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Empatia, flexibilidade, cooperação: pesquisaHarvard explica por que habilidades sociais ganham força no mercadotrabalho:
O mais expressivo crescimentoempregos - e salários - ocorreu, segundo Deming,funções que exigem tanto conhecimentos matemáticos/técnicos quanto habilidades sociais. Para muitos desses empregos, a tecnologia se torna algo complementar, que ajuda o trabalhador a aumentarprodutividade,vezsubstituí-lo.
"Empregos com salários melhores cada vez mais exigem habilidades sociais", argumenta Deming. "A interação social se mostrou - ao menos até o momento - difícilser automatizada."
Em entrevista por telefone à BBC Brasil, o pesquisador fala sobre a importânciaessas habilidades serem praticadas pelos profissionais e incorporadas aos sistemasensino.
BBC Brasil - Você mencionaseu estudo empregos tradicionalmente "analógicos" - comoadvogados, professores, enfermeiros, médicos -que os salários têm crescido nos EUA. Há uma crescente importância deles, mesmo na era da tecnologia?
David Deming - As pessoas costumam focarempregos tecnológicos porque é onde está a inovação e onde há funções que não existiam antes - é algo novo e empolgante. Mas ainda são uma parcela pequena dos empregos americanos e estão fortemente concentradosalguns lugares.
Mas todos precisamosmédicos, advogados e etc. Então quando você observa o crescimento do mercadotrabalho americano, eles ficam com a maior parcela.
A outra coisa é que empregos relacionados à informática são os únicos empregos que estão crescendo dentro da categoria STEM (siglainglês para ciência, tecnologia, engenharia e matemática). Essas ocupações estão, na verdade, encolhendo (percentualmenterelação ao totalempregos nos EUA).
Acho que o motivo disso é que novas tecnologias automatizam empregos técnicos que não requerem muita interação social.
Há muitas habilidades que são difíceis para as pessoas, mas fáceis para máquinas. E há muitas habilidades que são difíceis para máquinas, mas fáceis para as pessoas.
Tendemos a pensar na habilidadefazer cálculos, por exemplo, como um indicativoque uma pessoa é inteligente e apta à universidade. Mas isso é algo trivial (para um computador). Em contrapartida, a habilidadeter uma conversa não estruturadadois minutos com outra pessoa é algo que quase qualquer pessoa pode fazer, mas é muito difícil criar um programacomputador capazfazê-lo.
Há uma diferença entre o que achamos que é técnico e difícil e o quefato é difícilser automatizado.
Por isso, há mais automatização, por exemplo, do trabalhoengenheiros do que domédicos ou economistas.
BBC Brasil - Aí que as habilidades sociais se tornam mais importantes.
Deming - Sim, é o que eu defendo no meu trabalho com os dados que analisei.
BBC Brasil - Quais habilidades sociais você considera mais importantes?
Deming - Dependeo que você chamahabilidades sociais. Para mim, não necessariamente significa ser cortês,boas maneiras. É parte disso - pessoas extrovertidas, boas"conversashappy hour", provavelmente têm também boas habilidades sociais. Mas vejo como sendo mais uma questãoprodução no ambientetrabalho.
Muitos empregos requerem que você combine diversos "inputs",pessoas e máquinas, para produzir algo. Se você é um consultor ou desenvolvedorsoftware, por exemplo, muitas vezes trabalha com uma grande equipe - e a habilidade-chave aí é trabalhar com diferentes pessoas fazendo coisas diferentes, combinando as atividades delas com as suasmodo produtivo.
Então, há pessoas que não são necessariamente extrovertidas, talvez até sejam reservadas, mas que são boasentender os demais e fazer parteum grupo.
E conheço pessoas, e tenho certezaque você conhece também, que são extrovertidas, falantes, mas não necessariamente ouvem os demais e fazem o que querem - e são ruinstrabalhoequipe.
O que estou tentando dizer é que pensotermoshabilidadetrabalharequipe.
BBC Brasil - Mesmo com o avanço tecnológico, a ideia é que trabalhadores com habilidades sociais desenvolvidas não serão substituídos?
Deming - Sim. Uma das coisas que aprendemos sobre como as mudanças tecnológicas afetam o mercadotrabalho é que as pessoas tendem a focar muito na substituiçãopessoas por máquinas, mas não costumam ver que se a tecnologia não te substitui, ela tende a te tornar mais valioso ou produtivo.
O fatoque haja um software que permita a mim, um professor, analisar uma basedados com rapidez me faz economizar tempo - isso não substituiu o meu trabalho ou me deixou obsoleto, apenas me tornou mais produtivo, porque me permitiu dedicar mais tempo a escrever, por exemplo.
A mensagem é: se você tem esse tipotrabalho,que temfazer tarefas analíticas mas também trabalhar com outras pessoas, as máquinas vão te tornar ainda mais valioso - porque se você é bom nas tarefas analíticas, você conseguirá usar as máquinas (que automatizarão essas tarefas) para aumentarprodutividade e não ser substituído.
BBC Brasil - Então se você fosse aconselhar um trabalhador que teme ser substituído pela tecnologia, será que é encontrar funçõesque a tecnologia o ajude a ser mais eficiente?
Deming - Isso. A vantagem que as pessoas têm sobre a tecnologia é que são flexíveis: podem dedicar seu tempo a diferentes tarefas, podem liderar uma equipe.
As máquinas não são flexíveis assim. Se você quer protegercarreira do (desenvolvimento tecnológico) futuro, você deve escolher habilidades e capacidades que sejam complementares entre si e não necessariamente diretamente relacionadas.
