'Despreparada para a era digital, a democracia está sendo destruída', afirma guru do 'big data':jogos do sportingbet

Martin Hilbert

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Martin Hilbert, assessorjogos do sportingbettecnologia da Biblioteca do Congresso dos EUA, investigou a disponibilidadejogos do sportingbetinformação no mundojogos do sportingbethoje

Hilbert conversou com a BBC Mundo, o serviçojogos do sportingbetespanhol da BBC, sobre a eliminaçãojogos do sportingbetproteções à privacidade online nos EUA, onde uma decisão recente do Congresso, aprovada pelo presidente Donald Trump, facilitará a vendajogos do sportingbetinformaçãojogos do sportingbetclientes por empresas provedorasjogos do sportingbetinternet.

Confira os principais trechos da entrevista:

Donald Trump

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Legenda da foto, Trump usou redes sociais para alcan;ar o poder e suas decisões estão fortalecendo empresas que coletam dados dos cidadãos

BBC: Qual éjogos do sportingbetopinião sobre a decisão do Congresso dos EUAjogos do sportingbetderrubar regrasjogos do sportingbetprivacidade na internet?

jogos do sportingbet Martin Hilbert: Os provedoresjogos do sportingbetinternet buscam permissão para coletar dados privados dos clientes há muito tempo - incluindo o históricojogos do sportingbetnavegação na web - e compartilhar com terceiros, como anunciantes e empresasjogos do sportingbetmarketing.

Um provedorjogos do sportingbetinternet pode ver suas buscas na internet - se, por exemplo, você assiste Netflix ou Hulu. Essa informação é valiosa, porque poderiam orientarjogos do sportingbetpublicidade a residências que usam seus serviços.

Enquanto isso parece ser um ato grave, liberado pelo novo governo dos EUA, há que reconhecer que nos últimos 30 anos os órgãos reguladores das telecomunicações nos EUA se afastaramjogos do sportingbetumajogos do sportingbetsuas metas originais: o benefício da sociedade. E se moveram no sentidojogos do sportingbetfavorecer as empresas.

BBC: Os provedoresjogos do sportingbetinternet diziam que as regras não se aplicaram a grandes coletoresjogos do sportingbetdados como Facebook ou Google. Como vê esse argumento?

jogos do sportingbet Hilbert: Tem certa razão. Mas há uma diferença: para o Facebook, seu negócio são os dados que tem, trata-sejogos do sportingbetuma empresajogos do sportingbetdados. A questão é se classificamos ou não os provedoresjogos do sportingbetinternet como provedoresjogos do sportingbetdados.

Facebook

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Legenda da foto, Cada "like" no Facebook diz muito sobre você

Muitos provedoresjogos do sportingbettelecomunicações inclusive estão começando a vender dados. Por exemplo: uma operadorajogos do sportingbettelefonia celular sabe onde você estájogos do sportingbetcada segundo. Então também podem vender essa informação? É preciso redefinir esses diferentes âmbitos. O órgão regulador precisa estar preparado e encontrar um equilíbriojogos do sportingbetcada país.

BBC: Isso mostra a dificuldadejogos do sportingbetproteger a privacidade hoje?

jogos do sportingbet Hilbert: A pergunta certa é que privacidade as pessoas querem. E a verdade é que as pessoas não estão tão preocupadas. O que ocorreu depoisjogos do sportingbettodas as revelaçõesjogos do sportingbetEdward Snowden? Nada. Disseram: "Não é bom que vejam minhas fotos íntimas". E no dia seguinte continuaram. Ninguém foi protestar.

BBC: Consideremos uma pessoa adulta que hoje usa um celular, um computador. Quanta informação pode ser coletada sobre essa pessoa?

jogos do sportingbet Hilbert: No passado, a referênciajogos do sportingbetmaior coleçãojogos do sportingbetinformação era a biblioteca do Congresso americano. E hojejogos do sportingbetdia a informação disponível no mundo chegou a tal nível que equivale à coleção dessa biblioteca por cada 15 pessoas.

