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Por que nosso corpo não produz vitaminas suficientes (e por que isso é perigoso):
Tudo mudou quando eles finalmente atracaram na cidadeMazatlán.
"No navio, quando eu cheguei aqui, não se ouvia nada que não fossem gritos e exclamações para Nossa Senhora; e então ela, como uma piedosa mãe, sentiu pena daquela gente. E ela veio, felizmente, e nos dezenove diasque o navio esteve aqui, todos recuperaram a saúde."
Ele descrevia um milagre: "Não havia tratamento, nem remédioboticário, nem receita, nem remédiomédico, nem qualquer remédio humano", enfatizou Frei Antonio.
Mas o que houve foi uma descoberta acidental.
Um dos marinheiros que desembarcou para enterrar os falecidos viu uma fruta "que os nativos aqui chamamxocohuitztales". Ele provou e gostou.
Poucos dias depois, após comer mais dessas espéciesperas com espinhos, ele percebeu que seus dentes não doíam tanto e que se sentia melhor. Então começou a dar os frutos aos companheiros.
Hoje sabemos que os marinheiros sofriamescorbuto, uma doença que era na época amargamente comum e profundamente misteriosa. Ninguém sabia o que a causava e, embora a experiência mostrasse aos marinheiros que os frutos traziam alívio, não se sabia por quê.
Hoje sabemos que a cura para esta e muitas outras doenças terríveis e fatais é simples: vitaminas.
Mas a descoberta das vitaminas era como um atofé que exigia, na época, que se acreditassealgo que não podia ser visto. E entendê-las é ainda hoje uma tarefa difícil.
Descoberta
Parece haver um consenso coletivo sobre o quão revolucionária foi a descoberta da penicilina, mas o mesmo não se repeterelação ao enorme sofrimento que as vitaminas foram capazesaliviar.
A história começameados do século 19, na época da revolução Pasteuriana, quando infecções microbianas eram vistas como possível explicação para todas as doenças.
Assim, os pesquisadores que procuravam a causaenfermidades como o escorbuto ou o beribéri esperavam encontrar algo — um micróbio, um agente externo — e não a ausênciaalgo — uma deficiência nutricional, por exemplo.
Foram necessárias várias décadas e um enorme esforço conjuntocientistas para se entender o que estava acontecendo.
A descoberta foi um marco na medicina moderna: pela primeira vez na história aprendemos que as doenças e até a morte poderiam ser causadas não apenas por agentes infecciosos, mas pela simples ausênciauma única substâncianossa dieta, como uma vitamina.
A vitamina A, encontradalaticínios, fígado e peixes, previne a cegueira e deformidadescrescimento.
A vitamina B1quantidade suficiente previne o beribéri, quemeados do século 19 até o início do século 20 foi uma das principais causasmorte na Ásia.
Até mesmo o "vampirismo", como às vezes é chamada a pelagra — que produz desejo por carne crua, sangue na boca, palidez e suscetibilidade ao sol, agressividade e insanidade — é fruto "apenas" da faltavitamina B3.
São vitais, mas não as temos
Hoje sabemos que existem 13 vitaminas fundamentais à vida humana e as denominamos com as letras A, B, C, D, E e K. O chamado complexo B inclui 8 vitaminas.
Mas por que nossos corpos não conseguem produzir quase nenhuma delas?
Os especialistas acreditam que as primeiras formasvida, aquelas que existiam há cerca4 bilhõesanos, eram capazes produzi-las por conta própria.
Com o passar do tempo, algumas espécies tornaram-se capazesfabricá-las, como as plantas, que produzem vitamina C.
Outras espécies, não só a humana, perderam essa habilidade.
Os primatas, assim como os porcos-da-Índia, morcegos e pássaros, por exemplo, não podem produzir vitamina C. Isso acontece apesartermosnosso DNA todos os genes usados pelos vertebrados que conseguem fabricá-la.
Pesquisas recentes revelam que, à medida que os animais — incluindo nós mesmos — começaram a consumir frutas e folhas que forneciam toda a vitamina Cque precisavam, eles foram parandoproduzi-la.
Assim, as espécies passaram a depender umas das outras, criando o que os cientistas chamam"tráfegovitaminas".
