Como Tite trouxe o Brasil para a era moderna do futebol:arbety nao paga
Um beco sem saída com Dunga
Pouco depois da Copa, o Brasil tomou uma decisão bizarra e recolocou Dunga no cargoarbety nao pagatécnico.
O ex-meio-campista havia comandado a equipe entre 2006 e 2010. Sua única experiência do tipo havia sidoarbety nao pagamalsucedida passagem pelo Internacional.
Ele não era o homem adequado para comandar uma mudança total no time. A escolha dele para o posto era uma formaarbety nao paganegar a realidade, ainda que sinalizasse uma aceitação dos dirigentesarbety nao pagaque haveria muitas críticas.
Se estamos sob ataque, pensava a Confederação Brasileiraarbety nao pagaFutebol (CBF), Dunga é o nosso homem. Um tipo agressivo que aparentemente acreditava que o mundo conspirava contra ele. Dunga contra-atacaria fogo com fogo.
Dois anos depois, passado um terço das eliminatórias para a Copaarbety nao paga2018, o Brasil estavaarbety nao pagasexto lugar, fora do grupo que se classificaria para o torneio.
Havia um temor realarbety nao pagaque o país ficariaarbety nao pagafora e mancharia seu históricoarbety nao pagater participadoarbety nao pagatodos os Mundiais até então - e isso quase aconteceu.
Mas, pouco antes das Olimpíadas, houve uma edição extra da Copa América, realizada nos Estados Unidos, para celebrar o centenário desse torneio.
A seleção brasileira empatou com o Equador, perdeu para o Peru e foi eliminado na fasearbety nao pagagrupos. Foi o fim da linha para Dunga, e o então técnico do Corinthians, Adenor Leonardo Bachi, mais conhecido como Tite - o nome mais popular para assumir o cargoarbety nao paga2014 - foi o escolhido para substitui-lo.
O resto é história.
Houve algumas mudanças na equipe. Paulinho, que estava na China, foi chamado novamente, uma decisão polêmica que se provou um sucesso retumbante.
Tite ainda fez outra apostaarbety nao pagaGabriel Jesus para resolver um problema com a posiçãoarbety nao pagacentro-avante, e foi imediatamente recompensado.
Fora esses dois jogadores, o mesmo time que estava à disposiçãoarbety nao pagaDunga obteve resultados bem diferentes sob o novo comando.
Uma campanhaarbety nao pagaclassificação até então problemática tornou-se um passeio no parque. O timearbety nao pagaTite venceu 10 jogos, empatouarbety nao paga2, marcou 30 gols e levou só 3.
E continuou com esse bom desempenhoarbety nao pagaamistosos, chegando à Rússia entre os favoritos, merecidamente.
Há uma pergunta óbvia a ser feita: como um único homem pode fazer tanta diferença?
Brasil:arbety nao pagainovador a perdedor
A resposta tem a ver não só com o mérito inquestionávelarbety nao pagaTite, mas também com as deficiênciasarbety nao pagaseus colegas e o beco sem saída no qual o futebol brasileiro se encontrava.
Havia dois problemas - os perigos do sucesso e os riscos do isolamento.
O futebol brasileiro não nasceu grande. Ele chegou a esse patamar como resultadoarbety nao pagaum processo. A seleção brasileira ganhou três Copasarbety nao pagaquatro desses torneios, entre 1958 e 1970, por estar à frente dos outros timesarbety nao pagatermosarbety nao pagapreparação e tática.
Jáarbety nao paga1958, a equipe tinha uma enorme equipearbety nao pagamédicos, um dentista, um especialistaarbety nao pagapreparação física - e até mesmo uma tentativa prematuraarbety nao pagausar um psicólogo esportivo.
O grande Mário Zagallo, que foi jogadorarbety nao paga1958 e 1062 e técnicoarbety nao paga1970, quase caiu para trás quando contei a ele que a Inglaterra foi para a Copaarbety nao paga1962, no Chile, sem um médico sequer.
