A mulher que livrou a si mesma e a centenashttps br betano com casino livepessoas do corredor da morte:https br betano com casino live

Susan Kigula

Crédito, Isaac Kasamani/BBC

Legenda da foto, Kigula conseguiuhttps br betano com casino liveliberdade e ahttps br betano com casino liveoutras centenashttps br betano com casino livepessoas
  • Author, Megha Mohan
  • Role, Da BBC Stories

https br betano com casino live Condenada à morte pelo assassinatohttps br betano com casino liveseu parceiro, a jovem Susan Kigula não se conformou. Ela começou a estudar Direito e conseguiu salvarhttps br betano com casino liveprópria vida e ahttps br betano com casino livecentenashttps br betano com casino liveoutras pessoas no corredor da mortehttps br betano com casino liveUganda. Agora ela quer ir mais longe e criar escritórios operados por advogados atrás das grades.

Questionada se confessou o assassinatohttps br betano com casino liveseu parceiro - como relatou a mídia local - ela responde calmamente.

"Não, querida." Ela ouviu essa pergunta vezes demais para ficar ofendida. "Vou te contar minha verdade."

Kigula nasceu na região centralhttps br betano com casino liveUganda, onde a atividade principal é a criaçãohttps br betano com casino livegado.

"Eu cresci sendo a filhinha do papai", conta ela. "Eu dizia para ele que queria trabalharhttps br betano com casino liveum banco, porque me parecia um bom trabalho. E eu seria forte e independente se tivesse um trabalho. Eu sonhava muito com o futuro, porque meus pais me fizeram acreditar que todos os meus sonhos poderiam se tornam realidade."

Kigula e seus três irmãos tiveram uma infância segurahttps br betano com casino liveclasse média,https br betano com casino liveuma comunidade religiosa pequena e muito unida. As crianças brincavam no campo à tarde e jantavam com os pais à noite.

"Minha infância feliz não me preparou para o que viria na vida adulta", conta.

A jovem Susan Kigula com o parceiro Constantine ahttps br betano com casino livefilha pequena

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Susan Kigula e Constantine Sseremba moravam juntos e tinham uma filha

Kigula trabalhavahttps br betano com casino liveuma lojinhahttps br betano com casino livepresenteshttps br betano com casino liveKampala, na capital no país, quando conheceu Constantine Sseremba. Aos 28 anos, ele era dez anos mais velho que ela.

Os dois começaram a namorar e foram morar juntos. A casa era pequena,https br betano com casino livedois cômodos, mas Kigula diz que era ideal para a família. Sseremba tinha um filhohttps br betano com casino liveoutro relacionamento e logo o casal teve uma filha.

"Nós nos amávamos muito", diz ela. "As pessoas brincavam que éramos gêmeos, porque estávamos semprehttps br betano com casino livesintonia. Não éramos ricos, mas éramos felizes por termos um ao outro."

Em 9https br betano com casino livejulhohttps br betano com casino live2000, a vida da Kigula mudaria para sempre.

A família jantou junto, como fazia todas as noites. Kigula, Sseremba e as duas crianças foram para a cama. Todos dormiam no único quarto do apartamento. A empregada da família, Patience Nansamba, dormiahttps br betano com casino liveum colchão na sala.

Kigula diz que acordouhttps br betano com casino livemadrugada ao sentir a nuca ser perfurada por um golpe rápido.

"Senti sangue quente saindohttps br betano com casino liveuma ferida na nuca. Os lençóis estavam ensopadoshttps br betano com casino livesangue, que não era só meu."

"As luzes estavam apagadas, então eu não consegui ver o que estava acontecendo imediatamente."

Kigula conta que sentou na cama, confusa, ao mesmo tempohttps br betano com casino liveque uma luz das lanternashttps br betano com casino livesegurança acendiam do ladohttps br betano com casino livefora e iluminavam parte do quarto.

"As crianças não tinham sido machucadas. Estavam acordadas e chorando. Constantine estava no chão, gemendo. Seu pescoço estava cortado", diz ela.

"Tudo estava acontecendo muito rápido. A empregada, Patience, entrou no quarto dizendo que viu duas pessoas saírem correndo do apartamento segundos antes."

"Minha visão estava turva e eu não conseguia andar direito, mas consegui sair e pedir ajuda aos vizinhos. Me enrolaramhttps br betano com casino liveum cobertor – eu não tinha percebido que saí da casa nua."

Kigula ainda estava sangrando pelo pescoço e acabou desmaiando.