Por exemplo, você é bomtrabalhoequipe ecodificação. Não haverá num futuro próximo nenhuma máquina capazfazer essas duas coisas juntas. A mensagem é: não seja um pôneium único truque. É uma expressão americana que quer dizer não seja bomapenas uma coisa, seja bomvárias.
BBC Brasil - E como uma pessoa pode melhorar suas habilidades sociais?
Deming - Não sei se tenho a resposta a essa pergunta com rigor acadêmico, porque parte da motivação desse projeto é colocar o assuntopauta. Ou seja, ainda há muito trabalho a ser feito a respeitocomo medir e melhorar essas habilidades.
Mas minha intuição éque é parecido ao que as pessoas pensam do QI - alguns nascem com mais que os outros, mas esses ainda podem praticar e melhorar.
Alguns têm alto QI, outros têm baixo, mas o QI não é um indicativo perfeito do seu desempenho escolar, porque você pode estudar mais, dar mais valor e se esforçar (para compensar a deficiência).
Você pode melhorar suas habilidades sociais com prática, e não apenasconversashappy hour, mascolocar-se na posição dos outros. Tente imaginar a conversa sob a perspectiva do outro, e não só da sua.
É algo que não fazemos muito nas salasaula. Mas pense que,uma aulaHumanas, ao ler um romance, você está tendo acesso a uma história sendo apresentadamúltiplas perspectivas. Ou, na aulaHistória, você pode analisar um fato histórico sob a perspectivadiferentes grupos. E isso é muito importante.
BBC Brasil - Um relatório recente da OCDE sobre habilidades para o futuro defende que os trabalhadores precisam tantoconhecimentolinguagem e numérico como habilidades sociais eresolver problemas. Você concorda com a ideiaque linguagem e números continuam sendo muito importantes?
Deming - Sim. A questão é que eles não bastam mais por si só. Você precisa ser capazfazer diversas coisas diferentes.
BBC Brasil - E qual o papel da educaçãopreparar as pessoas para o cenário atual?
Deming - Se você perguntar às pessoas o que tentam levar consigo da experiência escolar, certamente dirão que esperam que a escola as prepare para o mundo do trabalho no futuro. Então, temosnos perguntar:que formas as escolas são parecidas com o ambientetrabalho moderno eque formas elas não são?
Muitas escolas são muito organizadastornoum modeloque o professor tem todo o conhecimento e apresenta-oum estilopalestra. O ambientetrabalho não se parecenada com isso - é um ambiente fluido,que trabalhadores são constantemente colocadosequipes para resolver problemas não estruturados, e as pessoas têm papéis múltiplos.
Acho que queremos que nossas escolas repliquem isso - que se pareçam mais com o ambientetrabalho moderno se querem ensinar as pessoas a serem melhores trabalhadores.
BBC Brasil - Você mencionou mais cedo que ser bomcálculo tornava uma pessoa apta à universidade. Também precisamos repensar a forma como avaliamos os estudantes?
Deming - Sim, acho. É um exemploum entrave para muitos estudantes, que não conseguem (ser bonscálculo). E há poucos empregosque você realmente precisa ser bomcálculo. Seria muito mais importante, no mundo atual, que as pessoas entendessem estatística e probabilidades, por exemplo.
Falando amplamente, acho que os sistemas educacionais, pelo menos nos EUA e provavelmenteoutros países, não responderam muito às mudanças no ambientetrabalho e precisam ser repensados.
É difícil, porque o mercadotrabalho muda constantemente, mas temosmelhorar.
BBC Brasil - Há habilidades que as escolas poderiam simplesmente pararensinar, por terem se tornado irrelevantes?
Deming - Não sei se vejo isso dessa forma, porque você frequenta a escola pelo menos até os 18 ou 20 e poucos anos. E você espera estar aprendendo coisas que serão úteis pelas cinco ou seis décadas seguintes davida. É um futuro muito incerto.
Sempre enfrentaremos o desafiotentar treinar as pessoas para um ambiente do trabalho do futuro. Então acho muito importante que as escolas enfatizem, o máximo possível, o desenvolvimentohabilidades gerais. Não queremos que as escolas ensinem habilidades muito específicas, que podem ser úteis hoje, mas não daqui a dez anos.
Na escola, queremos que as pessoas aprendam a aprender. Trata-segrande partedar às pessoas um kitferramentas com as quais elas possam se aperfeiçoar ao longo do tempo.
Tanto que, ainda que apoie a educação vocacionalalguns casos, me preocupa que a educação muito específica se torne menos relevante dianteum futuro incerto.
BBC Brasil - No seu estudo você menciona a importânciaintervenções já na primeira infância no que se refere a habilidades sociais. Isso ajudaria a nos tornar melhores pessoas e trabalhadores futuros?
Deming - É um pouco especulativo, mas há boas evidênciasque intervençõesalta qualidade feitas no início da nossa vida têm impacto mais longo na vida adulta, tornando-nos mais produtivos.
Uma possível razão disso,termoseducação, é que se você olha para uma salaaulapré-escola, ela se parece mais com o ambientetrabalho moderno do que, por exemplo, a quarta série. Na pré-escola, você aprende a socializar. A criança não aprende apenas números e letras, mas é colocadagrupos para negociar, compartilhar seus recursos e ocupar diferentes papéis.
Acho que, no meio do caminho, a escola se torna mais formal, para ensinar letras e números - algo importante. Mas o aprendido mais cedo,como se portar no mundo, também é muito importante.
Talvez nossas salasaula depois da pré-escola devessem ser mais parecidas com isso.
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