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Como festa para oficiais e aristocratas terminou com a execuçãopremier betway180 judeus:premier betway
"Não falávamospremier betwaydinheiro, mas simpremier betwaystatus. E é isso que foi perdido depois da Segunda Guerra Mundial: castelos, terras, posição social. Não que eu me importasse com isso, mas compreendia que a família pensava no passado como se tivesse sido um tempo melhor", disse à BBC Brasil.
Quando trabalhava como repórter no principal jornalpremier betwayZurique, Sacha teve um encontro inesperado com uma versão não tão idealizada do passado da família.
"Um diapremier betway2007 uma colega mais velha, que me desprezava e nunca falava comigo, jogou sobre a mesa uma páginapremier betwayjornal e disse: ´Mas que tipopremier betwayfamília você tem, hein?`. A primeira reação foi imaginar que minha nobreza havia sido descoberta. Esperava ler um texto elogioso sobre alguma ação heroica ou benfeitoriapremier betwayum antepassado. Mas não foi nada disso. Tomei um choque. Fiquei sabendo pela primeira vez - e justamente pela imprensa - que estávamos associados ao nazismo."
"A nossa família é enorme. Tenho centenaspremier betwayprimos e tias,premier betwaymodo que certamente não conheço todos. Há parentes espalhados pelo mundo, até mesmo no Uruguai. Mas, justamente, dentre tantos familiares, essa pessoa na foto eu conhecia muito bem. Para meu espanto, era a tia Margit."
A matéria denunciava a tia-avópremier betwaySacha como cúmplicepremier betwayum massacre que ceifou a vidapremier betwaymaispremier betway180 judeus próximo do fim da Segunda Guerra Mundial.
O texto do respeitado jornal alemão Frankfurter Allgemeine era assinado pelo jornalista britânico David Litchfield e também havia sido publicadopremier betwayinglês pelo The Independent,premier betwayLondres.
Litchfield chamava a tiapremier betway"anfitriã do inferno", pois Margit teria dado uma festapremier betwayque a diversão após o jantar fora executar brutalmente judeus.
A tia-avópremier betwaySacha era a condessa Margit Batthyány-Thyssen, filha e herdeira do multimilionário industrial alemão Heinrich Thyssen. Ela se casara com o irmão do avô paternopremier betwaySacha, Ivan Batthyany, um aristocratapremier betwaydecadência.
Famosa por seu apetite sexual, Margit teve diversos amantes, mas o casal nunca se divorciou, porque a tolerância do marido à infidelidade era sempre recompensada com carros, cavalos e barcos.
Na infância, os paispremier betwaySacha tinham o hábitopremier betwayencontrar tia Margit duas ou três vezes ao ano. "Sempre íamos almoçar nos restaurantes finospremier betwayZurique. Ela também tinha um apartamentopremier betwayMonte Carlo e nós a visitávamos no verão. Eu me lembropremier betwayque precisava me comportar bem quando ela estava por perto".
Foi Margit quem ajudou os avóspremier betwaySacha a se mudar para a Suíça no pós-guerra e pagou pelos estudos do pai dele.
Sacha se recorda que ela detestava crianças, mantinha uma postura reservada e cultivava a maniapremier betwaygesticular colocando a língua pra fora, "assim como fazem os lagartos", enquanto fumava cigarros e contava histórias. Ela poderia parecer fria e ríspida, mas seria mesmo uma assassina antissemita?
Massacre
Há ao menos duas versões contraditórias para o massacre que ocorreu na noitepremier betway24 para 25premier betwaymarçopremier betway1945, quase no fim da Segunda Guerra Mundial.
O jornalista britânico David Litchfield afirma que a condessa Margit havia dado uma festa para oficiais nazistas no castelo da família,premier betwayRechnitz, vilarejo localizado na fronteira entre a Áustria e a Hungria.
A então jovem Margit teria se excedido na companhiapremier betwayseus amantes, Franz Podezin e Joachim Oldenburg, ambos oficiais do exército nazista e, com satisfação perversa, presenciado juntamente com outros convidados os assassinatos cometidos por diversão.
"A festa teve início às 21h e durou até o amanhecer, com muita bebedeira e danças. Mas o entretenimento tradicional das festas não foi suficiente e, por volta da meia noite, cercapremier betway200 judeus quase definhando, considerados inúteis para o trabalho, foram trazidospremier betwaycaminhão até Kreutzstadel, um celeiro próximo do castelo. Podezin então conduziu Margit e outros 15 ou mais convidadospremier betwayhonra a um almoxarifado, deu armas e munição e convidou-os a 'matar alguns judeus", descreveu Litchfield, que também é autor e publicou o livro The Thyssen Art Macabre.
"Foi uma coisa horrorosa", disse o jornalista britânico à BBC Brasil.
Os judeus teriam sido obrigados a cavar a própria cova e se despir para que seus corpos se decompusessem mais rapidamente. Cercapremier betway20 prisioneiros teriam sobrevivido à noitepremier betway25premier betwaymarço, para ajudar a enterrar as vítimas. Uma vez cumprida a tarefa, eles também foram assassinados, no dia seguinte.