Duas exceções
No entanto, nós mantivemos a capacidadeproduzir duas das 13 vitaminas. Uma delas é a vitamina D, produzida pelas células da pele quando a luz solar incide sobre elas.
É difícil, mas não impossível, obter vitamina Dquantidade suficiente por meio da alimentação.
A outra é a vitamina B12. Neste caso, mais precisamente, ela não é produzida por nossos corpos, mas sim por bactérias.
Essas bactérias vivemnossos intestinos mas, infelizmente, elas se localizam na parte final do trato digestivo, onde os nutrientes não podem mais ser absorvidos pelo corpo.
Os coelhos têm esse mesmo problema e o resolvem comendo as próprias fezes.
Nós, humanos, preferimos obter a vitamina B12 consumindo outras coisas, como carne bovina. Nestes animais, as bactérias se localizam na parte do intestino onde ainda podem ser absorvidas pelo organismo.
Uma ideia duvidosa
Os alimentos são uma maneira simples e barataacabar com o sofrimentomilhõespessoastodo o mundo.
Uma dieta balanceada, com equilíbrio entre frutas, vegetais, grãos e gorduras, pode fornecer as quantidades (muito pequenas)vitaminas necessárias para uma boa saúde.
Apenascasos especiais, os médicos recomendam tomar doses mais altasvitaminas, como na gravidez, quando um suplementoácido fólico, por exemplo, ajuda a prevenir síndromes congênitasbebês.
Mas, há 50 anos, surgiria alguém que iria transformar a percepção do mundo sobre as vitaminas. Alguém tão poderoso que seria capaztirá-las dos consultórios médicos e as levaria para milhõescasas e estabelecimentos comerciais.
Esta pessoa era Linus Pauling, uma superestrela do mundo científico, considerado por Albert Einstein um gênio.
Ele ganhou dois prêmios Nobel individuais, umQuímica e outro da Paz. Além disso, era descrito como charmoso e carismático. Parecia que ele era capaztransitar sem esforçouma área da ciência para outra. Pauling tinha um conhecimento enciclopédicoquímica, física, biologia e medicina.
No final dos anos 1960, este grande homem teve uma grande ideia. Pauling se convenceuque as vitaminas não só podiam prevenir doenças causadas por deficiência, mas também fazer algo muito maior.
Ele acreditava que as vitaminas tinham o poderprevenir doenças que nada tinham a ver com deficiência, mas que ameaçavam a todos nós, como o câncer e problemas cardíacos. Mais do que isso, Pauling dizia que elas poderiam até retardar o envelhecimento.
O segredo, segundo Pauling, era ingeri-lasgrandes doses.
Quando ele trouxe esta mensagem ao mundo, o público adorou.
Sua perspectiva acabou inspirando uma geração"gurus da saúde", que passaram a aconselhar a ingestãoaltas doses diáriasvitaminas. Assim, uma enorme indústria foi criada.
A mensagem dos "gurus" era simples.
Se a quantidadevitamina C necessária para se combater o escorbuto fosse10 miligramas e pudesse ser encontradaum pedaçolaranja, então o equivalente a mais100 laranjas, e mais250 vezes a dose diária recomendada, seria ainda melhor porque isso impediria que se contraísse o resfriado comum.
Essa tese, especialmente, acabou se tornando uma "verdade científica" muito popular e persistente, apesarum conjunto esmagadorevidências dizer que, para a maioria das pessoas, tomar altas dosesvitamina C para prevenir resfriados nada mais é que um desperdício.
O problema é que,outros casos, estudos mostram que tomar altas dosesvitaminas pode ter efeitos mais desastrosos do que apenas perder dinheiro.
Embora seja possível que um dia se prove que os suplementos vitamínicosaltas doses protejam contra algumas doenças, até o momento as evidências para apoiar essas alegações permanecem bastante vagas.
E à medida que descobrimos mais sobre algumas vitaminas, fica claro quegrandes doses elas podem ter consequências inesperadas e às vezes perigosas.
Até que entendamos mais sobre esses poderosos produtos químicos, a maioria dos médicos recomenda ocostume: dieta balanceada, exercícios e um poucosol.
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