Há um montejogos do sportingbetinformação por aí, e ela cresce rapidamente: se duplica a cada dois anos e meio. A última fez que fiz essa estimativa foijogos do sportingbet2014. Agora deve haver uma biblioteca do Congresso dos EUA por cada sete pessoas. Ejogos do sportingbetcinco anos haverá uma por cada indivíduo.

Se colocássemos toda essa informaçãojogos do sportingbetformatojogos do sportingbetlivros e os empilhássemos, teríamos 4,5 mil pilhasjogos do sportingbetlivros que chegariam até o Sol. Novamente, isso era há dois anos e meio. jogos do sportingbet Agora seriam 8 ou 9 mil pilhas chegando ao Sol.

E a informação que você produz cresce basicamente no mesmo ritmo: estima-se que haja 5 mil pontosjogos do sportingbetdados disponíveis para análise por morador dos EUA. São coisas que deixamos no Facebook, por exemplo. O volumejogos do sportingbetdados que deixamosjogos do sportingbetverdade é difíciljogos do sportingbetestimar, porque é quase um contínuo: você tem o celular consigo a cada segundo e deixa uma pegada digital. Então cada segundo está registrado por diversas empresas.

BBC: Pode dar exemplos?

jogos do sportingbet Hilbert: Sua operadorajogos do sportingbetcelular sabe onde você está graças a seu celular. O Google também sabe, porque você tem Google Maps e Gmail no seu telefone. E cada transação que faz com seu cartãojogos do sportingbetcrédito é um pontojogos do sportingbetdados, cada curtida no Facebook. Inclusive pode haver registrosjogos do sportingbetcomo você movimenta o mouse ao usar a internet.

Logotipo do Google

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Legenda da foto, Google tambiém sabejogos do sportingbetvocê, porque, entre outros motivos, possui Google Maps e Gmailjogos do sportingbetseu telefone

BBC: Mas essa informação não está reunidajogos do sportingbetapenas um lugar ou por uma empresa. Até que ponto podemos ser previsíveis para uma empresa que coleta dados sobre nós?

jogos do sportingbet Hilbert: Vou dar vários exemplos. Seu telefone te mostra quantas chamadas fez. A operadora deve coletar essas informações para processarjogos do sportingbetconta. Eles não se preocupam com quem e o que falou. É apenas a jogos do sportingbet frequência e duraçãojogos do sportingbetsuas chamadas, algo conhecido como metadados. Com isso é possível fazer uma engenharia reversa e reconstruir um censo completojogos do sportingbetum país com cercajogos do sportingbet80%jogos do sportingbetprecisão: gênero, famílias, renda, educação.

Se tenho informação mais detalhada - por exemplo, se a operadora registra seus deslocamentos por meio das conexões às antenas. É possível prever com até 95%jogos do sportingbetprecisão jogos do sportingbet onde você estarájogos do sportingbetdois meses, ejogos do sportingbetque hora do dia.

Passemos ao Facebook, que tem um pouco maisjogos do sportingbetinformação, Há, por exemplo, as "curtidas", o que você gosta e quando. Pesquisadores da Universidadejogos do sportingbetCambridge, no Reino Unido, fizeram testesjogos do sportingbetpersonalidade com pessoas que franquearam acesso a suas páginas pessoais no Facebook, e estimaram, com ajudajogos do sportingbetum algoritmojogos do sportingbetcomputador, com quantas curtidas é possível detectarjogos do sportingbetpersonalidade jogos do sportingbet .

Com cem curtidas poderiam preverjogos do sportingbetpersonalidade com acuidade e até outras coisas:jogos do sportingbetorientação sexual, origem étnica, opinião religiosa e política, níveljogos do sportingbetinteligência, se usa substâncias que causam vício ou se tem pais separados. E os pesquisadores detectaram que com 150 curtidas o algoritmo podia preverjogos do sportingbetpersonalidade melhor que seu companheiro. jogos do sportingbet Com 250 curtidas, o algoritmo tem elementos para conhecerjogos do sportingbetpersonalidade melhor do que você.