E,arbety nao pagatermosarbety nao pagatática, o time havia incorporado ideiasarbety nao pagatécnicos uruguaios, argentinos e húngaros, misturado tudo isso e criado algo novo. Foi pioneiro ao usar uma linhaarbety nao pagaquatro defensores,arbety nao pagavezarbety nao pagatrês como nas formações mais tradicionais da época.
Quando a tática foi empregadaarbety nao paga1958, que até hoje foi a única vez que o Brasil ganhou uma Copa disputada na Europa, a maior cobertura defensiva fez com que o time não tomasse um gol até a semifinal. Em 1970, o Brasil foi além. Zagallo tornou-se um pioneiro do 4-2-3-1.
Mas esse sucesso tão grande tornou o Brasil preguiçoso e complacente e o fez acreditar nos próprios mitosarbety nao pagaseu talento natural para o futebol.
E, conforme o esporte progrediu, o país ficou perigosamente isolado. Quase nenhum técnico brasileiro foi trabalhararbety nao pagaclubearbety nao pagaelite europeu - e aqueles que tentaram não conseguiram durar no cargo.
O Brasil foi pego completamente desprevenido pela revolução promovida por Pep Guardiola há uma década. Muitos no futebol brasileiro acreditavam que a evolução física havia tornado um estiloarbety nao pagajogo baseado na possearbety nao pagabola algo impossível e que o caminho a seguir seria fortalecer os jogadores e usar contra-ataques rápidos pelos flancos.
Isso estava perigosamente ultrapassado, como mostrou duramente a Alemanha, que havia incorporado algumas ideiasarbety nao pagaGuardiola e conseguiu diversas vezes avançar pelas laterais do Brasil para conquistar uma vitória por 7 a 1.
Tite - aprendendo lições na Europa
Tite é uma exceção nessa história do fracasso brasileiroarbety nao pagaaprender e evoluir.
À primeira vista, seu currículo não se destaca. Ele começou como jogador no Caxiasarbety nao paga1978, passou pelo Esportivoarbety nao pagaBento Gonçalves, Portuguesa e Guarani, mas aposentou-se precocemente, aos 28 anos, por causaarbety nao pagauma sériearbety nao pagalesões.
Passou a atuar como técnicoarbety nao paga1990, no Guaranyarbety nao pagaGaribaldi. Ele foiarbety nao pagaempregoarbety nao pagaemprego, passando por times como Caxias, Veranópolis, Ypirangaarbety nao pagaErechim, Juventude, Grêmio, São Caetano, Corinthians, Atlético Mineiro, Palmeiras, Internacional e Al-Wahda, sendo demitido da maioria deles.
Nunca trabalhou na Europa - diz que nunca conseguiria realizar um trabalho excelente se tivessearbety nao pagafalar outro idioma, ainda que, aos 57 anos, possa estar mudandoarbety nao pagaposição quanto a isso.
Mas, alémarbety nao pagasua incrível capacidadearbety nao pagacomunicação - ele tem um estilo parecido com oarbety nao pagapadres moderninhos -, ele tem uma mente curiosa e sempre disposta a aprender algo novo.
Quando tornou-se conhecido, no início deste século, Tite era um especialistaarbety nao paga3-5-2. Depois, no Internacional, ele trabalhou com o meioarbety nao pagacampo argentino Andres D'Alessandro, que explicou a ele como funcionava o europeu 4-4-2.
Isso atiçou o interessearbety nao pagaTite, que passou longos períodos na Europa estudando como os principais times jogavam.
Uma grande diferençaarbety nao pagacomparação com o estiloarbety nao pagajogo da América do Sul é que os times europeus atuamarbety nao pagaforma compacta - e ele levou isso para o Corinthians, que,arbety nao paga2011 e 2012, conquistou os títulos brasileiro e sul-americano e bateu o Chelsea na final do Mundialarbety nao pagaclubes.
