Como funkeira 'negra e gorda' virou símboloapostar com pixbeleza:apostar com pix

Legenda do vídeo, MC Carol responde a críticas sobre o funk: 'O preconceito é uma ignorância. É só porque vem da comunidade'

Os anos passaram e Carolina virou MC Carol Bandida, ou simplesmente MC Carol, uma funkeira famosa que tem cercaapostar com pix300 mil seguidores só no Facebook. Mesmo assim, as ofensas que ouve desde pequena continuam.

Às vezes, surgem atéapostar com pixformaapostar com pixataque coletivoapostar com pixsuas páginas nas redes sociais, como aconteceu neste ano, quando ela registrou queixa na Delegaciaapostar com pixCrimesapostar com pixInformática.

Sua resposta, porém, mudou: não é mais a violência - é a música.

Garota-propagandaapostar com pixuma marcaapostar com pixbeleza desde agosto, Carol fez um verso para o anúncio no qual se descreveu com "um olhar confiante, na voz, na atitude. Vou mostrar que ser negra e gorda é virtude".

"A gente está acostumado a ver negros sendo chicoteados na TV. E quando aparece um negro sendo principal, isso abre a mente das pessoas", afirmaapostar com pixconversa com a BBC Brasil.

Violência

Sem pai, nem mãe - ela se recusa a falar sobre eles -, Carol cresceuapostar com pixmeio à violência e se apropriou dela para reagir a qualquer tipoapostar com pixagressão que julgasse sofrer.

Chamavamapostar com pixgorda? Batia. Chamavamapostar com pixmacaco? Apanhavam. Diziam que tinha que voltar para jaula? Fazia-os voltar para o chão.

"Eu cresci na defensiva, achando que tudo tinha que resolver na porrada", reflete hoje.

A reação aos xingamentos e preconceitos foi sempre essa. Ela nunca chorou, sempre bateu - e muitas vezes também apanhou. Quando cresceu, sobrou até mesmo para seus namorados.

A menina viu a tia apanhar do marido, soube que com a vó não era diferente e concluiu sozinha que havia um denominador comum: "para mim,apostar com pixum casamento, alguém sempre tinha que bater e alguém sempre tinha que apanhar".

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Carol admite que usava violência para se defender e para atacar - e que até seus namorados sofreram com isso

"E eu pensava: não vai ser eu (que vou apanhar)", diz.

"Foram pelo menos três mulheres da minha família. E eu não queria isso mesmo para a minha vida. Eu falei: tá maluco? Eu vou crescer e vou meter-lhe a porrada no meu marido. Aquilo ali mexeu muito com a minha cabeça."

E foi o que ela fez com alguns namorados. Um deles levou um soco ao chamá-laapostar com pix"safada". Outro partiu para cima dela - e acabou "caindo" na escada.

Carol admite que nem precisavaapostar com pixmuito para ela partir para a violência.

"Falar alto comigo já era motivoapostar com pixeu agredir, nem precisava xingar."

"Hojeapostar com pixdia, estou bem melhor. E acho que isso reflete muito na criança. Mais ainda no homem. O menino que cresce vendo o pai espancando a mãe… qual é a porcentagemapostar com pixchanceapostar com pixele crescer e não agredir uma mulher, se ele vê aquilo ali todos os dias?"

Hoje, Carol transformou a experiência pessoalapostar com pixdesabafo -apostar com pixformaapostar com pixfunk. Em uma parceria com outra MC, a paranaense Karol Conka, lançou neste mês a música 100% feminista, queapostar com pixuma semana somava maisapostar com pixmeio milhãoapostar com pixvisualizações no Youtube.

"Presenciei tudo isso dentro da minha família, mulher com olho roxo, espancada todo dia. Eu tinha uns cinco anos, mas já entendia que mulher apanha se não fizer comida. Mulher oprimida, sem voz, obediente. Quando eu crescer eu vou ser diferente. Eu cresci, prazer, Carol Bandida. Represento as mulheres, 100% feminista", diz a letra.

Beleza

Depoisapostar com pixvinte e poucos anos ouvindo xingamentos e chacotas sobreapostar com pixaparência, Carol teve a redenção que nunca nem sequer imaginou.

No último mêsapostar com pixjulho, a Avon, uma das principais marcas mundiaisapostar com pixcosméticos, a convidou para participarapostar com pixuma campanhaapostar com pixmaquiagem para o público brasileiro. A Carol Bandida, "negra, gorda e da favela" foi parar na TV como modeloapostar com pixbeleza.