BBC: Para que essa informação é usada?

jogos do sportingbet Hilbert: Para uma empresajogos do sportingbetmarketing ou um políticojogos do sportingbetbuscajogos do sportingbetvotos, é algo muito interessante. Com o chamado big data (análisejogos do sportingbetgrandes volumesjogos do sportingbetdados oriundos do usojogos do sportingbetinternet) também elevamos muito o poderjogos do sportingbetprevisão das Ciências Sociais. Desenvolver um algoritmojogos do sportingbetinteligência artificial pode custar milhõesjogos do sportingbetdólares. Mas uma vez criado pode ser aplicado a todos. Então é algo que está sendo empregado rapidamentejogos do sportingbetoutros países.

A operadorajogos do sportingbetcelular Telefônica, bastante ativa na América Latina, trabalhou muitojogos do sportingbetprevisãojogos do sportingbetlocalização. E até já começou a vender ese tipojogos do sportingbetinformação. Então caso você queria abrir uma empresajogos do sportingbetalguma capital da América Latina para vender gravatas. você paga e te dizemjogos do sportingbetque hora e onde os homens caminham. E você fica sabendojogos do sportingbetqual saída do metrô deve instalarjogos do sportingbetloja.

Big data

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Legenda da foto, A operadora Telefônica começou a vender o chamado Big Data nos EUA

jogos do sportingbet BBC: A questão é o quão perigoso é tudo isso, essa forma como estão coletando dados que permitem fazer previsões sobre os indivíduos e a sociedadejogos do sportingbetgeral jogos do sportingbet .

jogos do sportingbet Hilbert: Uma tecnologia é apenas uma ferramenta. Pode-se usar um martelo para coisas boas, como erguer uma casa, mas também para matar alguém. Nenhuma tecnologia é tecnologicamente determinada, sempre é socialmente construída.

Não me preocupo tanto com o comércio ou com a economia. Quem não está preparada para esta transparência brutal entre cidadão e representante é a democracia representativa.

BBC: Por quê?

jogos do sportingbet Hilbert: Porque a democracia representativa, como a inventaram nos EUA, é um jogos do sportingbet processojogos do sportingbetfiltrar informação. Há 250 anos era impossível consultar todas as pessoas e as pessoas tampouco estavam informadas. Então os "pais fundadores" da nação americana inventaram um filtrojogos do sportingbetinformação que chamaramjogos do sportingbetrepresentação: ter representantes quejogos do sportingbetseu nome deliberam e definem o que serve à sociedade. Rompemos isso completamente.

Os representantes hoje podem ter acesso a tudo o que os cidadãos fazem. E os cidadãos podem ditar a vida dos representantes, com tuítes e outros recursos. A democracia representativa não está preparada para isso.

É o que vemos agora, com a última eleição nos EUA e como o novo presidente usa as mídias sociais - é parte dessa confusãojogos do sportingbetque estamos.

É preciso refletir e reinventar a democracia representativa. Caso contrário, ela pode facilmente se converterjogos do sportingbetditadura da informação. E atentem que a visão mais antiga da sociedade da informação éjogos do sportingbet1948, quando George Orwell publicou seu livro 1984 jogos do sportingbet . A visão erajogos do sportingbetuma ditadura da informação.

Capa do liveo "1984"

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Legenda da foto, O romance "1984"jogos do sportingbetGeorge Orwell aborda uma sociedade futurista governada por um 'partido"', que controla todos os aspectos da vida dos cidadãos.

Se alguém dissesse isso há dez anos, certamente seria contestado pela maioria que acreditava que a internet era democracia pura e liberdade. Mas hoje pessoas começam a entender a necessidadejogos do sportingbetatuação rápida. A democracia não está preparada para a era digital e está sendo destruída.