Aquele time ficou conhecido por suas vitóriasarbety nao pagaum gol só. Sua natureza compacta tornou difícil enfrentá-lo. Era uma equipe baseada na solidez da defesa.
Tite foi então estudar mais na Europa e voltouarbety nao pagaatenção para como as melhores equipes conseguiam obter uma superioridade numéricaarbety nao pagapartes do campo nas quais poderiam trazer prejuízos para o adversário.
Isso foi aplicado uma vez mais ao Corinthians, que ganhou o título brasileiroarbety nao paga2015 com uma equipe que agiaarbety nao pagaforma compacta para viabilizar possibilidadesarbety nao pagaataque - ter os jogadores próximos uns dos outros criava opçõesarbety nao pagapasse.
E foi essa ideia tática que Tite levou para a seleção brasileira.
Em novembroarbety nao paga2016, depoisarbety nao pagaa Argentina ser derrotada por 3 a 0, o conhecido ex-técnico argentino Cesar Luis Menotti era só elogios: "Ele adiantou a linhaarbety nao pagadefesaarbety nao paga20 metros e manteve o time reunido. É como o Brasilarbety nao paga1970".
Tite conseguirá tirar o melhorarbety nao pagaNeymar?
Tite está por toda parte nos anúnciosarbety nao pagaTV. Enquanto Dunga se parecia com um guerreiro, o técnico brasileiro atual tem uma posearbety nao pagahomem sábio com o domarbety nao pagase comunicar "olho no olho". Umarbety nao pagaseus críticos se referiu a ele como um "encantadorarbety nao pagaserpentes".
Até agora, o Brasil encantou. Com o time embalado, a audiência na TV das partidasarbety nao pagaclassificação para a Copa foi bastante alta. E com o paísarbety nao pagauma espiralarbety nao pagacrises econômica e política, a seleção tornou-se, para muitos, uma fontearbety nao pagaesperança.
Se Tite disputasse a eleição presidencial deste ano, ele seria um dos favoritos - ao menos, antes da Copa. Fazendo jus ao seu estilo, ele se recusa a sequer brincar com algo tão sério.
O técnico tornou-se uma estrela tão grande quanto o atacante Neymar, mesmo sem buscar isso. O sucesso do time dependerá muito da relação entre eles nas próximas semanas.
O time brasileiro hoje não depende tantoarbety nao pagaNeymar comoarbety nao paga2014. É uma equipe bem mais coerente, coesa e funcional, como provou nas recentes vitórias contra Rússia e Alemanha, quando Neymar ainda se recuperavaarbety nao pagauma lesão.
Mas é claro que o talento do jogador é uma grande vantagem, ainda que traga junto dois problemasarbety nao pagapotencial.
Um deles é seu desejo pela glória individual, que nem sempre vai ao encontroarbety nao pagainteresses do time. Foi o casoarbety nao paganovembro, no empatearbety nao paga0 a 0 com a Inglaterra, onde, constantemente, Neymar tentou fazer coisas demais.
Neymar é tão bom e enxerga as coisas tão rapidamente que tem uma sériearbety nao pagaopçõesarbety nao pagacomo agir. Sob pressão, ele escolherá o que é melhor para o time? Tite precisa garantir que sim.
E ele também precisa controlar a petulância ocasional do atacante. Há momentos do jogoarbety nao pagaque Neymar parece obcecadoarbety nao pagacavar faltas. Ele cai muito facilmente. Os adversários ficam incomodados, a temperatura do jogo sobre, e Neymar pode se tornar uma vítima disso.
Em 14 partidas das eliminatórias, ele recebeu seis cartões amarelos. Se isso ocorrer na Copa, ele pode facilmente ficararbety nao pagaforaarbety nao pagauma partida crucial.
E, desta vez, o Brasil precisa que ele participe até o fimarbety nao pagauma campanha que espera que termine com o hexacampeonato e seu primeiro título conquistado na Europaarbety nao paga60 anos.