Constantine Sseremba com a filha, Namata

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Pai da filhahttps br betano com casino liveKigula, Constantine Sseremba foi assassinadohttps br betano com casino live2000

Ela acordou horas depois,https br betano com casino liveum hospital. A feridahttps br betano com casino liveseu pescoço ainda doía quando lhe contaram que seu parceiro havia morrido. Sua família estava cuidandohttps br betano com casino livesua filhahttps br betano com casino liveum ano, Namata, e os paishttps br betano com casino liveSseremba – com quem ela tinha uma relação fria e distante – tinham levado o filho dele,https br betano com casino livetrês anos, para a casa deles.

Ela percebeu que até aquele momento, tinha vivido uma vida feliz: uma infância alegre, um relacionamento bem sucedido, um bom trabalho. Agora tudo isso estava perdido, ela pensou.

O paihttps br betano com casino liveKigula a avisou que as famílias tinham organizado o funeralhttps br betano com casino liveSseremba para o dia seguinte.

"Eu não conseguia entender o que tinha acontecido ou o porquê. Quem quer que tivesse nos atacado tinha ambos como alvo. Quem poderia querer ver eu e Constantine mortos? Pensei muito sobre isso. Ainda me incomoda", conta ela.

Não havia um motivo óbvio para o ataque. Nada havia sido roubado.

Depois do funeral, Kigula estava voltando do hospital quando ouviu uma notícia no rádio que a fez congelar. O locutor anunciava que Constantine Sseremba ehttps br betano com casino livemulherhttps br betano com casino live21 anos, Susan Kigula, tinham sido assassinadoshttps br betano com casino liveuma tentativahttps br betano com casino liveroubo.

"Eu pensei: 'Meu Deus, a pessoa que tentou nos matar já tinha encomendado um obituário duplo, assumindo que nós dois estaríamos mortos'."

Susan ehttps br betano com casino livefilha

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Susan Kigula tinha 21 anos quando foi presa

Então, três dias depois, Kigula, recebeu uma visita da polícia. Ela ainda estava recebendo tratamento por conta do machucado no pescoço. Parahttps br betano com casino livesurpresa, eles a acusaramhttps br betano com casino livehomicídio e a levaram para uma prisãohttps br betano com casino livesegurança máxima próximo a Kampala, para esperar o julgamento.

A famíliahttps br betano com casino liveSseremba disse que o filho dele tinha visto Kigula e a empregada matando o seu pai.

"Eu fui ingênua naquele momento", diz ela. "Eu pensei que era óbvio que tudo aquilo era um engano. O menino estava traumatizado e confuso. Eu era inocente e me parecia claro que as pessoas iriam ver isso. Não tinha ideiahttps br betano com casino livecomo o sistema jurídico funcionava."

Ela não contratou um advogado. Não tinha condiçõeshttps br betano com casino livepagar por um e,https br betano com casino livequalquer forma, confiava na Justiça.

Dois anos depois, Susan Kigula and Patience Nansamba foram condenadas pelo assassinatohttps br betano com casino liveConstantine Sseremba – com base na testemunha do filhohttps br betano com casino liveSseremba, então com cinco anos. A polícia também disse que um facão ensaguentado encontrado no apartamento pertencia a Kigula.

A condenação veio com uma sentençahttps br betano com casino livepenahttps br betano com casino livemorte. As mulheres foram avisadas que o método seria enforcamento.

Kigula olhou parahttps br betano com casino livefilha, então com três anos, sentada junto a seus pais, e caiu no choro.

Encontro

Depoishttps br betano com casino livetrês anos no corredor da morte,https br betano com casino live2005, Susan Kigula conheceu o jovem estudante britânico Alexander McLean.

McLean tinha fundado o projeto African Prisons (Prisões Africanas), por meio do qual arrecadou dinheiro para criar instalações médicas para usohttps br betano com casino liveprisioneiroshttps br betano com casino liveUganda.

Kigula começou a trabalhar comohttps br betano com casino livetradutora e o impressionou desde o início.

Alexander McLean

Crédito, African Prisons Project

Legenda da foto, Alexander McLean tinha 18 anos quando começou a trabalhar com prisioneiroshttps br betano com casino liveUganda

Nessa época, Kigula já estava presa há 5 anos.

"Eu acordava todos os dias pensando: 'É hoje que serei enforcada'", diz ela.

Questionada sobre as condições no presídio,https br betano com casino liveresposta é pouco emotiva.

"Prisão é prisão", diz ela, sem explicar.

A jovem dividia uma cela construída para uma pessoa com outras três mulheres. Elas usavam um balde como banheiro.

Um relatório sobre prisões ugandenseshttps br betano com casino live2011, feito pela organização internacional Human Rights Watch, dizia que os prisioneiros dormiamhttps br betano com casino livelado, tão próximos que não conseguiam mudarhttps br betano com casino liveposição. Eles eram confinadoshttps br betano com casino livesolitárias, frequentemente nus, algemados, e às vezes passavam fome. As celas às vezes ficavam alagadas, com águas na altura do calcanhar.

