, caiu no mar.

Os três foram socorridos e levados ao hospital, mas Del Prete, que tinha fraturado ambas as pernas, alémesporte betisse queixaresporte betisfortes dores no tórax, não resistiu e morreu no dia 16esporte betisagosto. Pelo seu velório, na Embaixada na Itália, passaram cercaesporte betis10 mil pessoas.

Depois, seu corpo foi transportado para seu paísesporte betisorigem. "Para a Itália, o voo dele eesporte betisFerrarin é um dos mais importantes feitos aeronáuticos do país", diz Medeiros. "Já no Brasil, afora no Rio Grande do Norte e no bairroesporte betisLaranjeiras, no Rioesporte betisJaneiro (onde existe a Praça Del Prete), o tema é pouco lembrado."