Estamos num processo que (o economista austro-americano Joseph) Schumpeter chamoujogos do sportingbetdestruição criativa. E não teremos nenhuma criatividade, porque não há propostajogos do sportingbetcomo fazê-lajogos do sportingbetmodo diferente. Não há uma saída, e isso preocupa.

jogos do sportingbet BBC: jogos do sportingbet Pode dar exemplos práticos dessa destruição?

jogos do sportingbet Hilbert: (O ex-presidente americano Barack) Obama entende muito bem de big data. jogos do sportingbet Depois do caso Snowden muitos perguntaram porque Obama nada fez. Bom, porque ele também o usou muito.

A maior despesa da campanhajogos do sportingbetObamajogos do sportingbet2012 não foi para comerciaisjogos do sportingbetTV: criou-se um grupojogos do sportingbet40 engenheiros recrutadosjogos do sportingbetempresas como Google, Facebook, Craigslist, e que incluiu até jogadores profissionaisjogos do sportingbetpôquer. Pagou milhõesjogos do sportingbetdólares para o desenvolvimentojogos do sportingbetuma basejogos do sportingbetdadosjogos do sportingbet16 milhõesjogos do sportingbeteleitores indecisos: 16 milhõesjogos do sportingbetperfis com diferentes dados: tuítes, posts do Facebook, onde vivem, o que assistiam na TV.

Quando a campanha conhecia suas preferências, se um amigo seu no Facebook dava uma curtida na campanhajogos do sportingbetObama, a equipe ganhava acesso à página desse amigo e passava e enviar mensagens.

E conseguiram mudar a opiniãojogos do sportingbet80% das pessoas alcançadas desta maneira. Com isso, Obama ganhou a eleição. È como uma lavagem cerebral: não mostra a informação, apenas o que querem escutar.

BBC: Como o big data está alterando as formasjogos do sportingbetgovernar?

jogos do sportingbet Hilbert: O representante político tem muita informação sobre você, mas o inverso também é verdade. Veja o presidente Trump, que muitas vezes reagejogos do sportingbettempo real ao que as pessoas dizem. É como alguém se convertessejogos do sportingbetuma marionete do que recebe pela TV ou pelo Twitter.

Trump no Twitter

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Legenda da foto, Em uma nova formajogos do sportingbetgovernar, Donald Trump muitas vezes reagejogos do sportingbettempo real, via Twitter, ao que as pessoas dizem

A ideia do mandato representativo, como criado peos "pais fundadores" dos EUA, era: confiamosjogos do sportingbetvocê como pessoa e você lidera e toma decisõesjogos do sportingbetnosso nome. Agora os políticos medemjogos do sportingbetpopularidade no Facebook e mudam o discurso ao vivo para ajustá-lo aos comentários do Twitter. Isso não é a ideia que foi desenhada. Os grandes presidentes não se guiaram por populismo: eles lideraram.

BBC: Teria uma propostajogos do sportingbetsolução para esse problema?

jogos do sportingbet Hilbert: A história mostra que é preciso mudar as instituições. Não é possível controlar quem tem dados e quem não tem. Pode-se criar instituições e determinar que algumas informações serão abertas ao público. Por exemplo: os partidos políticos devem declarar as doações que recebem. Mas vão abrir os dados das pessoas?

Abrir também não é a solução, Mas é preciso discutir muito esse assunto. E as pessoas não discutem.

jogos do sportingbet Também é preciso mudar a tecnologia. A tecnologia não é algo que cai do céu. Há muitas oportunidades. Numa entrevistajogos do sportingbetemprego, por exemplo, a inteligência artificial poderia ser muito mais neutra do que um gerentejogos do sportingbetrecursos humanos que possa discriminar alguém inconscientemente. Poderíamos abandonar padrões muito antigos e criar o futuro que queremos.