Edifício A Noite: prestes a ser leiloado no Rio, 1º arranha-céu da América do Sul marcou a história do Brasil:chat bwin

O episódio, como já erachat bwinesperar, terminouchat bwinconfusão. A polícia tentou desmontar o "cassino" improvisado, mas a população não deixou. Jornalistas e populares foram parar na delegacia.

O caso estamparia as páginas do A Noite no dia seguinte e levaria os compositores Ernesto dos Santos, o Donga (1890-1974), e Maurochat bwinAlmeida (1882-1956) a criar a canção que se tornaria um marco da música brasileira.

Mas esta não a única vez que o jornal carioca faria história. A redação do jornal se mudou para o número 7 da Praça Mauá, também no Centro do Rio, onde foi inauguradochat bwinsetembrochat bwin1929 um edifíciochat bwinestilo art déco de 22 andares.

Com 102 metroschat bwinaltura, era o maior do Brasil na época — título que manteve até 1934, quando foi concluído o edifício Martinelli,chat bwinSão Paulo, com seus 26 andares.

De tão famoso, o A Noite emprestou seu nome ao primeiro arranha-céu da América do Sul, cujo "nomechat bwinbatismo" erachat bwinhomenagem ao arquiteto francês Joseph Gire (1872-1933), que o projetou a quatro mãos com o arquiteto brasileiro Elisário Bahiana (1891-1980).

"A construção do edifício A Noite foi um feito mundial. Durante muito tempo, foi a maior estruturachat bwinconcreto armado do mundo. Na época, os prédios eram construídos com estruturachat bwinmetal. Os engenheiros diziam que o concreto era muito pesado", explica o artista plástico Roberto Cabot, bisneto do arquiteto francês e autorchat bwinJoseph Gire - A Construção do Riochat bwinJaneiro Moderno (2014). "Meu bisavô defendia a verticalização como a única saída para as cidades do futuro."

Hoje tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)chat bwin2013, o edifício A Noite deverá ser leiloado até o fim do ano,chat bwinevento virtual. Está avaliado, segundo a Secretariachat bwinPatrimônio da União (SPU),chat bwinR$ 90 milhões. O governo federal alega que o arranha-céu tem um alto custochat bwinmanutenção: cercachat bwinR$ 300 mil por mês.

Nelson Rodrigues, Lima Barreto e Clarice Lispector

Um dos primeiros jornais populares do Riochat bwinJaneiro, o A Noite chegou a ter cinco edições diárias e uma tiragem estimadachat bwin200 mil exemplares. "Era o diáriochat bwinmaior circulação do país", afirma o jornalista Matías Molina, autorchat bwinA História dos Jornais no Brasil (2015).

Desdechat bwinfundação,chat bwin18chat bwinjulhochat bwin1911, até a datachat bwinsua última publicação, no dia 31chat bwinagostochat bwin1964, o jornal teve inúmeros donos — o primeiro foi Irineu Marinho (1876-1925), o mesmo jornalista que,chat bwin1925, fundou o jornal O Globo — e incontáveis fases,chat bwin"governista" a "oposicionista".

Segundo o historiador Milton Teixeira, a redação chegou a ser invadidachat bwinduas ocasiões: na revoluçãochat bwin1930, quando "o lustre do hall foi estilhaçado e um pianochat bwincauda, arremessado pela janela", e no golpechat bwin1964, quando "militares efetuaram prisões e jogaram máquinaschat bwinescrever pelas janelas".

Um dos muitos leitores famosos do A Noite era o jornalista Nelson Rodrigues (1912-1980), que chegou a lhe dedicar uma crônica, na qual escreveu: "Estou certochat bwinque, se saíssechat bwinbranco, sem uma linha impressa, todos comprariam A Noite da mesma maneira e por amor".