Kigula não gostahttps br betano com casino livefalar sobre essas coisas. Mas é ávida para contar a históriahttps br betano com casino livecomo obtevehttps br betano com casino liveliberdade.

Tomar uma atitude

Nas primeiras semanas na prisão, Kigula, então com 24 anos, e as outras 50 mulheres emhttps br betano com casino liveseção conversavam umas com as outras sobre a morte iminente e sobre quem cuidariahttps br betano com casino liveseus filhos.

"Conforme conhecia as mulheres, percebi que muitas, como eu, tinham sido falsamente acusadas. Algumas eram culpadas, mas nenhuma delas merecia penahttps br betano com casino livemorte pelos crimes que cometeram. Alguns eram resultadohttps br betano com casino liveanoshttps br betano com casino liveabuso físico e sexual que sofriam dos parceiros", conta Kigula.

"Me tornei uma liderança entre as prisioneiras. Precisávamos fazer alguma coisa. Eu comecei perdoando as pessoas que me colocaram na prisão. E depois comecei a por a mão na massa."

Susan Kigula na prisão feminina,https br betano com casino live2013

Crédito, Jan Banning

Legenda da foto, Susan Kigula ficou anos no corredor da morte

Kigula criou um coral, escreveu músicas, começou a fazer esportes e criou um grupohttps br betano com casino livedança na prisão. Para manter-se animada, passava mais tempo com as prisioneiras que tinham menos pensamentos negativos.

Ela descobriu que os prisioneiros homens tinham acesso à educação, enquanto as mulheres, não. Ela pediu à administração para que um pequeno grupo delas pudesse ter aulashttps br betano com casino liveHistória, Economia, Teologia e Administração. Os responsáveis pela prisão questionaram como ela iria viabilizar uma escola sem professores.

"Vou começar sendo a professora", ela respondeu.

Elas usavam material didático doado e recebiam notashttps br betano com casino liveestudo da ala masculina. Tinham as aulas sob a copahttps br betano com casino liveárvores.

Quando os carcereiros viram que a jovem era dedicada, eles ampliaram os recursos e permitiram um número maiorhttps br betano com casino liveaulas. Kigula e algumashttps br betano com casino livesuas amigas eram as professoras.

Ela diz que uma das pessoas que mais a incentiveram foi Alexander McLean, do projeto African Prisons.

"Eu vi o quanto Susan era dinâmica. Ela mobilizava e motivava as pessoas", diz McLean.

O jovem britânico vinha trabalhando com autoridadeshttps br betano com casino liveUganda para tentar melhorar as condições não apenas da enfermaria, mas das prisões como um todo. Sua ONG patrocionou atividades esportivas, organizou gruposhttps br betano com casino liveleitura para mães e bebês e instituiu aulashttps br betano com casino livealfabetizaçãohttps br betano com casino liveadultos.

Kigula começou a agir como intermediária entre a entidade e administração da prisãohttps br betano com casino liveum projeto para criar uma biblioteca no presídio.

Prisioneiras tendo aulas debaixohttps br betano com casino liveárvores

Crédito, Jan Banning

Legenda da foto, Susan Kigula conseguiu que as prisioneiras tenham direitohttps br betano com casino liveestudar

Em 2011, ela e um grupohttps br betano com casino liveoutras prisioneiras, com apoio do African Prisons, se tornaram as primeiras prisioneiras ugandenses a fazer um curso por correspondência na Universidadehttps br betano com casino liveLondres, estudando Direito.

O projeto foi um grande sucesso. Com o passar do tempo, até os carcereiros passaram a pedir conselhos legais a Kigula.

Ela então começou a tocar uma espéciehttps br betano com casino liveescritóriohttps br betano com casino liveadvocacia informal na prisão – ajudava prisioneiras com pedidoshttps br betano com casino livefiança, escrevia pedidoshttps br betano com casino liverecursos e as ensinava como representarem a si mesmas na corte – caso não pudessem pagar por um advogado. Ela ajudou dezenashttps br betano com casino livecolegas a sair da prisão.

Mudar o país todo

Encorajada por seu sucesso acadêmico, ela decidiu, mesmo sem ainda ter o diploma, organizar pessoas para entrar com um pedido questionando a penahttps br betano com casino livemorte obrigatória para certos crimes.

"A populaçãohttps br betano com casino liveUganda normalmente é muito conservadora e relutante ao que pode ser visto como um 'afrouxamento' da lei", diz McLean.