A investigaçãopremier betwaySacha, no entanto, levou a uma versão diferente dos fatos.
O assassinato dos judeus teria se originadopremier betwayuma ligação recebida por Franz Podezin durante a festa. Cercapremier betway200 prisioneiros estavam com febre tifoide, aguardandopremier betwayvagões na estação ferroviária. Haveria uma ordem para executá-los.
Podezin teria então reunido seus oficiaispremier betwayconfiança e seguido até o local para cometer o massacre e depois retornado à festa. Margit teria permanecido no castelo. "Não foi motivado por diversão, como disseram por aí", afirmou Sacha à BBC Brasil.
Motivação
Inicialmente, o jornalista suíço não conseguia crer no que estava lendo a respeito da tia e precisou pesquisar por si mesmo para entender a relação da família com o nazismo.
"Comecei a escrever muito inocentemente, imaginando que seria uma matéria normal e que levaria algo como dois meses para resolver. Mas foi ficando cada vez maior e maior."
O escritor reconhece, porém, que mesmo que a motivação do massacre não tenha sido apenas diversão, como afirma Litchfield, há um inegável vínculo dos convidados da festa com o crime. "Sim, eu entrevistei pessoas que me disseram que eles depois voltaram e dançaram o resto da noite com o rosto manchadopremier betwaysangue", afirma.
Sacha publicou um artigo sobre o assuntopremier betway2010, mas continuou obcecado pelo tema até finalmente concluir um livro,premier betway2016.
Publicado na Alemanha sob o título Und Was Hat Das Mit Mir zu Tun (E o que eu tenho a ver com isso?) epremier betwayinglês A Crime in the Family (Um Crime na Família), o livro foi lançado no início do ano e é resultado da busca do autor pelas suas origens e narra o episódio do massacrepremier betwayRechnitz sob a perspectivapremier betwayquem conheceu pessoalmente a condessa Margit Batthyány-Thyssen, alémpremier betwayesmiuçar outros episódiospremier betwayantissemitismo que ocorreram entre seus parentes.
"A minha família não gostou nem um pouco que eu tenha escrito esse livro", diz.
Embora Sacha e Litchfield discordem sobre a motivação inicial, na perspectivapremier betwayambos não há controvérsia quanto à conivênciapremier betwayMargit com os perpetradores do crime. A condessa e seu marido nunca foram incomodados por processos relacionados ao massacre e viveram uma vidapremier betwayconforto na Suíça após a guerra.
"Mas ela sabia. Ela era uma simpatizante dos nazistas com certeza. Ela teve vários casos com oficiais e os ajudou a escapar", afirma Sacha.
Margit auxiliou Podezin e Oldenburg a fugir para a África do Sul e a Argentina, oferecendo passagens e dinheiro. "Ela foi chantageada por Podezin, mas teria o apoiadopremier betwayqualquer maneira", diz.
As investigações nunca conseguiram determinar com clareza a extensão da violência, porque a totalidade dos corpos nunca foi encontrada.
Diversas testemunhas morrerampremier betwaysituações suspeitaspremier betwaymeio às inúmeras tentativaspremier betwayse estabelecer e punir os culpados ao longo dos últimos 70 anos.
Alguns envolvidos como Podezin e Oldenburg conseguiram escapar, alguns cumpriram sentenças breves, outros nunca foram implicados.
Famíliapremier betwaytoupeiras
"Minha avó costumava dizer que somos como uma famíliapremier betwaytoupeiras, levando nossas vidinhas dentro da terra" conta Sacha.
"Eu precisava sair disso para compreender o passado, algo que virou uma obsessão". "Por sete anos eu pesquisei e refleti até conseguir entender o que isso tinha a ver comigo. Foi necessário consultar um psicanalista para fazer sentidopremier betwaytudo. Levei muito tempo pensando, até que finalmente sentei e escrevi a minha históriapremier betwaycinco meses", diz.
Sacha conclui que havia motivos pelos quais ninguém falava com a tia Margit sobre o massacre: opressão, preguiça, dinheiro e indiferença.
Ele também reconhece que essa é uma história com muitas versões, mas avalia que fez o trabalho "mais honesto que pode".
Durante a redescobertapremier betwayseu passado, ele aprendeu também como a guerra afetou seus avós e viajou à procurapremier betwayrespostas desde a Hungria até a Sibéria e a Argentina.
"Demorei um tempo até achar o tom. Tentei ser o mais preciso e o mais íntimo possível. A minha família não estava muito contente, mas acho que tinha que contar a verdade sem ser forçoso, sem embaralhar as declarações. Escrevia na madrugada, numa mesinha no porão. Acordava às 4h e trabalhava".
Atualmente, com o livro já publicado e os fantasmas exorcizados, o jornalista vivepremier betwayWashington com os três filhos pequenos e a mulher. De lá trabalha como correspondente para a revista do diário alemão Süddeutsche Zeitung.
"Enquanto escrevia não cheguei a pensar no impacto que isso teria sobre os meus filhos, mas agora espero que essa experiência ajude-os a olhar para o mundopremier betwayforma mais aberta, para que não se tornem toupeiras."
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