Também trabalharam para o jornal os escritores Lima Barreto (1881-1922), que publicou, entre os meseschat bwinmarço e julhochat bwin1915, o folhetim Numa e a Ninfa,chat bwin52 edições, e Clarice Lispector (1920-1977), que, entre fevereirochat bwin1942 e janeirochat bwin1944, exerceu as funçõeschat bwinrepórter, tradutora e redatora.

"Na redação, Clarice passava por situações constrangedoras, quando o redatorchat bwinpolícia começava a falar palavrões como quem toma um copo d'água. A cada quatro palavras, dizia três palavrões, e Clarice estremecia", revela a biógrafa da escritora, Teresa Montero, autorachat bwinO Riochat bwinClarice - Passeio Afetivo pela Cidade (2018).

Edifício mudou a paisagem do Rio

Quando foi inaugurado,chat bwin1929, o edifício A Noite mudou a paisagem urbana do Rio, dominada por sobrados e casarões.

Os prédios mais altos da então Avenida Central, atual Rio Branco, não passavamchat bwinoito andares. O maior deles era o prédio do Jornal do Brasil, com inacreditáveis dez andares.

"O mirante do edifício A Noite, no último andar, era o mais visitado da cidade", recorda o marchand Márcio Alves Roiter, presidente do Instituto Art Déco Brasil. "Isso, até ser inaugurado,chat bwin12chat bwinoutubrochat bwin1931, o Cristo Redentor, outra proeza do concreto armado."

O edifício foi erguido no lugar do Liceu Literário Português, instituiçãochat bwinensino que se mudou para o Largo da Carioca, onde funciona até hoje.

Formado pela Escola Nacionalchat bwinBelas Arteschat bwinParis, o arquiteto Joseph Gire veio ao Riochat bwin1916, a convite do empresário Octávio Guinle (1886-1968), um dos homens mais ricos do país.

Gire deixouchat bwinassinatura nos hotéis Glória, inauguradochat bwin1922, e Copacabana Palace,chat bwin1923, e nos palácios Laranjeiras,chat bwin1909, a residência oficial do governador, echat bwinBrocoió,chat bwin1930.

O engenheiro responsável pela obra foi o brasileiro Emílio Baumgart (1889-1943). O edifício levou dois anos para ser concluído.

A maior rádio da Américas

O edifício A Noite não ganhou fama apenas por abrigar a redação do jornalchat bwinmesmo nome. Foi lá também onde funcionou a Rádio Nacional, fundadachat bwin12chat bwinsetembrochat bwin1936.

Na décadachat bwin1940, a rádio chegou a ocupar cinco andares do imponente edifício. "A Nacional foi a maior rádio das Américas e uma das maiores do mundo. No auge, teve um elencochat bwinmaischat bwin120 atores contratados, sete orquestras e quatro maestros", diz Teixeira.

Algumas das maiores celebridades da época, como Francisco Alves (1898-1952), Dalvachat bwinOliveira (1917-1972), Emilinha Borba (1923-2005), Orlando Silva (1915-1978), Cauby Peixoto (1931-2016) e Ângela Maria (1929-2018), se revezaram nos programas da rádio e atraíram multidõeschat bwinfãs.

Quem não conseguia assistir ao show do auditório, tinha que se contentarchat bwinver seus ídolos no saguão ou na calçada do prédio.

"A cantora Marlene deixava subir no elevador algunschat bwinseus jovens fãs gays que os seguranças tentavam barrar na entrada", conta o jornalista, pesquisador e crítico musical Rodrigo Faour, autor das biografias Bastidores — 50 anos da Voz e do Mito (2001), sobre o Cauby Peixoto, A Noite e As Cançõeschat bwinUma Mulher Fascinante (2012), sobre Dolores Duran, e A Eterna Cantora do Brasil (2015), sobre Ângela Maria.