O caso coletivohttps br betano com casino liveSusan Kigula e outras 417 pessoas contra a União é um caso emblemático. O objetivo do processo era acabar com a penahttps br betano com casino livemorte, declarando-a inconstitucional.

Quando a Suprema Cortehttps br betano com casino liveUganda chegou a uma decisão,https br betano com casino livejaneirohttps br betano com casino live2009, a penahttps br betano com casino livemorte não foi abolida. No entanto, a Corte determinou que a pena não deveria ser obrigatóriahttps br betano com casino livecasoshttps br betano com casino livehomicídio, e que uma pessoa condenada não deveria ficar no corredor da morte indefinidamente. Se uma pessoa condenada não fosse executadahttps br betano com casino livetrês anos, a sentença automaticamente se transformariahttps br betano com casino liveprisão perpétua.

E, diante das mudanças, a corte determinou que pessoas no corredor da morte poderiam ter direito a um novo julgamento.

Nova sentença

Kigula teve um novo julgamentohttps br betano com casino livenovembrohttps br betano com casino live2011.

Dianta da corte pela segunda vez, ela também reencontrou o enteado, agora com 14 anos. Sentindo todo o pesohttps br betano com casino live11 anos no corredor da morte desabarhttps br betano com casino liveuma vez sobrehttps br betano com casino livecabeça, ela começou a chorar e disse a ele: "Você não sabe que eu te amo? Souhttps br betano com casino livemãe!".

E, se voltando para a famíliahttps br betano com casino liveseu falecido companheiro, ela disse: "Sinto muito".

A imprensa local descreveu o episódio como se fosse uma cenahttps br betano com casino livenovela – uma confissãohttps br betano com casino liveum crime horrível. No entanto, diz Kigula, não era isso que ela queria dizer.

"Os jornais mentiram", diz ela.

Segundo ela, foi uma expressãohttps br betano com casino livetristeza por tudo o que seu enteado havia passado. Kigula se declarou inocente pela segunda vez, mas a corte – e a mídia – não estavam convencidos.

A Suprema Corte reduziu a senteçahttps br betano com casino liveKigula para 20 anos. Descontado o tempohttps br betano com casino liveque ela ficou presa preventivamente,https br betano com casino livepena terminouhttps br betano com casino live2016 e ela foi solta.

Liberdade

Ela diz que foi como estarhttps br betano com casino liveum mundo novo, completamente diferente.

"Foi como ir à Lua! Eu não podia acreditar no que estava acontecendo comigo", diz ela

Seu pai tinha morrido enquanto ela estava na prisão ehttps br betano com casino livemãe foi mortahttps br betano com casino liveum acidentehttps br betano com casino livecarro apenas dois meses anteshttps br betano com casino livesua libertação.

Susan Kigula ehttps br betano com casino livefilha

Crédito, Isaac Kasamani/BBC

Legenda da foto, Susan Kigula conseguiu se reencontrar com a filha, hoje com 19 anos

Kigula começou a traçar novos objetivos. Ela queria que as autoridades reduzissem a sentença das outras 417 pessoas que fizeram o pedido para a mudançahttps br betano com casino livelegislação no país. Embora dezenas tenham sido libertadas, como ela, algumas ainda estão atrás das grades.

Trabalhando com Alexander McLean no African Prisons, Kigula quer criar a primeira escolahttps br betano com casino liveDireito do mundo funcionandohttps br betano com casino liveuma prisão – e o primeiro escritóriohttps br betano com casino liveadvocacia. A ideia é que prisioneiros formados ajudem os colegas que não podem pagar por representação legal.

"A esperança é criar uma nova geraçãohttps br betano com casino liveadvogados que siga os passoshttps br betano com casino liveSusan", diz McLean.

"A Justiçahttps br betano com casino liveUganda não é igual à do Reino Unido", afirma ele. "As pessoas podem ser presas por serem gays. Mulheres estão no corredor da morte por não conseguirem ajuda médica para os filhoshttps br betano com casino liveáreas rurais, ou porque seus maridos cometeram crimes e não podem ser encontrados."

"Claro que há pessoas culpadas na prisão. Mas nós acreditamos que todo mundo tem o direito a um julgamento justo. Ehttps br betano com casino liveuma segunda chancehttps br betano com casino liveser útil à sociedade. Susan sempre se declarou inocente e quer uma chancehttps br betano com casino liveservir a sociedade."

Depoishttps br betano com casino livelibertada, Kigula foi morar com a irmã e com a filha, hoje com 19 anos.

"Minha filha diz que eu sou uma heroína. Era tudo o que eu precisava ouvir depoishttps br betano com casino live16 anos longe dela."

A vida voltou a ser boa, diz ela.