"Fiquei muito feliz. Porque é tão difícil ver isso - e é muito importante. Não me lembroapostar com pixter visto uma mulher negra e gordaapostar com pixcomercialapostar com pixbeleza", diz.

Ela reforça que, mais do que uma satisfação pessoal, a campanha toca milhõesapostar com pixmulheres que sofrem o que chamaapostar com pix"preconceito indireto".

Crédito, Divulgação

Legenda da foto, Carol na preparação para a gravação do comercial da Avon

"Pô, se eu ligo a televisão e só vejo loira, magraapostar com pixcabelo liso… Cara, que autoestima eu vou terapostar com pixsair na rua? Quando eu entroapostar com pixuma loja e não acho roupa do meu tamanho, um short do meu tamanho… isso é um preconceito indireto. Quer mostrar para mim que eu sou anormal."

Umaapostar com pixsuas postagens mais curtidas no Facebook traz uma fotoapostar com pixque uma mulher acima do peso pratica ioga, vestida com roupaapostar com pixginástica. O texto diz: "Quero apenas provar que ser gorda não é sinalapostar com pixdepressão, limitação ou qualquer outra coisa negativa!".

A postagem teve maisapostar com pix93 mil likes e 15 mil compartilhamentos.

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Sua postagem com mais curtidas no Facebook

É um assunto que Carol sempre faz questãoapostar com pixlevantar.

"Por que o Miss Brasil não tem mulheres gordas? Eles querem mostrar pra gente que as mulheres mais bonitas são as mulheres magras, sempre. Eles querem impor que a gente tenha que vestir 36, 34. E isso é absurdo."

Voz da favela

Para quem acusa o funkapostar com pixser apenas "putaria, incitação ao sexo ou à violência", Carol responde rápido:

"O preconceito com funk é uma ignorância. O rap, o hip hop internacional, o forró falam as mesmas coisas, às vezes até mais pesadas."

"É porque o funk veio da comunidade. Até um tempo atrás, MCs e DJs eram parados pela polícia, perdiam equipamento, eram vistos como bandidos."

O estilo musical é a voz que as favelas não têm na sociedade, ela diz. E garante: é por causa dele que muita gente se livra do caminho do tráfico.

"O funk representa trabalho. O tráfico abraça as pessoas na favela. E digo por mim mesma: o que seriaapostar com pixmim hoje? Eu poderia estar até morta se não cantasse. E o funk é a nossa voz, a gente pode botar a boca no trombone, estar na televisão, jornais, redes sociais… falar o que acontece lá, na comunidade."

Uma das recentes criaçõesapostar com pixCarol com maior repercussão chama-se Delação Premiada. A inspiração veio do noticiário político-policial, que mencionava esse termo, cujo significado ela não fazia ideia, todos os dias.

Crédito, Fernando Schlaepfer

Legenda da foto, MC Carol tem quase 300 mil likes emapostar com pixpágina no Facebook

"Fui pesquisar e descobri que delação premiada era ganhar um prêmio para 'xnovar' (sic) o amiguinho. Só que isso não existe na comunidade."

O resultado foi um funkapostar com pixque ela canta sobre a violência policial na favela.

"Lá, quando eles querem saber alguma coisa, eles vão lá no moto-táxi, chamam o garotinho e dão uma voltinha com ele... Ou, se não, só ameaçam. Aí o pessoal já conta, porque ninguém quer dar uma voltinha com eles. A voltinha pode não voltar. O Amarildo deu uma voltinha", diz.

"Eu quis botar o tema da música pra poder intrigar a pessoa que não sabe o que é isso. Pra pesquisar, procurar saber."

Por causaapostar com pixseus posicionamentos fortes, Carol é reconhecida por seu público como feminista. Mas ela garante que só descobriu o que é feminismo há menosapostar com pixum ano.

"Nasci para ser uma mulher forte. Tenho muito orgulho dessa força que eu tenho. Mas eu não sabia que tinha um nome pra isso. Eu achava que o nome era 'sapatão', porque eu sempre ouvi desde pequena que era sapatão."

"Eu não sabia o que era, mas eu tinha uma parada dentroapostar com pixmim do tipo: não abaixe a cabeça para ninguém. Nunca aceitei meu lugarapostar com pixmulher no mundo."