O marchand Márcio Alves Roiter subiu e desceu inúmeras vezes nos elevadores do edifício e diz que, até hoje, consegue ouvir os avisoschat bwin"sobe!" e "desce!" dos ascensoristas. Quando criança, ele acompanhava a mãe, Mariachat bwinLourdes Alves, que apresentava o programa Clube Juvenil Toddy, toda quinta-feira,chat bwin1950 a 1960.

"Não me esqueço do diachat bwinque pegamos o mesmo elevador que o Pixinguinha", recorda Roiter. "Vestidochat bwinum terno branco, era a elegânciachat bwinpessoa!"

Comunistas presos e LPs arremessados pelas janelas

A Rádio Nacional chegou a ter três programaschat bwinauditório, todoschat bwinmuito sucesso: dos radialistas Césarchat bwinAlencar (1917-1990), Paulo Gracindo (1911-1995) e Manoel Barcellos (1911-1983).

Mas, a rádio também produziu radionovelas, como O Direitochat bwinNascer, escrita pelo cubano Félix Caignet (1892-1976); jornalísticos, como o Repórter Esso, apresentado por Heron Domingues (1924-1974); e humorísticos, como o Balança, Mas Não Cai, estrelado por Paulo Gracindo e Brandão Filho (1910-1998), entre outros, que interpretavam o quadro "Primo Pobre & Primo Rico", criado por Max Nunes.

Outro programachat bwinaudiência era A Felicidade Bate À Sua Porta, comandado pela atriz Yara Salles (1912-1986) e o compositor Lamartine Babo (1904-1963).

"O programa sorteava casas no subúrbio e mandava o ator Heberchat bwinBôscoli, maridochat bwinYara, ver se a donachat bwincasa tinha a cera, a pasta e o sabão Cristal. Se tivesse, ganhava um prêmiochat bwindinheiro e a chancechat bwinassistir a cantora Emilinha Borba ao vivo na rádio", explica Faour.

No golpechat bwin1964, a rádio não escapou da ação dos militares. "Foram demitidos todos os 'comunistas' da Rádio Nacional: do dramaturgo Dias Gomes (1922-1999) ao ator e compositor Mário Lago (1911-2002)", relata Teixeira..

Alémchat bwinpianoschat bwincauda e máquinaschat bwinescrever, muitos LPs foram arremessados pelas janelas do edifício A Noite. "Por ocasião do golpechat bwin1964, sobrou até para os cantores Jorge Goulart (1926-2012) e Nora Ney (1922-2003), que pertenciam ao Partido Comunista", afirma Faour.

Inquilinos famosos

O A Noite ainda abrigou consulados, repartições do governo e escritórioschat bwindespachantes.

Também teve inquilinos famosos, como o arquiteto Lúcio Costa (1902-1998), que contratou como estagiário um jovem estudantechat bwinArquitetura chamado Oscar Niemeyer, então com 23 anos.

O contraventor Manuel da Silva Abreu, o Zica, abriu uma boate, a Flórida, no térreo do edifício e, reza a lenda, inspirou o cantor Chico Buarque a criar Max Overseas, o golpistachat bwinA Ópera do Malandro (1978).

"Era o maior contrabandista do Brasil e tinha estreitas ligações até com presidentes da República", afirma Teixeira.

O edifício também abrigou as sedes do Instituto Nacionalchat bwinPropriedade Industrial (INPI) echat bwinempresas, como a Empresa Brasilchat bwinComunicação (EBC), a última a deixar o local,chat bwin2012.

Fechado desde então, o A Noite está abandonado, cercado por tapumes e com pichações na fachada. A construção hoje destoachat bwinuma Praça Mauá reformada, após o projetochat bwinrevitalização da zona portuária do Rio.

O governo federal diz que o edifício, com uma vista privilegiada para a Baíachat bwinGuanabara, tem potencialchat bwinser transformadochat bwinum grande hotel ou mesmo adaptado para uso residencial.

A expectativa é que o leilão atraia novos donos interessadoschat bwinfazer com que o A Noite tenha um futuro tão glorioso quanto seu passado.

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